domingo, 9 de agosto de 2015

Opinião do dia – Aécio Neves

Não quero antecipar cenários. Mas o governo estabeleceu a mentira como método. A presidente da República não vai conseguir resgatar as condições de governabilidade, pelo menos enquanto não tiver a coragem de vir a público reconhecer sua parcela de responsabilidade pelos sofrimentos que esta crise está impondo aos brasileiros. Quanto mais insistir em falsear a verdade, atribuindo os problemas à crise internacional ou ao agravamento da seca, mais distante estará de recuperar essas condições. Em política, o ativo mais precioso é o tempo. E o PT perdeu esse tempo.
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Aécio Neves é senador (MG) e presidente nacional do PSDB, em entrevista na revista Veja

Vice abriu caminho com estilo conciliador

• Com fama de 'bombeiro', Temer foi alçado ao centro das especulações sobre uma eventual substituição de Dilma

• O inusual tom emotivo de sua fala sobre a necessidade de 'alguém' para unir o país causou impacto no governo

Andréia Sadi, Gabriel Mascarenhas – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Michel Miguel Elias Temer Lulia, 74, chegou a um paradoxal ápice de carreira. Vice num governo sob risco, o peemedebista com fama de "bombeiro" se vê no centro das especulações sobre uma eventual substituição de Dilma Rousseff na Presidência.

Foi dele a frase que disparou a bolsa de apostas políticas. Foi quando o vice-presidente falou sobre a necessidade de "alguém" unir o país.

A amigos, Temer diz que a crise instalada desde a reeleição de Dilma, que começou econômica e logo virou política, a deixou com uma margem de manobra muito estreita.

Para o vice –visto por dilmistas como quem está "se colocando" para a vaga da chefe–, hoje tudo depende da petista para se recuperar. Ele não vê no entorno dela, porém, um plano viável para tal.

O paradoxo Temer começa em 2010, eleito vice de Dilma sob os auspícios de Lula.

Se Lula botou o empresário José Alencar na vice para aplacar temores do mercado, Dilma teria Temer para garantir a estabilidade política representada pelo PMDB.

No primeiro mandato, funcionou; Temer virou uma peça decorativa. Não foi ouvido quando Dilma propôs uma Constituinte exclusiva para reforma política após os protestos de junho de 2013, a que ele se opunha historicamente –a ideia não avançou.

Antes, era apelidado por aliados de Dilma de "aspirador de pó": só era usado para limpar sujeira, confusões com o PMDB. Que, à época, quando Dilma surfava em popularidade, eram pontuais.

No início de 2013, Temer foi peça central de um episódio capital. Ele bancou, contra a vontade de Dilma, a eleição de Eduardo Cunha para a liderança do PMDB na Câmara. Informado de que Cunha ganharia de Sandro Mabel (GO), disse a Dilma que sua vitória não seria problema e que poderia controlar o explosivo deputado fluminense.

Eleito, Cunha começou a dar dor de cabeça, como na votação da medida provisória dos portos. Dilma cobrou Temer, que tentou neutralizar o deputado, mas admitiu que não era possível. Isso é visto por rivais, hoje, como um jogo combinado.

Reeleita, Dilma tentou barrar a ascensão de Cunha à presidência da Câmara, em fevereiro. Não teve sucesso. Desde então é frequentemente humilhada em plenário por ele.

O clima azedou de vez quando Cunha e o presidente reeleito do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foram apontados como implicados no petrolão. Ambos passaram a acusar o governo de influenciar procuradores contra eles.

Articulador
Temer foi então escalado por Dilma para tentar driblar a crise instalada. Virou articulador político do governo.

Sua fama de "bombeiro" é antiga. Em 1992, a PM paulista matou 111 presos em uma rebelião no Carandiru. Com o escândalo, o então governador Fleury Filho entregou a cabeça do secretário de Segurança, Pedro Franco de Campos.

Convocado para o cargo que já ocupara, Temer conseguiu apaziguar os ânimos na tropa e reduzir a letalidade.

Até aqui, seu sucesso foi relativo na nova missão, com a aprovação de medidas de ajuste fiscal no primeiro semestre. Não conseguiu, contudo, pacificar as Casas, em especial a Câmara de Cunha.

Rivais dizem que ele, Cunha e Renan alternam as posições de pacifistas e incendiários para manter o Planalto sob pressão controlada.

O agravamento da crise e a nanica aprovação de Dilma, 8%, deu a Temer outro protagonismo. Ele começou a ser visto como um fiador de estabilidade em caso de ruptura.

Sempre que abordado a respeito, Temer rejeita o impeachment. Teme a pecha de traidor. Não significa que as articulações não ocorram.

Suas conversas com o senador José Serra (PSDB-SP) deram margem à conclusão de que o tucano, visando cacifar-se para 2018, seria uma espécie de superministro num eventual governo Temer.

Pessoas próximas aos dois negam. Amigos do vice lembram que ele conversa usualmente com outros caciques da oposição, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP).

Aliados ressaltam o legalismo de quem é visto como referência no direito constitucional –ele é professor da PUC de São Paulo.

"Temer está fazendo tudo que pode para ajudar. Mas, se for impossível, vamos ver no que vai dar'', diz um aliado, revelando um pouco o espírito do momento.

Em público, Temer tem se pronunciado de forma ambígua. Já disse que Levy seria seu ministro se fosse presidente, ressalvando quase inutilmente o "em 2018".

Pela frieza, o vice já foi chamado pelo político baiano Antônio Carlos Magalhães de "mordomo de filme de terror". O tom emotivo de sua fala sobre o tal papel unificador assustou o governo.

Ele foi se explicar com Dilma. Pôs o cargo de articulador à disposição, ouviu um peremptório "Michel, você fica".

Paulista de Tietê, de família católica maronita do norte do Líbano, pai de cinco filhos e casado com a jovem Marcela, 32, Temer ficou.

Temer assume papel de fiador da gestão Dilma e preocupa cúpula do PT

Alberto Bombig e Erich Decat - O Estado de S. Paulo

• Movimentação do vice, que tem conversado com empresários e líderes da oposição, estimula dirigentes petistas a suspeitarem que ele esteja se colocando como ‘alternativa de poder’

BRASÍLIA - O vice-presidente Michel Temer decidiu assumir na prática o papel de fiador da gestão Dilma Rousseff no governo federal. Em conversas recentes com empresários e aliados políticos, o peemedebista demonstrou estar convicto de que qualquer caminho de saída da crise passa necessariamente por ele e pelo partido que comanda.

A decisão de Temer é uma inflexão na maneira como ele vinha encarando o desenrolar da crise. Até meados do mês passado, o vice acreditava que Dilma tinha plenas condições de enfrentar sozinha o desgaste e não aceitava nem sequer falar sobre a possibilidade de um processo de impeachment dela.

Em público, Temer continua refratário em relação à possibilidade de afastamento da presidente, mas, reservadamente, diz estar convencido de que o perigo é real e imediato e precisa ser combatido.

Nos últimos dias, Temer fez movimentos na tentativa de emergir do atual cenário como uma espécie de fiador da presidente. Mas, conforme um de seus aliados, a movimentação do vice também tem como horizonte uma tentativa de se “preservar” como alternativa de poder caso Dilma seja impedida de concluir o mandato.

Enquanto o PT e Dilma insistem em atacar a oposição como forma de sair de crise, o plano de Temer envolve uma concertação entre empresários, partidos da base aliada e também alas importantes do PSDB, principal adversário dos petistas. Com esse arranjo, o vice acha ser possível preservar o ajuste fiscal em curso no Legislativo e pacificar os ânimos de deputados e senadores. Para isso, Temer espera contar com a ajuda do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e também com a oposição.

O vice procura evitar o tema, mas a hipótese de ser uma alternativa de poder é vista como algo concreto entre representantes da legenda. Tanto que alguns peemedebistas intensificaram as conversas com lideranças da oposição na última semana, quando as pesquisas de opinião registraram impopularidade recorde da presidente. Aliado de Temer, o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, o ex-ministro Moreira Franco, almoçou na segunda-feira com o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), um dos mais próximos do presidente nacional dos tucanos, senador Aécio Neves (MG).

“Foi uma conversa de análise de cenários. O PMDB e PSDB são dois grande partidos e temos que conversar para construir alternativas. O que defendemos é que o caminho de uma mudança passe pela sociedade”, afirmou Pestana ao Estado. “Essa foi apenas mais uma das centenas de conversas que estão acontecendo.”

O próprio Temer esteve em São Paulo, em solenidade no Palácio dos Bandeirantes, com o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Ambos mantém um bom relacionamento e têm no secretário Alexandre de Moraes (Segurança), do PMDB, um canal aberto.

Ajuste. Com Renan, o vice tem conversado constantemente no intuito de acelerar a aprovação das medidas de ajuste fiscal paradas no Senado. Qualquer que seja o desfecho da crise política, ele acredita que o desgaste do ambiente econômico e um aumento no rombo das contas públicas só vão acirrar a tensão social no País.

Segundo políticos que privam do convívio com o vice e com o presidente do Senado, Renan tem se mostrado “sensível” aos apelos. Ainda nesse aspecto econômico, Temer acionou seus contatos no meio empresarial em busca de respaldo para se movimentar, com ou sem a autorização formal de Dilma. Recebeu sinal verde da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).

