segunda-feira, 18 de junho de 2012

OPINIÃO DO DIA – Marco Aurélio Nogueira: elos perdidos

Em um momento de grave perda do poder de proposição e persuasão das grandes tradições do pensamento político, nada melhor do que uma volta às origens e de um esforço para recuperar elos perdidos ou mal entrelaçados. Se liberais e socialistas, por exemplo, nas suas variadas famílias e colorações, desejarem voltar a ter voz ativa nos debates acerca dos dilemas que atormentam as sociedades contemporâneas, terão de visitar seus mortos e repor em bases renovadas as poderosas ferramentas teóricas e ideológicas que inventaram para explicar a vida humana.

Marco Aurélio Nogueira é professor de Teoria Política, diretor do Instituto de Políticas Públicas, Relações Internacionais da UNESP. ‘O passado teórico em nova bases’, O Estado de S. Paulo / sabático, 16/6/2012.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Vitória de conservadores na Grécia dá nova chance ao euro
Maioria absoluta fortalece Hollande
Rio propõe corte de 12% nas emissões
Patriota diz que documento é o possível
Prêmios Nobel fazem propostas a chefes de Estado
Dilma sobre tortura:‘Marca está em mim’
Conselho de Ética da Câmara vai apurar balcão de emendas

FOLHA DE S. PAULO
Haddad sobe 5 pontos em SP; Serra lidera a disputa
Lula mostra menos influência sobre a transferência de votos
Cidades terão metas para cortar emissão de poluentes

O ESTADO DE S. PAULO
Dilma prepara cobrança por ação imediata na Rio+20
‘Eu vou falar do mensalão’, diz réu candidato
Relato de Dilma detalha tortura sofrida em MG

VALOR ECONÔMICO
Exportações voltam a ter ganhos de rentabilidade
Brasil não aceita medidas punitivas
Um novo céu de antenas com a 4G
Pif Paf prepara forte expansão nacional

CORREIO BRAZILIENSE
Bilhete levou Dilma a ser torturada em Minas
Cabe ao Senado fechar brechas da Lei Seca
Conselho pede hoje a cassação de Demóstenes
Rio+20 vira palco das diversidades
Governo refaz os cálculos e freia reajuste

ESTADO DE MINAS
Por que Dilma foi torturada de novo

ZERO HORA (RS)
Rio+20: ONU divulga ranking verde das nações
RS perde 1.045 vagas em casas prisionais

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Dilma revela sobre como foi torturada
Brasil fica em 5º lugar no mapa da "riqueza verde"

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Vitória de conservadores na Grécia dá nova chance ao euro

Resultado da eleição alivia tensão, mas partido terá de negociar coalizão 

Os eleitores gregos votaram ontem e indicaram que desejam permanecer na zona do euro. Com 99% das urnas apuradas, o partido conservador Nova Democracia, liderado por Antonis Samaras, obteve 29,7% dos votos, número que o autoriza a negociar uma coalizão de partidos favoráveis ao acordo fechado entre governo o anterior e a União Europeia. Principal opositor dos pacto pró-austeridade, o esquerdista Alexis Tsipras prometeu manter a oposição ao plano. Seu partido, o Syriza, obteve 26,9% dos votos. Os mercados reagiram com otimismo à vitória dos conservadores, também celebrada na Europa e nos EUA.

Grécia vota para ficar no euro

Vitória de conservador alivia tensão no bloco, mas partido terá que negociar coalizão

Os eleitores gregos indicaram ontem que desejam permanecer na zona do euro. Com 99,8% das urnas apuradas das eleições parlamentares, o partido conservador Nova Democracia, liderado por Antonis Samaras, obteve 29,7% dos votos, número que o autoriza a negociar uma coalização de partidos favoráveis ao acordo fechado entre o governo anterior e a União Europeia (UE). O principal opositor do pacto pró-austeridade, o esquerdista Alexis Tsipras reconheceu a derrota e prometeu manter sua oposição ao plano. Seu partido, o Syriza, obteve cerca de 26,9%, segundo as projeções. O partido socialista Pasok, de Evangelos Venizelos, ficou em terceiro lugar, com 12,3%. Confirmado o resultado, os três partidos obteriam, respectivamente, 129, 71 e 33 assentos no Parlamento.

Para os gregos, não foi uma escolha fácil. Samaras foi ardorosamente apoiado por líderes da UE, temerosos de que uma vitória de Tsipras empurrasse o país para fora da zona do euro, com consequências catastróficas para o bloco europeu. O Nova Democracia, porém, é um partido associado à classe política que levou o país à falência, na origem da crise. Mas a ideia de simplesmente rasgar o acordo que permitiu a Atenas obter ajuda financeira e permanecer na zona do euro pareceu "louca" demais, como disse um eleitor, e foi rejeitada nas urnas.

- É triste ter que escolher entre um ladrão e um louco - afirmou o motorista de ônibus Nikos ao jornal "El País", sem revelar em quem votou.

Duas coisas pareciam claras ontem à noite. A primeira era que a sociedade grega estava bastante dividida entre aqueles que aceitavam as políticas de austeridade, condicionadas no acordo de ajuda da UE, e aqueles que não a suportam mais. A outra é que o Nova Democracia, se quiser formar um governo viável, terá que fazer uma coalizão ampla não apenas com o Pasok, mas também com outros partidos. Com 80% dos votos apurados, o partido Independentes Gregos obteve 7,5% dos votos (20 cadeiras); o ultranacionalista Aurora Dourada, 6,9% (18); o Esquerda Democrata, 6,2% (17 assentos); e o partido comunista grego, o KKE, recebeu 4,5% dos votos (12). A coalizão que formar maioria no Parlamento de 300 assentos indicará o novo primeiro-ministro e terá cacife para aprovar medidas impopulares.

O resultado do pleito representou um alívio para os demais sócios da Grécia na zona do euro. Segundo fontes, as negociações para formar um governo começaram ontem mesmo. Samaras classificou sua vitória como "um êxito para a Europa":

- O povo grego votou hoje (ontem) para se manter num rumo europeu e permanecer na zona do euro. Não haverá mais aventuras. O lugar da Grécia na Europa não será posto em dúvida. Os sacrifícios do povo grego darão frutos - disse Samaras.

Samaras fala em crescimento

Ele acrescentou que o país cumprirá todos os compromissos assumidos com a UE, mas buscará adotar incentivos ao crescimento, para reduzir o mal-estar social provocado pela estagnação da economia grega, o que vem estimulando um preocupante fenômeno de xenofobia violenta:

- Faremos o que tiver que ser feito - prometeu Samaras. - Mas trabalharemos com os sócios europeus para introduzir nas políticas de austeridade algumas medidas que fomentem o crescimento.

