• Senador fez um duro discurso e disse que PMDB não tem ‘rabo preso ou medo de briga’
Cristiane Jungblut – O Globo
BRASÍLIA — Em discurso da tribuna do Senado, o novo presidente do PMDB, senador Romero Jucá (PMDB-RR), fez um duro pronunciamento, chamando de golpe a proposta de eleições gerais por não estarem previstas na Constituição e defendendo o impeachment como a saída para a crise política, apresentada por ele como uma alternativa é constitucional. Jucá ainda atacou o PT e até o aliado de partido, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Diante de Renan, Jucá disse que o desembarque do PMDB do governo não foi "precipitado e nem pouco inteligente", como disse o presidente do Senado na semana passada. O senador repetiu que o PT queria que Temer descesse do cargo de vice-presidente e fosse para a "briga de rua", mas que o partido não permitiu isso.
O presidente Renan defendeu, nesta terça-feira, a realização de eleições gerais, ou seja, para todos os cargos. Já a presidente Dilma Rousseff disse, em tom irônico, que aceitava a proposta desde que todos renunciassem a seus cargos. Jucá disse que isso seria mudar a regra do jogo sem previsão constitucional e que isso sim é golpe e não o processo de impeachment, que está previsto na Constituição.
— A saída está na regra, está na Constituição. Qualquer outra saída mirabolante, desculpem-me, aí sim é golpe, aí sim é golpe! Eleições gerais para todo mundo está na Constituição? Não. Todo mundo renunciar está na Constituição? Não. Traduzindo para a população: regra tem que ser cumprida. Para saber se a regra é cumprida não precisa ir ao Supremo não. Pergunta ao Arnaldo Cezar Coelho (juiz de futebol): isso pode? Ele vai dizer: pode não. Porque, se pudesse mudar a regra, quando o Brasil estivesse perdendo de 7 a 1 da Alemanha, pararíamos o jogo e diríamos que estava cancelado e que amanhã nós começaríamos de novo com 0 a 0. Essa não é a saída que o país espera, não é essa a saída. A saída é majoritariamente este Congresso se afirmar, e, sem ter vergonha, os partidos se colocarem. E, a partir daí, termos um quadro político que vai efetivamente definir os rumos deste país — disse Jucá, ressaltando:
— O PMDB não está pregando golpe. fora da política não há solução sustentável. Fora da política teremos ou uma bravata ou um outsider da política que, no outro dia em que sentar na cadeira, não saberá para onde ir. E vamos pagar um preço ainda maior. Não vamos aceitar ataques e descredenciamentos. O PMDB nacional entendeu que as bases com o PT tinham ruído.
Jucá disse que "não tem medo de briga".
— Disse ao presidente Michel, como outros companheiros disseram: "Presidente Michel, você não pode ser instado, provocado a descer à planície e entrar em brigas de rua". Essa era o objetivo: espicaçá-lo, provocá-lo, para gerar desgaste em alguém que pode ser, dependendo do desejo majoritário do Congresso, uma esperança de construção de uma outra conjuntura política para o país — disse Jucá.
Renan constrangido
Sem citar o nome de Renan, Jucá citou as declarações do presidente do Senado — de que o encontro foi precipitado e pouco inteligente — e as rebateu. Argumentou que 82% do partido queriam e aprovaram o desembarque no último dia 29. Renan cortou o microfone, acionando a campainha, por várias vezes.
— Alguns levantaram que a decisão seria precipitada ou até pouco inteligente. Pois bem, não acho que a posição foi precipitada. Aliás, minha posição foi antecipada em 2014. Acho que a posição veio na hora certa. Não é precipitado tomar uma decisão a favor do povo. Ao contrário, é uma posição acertada, consentânea com a realidade e com o momento de falta de representatividade em que vivem os partidos e os políticos, hoje — disse Jucá, sob o olhar constrangido de Renan e disparando:
— E a posição foi pouco inteligente? Pouco inteligente para quem? É inteligente cuidarmos da nossa vida e deixarmos o povo ao léu? Talvez seja a hora de ser pouco inteligente em algumas questões e de ser defensor do bem comum, de deixar o interesse pessoal e de cuidar do interesse coletivo de quem votou em todos nós.
Cobrado por petistas sobre o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na foto que registrou o desembarque do PMDB e sua ligação com Temer, Jucá disse que Cunha está sendo investigado pelo Supremo e deverá responder, mas acrescentou que isso é uma "questão menor".
— O impeachment, vamos tratar no momento apropriado. Agora, vocês do PT estão querendo sempre confundir essa questão para tentar trazer o Eduardo Cunha, para trazer um ponto ou outro e tentar universalizar um quadro que não é verdadeiro. O Eduardo Cunha faz parte do PMDB, tem o direito de se defender e, no momento apropriado, o Supremo vai decidir. Essa é uma questão. O PMDB apoia a investigação da Lava-Jato. Numa democracia, não há demérito em ser investigado. Demérito é ser condenado. E na hora que é condenado, cai fora — disse Jucá, respondendo a Lindbergh Farias (PT-RJ).
O senador também ironizou as negociações de Dilma para a reforma ministerial.