As dificuldades do vice-presidente estão na Câmara, onde seu aliado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) declarou guerra ao governo Dilma e está sob ameaça de ser denunciado ao Supremo Tribunal Federal como receptor de propina do esquema de corrupção da Petrobrás.

Se Cunha não resistir no cargo, Temer tentará emplacar no posto o deputado Edinho Araújo (PMDB-SP), considerado um moderado e totalmente fiel ao vice-presidente. Se Cunha seguir na presidência da Casa, a solução será reagregar a base aliada para enfrentá-lo no trabalho de desarmar a chamada “pauta-bomba”.

Alerta. Apesar do discurso conciliador em relação ao PMDB, parte da direção nacional do PT está convencida de que o vice-presidente já embarcou no movimento pelo impeachment de Dilma. Para alguns cardeais petistas, a entrevista dada por Temer na quarta-feira, quando disse que o Brasil precisa de “alguém que tenha capacidade de reunificar” o País não foi fruto de um ato falho, mas de um cálculo político. Na opinião de parte da cúpula do PT, as explicações dadas pelo vice depois da repercussão da entrevista não colou e as notícias sobre a aproximação do peemedebista com o senador José Serra (PSDB-SP) são um motivo a mais para desconfiança.

Segundo eles, se as manifestações de rua contra Dilma marcadas para o dia 16 forem contundentes e o Tribunal de Contas da União (TCU) reprovar as contas da presidente, será “uma questão de semanas” até o vice apear do governo petista levando junto o PMDB.

Em imediata reação ao protagonismo de Temer, ministros do PT iniciaram um movimento interno no governo na tentativa de minar a ação do vice e devolvê-lo ao papel de negociador do chamado balcão do governo, composto pela liberação de emendas e nomeações de segundo escalão. A estratégia da reação também inclui intensificar a aproximação de Dilma com Renan sem passar pela mediação de Temer. (Colaborou Ricardo Galhardo)

Dilma e Cunha duelam em campo minado

José Casado – O Globo

• Ela se mostra perdida no labirinto do próprio legado e ele usa a pauta de votações da Câmara como arma

• Cunha organiza uma nova maioria legislativa, a dos adversários de Dilma. A presidente perdeu espaço para desfazer a trama em que enredou a economia

A crise cultivada nesta temporada de seca em Brasília tem nome, Dilma, e sobrenome, Cunha.
Ela completou sete meses no Palácio do Planalto perdida no labirinto do próprio legado, construído em parceria com Lula.

Do outro lado da rua, no Congresso, ele escolheu atirar com a arma de maior calibre que um presidente da Câmara dispõe: o controle da pauta de votações.

Atingido por denúncias de “crimes infamantes” — aqueles que desonram, rebaixam, aviltam e causam repulsa, segundo os manuais de Direito —, o deputado fluminense mostrou-se acuado. E apostou no confronto institucional como método para ofuscar seu protagonismo nas investigações sobre corrupção na Petrobras.

Cunha passou a liderar a organização de uma nova maioria legislativa, a dos adversários de Dilma. Até agora, a alquimia parlamentar permitiulhe catalisar sentimentos antigoverno em todos os partidos, inclusive no PT de Lula e Dilma.

Foi assim que numa simbólica votação, quartafeira, surpreendeu a presidente. Ela ficou com apenas 16 dos 400 votos governistas na Câmara.

O governo perdeu a bússola do Legislativo. No plenário na Câmara estavam 59 deputados petistas. Desses, 56 votaram contra Dilma. Somaramse ocasionalmente à oposição dispersa, cuja melhor proposta se resume à convocação de "novas eleições" — como pregam os líderes do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio, e no Senado, Cássio Cunha Lima, alinhados ao senador Aécio Neves.

Essa exortação às eleições presidenciais antecipadas pode até ser útil para incentivar protestos, como os previstos para o próximo domingo. No entanto, soa delirante num país cuja Constituição impõe o regime presidencialista, com mandato de quatro anos e só passível de interrupção por morte, renúncia ou impeachment. Se o governante exerce as funções, a Carta reserva aos descontentes a alternativa de uma longa, tortuosa e imprevisível rota processual para o impeachment, na qual o Congresso submete-se ao império do Supremo.

Dilma e Cunha escolheram se confrontar em campo minado.

O governo tem sido reprovado por sete em cada dez eleitores, nas pesquisas, porque ela prometeu na campanha, faz o contrário no Planalto e, diante das consequências, refugia-se no imobilismo.

Quando decide se mover, produz lances de nonsense, como o elogio à mandioca ou a autorização ao vice, Michel Temer, para clamar em público por "alguém" com "capacidade" de pacificar a política e recuperar a economia.

A mensagem atrapalhada foi decodificada no Congresso de duas formas. Na versão benigna, o vice começou a dança de despedida da coordenação política. Na outra, exibiu-se com o compasso e o esquadro do moderado constitucionalista de 74 anos de idade, com meio século de parlamento, três vezes presidente da Câmara e segundo na linha sucessória republicana.

Desmentidos, na quinta e sexta-feira, só contribuíram para realçar o óbvio. Ou seja, a presidente perdeu a liderança no Legislativo. Em consequência, encurtou a margem de manobra para desfazer a trama em que ajudou a enredar a economia.

Dilma criou uma situação inédita. Em todas as crises recentes, o fator externo foi preponderante. Agora, ele está neutralizado por reservas razoáveis (mais de US$ 300 bilhões). Porém, o desarranjo nas contas públicas domésticas aumentou a inflação e o desemprego industrial.

A desordem resulta de uma década de gastos acima da receita, e com pagamentos adiados. As despesas realizadas e não pagas cresceram 45% no primeiro governo Dilma. Somam R$ 227 bilhões — seis vezes mais que a poupança governamental prevista em 2015 para pagar os juros da dívida pública (o chamado superávit primário).

Nas capitais e cidades médias, onde está a maior parte do eleitorado, prevalece a percepção da escalada inflacionária e do desemprego industrial. As demissões nas fábricas traduzem a decadência da indústria brasileira, a despeito do samba-exaltação governamental sobre sua regeneração na década que passou. Ela fica mais visível quando se observa a participação do setor na composição do Produto Interno Bruto (conjunto dos bens e serviços produzidos no país).

A fatia da indústria no PIB encolheu para pouco mais de 12%, conforme dados da Federação das Indústrias de São Paulo. Significa, proporcionalmente, retrocesso ao estágio de desenvolvimento que o Brasil possuía há 60 anos, quando o governo Juscelino Kubitschek lançou um plano para industrialização do Sudeste. Na década anterior a JK, quando o país era essencialmente rural, a embrionária indústria já contribuía com 11,3% do PIB.

Entre Lula e Dilma ( 2004 a 2012), a participação do setor industrial no PIB caiu 30,8%, diz a Fiesp: "Se o cenário não se alterar, em 2029 a indústria vai representar apenas 9,3% do PIB."

Foi sobre esse terreno instável que o deputado Cunha escolheu assentar baterias contra o governo, acelerando votações de contas, de pedidos de impeachment e de aumentos de gastos.

Ele culpa Dilma por suas agruras no inquérito sobre corrupção na Petrobras, tanto quanto se diz perseguido pelo procurador Rodrigo Janot e pelo juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba.

Queixou-se do juiz ao Supremo, mês passado, porque foi citado por Júlio Camargo, agente de subornos a políticos. Depondo em Curitiba, Camargo disse que deu uma propina de US$ 5 milhões ao deputado Cunha para garantir a contratação de dois navios-sonda pela Petrobras.

O juiz respondeu, segunda-feira: "A mera referência ao nome do titular do foro (em Brasília) não o torna acusado do processo (em Curitiba)." Complementou: "Aliás, o acusado Júlio Camargo declarou que, previamente à audiência (em Curitiba), teria prestado depoimento (em Brasília) relatando em detalhes o envolvimento do deputado".

O destino de Cunha começa a ser definido nos próximos dias quando a Procuradoria Geral decide se vai denunciá-lo. Havendo denúncia, o Supremo julga se abre processo. Se processado, o presidente da Câmara estará prisioneiro de duas batalhas simultâneas: uma contra a presidente, outra pela própria sobrevivência na política.

Líderes do PMDB buscam apoio para fortalecer Temer

• Aliados tentam criar condições para vice governar se desfecho da crise levar a afastamento de Dilma Rousseff

• Romero Jucá é apontado como um entusiasta da articulação; na BA, Geddel divulgou vídeo pedindo impeachment

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Líderes do PMDB começaram a trabalhar em várias frentes na última semana para dar ao vice-presidente Michel Temer condições de governar se o aprofundamento da crise política em que o governo Dilma Rousseff mergulhou levar ao afastamento da presidente antes da conclusão do seu mandato.

Os articuladores desse movimento estão em busca de apoio do empresariado e começaram a dialogar com líderes da oposição, numa tentativa de construir um caminho político que aponte Temer como alternativa mais segura para superar a crise.

Os aliados de Temer admitem que esse movimento ainda não está maduro, mas acreditam ter colhido uma primeira resposta positiva na quarta-feira (5), quando as federações estaduais das indústrias de São Paulo e Rio expressaram publicamente apoio ao vice, um dia depois de ele fazer um apelo por união para superar a crise.