Nos últimos dias de campanha, a pressão dos sócios europeus, sobretudo da Alemanha, sobre os eleitores gregos para que votassem em Samaras e rejeitassem o esquerdista Tsipras se tornou evidente. Para os líderes europeus, um governo conservador na Grécia deverá aliviar o impacto da crise nos mercados, especialmente em países como Espanha e Itália, que já vinham pagando ágios cada vez mais caros para leiloar seus títulos soberanos.

Segundo analistas, os investidores ficarão de olho agora nas negociações para a formação de um governo, a favor da política de austeridade e do euro. Também avaliarão a atuação da oposição. Para o Syriza, a derrota não tem um sabor amargo. Em 2009, o partido era uma agremiação periférica, com apenas 4,6% dos votos. Nas eleições de 6 de maio passado subiu para 16,7%, e agora supera os 25%.

* Com Bloomberg News e agências internacionais

FONTE: O GLOBO

Maioria absoluta fortalece Hollande

Os socialistas conquistaram maioria absoluta no Parlamento francês, dando ao presidente François Hollande as melhores condições para governar, sem precisar fazer alianças para aprovar suas reformas.

Passe livre para Hollande

Socialistas conquistam maioria absoluta, fortalecendo presidente dentro e fora da França

Fernando Eichenberg

O presidente François Hollande conquistou ontem as melhores condições para governar em seu início de mandato: o Partido Socialista (PS) obteve nas eleições legislativas a maioria absoluta de deputados na Assembleia Nacional. O resultado evita que o novo governo necessite do apoio de outros grupos de esquerda para aprovar no Parlamento suas reformas econômicas e sociais, as quais deverão incluir medidas de austeridade para conter o déficit público do país, como cortes no Orçamento e aumento de impostos. No plano europeu, o Palácio do Eliseu se fortalece politicamente em seu embate com a Alemanha da chanceler federal Angela Merkel pela aplicação de um programa de crescimento na zona do euro.

Os socialistas e seus aliados conquistaram 314 cadeiras, um resultado confortavelmente superior ao patamar mínimo de 289 assentos para a obtenção da maioria no Parlamento. Os conservadores, liderados pela União por um Movimento Popular (UMP), do ex-presidente Nicolas Sarkozy, ficaram com apenas 229 assentos. A votação foi marcada por um patamar recorde de abstenção.

O campo socialista sofreu uma emblemática derrota nas urnas: Segolène Royal, candidata do partido na eleição presidencial de 2007 e ex-companheira de Hollande, não alcançou a maioria de votos para se eleger. Embora também tenha ficado de fora do Parlamento, a líder do partido de extrema-direita Frente Nacional (FN), Marine Le Pen, comemorou a eleição de dois candidatos da legenda, entre eles sua sobrinha, Marion Maréchal-Le Pen, que aos 22 anos se tornou a mais jovem deputada da Assembleia Nacional.

François Hollande preferiu manter a discrição e não misturar sua condição de presidente do país com as questões partidárias. Coube ao seu primeiro-ministro, Jean-Marc Ayrault, se dirigir aos eleitores que, com a votação de ontem, conferiram uma maioria socialista nas duas casas parlamentares, o Senado e a Assembleia:

-Vocês confirmaram a vontade de mudança. Vocês escolheram a coerência, e os engajamentos do presidente da República poderão ser colocados em obra - disse o premier socialista em pronunciamento na televisão francesa.

O governo também pôde comemorar a vitória do primeiro-ministro e de todos os ministros candidatos no pleito legislativo, poupando demissões por causa de derrota eleitoral, uma regra previamente determinada por Jean-Marc Ayrault. Já o desânimo era visível no lado perdedor.

- É um dia de derrota, e é preciso reconhecê-la. Uma coisa está clara: nós perdemos - admitiu Jean-François Copé, atual líder da UMP.

Além da perda da maioria na Assembleia, o partido da direita não conseguiu eleger alguns de seus caciques, como os ex-ministros Claude Guéant, Nadine Morano e Michèle Alliot-Marie. O partido de centro, o MoDem, também saiu derrotado ao não conseguir reeleger seu líder, François Bayrou.

Brasileiro naturalizado francês terá um assento

Malograda em sua intenção de entrar para a Assembleia, a líder de extrema direita Marine Le Pen procurou minimizar seu fracasso pessoal, valorizar o desempenho do partido e alfinetar a direita tradicional da UMP:

-Não posso estar decepcionada quando se faz 49,9% contra todos. Perdi por apenas 114 votos de diferença. Mas o fato de estarmos representados na Assembleia é um enorme sucesso. A UMP pagou um alto preço por suas contradições ideológicas e seus compromissos políticos - declarou.

O Brasil, de uma certa forma, estará representado na Assembleia Nacional francesa. O gaúcho Eduardo Cypel, 36 anos, naturalizado francês em 1998, ganhou a eleição na 8ª circunscrição da região de Seine-et-Marne, com 52,77% dos votos, e terá um assento no Parlamento, em Paris. Emocionado, e assegurando estar ciente da "honra e da responsabilidade" de cumprir um mandato legislativo, o brasileiro disse que a difícil tarefa que o governo terá pela frente foi facilitada pelas urnas.

- Nosso negócio agora é trazer crescimento novo. Já tínhamos dito que haveria medidas para a diminuição da dívida. Mas é preciso ter também medidas para estimular o crescimento econômico, tanto na França como na Europa. E é claro que se governa melhor com uma maioria dependendo unicamente de sua própria família política. Mas o que conta é a esquerda dentro desta Assembleia, que hoje é bastante majoritária - disse Cypel ao GLOBO.

FONTE: O GLOBO

Haddad sobe 5 pontos em SP; Serra lidera a disputa

Datafolha mostra que, após aparecer na TV com Lula, petista foi de 3% para 8%

O pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, subiu cinco pontos percentuais na corrida municipal, mostra levantamento do Datafolha.

No início de março, Haddad tinha 3% das intenções de voto. Agora tem 8%.

Exposto na TV e "colado" em Lula, Haddad sobe 5 pontos

Serra mantém liderança, com 30%; petista atinge 8%, segundo Datafolha

Com apoio explícito de ex-presidente, pré-candidato do PT cresce, mas segue atrás de Russomanno (21%)

Vaguinaldo Marinheiro

SÃO PAULO - Com grande exposição na TV e apoio explícito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff, Fernando Haddad mais que dobrou seu percentual de intenção de voto para a prefeitura paulistana.

Pesquisa feita pelo Datafolha na quarta e quinta-feira da semana passada mostra o petista com 8%. No início de março, ele tinha 3%. Os resultados foram divulgados pelo "TV Folha" de ontem.