— Reduzir prazo de mandato de alguém eleito não pode, é cláusula pétrea. O que sairá dessa votação do impeachment? É uma incógnita. Mas, agora, a presidente Dilma vai dar o cheque pré-datado (aos partidos) — disse ele.
Ele disse ainda que será uma "covardia" os parlamentares faltarem à votação do impeachment:
— Duvido que adotem a tática da covardia, de ficar embaixo da cama.
Declarações de Barroso
Em resposta ao senador Lindbergh Farias (PT-RJ), Jucá disse que concordava com pontos das declarações polêmicas do ministro do Supremo Luís Roberto Barroso, mas cobrou dele dizer a quem se referia no caso da foto tirada na reunião do dia 29. As declarações de Barroso foram interpretadas como uma crítica a Eduardo Cunha.
— Quero concordar com o Barroso, quando ele diz: “Meu Deus!” Realmente, Deus tem que iluminar esse país. E concordo quando diz que tem desastre em todo o canto. O Supremo tem que ser ágil. Nenhuma discrepância com o Barroso, E, se tem alguma coisa contra alguém daquela foto, tem que finalizar. Nossas posições têm que ser claras. Eu não devo nada a ninguém, estou tranquilo — disse Jucá.
Investigado na Lava-Jato, Jucá disse que não tem nada a temer.
— Se tivesse rabo preso não estaria assumindo a presidência do PMDB. Alguém tem dúvida de que vou virar alvo? Vou me expor. Não tenho problema de enfrentar briga. Pense em alguém que não tem medo de cara feia, nem de confusão, bem — disse Jucá.
O senador admitiu que um novo governo terá que construir uma maioria. Mas ironizou a reação que o PT teria. Ele ainda rebateu Lindbergh quando o petista disse que a população a favor do impeachment também não quer Temer como presidente.
— Poderá ter "Fora, Michel". Mas já tem o "Fora, Dilma". O Michel, se for presidente, terá ataque de setores de bolivarianos, vai se juntar a Venezuela com o Estado Islâmico — ironizou.
Jucá disse que o PMDB não teve papel na condução econômica, classificada de desastrosa. E disse que Temer nunca teve papel relevante no governo.
— Não venham cobrar do PMDB a crise econômica, porque o Michel não era copiloto, estava fora da cabine. Era comissário de bordo. Segurava as pessoas e dava um saquinho para vomitar. Não tivemos a condução política e nem econômica. Todas as críticas não são pessoais à presidente Dilma. Vamos enfrentar debate de cabeça erguida.
O senador disse que votou do senador Aécio Neves (PSDB-MG) nas eleições presidenciais e não na chapa Dilma-Temer e que sua posição está se mostrando correta:
— Esse um ano e três meses se transformaram numa eternidade de incompetência. O governo se superou. O governo conseguiu fazer tudo da pior forma possível.
Em vários momentos, Jucá deu recados a Renan a outros que são aliados da presidente Dilma. Ele repetiu que a moção do desembarque foi aprovada pela maioria e que nenhum defensor do governo petista foi à reunião para tentar evitar a aprovação da proposta.
Numa crítica ao PT, ele disse ainda que o partido aprovou a chapa Dilma-Temer e que, na época, não fez críticas ao vice:
— Em 2014, não houve nenhuma voz contra a seriedade, o espírito público do Michel Temer. O castelo cartas ruiu, e o quadro se desnudou. O governo perdeu os três pilares para ter um mínimo de condições de funcionamento: credibilidade, segurança jurídica e condições de dar previsibilidade à economia.
Jucá rebateu até críticas de que Temer não se manteve isento como Itamar Franco, que era vice do ex-presidente Fernando Collor.
— Vamos ao sofisma Itamar Franco. Ele era um vice-presidente que não tinha partido político. O Temer é presidente do maior partido político do Brasil. Poderia ficar aguardando em casa, porque os outros partidos grandes se organizaram para fazer o impeachment — disse ele.
Para ele, se Dilma vencer com apenas 180 votos, não terá apoio para governar. Ele disse que cada lado tem que ter mais de 342 votos para governar.
Lindbergh critica e Aécio apoia
Vários senadores comentaram o discurso de Jucá. O senador Lindbergh Farias adotou a tática do PT de atacar Temer.
— Creio que a saída do Temer é uma ação tardia para disfarçar o indisfarçável: que está articulando freneticamente o impeachment. Assustou aquela foto com Eduardo Cunha com as mãos para cima. A fala do ministro Barroso foi a expressão do sentimento nacional. E querem dar uma quartelada. A chapa do golpe: é Temer e Eduardo Cunha. Se tivermos o impeachment, vamos ter um governo muito frágil, sem legitimidade — disse o petista.
Lindbergh disse que, com Temer, seria uma "crise permanente":
— As duas passeatas podem ir para a rua e gritar: "Fora, Temer". O impeachment não é a solução, porque Temer seria um presidente sem apoio popular.
Já o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse que o PSDB quer o impeachment.
— Espero que seja pela virada de página do país. O PSDB não é beneficiário direto do impeachment, mas o PSDB não faltará mais uma vez ao Brasil — disse Aécio, afirmando que Temer está sendo vítima de "críticas ácidas" por parte dos petistas.