Um dos responsáveis pela iniciativa, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, é filiado ao PMDB e comemorou seu aniversário em um almoço com Temer na sexta (7).

No campo político, tanto petistas que estão no governo como nomes da oposição apontam o senador Romero Jucá (PMDB-RR) como um dos entusiastas e artífices da articulação pró-Temer.

Na terça (4), Jucá participou de reunião entre líderes de PMDB e PSDB. Segundo relatos de três participantes, deixou evidente que não vê mais saída para a crise com Dilma no Planalto.

Ministros próximos à petista temem que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) também embarque no movimento pró-Temer, o que poderia enfraquecer ainda mais a presidente.

Políticos que estiveram com Renan na última semana disseram que ele ainda adota postura muito cautelosa e se diz disposto a colaborar com o governo, barrando ações da Câmara que ameacem o ajuste fiscal.

Enquanto líderes do Congresso tratam do assunto com reserva, aliados de Temer fora de Brasília têm assumido atitude mais agressiva. Amigo do vice, o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) reproduziu nas redes sociais vídeo que diz que "o impeachment de Dilma Rousseff só depende do PMDB".

O locutor do vídeo afirma que "o povo" quer que o PMDB escolha entre os "comparsas petistas" ou "o Brasil". "O PT quebrou o Brasil. O PMDB só tem uma escolha. Impeachment, já." O filme foi noticiado pelo colunista do UOL Josias de Souza.

Sempre que aborda o assunto publicamente, Temer desautoriza esse tipo de ação e afirma que trabalha pela governabilidade com Dilma.

"Ele não conspira e não pode parecer que faz isso", diz um aliado. "Ele precisa ser naturalmente visto pelos políticos, pela sociedade e pelo empresariado como único agente capaz de reagrupar o país, e a pecha de conspirador não cabe nesse cenário."

Nesta semana, Temer fez o movimento mais explícito desde o início da crise, ao falar em união nacional.

Ao saber que ministros próximos a Dilma avaliaram que seu gesto contribuiu para enfraquecer a presidente, Temer disse que poderia entregar o cargo de articulador político do governo, o que não foi aceito por Dilma.

No PT, decidiu-se que ele não será atacado publicamente, mas há uma operação em curso para reduzir o espaço de atuação do vice, estimulando agentes do PT a também dialogar com deputados da base sobre cargos e recursos para projetos em seus redutos eleitorais.

No PSDB, a reação ao avanço da operação pró-Temer veio da boca de aliados do senador Aécio Neves (MG). Os líderes da sigla no Congresso convocaram a imprensa, sem consultar os colegas de bancada, para indicar que não aceitarão compor com o vice.

Um risco para o movimento pró-Temer é o avanço da Operação Lava Jato. Apontado como o elo entre a corrupção na Petrobras e caciques do PMDB, o lobista Fernando Baiano começou a negociar um acordo de delação.

Aliados de Temer dizem que ele não tem preocupação pessoal com o assunto, mas acham que o vice pode sair chamuscado se revelações atingirem a cúpula do PMDB. Renan, Jucá e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), são investigados

Enfrentamento vira tática oficial anti-impeachment

Erich Decat - O Estado de S. Paulo

• Discurso de confronto adotado por Dilma segue linha lançada pelo PT na TV; para partido, aceno à oposição soaria como ‘fragilidade’

BRASÍLIA - O discurso de confronto direto adotado pela presidente Dilma Rousseff e pela cúpula do PT contra setores da oposição a favor do impeachment da petista será a tônica para tentar tirar o governo das cordas e constranger os adversários. Dilma seguiu o script traçado na última semana e pôs em prática um tom mais duro contra as ameaças de seu afastamento do Palácio do Planalto ao participar anteontem da entrega de 700 casas do Programa Minha Casa Minha Vida, em Boa Vista, capital de Roraima.

“A primeira característica de quem honra o voto é saber que ele é a fonte de minha legitimidade e ninguém vai tirar essa legitimidade que o voto me deu”, afirmou a presidente numa referência indireta às lideranças do PSDB que defenderam durante a semana a realização de novas eleições. Na quinta-feira, em Brasília, os líderes tucanos na Câmara, Carlos Sampaio (SP), e no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), defenderam o impeachment de Dilma e do vice-presidente Michel Temer para a convocação de uma nova disputa eleitoral.

As declarações de Dilma ocorreram um dia após a petista convocar reunião com integrantes da coordenação política do governo para tentar encontrar alternativas para contornar o pior momento da relação com a base aliada no Congresso e fazer um “plano de ação” contra as investidas dos opositores.

Segundo o Estado apurou, no encontro, foi feito o relato de que integrantes da base aliada e do próprio partido refutaram a iniciativa do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, de fazer afagos a opositores. Em audiência realizada na última quarta-feira, na Câmara, o ministro admitiu que o governo cometeu erros e pediu apoio da oposição. “Vocês têm experiências importantes na administração de Estados e do Brasil e precisamos ter pactos de política de Estado que vão além do governo”, disse Mercadante.

De acordo com um interlocutor de Dilma, a postura adotada por Mercadante ressaltou a ideia de fragilidade do Palácio do Planalto num momento em que é necessário uma reação diante das manifestações da oposição a favor de novas eleições presidenciais.

Imagens. Em outra linha de ação, o PT voltou a usar em seu programa partidário, que foi ao ar em cadeia nacional de TV na quinta-feira, o tom e a fórmula da campanha eleitoral de atacar a oposição e até ironizou os panelaços dos quais Dilma e o partido são vítimas em aparições televisivas. Também mostrou imagens de adversários - os senadores Aécio Neves (PSDB-MG), Ronaldo Caiado (DEM-GO), José Agripino Maia (DEM-RN) e dos deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Paulo Pereira da Silva (SD-SP). Os petistas pouparam, entretanto, outros líderes da oposição como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o senador José Serra (PSDB-SP).

Ambos não têm militado pelo afastamento imediato de Dilma. Diante das atuais circunstâncias, Aécio Neves seria o principal beneficiado numa eventual nova eleição antes de 2018, quando o próprio Alckmin e Serra poderão disputar a vaga para a disputa presidencial dentro do PSDB.

Economia. Embora a presidente Dilma Rousseff e a cúpula do PT tenham colocado em prática uma linha de ação de enfrentamento em relação ao impeachment, há ainda grande preocupação com a condução das atividades no Congresso, onde lideranças da base aliada têm aplicado uma série de derrotas ao governo. Entre as preocupação de parte da coordenação política está a criação de pautas na área econômica que possam apontar um caminho para a saída da atual crise.

Há o entendimento de que o Executivo não tem uma pauta explícita para a retomada da economia, o que é considerado elemento fundamental para se retomar o equilíbrio na relação com os aliados descontentes. “Quem destaca crise, quer crise”, resume um ministro próximo à presidente.

Às vésperas de mais um protesto, a busca por uma rede de apoio

Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

• Antes acuada, a presidente Dilma Rousseff agora irá para o enfrentamento político e usará a tática do medo para defender o mandato

A uma semana dos protestos contra o governo, a presidente Dilma Rousseff vai adotar nova estratégia para sair da crise. Antes acuada, Dilma agora irá para o enfrentamento político e usará a tática do medo. A ideia é defender o mandato pelo País, como fez anteontem em Roraima, e dizer que quem aposta em solução fora do script eleitoral põe em risco a estabilidade da economia.

Dilma pretende construir uma frente de apoio - formada por governadores, empresários, representantes da academia, dos movimentos sociais e parlamentares - para proteger o governo das ameaças de impeachment. Trata-se de mais um gesto simbólico para mostrar que não está isolada.

Ministros do PT têm conversado não apenas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas com políticos influentes da fraturada base aliada e até do PSDB. Aos tucanos que têm dúvidas sobre a conveniência de apoiar o afastamento de Dilma, o argumento dos petistas é o de que, se vencer as eleições de 2018, o PSDB não vai querer receber um País dividido, com ódio político e a economia em frangalhos.

A estratégia do Planalto é mostrar que um possível processo de impeachment terá sérias consequências no ambiente econômico, dificultando investimentos e ampliando as incertezas sobre o Brasil no cenário internacional.

Ao se reunir com a presidente e outros colegas de Esplanada, na quinta-feira, um ministro usou uma imagem sombria para resumir a tempestade perfeita que ataca o governo. “É como se a gente estivesse num túnel escuro, sem gordura para queimar”, disse.

Apesar de ter iniciado consultas para a reforma ministerial, Dilma não definiu as mudanças na equipe. Articulador político do governo, o vice-presidente Michel Temer, que comanda o PMDB, está sem munição suficiente para atender aos apelos da base, mas, por enquanto, continuará com a mesma tarefa.

Após uma derrota atrás da outra na Câmara presidida por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o governo promete acelerar a liberação de cargos e emendas parlamentares, mas tem esbarrado no ajuste fiscal. Em conversas reservadas, ministros políticos argumentam que, para o ajuste não naufragar, o titular da Fazenda, Joaquim Levy, precisa “abrir a mão”.