José Serra (PSDB) continua na liderança, com 30%, mesmo índice de março. Em segundo vem Celso Russomanno (PRB), com 21%.

Haddad aparece embolado no patamar em que também estão Soninha (PPS), Netinho de Paula (PC do B), Gabriel Chalita (PMDB) e Paulinho da Força (PDT), num cenário com dez pré-candidatos, mas foi o único a ter um crescimento expressivo.

Ele parece ter se beneficiado de um período em que o PT tentou expor ao máximo o pré-candidato e sua ligação com Lula, apesar de a legislação proibir campanha antes do dia 6 de julho.

Haddad foi uma das estrelas dos programas partidários exibidos pelo PT em rádio e televisão de 15 a 22 de maio.

Os programas mostravam Lula, Dilma e Haddad e reforçavam o slogan "só se renova quem faz o novo".

O foco em novidade e juventude foi o escolhido pelo marqueteiro do PT, João Santana. Haddad fará sua estreia em eleições e tem 49 anos. Seu principal adversário, Serra, que já foi prefeito e governador e concorreu duas vezes à Presidência, tem 70.

Lula, Dilma e Haddad também apareceram juntos em eventos, e, no mês passado, o ex-presidente levou o pré-candidato ao "Programa do Ratinho", do SBT. Lá, por 44 minutos, Lula promoveu Haddad, que subiu ao palco.

Serra também teve exposição desde a última pesquisa. Apareceu em propagandas do PSDB veiculadas no final do abril e no início deste mês.

Mas, para Serra, isso parece menos importante, uma vez que 100% dos eleitores afirmam conhecer o tucano.

Já Haddad está na fase de ser apresentado. Em março, só 41% diziam conhecê-lo. Agora são 49%.

Na pesquisa anterior, 10% sabiam que ele era o candidato de Lula. Na atual, 19%.

A assessoria de Serra disse que ele não comentaria a pesquisa. Chalita afirmou que a campanha "não começou". "Os debates e o horário eleitoral é que vão fazer com que os eleitores conheçam os candidatos e suas propostas."

O coordenador da campanha petista, o vereador Antônio Donato, disse que Haddad cresce "consistentemente" à medida que mais pessoas passam a conhecê-lo.

Classes e rejeição

O pré-candidato petista cresceu mais entre os homens (sete pontos); entre eleitores de 45 a 59 anos (oito pontos) e com ensino superior e renda acima de dez salários mínimos por mês (nove pontos).

Serra perdeu eleitores de 35 a 44 anos (nove pontos) e ganhou entre aqueles com mais de 60 (nove pontos).

Ganhou também entre aqueles que têm só o ensino fundamental (cinco pontos) e perdeu entre os que recebem de cinco a dez salários mínimos por mês (oito pontos).

O tucano é o segundo mais rejeitado: 32% dos eleitores dizem que não votariam nele de jeito nenhum. É superado por Netinho (39%).

A rejeição de Haddad caiu, de 15% em março para 12%.

O Datafolha ouviu 1.077 eleitores. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa foi registrada no TRE (SP-00075/2012).

Colaborou Rodrigo Vizeu

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Lula mostra menos influência sobre a transferência de votos

Influência de ex-presidente cai 10 pontos, diz Datafolha

Lula, porém, ainda é o cabo eleitoral mais influente na eleição paulistana

Candidato de Dilma ou de Alckmin teriam cerca de 30% de adesão; 43% não votariam em indicação de Kassab

Vaguinaldo Marinheiro

SÃO PAULO - A pesquisa Datafolha realizada na semana passada mostra que caiu a importância do apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a escolha de um candidato pelo eleitor paulistano.

Questionados, 39% dizem que o endosso de Lula poderia influenciar positivamente seu voto. O índice é dez pontos percentuais menor que o verificado em janeiro.

Lula, porém, continua a ser o melhor cabo eleitoral entre os nomes pesquisados pelo Datafolha. Depois vêm o governador Geraldo Alckmin (PSDB), com 29%, e a presidente Dilma Rousseff (28%).

Já o prefeito Gilberto Kassab (PSB) se mostra um "anticabo eleitoral". Questionados, 43% dos entrevistados dizem que não votariam no candidato que tivesse o apoio do prefeito. Para 12%, o endosso de Kassab é positivo.

Isso se reflete em outro dado pesquisado: 80% dos eleitores querem o próximo governo diferente do atual.

Ter um padrinho no Palácio do Planalto nunca foi decisivo na eleição paulistana.

A cidade nunca elegeu, desde 1985, um prefeito com apoio do presidente da República. FHC (PSDB) amargou duas derrotas, com as vitórias de Celso Pitta (1996) e de Marta Suplicy (2000). Lula também, com José Serra (2004) e Gilberto Kassab (2008).

Em 1996, o desconhecido Pitta não teria batido os favoritos Serra e Luiza Erundina sem o apadrinhamento do então prefeito Paulo Maluf. Em junho, Pitta tinha 10% dos votos; chegou a quase 45% no primeiro turno e, no segundo, venceu Erundina com 57%.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Em Recife, PT não abre e encara briga com Eduardo

PT considera “inegociável” ceder a cabeça da chapa ao PSB e adverte o governador. João Paulo é lembrado para possível chapa “puro-sangue”, mas sofre ataque no próprio PT

Débora Duque

O indicativo de que o governador Eduardo Campos deve mesmo apadrinhar um candidato do PSB à Prefeitura do Recife não abalou a determinação do PT de encabeçar uma chapa, mesmo que isoladamente, na disputa municipal. A ordem é não recuar e convencer os socialistas de que o distanciamento dos dois partidos, nesta eleição, poderá ser prejudicial ao governador nos seus dois últimos anos de mandato. De maneira cautelosa e não menos taxativa, o recado foi dado no fim de semana pela cúpula petista. No sábado (16), o senador Humberto Costa avisou claramente que o partido não aceita a possibilidade de ocupar a vice do PSB (leia matéria sobre o forró de João Lyra). E, ontem, o presidente estadual do PT, deputado federal Pedro Eugênio reforçou o alerta.

Ao JC, Pedro Eugênio deixou claro que o partido não enxergará com “normalidade” a decisão socialista de trilhar rumo separado do PT na capital. Portanto, o lançamento de uma candidatura do PSB significará, na ótica petista, o rompimento da Frente Popular. “Uma candidatura do PSB nas atuais circunstâncias significa que a Frente deixará de existir. Não é algo que vá ser encarado como uma coisa normal do partido. E dividir a Frente é uma coisa complicada. Prejudica essa eleição e a futura”, alertou.

