Desde a delação da JBS, presidente recebeu mais de 160 parlamentares, acelerou emendas, lançou ‘pacotes de bondades’, manteve Maia ao seu lado e se beneficiou das ‘ruas vazias’
Isadora Peron, Carla Araújo, O Estado de S. Paulo.
Desde 17 de maio, quando veio à tona o conteúdo da delação do empresário Joesley Batista, o presidente Michel Temer recebeu em seu gabinete 133 deputados, 30 senadores, governadores, prefeitos e dirigentes partidários. Temer liberou R$ 4,1 bilhões em emendas parlamentares. A estratégia visa a evitar uma debandada da base na quarta-feira, quando deve ser votada na Câmara a denúncia apresentada pelo procurador Rodrigo Janot.
Michel Temer conseguiu reverter, em pouco mais de dois meses, uma situação de crise aguda – momento em que sua renúncia chegou a ser cogitada – para uma expectativa de vitória, nesta semana, quando a denúncia por corrupção passiva apresentada contra ele poderá ser votada na Câmara. O presidente recebeu mais de 160 deputados e senadores, acelerou emendas parlamentares, lançou “pacotes de bondades”, manteve como aliado Rodrigo Maia (DEM-RJ), seu eventual sucessor, e se beneficiou das “ruas vazias”.
“Foi um embate diário”, disse o vice-líder do governo na Câmara, deputado Beto Mansur (PRB-SP), um dos membros da “tropa de choque” responsável por monitorar o número de votos que o presidente terá em plenário durante a análise da denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Pela contagem mais recente, ele tem 280 votos – são necessários 172 para barrar a denúncia. “Eu não digo que já está resolvido, mas na quarta-feira temos muita chance de resolver essa questão”, afirmou Mansur.
Desde 17 de maio, quando veio à tona o conteúdo da delação premiada do empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, o presidente recebeu em seu gabinete no Palácio do Planalto 133 deputados federais e 30 senadores. Após a denúncia chegar à Câmara em 29 de junho, Temer iniciou uma verdadeira “blitze política” para receber deputados e convencê-los a votar contra a abertura de investigação no Supremo Tribunal Federal. Em um único dia, o presidente recebeu 30 parlamentares.
Nas conversas, além de rebater as acusações de Janot – para quem o presidente era o beneficiário da mala com R$ 500 mil com a qual foi filmado seu ex-assessor e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) –, Temer apresentou sua versão dos fatos. O presidente também usou o argumento de que, se nem mesmo ele está seguro contra o avanço da Operação Lava Jato, imagine como ficaria o destino dos parlamentares que também são alvo de investigações.