Até o PC do B, que apoiou o PT em todas as campanhas presidenciais, está insatisfeito com o governo. “O modelo da base de apoio da presidente no Congresso faliu”, disse o deputado Orlando Silva (PC do B-SP), vice-líder do governo e ex-ministro do Esporte. “Ou o governo faz uma rearrumação ou não há saída. Não se trata só de reforma, mas de mudança no padrão de relacionamento. Não dá ministro que representa um partido não ter autoridade em relação à bancada do partido.”

Isso foi o que mais se viu na última semana, na volta do recesso parlamentar. “Vocês deixaram Temer sobrecarregado e lavaram as mãos”, esbravejou Dilma, em conversa com ministros petistas, reclamando da falta de “marcação” sobre o Congresso.

Antes da votação que reajustou salários de advogados públicos e de outras carreiras, na madrugada de quinta, a Secretaria de Relações Institucionais disparou e-mail para 20 ministros de partidos diferentes com os nomes dos deputados que haviam se posicionado contra a retirada da proposta da pauta. Era uma tentativa de fazer com que eles pressionassem os parlamentares, mas não adiantou.

Agora, Dilma vai tentar derrubar a pauta que aumenta os gastos do governo no Senado. É na Casa comandada por Renan Calheiros (PMDB-AL) que ela aposta para evitar o impeachment. A Operação Lava Jato e as CPIs na Câmara são tormentas na vida do governo, mas o perigo real e imediato será medido pela temperatura das ruas no 16 de agosto.

Dilma convoca ministros, que cobram cargos e corte de pastas

Por Simone Iglesias – O Globo

• Encontro deste domingo é tratado como ‘hora da verdade’ por aliados da presidente

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff reúne neste domingo a coordenação política do governo para discutir o esfacelamento da base e o agravamento da crise política na última semana. O tom da discussão foi antecipado no sábado por integrantes do núcleo da coordenação política do governo, que classificam o encontro como “a hora da verdade” para a presidente. Ela convocou o vice, Michel Temer, e os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), José Eduardo Cardozo (Justiça), Eliseu Padilha (Aviação Civil), Nelson Barbosa (Planejamento), Jaques Wagner (Defesa) e Edinho Silva (Comunicação Social), para encontro no Palácio da Alvorada a partir das 19h. A reforma e a redução do número de ministérios também serão discutidos.

— Há como fazer uma recomposição, mas o governo tem que cumprir o que promete aos aliados. Chegou a hora da verdade. Não dá mais para fingir que dá o que promete, mas no fim das contas, não dá. Não pode prometer mais nada se não vai cumprir — disse um ministro da coordenação política ao GLOBO.

O encontro foi antecipado porque a presidente tem compromisso no Maranhão, segunda-feira: uma cerimônia de entrega de unidades do programa Minha Casa, Minha Vida.

Dilma vem recebendo sugestões de cortar pastas, como forma de sinalizar que está empenhada na contenção de gastos, e de fazer mudanças na estrutura dos ministérios, para melhor representar aliados. Na última quinta-feira, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se reuniu com Dilma e voltou a pedir o enxugamento do número de pastas. Uma mudança vista como importante para a melhora das relações seria a saída de Mercadante da Casa Civil. Apesar de peemedebistas, petistas e o ex-presidente Lula defenderem seu afastamento, dentro do governo a saída é considerada praticamente impossível neste momento.

— Mercadante não sai — disse ao GLOBO um ministro.

A explicação é que, além de Dilma não abrir mão do auxiliar, Mercadante se tornou imprescindível por, na definição de integrantes do núcleo político, dominar muitas informações da administração.

Segundo um auxiliar presidencial, apesar da redução de ministérios ter pouco impacto nas finanças, a medida seria importante para fora do governo, um aceno à sociedade. Por outro lado, disse o assessor, uma reforma que desse mais poder aos aliados somada à troca de ministros não políticos e sem padrinhos por nomes mais expressivos dos partidos poderia aproximar a base.

— O problema do PDT (por exemplo) não é que ele saiu do governo. Ele nunca entrou. O partido tem apenas o ministro do Trabalho (Manoel Dias) nomeado. As demais secretarias são do PT. O mesmo ocorre com o PRB no Ministério do Esporte. Há muita reclamação dos aliados quanto a isso. Desta forma, fica realmente difícil — exemplificou um ministro.

Apesar do diagnóstico e dos recorrentes pedidos de mudança, há ceticismo entre ministros de que essas trocas ocorram imediatamente. A equação de reforma e redução de ministérios não é fácil de ser feita. Com o governo fragilizado e a relação com os partidos aliados deteriorada, cada mudança poderá gerar um novo conflito.

— Há mais clima para reforma do que para redução de ministérios. E assim mesmo tem que ser feita de maneira cirúrgica para evitar ainda mais problemas com os aliados — disse um integrante do governo.

Além do debate sobre a redução de ministérios, há apelo de petistas e peemedebistas para que Lula assuma algum cargo no governo. Uma
pessoa próxima ao ex-presidente descartou a ideia. Segundo a fonte, após deixar o governo, Lula nunca quis voltar como auxiliar.

PT avalia reconhecer erros éticos para estancar crise

A hora do mea-culpa

• Cúpula do PT já admite que reconhecer erros do partido é a única saída

• Ideia do mea-culpa cresce entre petistas históricos, diante de crise da legenda

Por Catarina Alencastro, Tatiana Farah – O Globo

BRASÍLIA, SÃO PAULO E RIO - Em busca de uma saída para o labirinto de denúncias, desacertos e paralisia que assombra o PT, cresce dentro da cúpula do partido a tese de que é preciso admitir que a legenda cometeu erros e reconhecer, inclusive, que desvios éticos e morais foram praticados por companheiros importantes, como José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil de Lula. Embora a ideia do mea-culpa não conte com o apoio unânime dos petistas, tampouco está concentrada em personagens isolados. A estratégia é vista por gente da cúpula do PT como condição de sobrevivência do partido.

Um ministro petista diz que não é possível ignorar a inteligência dos militantes e da população sobre o que vem sendo revelado nas investigações de corrupção ocorridas na Petrobras e que levaram Dirceu à prisão pela segunda vez. O ex-tesoureiro do partido João Vaccari também foi preso pela Lava-Jato. E, na era Lula, o então tesoureiro Delúbio Soares e o ex-presidente do partido José Genoino, assim como Dirceu, sucumbiram sob o mensalão.

— Estamos com o ex-ministro da Casa Civil preso, o ex-tesoureiro do partido preso. Já tivemos outro tesoureiro preso. Se não fizermos autocrítica, não vamos conseguir reconstruir o PT — afirma.

Segundo esse ministro, isso deveria ser o principal foco do partido neste momento. A visão não tem apoio do presidente do PT, Rui Falcão, que seria refratário devido aos efeitos da admissão de responsabilidade sobre os malfeitos cometidos no passado recente por alguns integrantes ilustres da legenda. Um petista histórico diz que os companheiros de partido vivem um misto de medo, decepção e irritação. A curto prazo, os desdobramentos da Lava-Jato e a manifestação de 16 de agosto são alguns fantasmas que os assombram.

A prisão de Dirceu por suspeita de enriquecimento pessoal e ilícito levou boa parte das forças e da confiança que os petistas tinham nos seus correligionários. Trouxe ainda decepção para os que ainda acreditavam no discurso de que a investigação estava sendo turbinada por forças que nutrem ódio histórico contra o partido, como a “mídia golpista”, tão falada em discursos inflamados de Lula.
— Eu me arrependo de não ter gritado: “Zé, não pode misturar o público com o privado. Não pode se locupletar” — disse um petista histórico ao GLOBO.

Sentimento de traição
Esse petista lamenta que esse tipo de atitude e a corrupção revelada pelas investigações estão “quebrando todo o projeto do PT” e jogando lama no legado de redução da pobreza e outras marcas do governo Lula. Mudar a política econômica e reatar com os movimentos populares são outras estratégias que têm sido discutidas no seio do PT. A perspectiva hoje, no entanto, é que a recuperação tanto do governo quanto da legenda só virá no próximo ano, quando há expectativa de melhora da economia.

Enquanto isso, o fosso entre PT e governo aumenta. Há menos de 2 meses, o ex-presidente Lula afirmou em reunião com religiosos que a presidente Dilma havia feito promessas que não cumpriu, que prometeu não mexer nos direitos trabalhistas e mexeu. Esse sentimento de traição, demonstrado por setores da sociedade que a apoiaram no 2º turno, é o mesmo nos bastidores do partido.

Em vista desse quase divórcio, dirigentes falam, em algumas ocasiões e sempre a sete chaves, que o melhor seria a presidente renunciar antes de atravessar um processo de impeachment, algo que, avaliam, ela não executará. Para esses dirigentes, um longo processo de impeachment não só “sangraria” o partido, mas deixaria o país mergulhado em crise ainda maior.

O problema de Dilma é que ela não ouve conselhos, avaliam Lula e dirigentes da legenda. Em encontro com parlamentares, o ex-presidente disse que, mesmo quando os aceita, demora a agir. Como Dilma não cumpriu promessas de campanha e abraçou política econômica de austeridade, os laços que estavam sendo refeitos com os movimentos sociais praticamente se partiram.