De acordo com Pedro Eugênio, o partido está disposto a buscar a unidade da aliança que sustenta, hoje, o Executivo estadual e municipal, mas que a hipótese do PT ceder sua vaga na cabeça de chapa, como chegaram a propor lideranças do PSB, é “inegociável”. “Achamos importantíssimo a preservação da Frente. Vamos fazer todo o esforço possível. O que não é negociável é deixarmos de encabeçar essa chapa, tendo em vista que estamos à frente da Prefeitura há 12 anos”.

O petista também evitou comentar rumores que apontam a presença do deputado federal João Paulo numa eventual chapa “puro-sangue” do PT. O dirigente prefere ainda acreditar que a legenda pode garantir o apoio dos demais partidos da Frente, mas sinalizou que a possibilidade de convocar o ex-prefeito para ocupar o posto de vice, por exemplo, não está descartada. “Essa coisa de chapa puro-sangue é só especulação. Mas, se acontecer, vamos contar com nossos quadros de maior densidade eleitoral e expressão política para enfrentar esse desafio, não tenha dúvidas”, avisou.

Eugênio também respondeu às últimas declarações do prefeito João da Costa (PT). No sábado (16), o gestor promoveu uma plenária com militantes e responsabilizou Humberto Costa pelo risco de haver um racha com o PSB e toda a Frente. “Os problemas políticos surgiram muito antes da homologação de Humberto”, resumiu o presidente. Também no sábado, Humberto realizou um encontro fechado com correligionários (entre eles, o próprio Pedro Eugênio, além de João Paulo), no qual afirmou ainda acreditar na união do PT e informou que iria conversar com todos os partidos.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Em Porto Alegre, pedetista quer ampliar programa

Letícia Duarte

Em seu primeiro discurso como candidato oficial à reeleição, o prefeito José Fortunati destacou projetos iniciados em 2005 no governo de José Fogaça e deu ênfase à educação.

Um dos pontos valorizados foi o programa Escola em Tempo Integral, que é realizado em duas escolas e, segundo o prefeito, será estendido a mais cinco nos próximos meses, "como já aprovado no Orçamento Participativo".

– A grande transformação social vem pela educação – afirmou.

Na convenção do PDT, também foram lançados 35 candidatos a vereador pelo partido. Com a soma de todos os partidos da aliança – além do PDT, fazem parte da coligação PMDB, PP, PTB, PPS, PRB, PMN, PRP, PRTB, PT do B e DEM – os líderes da coligação calculam que terão mais de 250 candidatos a vereadores apoiando Fortunati.

– Vai ser um exército – empolga-se o vice na chapa, o vereador Sebastião Melo, confirmado em convenção do PMDB neste fim de semana.

Fortunati terá vice “maracugina”

Convenções de PDT e PMDB, no fim de semana, indicaram que prefeito e Sebastião Melo tentarão driblar ataques de adversários

A julgar pela estratégia da candidatura do prefeito José Fortunati (PDT) à reeleição, o chá de maracujá tem tudo para se tornar a bebida mais consumida nos comitês na Capital. O plano é não aceitar provocações de adversários, investindo em uma campanha "propositiva" e "sem ranços".

Otom foi reforçado ontem, na convenção que oficializou o lançamento de Fortunati, escolhido por unanimidade pelos 150 participantes da votação interna. Vice na chapa, o vereador Sebastião Melo (PMDB) promete ser um dos mais empenhados em garantir a paz.

– Serei o vice da harmonia, o vice da Maracugina (medicamento de ação sedativa) – brinca ele.

Um dos desafios da coligação será acalmar o próprio Fortunati, conhecido pelo temperamento apimentado e por respostas afiadas em redes sociais. Mas o presidente do diretório metropolitano do PDT, deputado federal Vieira da Cunha, garante que a campanha "não vai entrar em discussões para baixar o nível".

– Nós temos tanto o que mostrar que não vamos perder tempo respondendo críticas – argumenta Vieira.

Com 11 siglas, prefeito terá maior tempo na TV

Tempo de rádio e TV é o que não vai faltar. Com 11 partidos, a aliança calcula que terá mais do que o dobro do espaço dos adversários, ocupando pelo menos 10 minutos de propaganda eleitoral. Nem por isso as articulações terminaram. O sonho é atrair ainda o PR para a aliança, o que somaria 12 legendas – o número do PDT.

Enquanto promete resistir às críticas de adversários como a deputada federal Manuela D"Ávila (PC do B), que vem apresentado suas propostas como contraponto ao que considera falhas na gestão do adversário, a candidatura de Fortunati também afina o discurso. Após apostar no slogan "fica o que está bom, muda o que não está", na primeira gestão de José Fogaça, e no "a mudança não pode parar", no segundo mandato, agora os aliados pretendem exibir realizações. Diz Melo:

– Não é continuísmo, é continuidade. Continuidade com avanços.

FONTE: ZERO HORA (RS)

Em BH, mais um na disputa: PTB escolhe candidato

O deputado federal Eros Biondini foi oficializado ontem como candidato do PTB à Prefeitura de Belo Horizonte, durante convenção do partido na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. O vice escolhido é o também deputado federal Stefano Aguiar (PSC), integrante da Igreja Quadrangular, formando uma chapa ecumênica com Eros, cantor da Renovação Carismática da Igreja Católica.

Apesar da oficialização de seu nome, que já era dado como certo, Eros teve uma derrota na convenção. Dois integrantes da Renovação Carismática, também cantores como o pré-candidato a prefeito, tiveram as candidaturas a vereadores rejeitadas: Cláudio Campos e Luciano Bretas. "Dizer que não lamento a exclusão deles seria mentira, mas tenho que respeitar a soberania da convenção", afirmou Eros.

Os dois também fazem parte do movimento Comunidade Mundo Novo, que ajudou a projetar a carreira política de Eros. A rejeição veio das duas vereadoras do partido: Pricila Teixeira e Elaine Matozinhos, que é presidente municipal do partido. O temor, segundo Eros, era de que os dois conseguissem um grande número de votos, o que poderia, em tese, impedir a reeleição das vereadoras. Na coligação foram oficializados 82 candidatos a vereador, sendo 41 do PSC e 41 do PTB.

Líder da bancada católica no Congresso, Eros concorreu a vice na última eleição, tendo como cabeça de chapa Leonardo Quintão (PMDB), com que disputará o próximo pleito. Além de Quintão, o atual prefeito Marcio Lacerda (PSB) concorre à reeleição e conta com apoio que vai do PT ao PSDB. Outro nome na disputa é o do deputado estadual Délio Malheiros (PV). "Ao olhar os indicadores de aprovação e rejeição, acredito que vamos para o segundo turno", afirma Eros, que tem como uma das principais bandeiras o combate às drogas.

