• Partidos fecharam estratégia de entrar com três ações com base no depoimento de Ricardo Pessoa, dono da UTC
Cristiane Jungblut – O Globo
BRASÍLIA - Em reunião no gabinete do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), a oposição decidiu ingressar na Procuradoria Geral da República (PGR) com uma representação por crime de extorsão contra a presidente Dilma Rousseff e o tesoureiro de sua campanha à reeleição e atual ministro de Comunicação, Edinho Silva. Mas, dividida, a oposição descartou pedido de impeachment neste momento, alegando que poderá ser uma etapa futura.
Aécio disse que apenas a presidente Dilma poderia "efetivar" o "achaque" denunciado pelo presidente da UTC, Ricardo Pessoa, que em seu depoimento afirmou que doava ao PT para manter contratos com várias empresas como a Petrobras.
Além da ação na PGR, os partidos de oposição pedirão que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tenha acesso ao depoimento de Pessoa, que inclusive vai depor no dia 14 de julho, no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo, justamente em ação apresentada pelo PSDB no TSE pedindo a cassação do mandato de Dilma.
A terceira ação é pedir ao Tribunal de Contas da União (TCU) que também investigue as chamadas pedaladas fiscais nas contas federais de 2015. O TCU já apura problemas nas contas de 2014 da presidente.
O PSDB foi contra ingressar com ação de impeachment contra Dilma, enquanto integrantes do DEM, do Solidariedade e do PPS defenderam a medida. Segundo os dirigentes dos partidos, Aécio argumentou que entrar agora com um pedido de impeachment poderia ser um erro, já que, se negado, a oposição ficaria sem esse trunfo mais à frente. Em nome da unidade, os demais partidos aceitaram ficar nas três ações jurídicas feitas com base na delação de Pessoa.
— Vamos atuar em três frentes de ação com base na delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa. A presidente perde, a cada dia, as condições de governabilidade. A presidente não está bem. Estamos tomando medidas medidas necessárias para proteger o país. Ali (no depoimento de Pessoa), foi explicitado por ele uma clara chantagem. E apenas a presidente é que teria as condições de efetivar essa chantagem e não o tesoureiro — disse Aécio.
Perguntado sobre o que falta para a oposição apresentar pedido de impeachment, Aécio afirmou:
— Essa não é uma palavra proibida, e existem aqui lideranças que acham que esse poderá até ser o desfecho. Tenho agido com cautela, com toda responsabilidade e vamos aguardar o reconhecimento de outras denúncias que surgem todo dia.
O presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN), resumiu a questão, afirmando que há provas políticas contra Dilma, mas ainda não há as provas jurídicas.
— O que é que falta para entrarmos com o pedido de impeachment? Falta muito pouco. Falta a prova provada do argumento jurídico que leva ao impeachment. Já há carradas de razões para isso do ponto de vista político — disse Agripino.
Dilma ‘saiu da casinha’, diz Paulinho da Força
O presidente nacional do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), disse que defendeu o impeachment dentro do encontro e que a presidente Dilma está "doida".
— A melhor forma é o impeachment, porque faltam ainda três anos e meio de mandato. Há um consenso entre nós que que ela (Dilma) saiu da casinha, está meio abobada, doida, não falando coisa com coisa. Mas, pela unidade da oposição, vamos acompanhar a decisão de apenas entrar com as ações — disse Paulinho.
Paulinho confirmou que recebeu R$ 500 mil de Pessoa em 2012, quando foi candidato a prefeito de São Paulo. Mas disse que as doações foram legais.
O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), disse que Dilma deveria renunciar.
— Todo mundo está atônito. O depoimento de Pessoa é mais do que suficiente para o afastamento da presidente e a convocação de novas eleições — disse Caiado.
O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), disse que as ações no TSE têm mais chance de dar certo, porque a cassação do seu mandato levaria a novas eleições.
— Não está descartado (o impeachment), mas garantiria apenas a posse do vice-presidente (Michel Temer) — disse Cássio.
O vice-líder do PSDB na Câmara, deputado Nilson Leitão (MT), disse que a presidente Dilma deve sair.
— O governo perdeu a validade — disse Leitão.