— Os movimentos não são braços do partido e nem devem ser. O governo tem de dialogar sempre. É preciso abrir canais de comunicação. As elites têm seus canais e seus instrumentos de pressão — disse Luiz Dulci, diretor do Instituto Lula, em reunião com os movimentos sociais quarta-feira em São Paulo, apontando que o país vive, como a América Latina, uma “ofensiva conservadora”.

Essa ideia de reação com apoio popular tem sido propalada por Lula e pelos principais dirigentes do PT. O problema é conciliar a luta popular com uma política econômica que corta gastos e ameaça direitos. E, mais que isso, abrir um diálogo com movimentos mais distantes do partido, como o MTST, que pede políticas de moradia.

Quanto a isso, Dilma sinalizou na quinta-feira que vai adotar as reivindicações do movimento, e Rui Falcão tem conversado com dirigentes sem-teto. O MST, por sua vez, cobra reforma agrária, e o governo acenou, também na semana passada, com o aumento do orçamento para a política agrária.

Para os petistas, a manifestação da oposição no dia 16 será “monstruosa”, levando multidões para a rua. A contraofensiva partirá dos atos de “apoio à democracia” marcados para o dia 20 em todo o país. Mas já se calcula que eles devem ser menores do que os da oposição.

Fundadores criticam busca por cargos
As culpas do governo, apontam os petistas, são muitas. Mas as do partido são sempre minimizadas pelos dirigentes. Fundadores do PT, que estavam à mesa da ata de criação do partido, 35 anos atrás, criticam a busca do partido por cargos e eleições. O ex-governador gaúcho Olívio Dutra diz que há eleições que é melhor perder:

— A ideia da política é construir o bem comum com protagonismo das pessoas, não essa coisa do “toma lá, dá cá”. As atitudes erradas violentaram essa arca do tesouro, que não é só petista.

Com reflexões como “baixamos a guarda” e “afrouxamos porque não estávamos em cima, cobrando”, Olívio diz que perdeu ilusões, “mas a esperança, jamais”, e que o PT tem de admitir erros.

— Tem gente até presa. Feriram o patrimônio ético e moral, e a direção (do partido) tem de dizer isso. Falta dizer publicamente e pedir desculpas ao povo, e não às elites — ressalta Olívio, para quem “há derrotas que ensinam mais que vitórias”.

O suposto enriquecimento pessoal de Dirceu deixou o partido constrangido, rompendo a ideia de que eventuais malfeitos serviriam apenas para a construção do projeto político.

Um dos nomes próximos de Lula, o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, afirma que as investigações sobre Dirceu têm muito “diz-que-diz” e que não há comprovação de enriquecimento.

— Se comprovado (o crime), agrava a situação do Dirceu, não do governo — rebate, e diz que os delatores têm sido vistos pela mídia “como inocentes”.

Em ato de apoio ao Instituto Lula, na sexta-feira, Marinho também defendeu Dilma:

— A presidente admitiu erros. Vocês querem que ela fique de joelhos?

O sindicalista aposentado Paulo Skromov liderava o Sindicato dos Coureiros e coordenou a mesa de políticos que fundaram o PT.

— O PT hoje é um partido que só se ocupa de eleições. É só tocar mandatos parlamentares e executivos. É um partido que confiou demais na classe dominante — diz ele, que continua petista.

Para Skromov, a saída do PT é retornar ao seu pensamento inicial e migrar para a esquerda, porque hoje seria “de centro-esquerda”. Ele disse não acreditar nas denúncias de corrupção.

Além de enfrentar a pior crise de sua história, o PT pode ficar completamente sem dinheiro se perder a disputa com o TSE e ter 3 meses de repasse do Fundo Partidário suspensos, além de pagar multa de R$ 4,9 milhões ao tribunal. Até mesmo seu sistema online de recebimento de doações, anunciado no 1º semestre, ainda não opera. Márcio Macedo, tesoureiro do partido, que sucedeu a Vaccari, diz que o sistema de doações será implantado nos próximos dias.

Dirigentes do PT avaliam que o processo de reabilitação levará mais do que quatro anos e que Lula jamais concorreria à Presidência. Ele estaria muito mais preocupado com seu legado.

A existência do PT como partido forte, capaz de disputar o poder central, vai depender da autocrítica pública e de uma mudança de postura, na avaliação de outro ministro. Para esse petista, ou o PT faz esse mea-culpa e volta, ou vai se transformar numa legenda de “gueto”, “pequena e raivosa”.

Ressentido, Dirceu sente abandono até de Lula

Por Mariana Sanches e Tatiana Farah – O Globo

• Ex-ministro fica sem defesa do PT e se queixa da falta de apoio público. Mesmo assim, amigos garantem que não há hipótese de delação premiada

SÃO PAULO - Dias antes de ser preso na 17ª fase da Operação Lava-Jato, o ex-ministro José Dirceu, de 69 anos, se mostrava vencido. Ligava para a família pedindo que o visitassem porque poderia “ser preso a qualquer hora”. Na semana que antecedeu a prisão, em conversa com amigos, chegou a calcular que ficaria preso por pelo menos “seis ou oito meses”. A tensão resultou em uma crise de hipertensão, com pico de pressão arterial de 19 por 12 (o normal é 12 por 8).

Nos últimos tempos, Dirceu se mostrava ressentido com lideranças do PT, sobretudo com Lula, com quem não fala desde antes de sua condenação no mensalão. Queixava-se da falta de apoio público por parte da cúpula do partido. Como esperava, sua defesa não foi feita, mais uma vez, na reunião de terça-feira da Executiva Nacional do PT. Desde que começou a cumprir pena, ele deixou de participar dos destinos políticos do partido e pouco foi visitado pelos “companheiros”. Em março deste ano, seu almoço de aniversário, antes marcado pela presença de políticos de todos os calibres, contou com poucas pessoas e nenhum figurão da legenda.

Há tempos a base de apoio de Dirceu deixou de ser sua corrente interna do partido, a Construindo Um Novo Brasil, e passou a ser o “setorial” da juventude. São esses jovens que organizam manifestações de apoio e gritam, em eventos petistas, “Dirceu, guerreiro do povo brasileiro”. O grito de guerra, no entanto, não foi entoado no último congresso nacional do partido, em junho passado. E a julgar pela reação dos petistas depois da revelação das evidências de que o ex-ministro teria recebido benesses pessoais como uma milionária reforma em sua casa e o aluguel de um jato particular talvez não volte a ser ouvido tão cedo. Integrantes do partido dizem que a suspeita de ter usado um esquema de corrupção para “enriquecimento pessoal” feriu a sensibilidade dos militantes.

Mesmo com o faturamento de quase R$ 40 milhões de sua empresa, a JD, Dirceu nega ter enriquecido e diz ter dívidas de R$ 3 milhões — acumuladas com a defesa em processos e as atividades políticas. Em conversas com amigos antes da prisão, Dirceu admitiu erros: deixar que a Jamp, do operador Milton Pascowitch, pagasse suas despesas diretamente e pedir pagamentos adiantados, operação típica de lavagem de dinheiro. Segundo amigos, até recentemente ele não sabia como a questão financeira era gerida. A contabilidade ficava por conta do irmão Luiz Eduardo, também preso. Luiz Eduardo foi escolhido justamente por características que agora podem complicar Dirceu: é um sujeito simples, completou só o ensino médio, nunca teve relação com a política ou vida pública e pode não saber como responder aos investigadores. De antemão, Dirceu acredita que será condenado. E diz lamentar não ter mais 50 anos para ter tempo de cumprir a pena e tentar redimir a biografia. Segundo amigos, não há hipótese de que ele aceite delação premiada.

O ex-ministro sustenta que o dinheiro que recebeu não era propina, mas resultado do trabalho como consultor internacional. Diz que valores recebidos enquanto preso vinham de taxas de sucesso dos negócios que intermediava. E afirma que o jatinho à sua disposição não era luxo, mas necessidade — ele quase apanhou algumas vezes em saguões de aeroportos pelo Brasil. A despeito do ostracismo no partido, fazia sempre um diagnóstico de política, assunto do qual declinava apenas para assistir ao desenho “Peppa Pig” com a filha Maria Antonia, de cinco anos.

Crise amplia divisão entre caciques do PSDB

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

• Possíveis presidenciáveis, tucanos Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra divergem sobre quais rumos adotar

• Votação do ajuste fiscal e avanço de articulação em torno de vice Michel Temer estão entre pontos de discordância

SÃO PAULO - O agravamento da crise ampliou as divisões existentes na oposição sobre a estratégia mais conveniente para lidar com o governo Dilma.

Setores do PSDB que vinham criticando a postura radical de integrantes da sigla no Congresso em votações de projetos com impacto sobre as contas públicas ganharam reforço de peso.

O senador José Serra (SP) disse ver com "angústia" as consequências do desarranjo da base governista e o flerte da oposição com ameças ao ajuste fiscal. "O futuro não pode ser vítima de um presente de irresponsabilidades", disse à Folha.

"O volume e a qualidade dos projetos que estão sendo apresentados não têm efeito apenas sobre o governo Dilma, mas principalmente a médio e longo prazo", disse. Para o senador, "todos os que têm projeto de poder" devem levar isso em conta.

Serra só se dispõe a falar sobre os efeitos econômicos do desmonte do governo no Congresso, mas as discussões dentro de seu partido vão muito além dessa questão.