FONTE: O ESTADO DE MINAS

O "infalível" Lula se complica

Conhecido no PT por ser visionário e detentor de grandes ideias, o ex-presidente vem se enrolando na indicação de chapas para disputar prefeituras este ano. Relações já estão desgastadas em três cidades: São Paulo, Recife e Fortaleza

Paulo de Tarso Lyra

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre foi considerado no PT um gênio político, alguém com sensibilidade e habilidade suficientes para enxergar além do que os demais correligionários poderiam perceber. Foi assim quando decidiu desprezar o PMDB, em 2002, para convidar Dilma Rousseff como ministra de Minas e Energia. Também foi considerado um mágico ao escolher a própria Dilma como candidata a presidente em 2009. Amparado em sua popularidade, elegeu a ex-chefe da Casa Civil e consolidou a percepção de que é infalível em suas análises. Essa infalibilidade, contudo, está em xeque e Lula, antes mítico, passou a ficar sobre pressão.

Três erros políticos foram identificados nos primeiros meses deste ano: em São Paulo, em Recife e em Fortaleza. Na capital paulistana, Lula impôs o ex-ministro da Educação Fernando Haddad como o candidato do PT à prefeitura. Atropelou as instâncias partidárias e pediu que a presidente Dilma convencesse a senadora Marta Suplicy a abrir mão de disputar as prévias internas. Marta concordou, mas não se engajou na campanha do colega.

Nas poucas vezes em que apareceu em público, criticou o pré-candidato petista. "Não basta apenas ser o novo", disse, durante cerimônia em que Lula recebeu o título de cidadão honorário de São Paulo. Durante uma grande festa organizada pelo PT para apoiar Haddad, no início deste mês, Marta nem sequer se deu ao trabalho de comparecer. "Estavam reunidos as 2, 3 mil pessoas, que tocam as campanhas do PT em São Paulo. Todo mundo ficou pasmo quando percebeu que Marta não iria", disse ao Correio um dos integrantes da campanha do ex-ministro.

Em Recife, o estrago pode ser ainda maior. Lula empenhou-se pessoalmente no cancelamento das prévias que deram a João da Costa o direito de concorrer à reeleição para prefeitura. Sob a alegação de que a disputa foi fraudada, partidários do secretário de Governo, Maurício Rands, pediram a anulação do pleito. A Executiva Nacional ratificou o pedido e escolheu o senador Humberto Costa como a terceira via.

O PT pernambucano sangrou de vez. Humberto Costa foi a São Paulo pedir a bênção de Lula para que a crise fosse estancada. Não deu certo. Como a cisão só aumenta, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, passou a analisar a possibilidade de lançar candidatura própria. "Estou fazendo tudo isso em respeito ao Eduardo, que é meu amigo, e em memória do avô dele. Mas as coisas nem sempre são fáceis", desabafou Lula recentemente a um petista próximo. "Estou fazendo isso para convencer o PSB a apoiar Haddad em São Paulo."

Na última sexta-feira, o PSB anunciou oficialmente o apoio a Haddad, com a indicação da deputada Luíza Erundina como vice. Mesmo assim, petistas acreditam que Lula não vai abandonar Humberto Costa depois do esforço para atropelar o partido. "Ele vai gravar mensagem de apoio para o horário eleitoral. A presença física está mais complicada por limitações de saúde", completou um petista.

Conciliador

Considerado um dos fiéis escudeiros de Lula no PT, o deputado Devanir Ribeiro (SP) nega que o ex-presidente tome decisões de maneira precipitada. "Ele tem uma característica que mantém desde os tempos de sindicato: "ele ouve todas as partes envolvidas e, só depois disso, decide o que fazer. Mas, logicamente, Lula não é infalível", disse Devanir. O parlamentar recorda que Lula foi massacrado pela decisão de 1998, quando o partido descartou a candidatura de Vladimir Palmeira ao governo do Rio de Janeiro para apoiar Anthony Garotinho, hoje no PR, na época no PDT de Leonel Brizola.

Já em Fortaleza a prefeita Luizianne Lins, mais uma vez, desrespeitou o desejo da direção nacional e de Lula e lançou o secretário de Educação, Elmano de Freitas como pré-candidato, desagradando o governador Cid Gomes, que ameaça romper a aliança e lançar candidatura própria. Senador pelo Ceará graças ao apoio de Lula, José Pimentel espera que o ex-presidente reaja para conter a confusão no Estado. "O presidente Lula nunca se omite quando o PT precisa dele", declarou Pimentel.

Ele ouve todas as partes envolvidas e, só depois disso, decide o que fazer. Mas, logicamente, Lula não é "infalível", disse Devanir Ribeiro (PT-SP), deputado.

Fortunati tenta reeleição em Porto alegre

O atual prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, foi indicado como candidato à reeleição pelo PDT, em convenção realizada ontem. O partido tem o apoio de nove legendas (PMDB, PTB, PPS, PRB, PMN, PRP, PTdoB, PRTB e PP), e terá como candidato a vice o vereador do PMDB Sebastião Melo. Na semana passada, o PP integrou a coligação contra a vontade da senadora Ana Amélia Lemos, que queria se unir ao PCdoB e seguir a candidatura da deputada federal Manuela D"Ávila.

Candidatos definidos em Porto Velho

Ontem, foram realizadas as convenções para as escolhas dos pré-candidatos em Porto Velho (RO). Pelo PT, a escolhida foi a ex-senadora Fátima Cleide, que concorre pela segunda vez ao pleito municipal. Pelo PSB, o indicado foi o médico e deputado estadual Mauro Nazif, que também disputa a eleição da capital rondoniense pela segunda vez. Os dois pré-candidatos ainda não definiram quem serão seus vices.

PCdoB escolhe chapa em sete capitais

O PCdoB já decidiu quem serão seus pré-candidatos em sete capitais. Em Porto Alegre, a postulante é a deputada federal Manuela D"Ávila; em Fortaleza, o escolhido foi o senador Inácio Arruda (foto), enquanto que em Goiânia a candidata será Isaura Lemos. Para disputar as eleições em Salvador, o PCdoB indicou a deputada Alice Portugal e o vereador Netinho de Paula foi escolhido para concorrer em São Paulo. Evandro Milhomem foi indicado em Macapá e Angela Albino em Florianópolis.

