A pauta do encontro abriu espaço para cobranças nas áreas da segurança pública, saúde, programas de assistência social, como Bolsa Família, repatriação de impostos e liberação de empréstimos
Por: Rosália Rangel | Diario de Pernambuco
A reunião dos governadores do Nordeste e de Minas Gerais realizada nesta sexta-feira no Palácio do Campo das Princesas foi além do debate contra a privatização do Sistema Eletrobras e suas subsidiárias, entre elas a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). O encontro, na verdade, mostrou a disposição dos gestores para trabalhar unidos em defesa dos interesses da região e também a reação do grupo contra as medidas adotadas no Governo Temer. O nome do presidente, aliás, não foi citado em nenhum momento, mas a gestão dele foi duramente criticada. No final do encontro, foi divulgada a Carta do Recife, onde os governadores elencaram 11 pontos que consideram importantes para a retomada do desenvolvimento econômico dos estados nordestinos e a garantia dos serviços oferecidos à população.
“É uma carta em favor do Nordeste, mas em favor do Brasil também. Uma carta que coloca pontos fundamentais de atenção no âmbito federativo. Queremos mais diálogo, queremos condições de sentar na mesa”, disse em entrevista o governador Paulo Câmara (PSB). A pauta do encontro abriu espaço para cobranças nas áreas da segurança pública, saúde, programas de assistência social, repatriação de impostos e liberação de empréstimos.
“O Nordeste é uma região que fez seu dever de casa e tem sido penalizado nos últimos anos pelo corte de crédito. Todos os estados da região são poucos endividados e não têm acesso ao crédito para investimentos, concluir obras, gerar emprego e renda em um momento em que o Brasil passa pela maior crise econômica da sua história”, ressaltou Câmara.
Para o governador da Bahia, Rui Costa (PT), o “peso” da reunião foi de mostrar a unidade da região. “O quanto o povo tem sofrido com o atual governo federal e as diversas manobras para prejudicar a região. A restrição ao crédito é algo inacreditável. Imaginar que quem deve mais tem a possibilidade de tomar crédito e quem deve menos não pode. Todos os estados do Nordeste estão com baixo nível de endividamento”, complementou. “Nosso encontro aqui (no Recife) é uma reação de resistência democrática a esse cenário de retrocesso”, definiu Fernando Pimentel (PT), governador de Minas Gerais.
Em todos os discursos, os gestores demostraram indignação com as medidas adotadas pelo governo federal para a região. O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), citou os cortes feito no Bolsa-Família que, segundo ele, deixou de atender mais de 500 mil famílias e agora um novo anúncio reduz mais 300 mil. “Temos que reagir”, disse o petista. Sobre a privatização da Eletrobras e da Chesf a postura dos governadores foi ainda mais contundente. “Não se pode privatizar água, o rio, num momento em que o Nordeste conseguiu a chegada das águas do São Francisco com a transposição”, observou o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB).
“O Nordeste está unido contra a privatização da Eletrobras e da Chesf e o estado de Minas Gerais está solidário conosco. Caso isso ocorra é a privatização do Rio São Francisco e da vazão da água e isso vai afetar milhares de famílias pernambucanas e nordestinas”, destacou Paulo Câmara. “Vender a Chesf é vender o Rio São Francisco. É entregar os nossos mananciais de presente para mãos privadas. Isso é uma incoerência”, criticou o governador do Rio Grande do Norte, Robison Faria (PSD).
A Carta do Recife será encaminhada ao presidente Temer e os representantes do Congresso Nacional que, na próxima semana, inicia na Câmara dos Deputados o debate sobre a privatização do Sistema Eletrobras. O documento foi assinado pelos sete governadores presentes à reunião. O governador de Alagoas, Renan Filho (MDB) esteve apenas no início da reunião. Não compareceram Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, e Belivaldo Chagas (PSD), de Sergipe.