O PSDB está dividido sobre os rumos que deve adotar caso Dilma não consiga concluir o mandato. Se antes já havia divergência sobre o melhor desfecho, o avanço das articulações que tentam fazer do vice-presidente, Michel Temer (PMDB), a saída menos traumática para o país ampliou o descompasso entre os presidenciáveis da sigla.

Presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) comandou operação para sinalizar a Temer e a integrantes do próprio PSDB que uma composição entre tucanos e Temer, caso Dilma seja afastada, não será natural.

Com o consentimento dele, os líderes da sigla na Câmara e no Senado defenderam publicamente a renúncia de Dilma e Temer e a convocação de novas eleições como saída para a crise.

A ideia era recolocar em pauta o desfecho que Aécio considera ideal: o de que só alguém legitimado pelo voto pode reorganizar o país.

Além disso, era também uma mensagem contra o flerte de tucanos com Temer. Serra, por exemplo, vem sendo apontado como nome certo em um eventual ministério do peemedebista.

As declarações dos aliados de Aécio foram recebidas com surpresa no partido. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse a um aliado que a mensagem soou um tom "acima do possível".

Homenagem
O desencontro de reações à operação que tenta viabilizar Temer ficou ainda mais evidente porque o governador Geraldo Alckmin (SP) patrocinou uma homenagem ao peemedebista em São Paulo e o saudou como um homem que trabalha pelo "bem comum", horas após a fala dos aliados de Aécio no Congresso. Alckmin quer ser candidato a presidente. E só terá chance se o atual governo chegar até 2018 –com Dilma ou Temer.

A aliados, Aécio disse que o partido sabe das responsabilidades que tem com o país e reclamou de cobranças que seus aliados recebem. Para ele, não tem sentido exigir coerência ideológica dos deputados tucanos nas discussões do ajuste se até petistas têm votado contra o governo.

Nesta terça (4), o mineiro jantou com líderes do PMDB no apartamento do colega de bancada Tasso Jereissati (CE). Não houve consenso sobre o destino de Dilma, mas ficou pactuado que PSDB e PMDB vão trabalhar no Senado para barrar "excessos" em matérias fiscais.

Procurado, Aécio disse que hoje "várias possibilidades se colocam, inclusive a de Dilma permanecer no cargo": "O desfecho depende muito mais da capacidade do governo e das decisões da Justiça do que da oposição."

A movimentação pró-Temer causou tanto alarde que setores da oposição passaram a torcer para o TCU (Tribunal de Contas da União) adiar o julgamento das contas de 2014 de Dilma. Uma condenação na corte abriria caminho para o impeachment.

Esse cenário, agora, colocaria o PSDB em uma encruzilhada. O partido jamais se posicionaria contra o afastamento da petista, mas o momento não é bom para todos. Coincidiria com o período em que Temer ganha projeção como potencial sucessor de Dilma.

Sem unidade, uma ala do PSDB quer nova eleição e outra espera por 2018

Gil Alessi – El Pais

• Principais caciques do partido têm sua própria agenda na crise política

SÃO PAULO - O momento seria propício para a oposição. O Governo de Dilma Rousseff enfrenta a maior crise política desde que o PT assumiu o Executivo, sofrendo derrota após derrota nas mãos de seu desafeto declarado, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Para piorar, o Planalto cada vez mais vê sua base no Congresso se esfacelar, com debandada de partidos aliados e petistas votando contra o Governo. Seria o cenário perfeito para que o maior partido de oposição, o PSDB, conseguisse capitalizar a crise do Governo a seu favor, mostrando-se como alternativa. Mas o tucanato se encontra dividido com ao menos quatro discursos, embora unidos em desestabilizar o Governo Dilma.

Na Câmara, a bancada do PSDBtem se alinhado com Cunha e apostado no quanto pior melhor, segundo especialistas. Nesta quinta-feira, os líderes das bancadas tucanas na Câmara, Carlos Sampaio (SP), e no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), por exemplo, defenderam a convocação de novas eleições “para a salvação do país”. “Concordamos com o vice Michel Temer de que precisamos identificar uma pessoa que construa um projeto nacional para salvar o país”, disse Sampaio, fazendo referência à declaração de Temer feita na tarde de quarta. “Mas estamos convencidos de que essa pessoa (...) teria que ser legitimada pelo voto popular”, afirmou. A bancada foi apelidada de “os cabeças pretas” por alguns parlamentares, devido à impetuosidade e à idade inferior aos dos 'cabeças brancas' do Senado, mais ponderados.

A aposta dos líderes é conseguir o impeachment de toda a chapa - Dilma e Temer -, e não apenas da presidenta. Isso depende do Tribunal Superior Eleitoral julgar procedente a ação de impugnação contra a petista e seu vice, o que destituiria os dois. Neste caso haveriam novas eleições para o Executivo. É uma hipótese pouco provável, segundo analistas. Caso Dilma tenha as contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União, um outro caminho para o impeachment, ela apenas seria afastada, e o peemedebista assumiria até o final do mandato, em 2018.

Além do grupo da Câmara, os tucanos contam ainda com três grandes correntes internas, diz Luciano Dias, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos. Uma delas é liderada pelo ex-candidato do partido à presidência, o senador Aécio Neves (PSDB-MG). “Ele poderia se beneficiar do recall relacionado à eleição de 2014. É do seu interesse manter a temperatura da crise alta”, diz Dias. Caso a chapa Dilma/Temer seja impugnada, o tucano pode contar com essa visibilidade para ser conduzido ao cargo caso uma nova eleição seja convocada. Inicialmente reticente em apoiar abertamente os atos de rua pedindo o impeachment de Dilma, Neves aos poucos se alinha com os cabeças pretas. Esta semana ele afirmou que “a presidente Dilma e o PT perderam a capacidade de governar”.

• O PSDB nunca foi um partido, sempre foi muito mais uma reunião de caciques que têm as suas próprias posições

Do outro está o grupo liderado pelo Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que tem se mostrado cauteloso quanto a assumir um discurso de enfrentamento com a presidenta e pró-impeachment. “O horizonte do Alckmin é a eleição de 2018. Ele não tem o menor interesse em um fato que altere estas perspectivas”, afirma o professor. De acordo com ele, um impedimento de Dilma do poder ou até mesmo da chapa inteira seria prejudicial ao tucano, uma vez que abriria o caminho para que outros caciques do partido assumissem uma posição de preponderância na legenda. Comandando a vitrine do segundo maior orçamento do país, “ele quer ver o Governo fritar até as próximas eleições para que ele tenha chances de disputar novamente o Planalto”, avalia Dias.

Correndo por fora está o senador José Serra (SP). O parlamentar está próximo de Temer e do PMDB, e muitos já avaliam que ele pode deixar o seu partido. A coluna de Mônica Bergamo na Folha de S. Paulo informou que ele poderia estar costurando um acordo para assumir a pasta da Fazenda caso Dilma seja afastada e Temer fique com a presidência. Ele também se reuniu com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e outras lideranças tucanas para tratar do impeachment de Dilma. Na ocasião, ele teria criticado os deputados e as pautas-bomba da Câmara, consideradas por ele "irresponsabilidades fiscais".

• Se as coisas continuarem neste ritmo, em breve o partido de Temer, Cunha e Renan pode ser responsável por infligir o quinto tento contra a maior legenda de oposição

“O PSDB nunca foi um partido, sempre foi muito mais uma reunião de caciques que têm as suas próprias posições. A ideologia não é o forte dos tucanos”, afirma José Arthur Giannotti, professor de Filosofia da USP. Amigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ele é considerado uma referencia teórica dentro do partido. “Você acha que Aécio Neves e José Serra tem alguma coincidência ideológica? Nunca houve”, afirma. Na avaliação de Giannotti, “isso não apenas enfraquece o partido, mas faz com que ele seja mais um tiroteio do que uma oposição política”. No final “não fazem política responsável. Estão apenas empenhados em derrubar a Dilma”.

Não por acaso, é o PMDB quem tem crescido mais na condição de opositor ao Governo, carregando os tucanos a reboque. Diferente do PT, que após três derrota seguidas nas eleições para a presidência conseguiu afinar o discurso, os tucanos ainda se digladiam após quatro fracassos nas urnas. Se as coisas continuarem neste ritmo, em breve o partido de Temer, Cunha e Renan pode ser responsável por infligir o quinto tento contra a maior legenda de oposição.

Deputado tucano: “Se Dilma antecipar eleições, ficará melhor na história”

Afonso Benites – El Pais

• Aliado de Aécio, Pestana defende articulação de parte do PSDB para forçar um novo pleito

BRASÍLIA - Tido como um dos parlamentares mais próximos da cúpula nacional do PSDB e do ex-candidato à presidência Aécio Neves, o deputado federal mineiro Marcus Pestana se tornou um dos porta-vozes da ideia de que o Brasil precisa passar por nova eleição presidencial. O caminho, que provocou polêmica até entre os tucanos, beneficiaria, em tese, Aécio, por causa da proximidade das eleições do anos passado. Ex-presidente do diretório do PSDB em Minas Gerais, e ex-secretário de Saúde da gestão Aécio Neves, Pestana tem conversado com lideranças de outras legendas, como o PMDB, para que também defendam essa proposta. A ideia é forçar a presidenta Dilma Rousseff (PT) a antecipar as próximas eleições o que, na visão do tucano, ajudaria a preservar a imagem dos oposicionistas da pecha de "golpistas". "Sentimos que, se ela for afastada com base nas pedaladas fiscais, vai passar para a população a imagem de que houve um conchavo político. Aí, o PT se vitimiza, diz que foi golpe. Não é o melhor caminho. Por isso, nós do PSDB defendemos que um novo Governo surja por meio das urnas."