PPS lança Soninha para prefeitura de São Paulo

O PPS decidiu que não vai apoiar nenhum dos pré-candidatos de outros partidos nas eleições de São Paulo. O partido indicou Soninha Francine como postulante ao cargo e seu nome será ratificado na convenção que será realizada no próximo sábado. Havia chances de o partido se aliar ao pré-candidato do PSDB, José Serra, mas, ontem, o PPS anunciou que sairá com Soninha, que terá como vice Lucas Albano.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Conselho de Ética da Câmara vai apurar balcão de emendas

"É uma denúncia muito grave"

Balcão de compra e venda de emendas parlamentares será investigado no Conselho de Ética da Câmara

Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA - O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados vai investigar a existência do balcão de compra e venda de emendas parlamentares denunciado ontem pelo GLOBO. O presidente do Conselho de Ética, deputado José Carlos Araújo (PSD-BA), afirmou que o órgão entrará em ação assim que um partido pedir a investigação do esquema articulado pelo deputado João Carlos Bacelar (PR-BA). E o líder do PSOL, deputado Chico Alencar (RJ), anunciou que pedirá à Mesa Diretora que encaminhe as denúncias ao Conselho de Ética, o que deve ocorrer ainda esta semana.

- É uma denúncia muito grave, que tem que ser apurada. Mas, como presidente do Conselho, tenho que agir como árbitro e esperar a denúncia chegar. O regimento diz que o Conselho de Ética não pode agir de ofício. Recomendo aos partidos que defendem a investigação que façam a denúncia porque, com certeza, o Conselho vai apurar - disse Araújo.

Ontem, O GLOBO revelou que a ex-mulher de João Carlos Bacelar, Isabela Suarez, filha do fundador da empreiteira OAS, Carlos Suarez, confidenciou à irmã de Bacelar que o ex-marido mantinha um esquema de compra de emendas parlamentares no Congresso. A irmã trava com ele uma briga judicial por herança e, por isso, tornou público o diálogo.

Segundo o relato de Isabela, um dos deputados que teriam vendido emenda para João Bacelar é Geraldo Damasceno (PT- BA), cujo nome aparece em uma tabela através da qual Bacelar acompanhava o andamento de um conjunto de emendas direcionadas para seus redutos eleitorais. Os outros políticos que aparecem na lista são o deputado federal Marcos Medrado (PDT-BA) e o ex-deputado Fernando de Fabinho (DEM-BA). Nenhum deles tinha votação relevante nesses municípios mas, ainda assim, destinaram vultosas verbas aos redutos de Bacelar.

Bacelar já responde por nepotismo

As novas denúncias serão aditadas ao processo que Bacelar já responde no Conselho de Ética por prática de nepotismo cruzado. Chico Alencar disse que pretende consolidar os dados sobre negociação de emendas e formalizar representação ao Ministério Público Federal. O MPF e a Controladoria Geral da União abriram, ano passado, investigações sobre as emendas de Bacelar. Agora, Alencar defende que o MPF avance sobre essa negociação.

Líderes de partidos manifestaram indignação com o balcão de emendas denunciado pelo GLOBO:

- Eu acho inadmissível que tenha um deputado fazendo esse tipo de negociata. Isso é um escândalo, algo incompatível com a atividade parlamentar. Isso é uma questão que tem que ser apurada pelo Conselho de Ética - disse o líder do PT, Jilmar Tatto (SP), que destacou, no entanto, ter confiança no petista Geraldo Simões (BA), também envolvido nas denúncias:

- Eu confio no deputado Geraldo Simões por sua história e sua forma de se comportar. Não acredito que ele tenha feito esse tipo de coisa.

Líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), em seu 11 mandato, disse estar surpreso:

- Nunca ouvi falar em um esquema acintoso desse na Câmara. É uma coisa muito atípica, não sei quais são os interesses envolvidos nesse episódio. Essa Casa pode ter muitos defeitos, mas esse tipo de procedimento eu não conhecia. É uma coisa tão despudorada e absurda porque é difícil empenhar e liberar essas emendas.

Para o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), a nova denúncia deve incentivar o movimento pela redefinição do papel dos congressistas na análise do Orçamento:

- A melhor solução é acabar com as chamadas emendas individuais e de bancada. Todas! E acabar com a limitação do debate parlamentar sobre o conjunto da peça orçamentária. A influência do Parlamento sobre o Orçamento tem de ser muito maior que hoje, mas não pode ter emenda de aprovação automática - defende Miro.

FONTE: O GLOBO

‘Eu vou falar do mensalão’, diz réu candidato

Único dos 38 réus do mensalão a disputar as eleições municipais de outubro, o deputado João Paulo Cunha (PT), pré-candidato à prefeitura de Osasco, diz não temer o uso político do escândalo.

Único réu candidato, João Paulo diz querer discutir mensalão nas eleições

Felipe Frazão

Único dos 38 réus do mensalão a disputar as eleições municipais de outubro, o deputado João Paulo Cunha (PT) diz não querer esconder o principal escândalo do governo Lula de sua campanha a prefeito em Osasco, seu reduto político na Grande São Paulo. Ex-presidente da Câmara, João Paulo promete discutir nas ruas o processo que será julgado pelo Supremo Tribunal Federal em agosto, no qual foi denunciado por corrupção, desvio de verba pública e lavagem de dinheiro. Quer fazer isso antes que a oposição o faça.

"Durante a campanha, a oposição não vai precisar falar do mensalão, porque eu vou falar. Ela pode ficar sossegada, porque vou na frente falando para a população o que foi o processo do mensalão", disse João Paulo ao Estado em seu escritório político de Osasco, na sexta-feira.

No sábado, o deputado tocou veladamente no assunto ao discursar na convenção da coligação 100% Osasco, de PRTB, PT do B, PTC e PTN (quatro das quase 20 siglas que costuram apoio ao petista). "Vocês sabem das minhas dificuldades. Se eu pudesse pedir um desejo a Deus, eu pediria para ninguém ter constrangimento e qualquer problema comigo. Deixar o problema só comigo, porque Deus nunca dá o peso a quem não consegue carregar. E eu saberei carregar o tamanho do peso que eu tenho", bradou o deputado, sob aplausos de militantes do Jardim Piratininga, zona norte de Osasco.

João Paulo ainda não decidiu como vai debater o mensalão. Em 2006, quando fez campanha e se reelegeu deputado, diz ter mantido diálogos em tendas nas ruas. Agora, tenta convencer o diretório do PT na cidade: "Temos de falar da cidade e do mensalão. Não podemos esconder."

Acusação. Em 2006, João Paulo foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por lavagem de dinheiro, corrupção passiva e peculato. Ele teria recebido R$ 50 mil de forma ilegal do publicitário Marcos Valério. Depois, teria favorecido a empresa dele em um contrato da Câmara. A mulher de João Paulo, Márcia Regina Cunha, sacou a quantia numa agência do Banco Rural em Brasília. A defesa nega os crimes. À Justiça, alega que ele não sabia a origem do dinheiro e não ocultou o destino, tendo pago um instituto de pesquisa. Tampouco teria favorecido Valério.

João Paulo diz que, em 2004, pediu dinheiro ao então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, para pagar pesquisas eleitorais em Osasco. E que seguiu sua orientação para sacar os R$ 50 mil - prática normal na política, afirma.

Redenção. Mesmo depois de o caso vir a público, em 2005, João Paulo conseguiu se reeleger duas vezes, em 2006 e 2010. Chegou a ocupar a presidência da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ). Mas avalia que sua honra está em jogo. João Paulo considera a eleição a prefeito uma chance de recomeço de sua vida política.

Ele tentará a dupla absolvição: primeiro, ser inocentado pelo Supremo. Depois, o novo teste das urnas. E dar continuidade à gestão de Emídio de Souza (PT). "O mensalão será uma preocupação do PT em todo o País, não só em Osasco. Mas não trabalhamos com plano B", disse Emídio, confiante na absolvição.

João Paulo circula em Osasco como celebridade. Diz que as pessoas acompanham sua vida e podem defendê-lo. Em seu reduto, zona norte de Osasco e periferia, o sentimento é de que o mensalão não vai pegar na eleição.

Segundo pesquisa local, João Paulo tem 26% das intenções de voto, atrás do deputado estadual e ex-prefeito Celso Giglio (PSDB), com 34%, e à frente do vereador Osvaldo Vergínio (PSD), que tem 10%. Ao mesmo tempo em que precisa convencer 11 ministros do STF de sua inocência, João Paulo terá de mostrar a mais de 540 mil eleitores que sua carreira política ainda tem um sentido.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Aliança entre PT e PSB em São Paulo contrasta com conflito nos bastidores

Cristian Klein

SÃO PAULO - Haddad e Erundina: cordialidade entre os companheiros de chapa não reflete a desconfiança entre os partidos a que pertencem

Quem tomasse o encontro que divulgou, na sexta-feira, a aliança entre o PT e o PSB, para a eleição municipal em São Paulo, como indicador do clima entre os dois partidos só teria a dizer que melhor relação não há. Num evento carregado de emoção, o pré-candidato petista, Fernando Haddad, rendeu homenagens à deputada federal Luiza Erundina, indicada para vice, e ao presidente do PSB, o governador Eduardo Campos, a quem chamou de "a grande liderança que será no futuro próximo". Campos tem ambição de um dia ocupar a Presidência da República, que desde 2003 está nas mãos do PT.

A troca de gentilezas em São Paulo, no entanto, mal retrata o ambiente de desconfiança e divergência em que vivem os dois partidos nacionalmente. PT e PSB há cinco meses negociam alianças para o tabuleiro de uma disputa municipal cujos resultados são apontados por ambos como desvantajosos e que tem como pano de fundo a eleição presidencial de 2014.

Dirigentes de parte a parte reclamam da falta de boa vontade. Sob a justificativa de destravar as negociações com o PSB, o PT chegou a aprovar uma resolução, no mês passado, que conferiu à direção nacional o poder de decidir as coligações municipais. Com a medida, a cúpula petista conseguiu oferecer o apoio do partido a candidatos do PSB em cinco cidades consideradas prioritárias pela sigla de Eduardo Campos. O PT contabiliza os apoios em Duque de Caxias (RJ), Mossoró (RN), Macapá (AP), Boa Vista (RR) e, mais recentemente, Aracaju (SE).

Mesmo assim, o PSB se queixa da pouca generosidade do PT. "Desconheço essa resolução. Não são tantas as cidades. Apoiamos em até mais lugares. Não há reciprocidade. Onde realmente queríamos, como Campinas, São José do Rio Preto e Franca, o PT não nos apoia", afirma o primeiro-secretário do PSB, Carlos Siqueira, que cita cidades paulistas em que seu partido está alinhado ao PT, como São Paulo, São Bernardo do Campo, Guarulhos e Osasco.

As demandas listadas por Siqueira se estendem a uma série de capitais, como Cuiabá (MT), João Pessoa (PB), Manaus (AM) e Maceió (AL). "Em Cuiabá, o PDT, o PPS e o PMDB já nos deram apoio. E oferecemos o vice ao PT. Mas até hoje não tivemos resposta", diz, em referência à candidatura do empresário Mauro Mendes, dono da Bimetal, líder nacional no segmento de torres para telecomunicações.

O secretário nacional de organização do PT, Paulo Frateschi, rebate: "O próprio candidato não quer o nosso vice. Não dá. Mas se for fundamental vamos intervir", afirma.

O secretário-geral nacional do PT, Elói Pietá, é menos transigente com as expectativas do PSB: "Olha o tamanho dos dois partidos!", diz. Pietá argumenta que as queixas são naturais e compara: "Políticos e partidos reclamando de apoio são como os empresários que sempre falam dos impostos", emendou.

O dirigente, por sua vez, também critica o PSB por falta de reciprocidade, ao comentar a possibilidade do aliado romper nas duas maiores capitais governadas pelo PT: Recife (PE) e Fortaleza (CE).

Em Fortaleza, diz Pietá, a decisão do governador Cid Gomes de lançar nome próprio em vez de apoiar o do PT, Elmano Freitas, é "sem argumento". Carlos Siqueira defende o governador ao dizer que ele não quer se arriscar, por ter 60% de aprovação na capital, enquanto Freitas teria apenas 1% de preferência nas pesquisas e a prefeita Luizianne Lins, 60% de rejeição. "Às vezes, quando alguém não quer, sempre se acha um argumento", rebate Pietá.

No Recife, a avaliação dos petistas é que o erro foi do próprio partido, ao demorar a definir o candidato. Isso abriu a oportunidade para o governador Eduardo Campos preparar o lançamento de nome próprio do PSB. "Está todo mundo conversando, mas não está fácil [manter o apoio ao PT]", disse, na sexta-feira, ao Valor, indicando o rompimento.

Campos deverá anunciar a decisão depois de uma conversa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No PT, o afastamento do PSB em Fortaleza e no Recife é visto como uma estratégia do governador para ampliar seu domínio no Nordeste e cacifar seu projeto presidencial. Seria este o poderoso propósito da briga eleitoral cada vez mais acirrada com os velhos aliados petistas.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Indefinição do TSE sobre PSD tumultua chapa de Serra

Raphael Di Cunto

SÃO PAULO - A sete dias da convenção partidária para homologar o nome do ex-governador José Serra como candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, os tucanos começam a semana dependendo do julgamento do tempo de televisão do PSD para definir a composição da chapa de vereadores e até a escolha do vice-prefeito.
O plano do PSDB foi atrapalhado pelos consecutivos adiamentos, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), do julgamento sobre a redivisão do fundo partidário a pedido do PSD. O entendimento dos tucanos é que o prefeito Gilberto Kassab (PSD) teria preferência na indicação do vice e faria menos pressão pela coligação proporcional se seu partido tivesse tempo de TV.