Pergunta. Quais são as alternativas para a crise política?

Resposta. O ambiente está muito confuso e as versões ficam muito confusas. Tem uma crise gravíssima, com recessão, desemprego, estrangulamento fiscal, desindustrialização, crise econômica aguda, desorganização de alguns setores. Tem uma Lava Jato que é uma caixa de Pandora, que parece que se se abrir, cai a máquina estatal toda. Tem uma crise política que se materializou nesta semana e, misturada com a prisão do José Dirceu, faz com que Brasília, se transforme num caldeirão de conspirações.

P. Muitas delas vindas da própria Câmara dos Deputados.

R. Sim. No plenário da Câmara parecia que a Dilma ia cair na semana que vem. O Governo perdeu o respeito. Perdeu a credibilidade. Parece que nem existe mais. Além disso, há uma constatação generalizada entre as lideranças políticas e empresariais de que a Dilma não dá conta de tirar o país desta crise.

P. E você é um dos defensores dessa tese?

R. Não só eu. Nove entre dez pessoas pensam assim. Não é um posicionamento, é uma constatação.

• Sentimos que, se ela for afastada com base nas pedaladas fiscais, vai passar para a população a imagem de que houve um conchavo político. Aí, o PT se vitimiza, diz que foi golpe. Não é o melhor caminho. Por isso, nós do PSDB defendemos que um novo Governo surja por meio das urnas

P. Então, o que fazer?

R. Temos três hipóteses. Uma é o afastamento dela. A outra é viver mais três anos melancólicos em uma crise aguda, com o país perdendo os trilhos. Ou, a terceira hipótese, ela mesma ter a lucidez, a clareza de administrar sua própria transição, que seria menos traumática. Ela poderia ter a clareza e admitir que perdeu as bases para a governabilidade e convocar as lideranças políticas.

P. O que seria administrar sua própria transição? Uma renúncia?

R. Ela poderia antecipar o calendário eleitoral. Ela sairia melhor para a história do que se for afastada. Mas isso ainda não quer dizer que ela será afastada nem que ela vá antecipar a eleição. Agora, pode ser muito ruim para o país ficar três anos e meio com uma Dilma governando aos farrapos e o Brasil perdendo oportunidades, agravando sua crise estrutural. Achamos que uma crise deste tamanho, só um governo eleito, ungido pelas ruas tem condição de enfrentá-la. Sentimos que, se ela for afastada com base nas pedaladas fiscais, vai passar para a população a imagem de que houve um conchavo político. Aí, o PT se vitimiza, diz que foi golpe. Não é o melhor caminho. Por isso, nós do PSDB defendemos que um novo Governo surja por meio das urnas. Uma nova eleição permitiria o PT de concorrer e, quem sabe, até ganhar a eleição.

P. Vocês já a compartilharam com outros partidos? Qual foi a recepção deles?

R. Já falamos com o PPS, Democratas, PMDB, todos os grandes. Está todo mundo perplexo e preocupado. Todos sabem que precisamos construir alternativas. Há muitas coisas para acontecer nas próximas semanas. É preciso discutir a crise, porque até o momento o Governo não vinha fazendo isso. Iniciou um ajuste e cometeu um estelionato eleitoral.

“Os tucanos agem de forma muito irresponsável em relação à crise”

Arthur Giannotti professor de filosofia da USP

• Para o professor de filosofia e referência entre tucanos, partido faz "tiroteio" na Câmara

Gil Alessi – El Pais

SÃO PAULO - “O PSDB nunca foi um partido. Sempre foi mais uma reunião de caciques que têm suas próprias posições”. A frase, dita pelo professor de filosofia da USP e uma das principais referências teóricas dos tucanos José Arthur Giannotti, ilustra o atual momento da legenda.Com o Governo em crise, o PSDB tem ficado mais a reboque do PMDB, algo que fragiliza seus próprios princípios, diz o professor.

Pergunta. O PSDB tem várias correntes, lideradas pelo senadorAécio Neves, pelo governador Geraldo Alckmin...

Resposta. O PSDB nunca foi um partido. Sempre foi muito mais uma reunião de caciques que têm as suas posições. A ideologia não é o forte do PSDB. O que o partido está fazendo, na Câmara, é uma oposição fraca ao Governo, sem levar em conta que são seus próprios princípios que estão em jogo.

P. Essa divisão é ruim para o partido?

R. Isso não apenas enfraquece o partido, mas faz com que ele seja mais um tiroteio do que uma oposição política. Não fazem política responsável, estão apenas empenhados em derrubar a Dilma.

P. O partido, assim como o PT, votou na quarta-feira pelo aumento do gasto público em um momento de aperto econômico. Como você avalia atuação do PSDB na Câmara?

R. O PSDB está totalmente irresponsável com relações à crise. O pessoal da Câmara é mais ligado à luta política imediata. É toda a política nacional que ficou em um tiroteio no escuro. Quando temos um câncer na presidência da Câmara, que não tem nenhuma responsabilidade com o orçamento e a recuperação do país, nós temos o fim da política.

P. Alckmin, Serra e Fernando Henrique Cardoso têm assumido uma posição mais moderada do que os tucanos da Câmara...

R. Um dos motivos disso é que em São Paulo o PSDB tem exercido o poder há mais tempo do que em outros Estados. Logo os políticos são mais escolados, mais cientes dos desvios de poder do que os outros. Eles são menos aventureiros.

P. Mas mesmo assim eles não agem em bloco...

R. Entre o Serra e o Alckmin, a diferença ideológica é enorme. O Serra é muito mais à esquerda enquanto que o Alckmin, que é excelente político, é mais tradicional. Pega as figuras do PSDB de São Paulo: Fernando Henrique Cardoso, todos respeitam, mas sua linha ideológica não se reflete nos demais caciques. Não pense o PSDB enquanto unidade.

P. É possível falar em racha no PSDB?

R. Não creio que haja um racha. O sistema político inteiro está rachado. É preciso entender a natureza da crise para ver o que significa essa atual anomia [quando o indivíduo não se sente representado na sociedade]. É preciso levar em consideração que a crise advém de um tipo de corrupção que foi instalado, que é diferente daquela que existe no PSDB, no PMDB, etc. A máquina do PT, ela própria passou a depender dos 'pixulecos', desse recolhimento de propinas, e não só a máquina, mas sua governabilidade também. A compra de apoio dependia disso.

Criada por Cunha, CPI do BNDES mira em Lula

Valmar Hupsel Filho - O Estado de S. Paulo

• Primeira leva de requerimentos da comissão tem três convocações de ex-presidente, além da de aliados como Okamotto, Palocci, Mantega e do filho, Lulinha

BRASÍLIA - Os primeiros requerimentos apresentados na CPI do BNDES da Câmara apontam que o foco da comissão deverá ser as atividades do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A comissão foi instalada na quinta-feira após o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciar rompimento com o governo da presidente Dilma Rousseff. Ele é investigado pela força-tarefa da Operação Lava Jato.

Lula é alvo de três pedidos de convocação para prestar depoimento na comissão, instalada na quinta-feira. Apresentados pelos deputados Raul Jungmann (PPS-PE), Cristiane Brasil (PTB-RS) e Carlos Melles (DEM-MG), os pedidos partem da suspeita de que o ex-presidente, por meio do Instituto Lula, atuou no exterior como lobista de grandes empresas beneficiárias de empréstimos do BNDES.

Lula é alvo de procedimento investigatório criminal da Procuradoria da República no Distrito Federal, que investiga se houve tráfico de influência internacional de Lula em favor da construtora Odebrecht no exterior.

Ao negar a acusação, o Instituto Lula afirma que o petista jamais atuou como lobista, nunca foi de conselho ou diretor de empresa nem contratado para consultorias. Segundo a entidade, o que o ex-presidente fez foi defender interesses de várias empresas e do próprio País no exterior, além de ter dado palestras.

Jungmann também apresentou requerimentos para convocar o filho de Lula, Fábio Luiz, e quebrar seus sigilos fiscal, bancário e telefônico. O deputado alega que a empresa de Fábio, a Gamecoorp, foi beneficiada em negócio suspeito com a Oi-Telemar, empresa com participação acionário do BNDES.

Foram protocolados ainda pedidos de convocação dos ex-ministros da gestão Lula, como Antonio Palocci (Fazenda), Guido Mantega (Economia) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), além de Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula.

Também poderão ser chamados empresários próximos a Lula, como os acionistas da JBS, Wesley e Joesley Batista, e executivos ligados a empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato, como Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro (ex-presidente da OAS).

Além disso, há requerimentos de pedidos de informações sobre contratos do BNDES no Brasil e no exterior entre 2003 e 2015, que abrangem os governos de Lula e sua sucessora, a presidente Dilma Rousseff.

Os 71 requerimentos apresentados até a noite de sexta-feira serão colocados em votação na próxima sessão, marcada para terça-feira. O presidente da comissão, deputado Marcos Rotta (PMDB-AM), afirmou que os documentos serão apreciados por ordem de registro.

O primeiro deles, de autoria do deputado Miguel Haddad (PSDB-SP), é um pedido de convocação do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que já encaminhou carta à comissão colocando-se à disposição. “É claro que depois, politicamente, vamos ver como administrar isso”, diz Rotta, referindo-se aos pedidos de convocação de Lula. O primeiro a apresentar pedido para ouvir o petista foi Raul Jungmann.

Apelo. Marcos Rotta lembra que, ao ser eleito presidente, fez um apelo para que os trabalhos da comissão não fossem contaminados pela politização. “Eu sei que é difícil”, reconhece.
Relator da CPI, o deputado José Rocha (PR-BA) classificou os pedidos de convocação do ex-presidente como “politização pura”. Ele afirma que serão priorizadas demandas do ponto de vista “técnico”. Para o petista, a comissão “não pode ser espaço de pirotecnia.”

Autor de 19 requerimentos, Jungmann diz ser “imprescindível” para a comissão ouvir o petista, mas pondera que “não será fácil”. “Vai depender essencialmente do PMDB.”

Sem 'capitão', time de 2002 vive seu ocaso

Alberto Bombig - O Estado de S. Paulo

• Dez anos após primeiro escândalo, equipe que coordenou vitória de Lula está fora de combate

Numa peça do programa eleitoral de TV da campanha de 2002, o então candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva caminha altivo – terno preto impecável – entre mesas de um escritório onde a equipe dele trabalha concentrada.

Essa foi a maneira encontrada pelo marqueteiro Duda Mendonça para apresentar ao Brasil o “time do Lula”, como o grupo se tornaria conhecido. Além de conferir a credibilidade que ainda faltava ao petista para chegar ao Planalto, os personagens do filminho formavam, na vida real, o clube do homens de confiança do então candidato.

Após a vitória na eleição, Lula transportou quase o time inteiro para cargos importantes no governo, no PT ou nas estatais e nomeou José Dirceu o “capitão” da equipe. Daquele grupo sairia o sucessor de Lula, além de governadores e prefeitos, apostavam os petistas e até seus opositores.

Porém, há exatamente uma década, veio o primeiro baque, com a denúncia do mensalão, feita pelo então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). A temporada de baixas começou em junho de 2005, com Dirceu, que deixou a Casa Civil, acusado de comandar o esquema. Naquele momento começava a desmoronar o grupo que levou o PT ao poder central pouco mais de 20 anos após a fundação do partido. Na última segunda-feira, Dirceu foi novamente preso pela Polícia Federal. Desta vez, suspeito de ter montado o esquema de propinas, desvios e lavagem de dinheiro da Petrobrás e de ter se beneficiado dele.

A prisão marca o ocaso daquele time que parecia fadado ao sucesso. Aos reveses políticos somaram-se os do destino: José Alencar, o empresário que foi vice de Lula, e Luiz Gushiken, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social no primeiro mandato, morreram em 2011 e 2013, respectivamente.

Do time estelar de coordenadores da campanha do PT, apenas um permanece trabalhando hoje ao lado de Lula: o professor Luiz Dulci, um dos diretores do instituto que o ex-presidente mantém em São Paulo. Os demais foram condenados pela Justiça, deixaram o PT ou ocupam cargos de pouca expressão política. O único que permanece no governo federal é justamente Aloizio Mercadante, o ministro da Casa Civil de Dilma Rousseff que Lula busca insistentemente derrubar e que se afastou do ex-presidente.

Do estafe de 2002, acabaram abatidos pelas crises Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, José Genoino, ex-presidente do PT, e Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido. Gilberto Carvalho, outro que teve papel preponderante em 2002, está alijado do governo Dilma e é integrante do Conselho de Administração do Sesc. Silvio Pereira, que era secretário-geral do partido, abandonou a vida pública. A senadora Marta Suplicy, figura de destaque na primeira vitória de Lula, deixou o PT.

“Parece que Lula está sozinho mesmo. Há um único personagem que o acompanha há muito tempo: o (Paulo) Okamotto. Os demais foram engolidos em parte porque o próprio Lula os sacrificou para salvar a si mesmo”, diz o historiador Lincoln Secco, da USP, autor do livro A História do PT. O empresário Paulo Okamotto permanece com Lula em seu instituto, mas não teve papel oficial na campanha de 2002.

Novos parceiros. Hoje, além dos diretores do Instituto Lula (Okamotto, Clara Ant, Celso Marcondes, Paulo Vannuchi e Dulci), os interlocutores mais próximos de Lula são os ex-ministros Celso Amorim, Nelson Jobim e Walfrido Mares Guia. Além de Dulci, Lula conversa frequentemente com Palocci. Dos companheiros que morreram, o ex-presidente se queixa das ausências do ex-ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos, morto em 2014, e Alencar. Sobre o primeiro, Lula costuma dizer que seu papel ia muito além do de um advogado. “Ele faz falta ao Brasil.” / Colaborou Ricardo Galhardo

Merval Pereira - Colapso anunciado

- O Globo

O governo caminha para um colapso. O governo Dilma caminha para um colapso, que pode desembocar no impeachment decretado pelo Congresso, ou na cassação da chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

As duas situações têm soluções dentro da Constituição. No primeiro caso, assume o vice Michel Temer para completar o mandato; no segundo, são convocadas eleições diretas, caso a impugnação ocorra nos dois primeiros anos do mandato.

Se ela se der nos dois últimos anos, isto é, a partir de 2017, haverá eleição indireta pelo Congresso. É o que diz a Constituição:

“Art. 81. Vagando os cargos de presidente e vicepresidente da República, far-se-á eleição 90 dias depois de aberta a última vaga.

§ 1º – Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita 30 dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.

§ 2º – Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus antecessores”.

Para escapar dessas ameaças, Dilma pode tomar medidas de reforma ministerial, redução do número de ministérios, e fortalecer o papel da coordenação política, dando mais poderes ao PMDB de Temer.

Nos bastidores, há negociações de todos os tipos, desde o apoio ao vice-presidente quanto a aposta nas próximas colaborações premiadas, que podem inviabilizar tanto o PMDB quanto o PT.

O PSDB está nessa encruzilhada, com a maior parte de seus membros com um olho a longo prazo, à espera da decisão do TSE, mas com o outro próximo do PMDB, caso o Tribunal de Contas da União (TCU) impugne as contas do primeiro governo Dilma.

Caso o processo de impeachment se inicie no Congresso, devido ao TCU, os tucanos darão apoio e participarão de um governo Temer de coalizão nacional. Mas a opção de uma nova eleição que legitime o novo presidente é a preferida do presidente da sigla, senador Aécio Neves.

A indefinição do PSDB pode reaproximar o PMDB do PT para garantir a continuidade do governo, mesmo aos trancos e barrancos.

Partindo da premissa de que 2015 será marcado pelo colapso do ciclo econômico e político liderado nos últimos 12 anos pelo PT, Claudio Porto, presidente da consultoria Macroplan, especializada em estratégia e cenários futuros, traçou três contextos para o 2º governo Dilma, todos apontando para conjunturas difíceis, dois já analisados na coluna de ontem (“UTI” e “Recuperação”).

No cenário “Colapso”, avaliado como o mais provável, há três desdobramentos possíveis.

Terceirização — esvaziamento do poder da presidente com a “terceirização” da economia para a equipe econômica e da coordenação e gestão da política para Temer, do PMDB.

Neste caso, ainda este ano, haveria uma reconfiguração da equipe de governo com uma recomposição da base de sustentação parlamentar e redução de incertezas; resgate parcial do ajuste fiscal e financeiro, abrindo-se perspectivas para uma retomada do crescimento, a partir de 2017; e declínio da inflação, em 2016. A Operação LavaJato, neste cenário, teria efeitos impactantes, mas diluídos no tempo.

Impeachment da presidente Dilma, com acentuação das expectativas econômicas negativas imediatas. O ajuste fiscal fracassa, as “pautas-bomba” prosperam, as expectativas negativas dos agentes econômicos e a insatisfação da sociedade se acentuam ainda mais, e a perspectiva de inflação supera os 10% ao ano.

No campo político há total perda de confiança de Dilma, e a base de sustentação desaparece. Esse cenário só se torna provável em 3 hipóteses: (a) se as contas da presidente forem rejeitadas no TCU e no Congresso por conta das “pedaladas fiscais” de 2014; (b) se o TSE reconhecer financiamento ilegal na campanha eleitoral dela e do vice, em 2014; ou (c) se os efeitos da Lava-Jato alcançarem inequivocamente a pessoa de Dilma.

Por enquanto, esse cenário parece tão improvável quanto a de uma rápida recuperação da popularidade da presidente, mas uma mudança radical nas próximas semanas não pode ser descartada.

Renúncia de Dilma por motivos semelhantes ao cenário de impedimento. Levando-se em conta o passado de militância de Dilma ou os traços de sua personalidade, também é, diz a Macroplan, cenário de probabilidade remota, mas que não deve deixar de ser considerado.