Isso depende, porém, de uma decisão favorável do TSE e a demora no julgamento tem atravancado as negociações com as outras legendas. Além do PSD, dois partidos exigem coligação proporcional com o partido de Serra: PR e DEM.

O PP, que impunha a mesma condição, anuncia hoje seu rumo nas eleições de outubro. A aliança com o PSDB entrou em compasso de espera na sexta-feira, depois que o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, do próprio PP, atuou para entregar um cargo-chave da pasta para o seu partido, como forma de levar o apoio da sigla para o petista Fernando Haddad.

Se o "chapão" for confirmado, sem o PP, serão 23 vereadores concorrendo à reeleição, além de uma dezena de pré-candidatos com potencial eleitoral - o PV, com seis parlamentares, é o único da aliança que não quer coligar para vereador. Avalia ter voto de legenda suficiente para fazer bancada.

O PSD, principal alvo dos demais aliados, tem buscado diminuir os atritos. Na sexta-feira foi oficializada a indicação do vereador Domingos Dissei (PSD) como conselheiro do Tribunal de Contas do Município. Outro vereador da legenda, Marcos Cintra, preferiu ficar na Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho.

Apesar disso, uma chapa com tantos candidatos à reeleição, analisam os contrários ao "chapão", deve elevar muito o número de votos mínimos para se reeleger. Outro problema é que cerca de 60 pré-candidatos tucanos serão impedidos de concorrer para dar lugar a outras siglas. A chapa terá, no máximo, 110 candidatos, independentemente do número de partidos que a compõem.

A pressão, avaliam tucanos, seria amenizada com o julgamento do tempo de TV do PSD, já que o partido se tornaria menos dependente dos votos obtidos pelas outras legendas da chapa. Uma cadeira a vereador é garantida por 130 mil votos. Sem tempo de TV ou coligação, ficaria mais difícil para o PSD repetir a atual bancada de 10 vereadores.

O TSE, porém, ainda não julgou sequer a redistribuição do fundo partidário, que seria usada pelos advogados do partido para acelerar a decisão sobre a propaganda partidária. Ambos são definidos com base na eleição anterior para a Câmara dos Deputados - da qual o PSD não participou, já que não existia. O partido quer receber pelos 52 deputados filiados à legenda em sua fundação, pleito cuja análise está pendente desde novembro.

Além da composição da chapa de vereadores, dessa decisão também depende a escolha do vice de Serra: se o PSD ganhar, é quase certo que a vaga fica com o ex-secretário municipal de Educação Alexandre Schneider (PSD).

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Beijo Sem - Teresa Cristina e Marisa Monte

Até prova em contrário:: Wilson Figueiredo

O mês de agosto, já no horizonte, terá pela frente, no seu primeiro dia, as expectativas acumuladas pelo mensalão, desde o primeiro mandato presidencial do PT, como se não fossem suficientes a morte de Getulio Vargas, em 1954, e a renúncia de Jânio Quadros, em 1960, para se dar por encerrado o ciclo republicano começado em 1930. Depois de tudo, sendo o Brasil atual o de sempre, pretendeu o petismo oficial ter passado a limpo o país, e lançou as bases de uma paródia de social-democracia envergonhada e esboçada às pressas por uma carta aos brasileiros, com a qual Lula se apresentou como fiador.

Um ano presidencial completo e alguns meses do outro, confiados à Dilma Rousseff, não alteraram a trapalhada em que se meteu o PT, assim que se instalou no governo com disposição declarada de permanecer não menos de uns vinte anos. Apanhado, porém, com a boca na botija, e mal agradecido à social-democracia pela oportunidade da reeleição, doença terminal ao ver dos fundadores da República e ponto de partida para o desconhecido, os militantes petistas não atinaram com a saída e acabaram encurralados pelas más companhias no convívio parlamentar.

Aconteceu, mas ninguém disse com clareza como foi que o mensalão se estabeleceu e prosperou sem que o presidente Lula assumisse sua cota de responsabilidade política. É que ele delegava as questões pendentes a José Dirceu, na condição de delfim da República liberada do passado e com o futuro ao seu dispor. O sistema embutido de distribuição restrita de renda em nível parlamentar não deu para todos, o segredo veio a público e deixou de ser um método de enriquecimento sem chamar a atenção. Parlamentares ávidos se esquecem de que dinheiro por fora não tem garantia e que os bens adquiridos por esse meio não são invisíveis.

Um dia, ninguém sabe como nem por que, a história regurgitou pelo ralo. Veio a público a versão de que a República se sustentava com dois orçamentos, um para ela e outro para os neorrepublicanos em tempo integral e dedicação exclusiva. Um mandato inteiro depois, Lula, reeleito, não teve, nem queria, paz de consciência para exercer o poder. Não perdia de vista o terceiro governo, que escapou aos seus descuidos fatais. Não estava preparado para as funções presidenciais não escritas. O segundo mandato dele, à sombra do mensalão, sem o fiel escudeiro José Dirceu — que deixou o cargo de primeiro-ministro de fato e foi ver navios no que parecia naufrágio com o perfil do Titanic. Lula ficou exposto à própria imprudência pela qual paga até hoje, a perder de vista, prestações módicas.

O ex-presidente gastou o segundo mandato em atividades múltiplas à sombra do que era apurado sem alarde e, no vazio deixado pela impossibilidade do terceiro mandato, não se perdeu, mas também não se encontrou . Nem com Dirceu, que sofre de insônia cívica, sem merecer de Lula o resgate da consideração que o ex-presidente esbanjou enquanto se preparava o ato final do mensalão.

Não é exagero dizer que dois Lulas se apresentaram no segundo mandato, mas não se encontraram até hoje na controvertida matéria relativa ao mensalão: disse aos promotores públicos que havia sido informado sobre o mensalão e, quando o assunto se encaminhou para o julgamento, o ex presidente se lembrou de que não havia sido informado. Um caso típico de duplo testemunho.

A questão finalmente deixou de ser o fato do qual o ex-presidente Lula foge, como dizem que o diabo corre da cruz, no mês de agosto, que não dá colher de chá a ninguém que tenha contas a ajustar com a opinião pública. Enquanto a expectativa do que vai acontecer — e do que não vai chegar a tanto, como de hábito — junho se esgota sob a aflição dos denunciados, sem esquecer a cota brasileira de dificuldades com prazo de vencimento em agosto. Finalmente, vai ser servido ao respeitável público contribuinte o espetáculo diferente do que ocorria em Roma, onde não havia comissões parlamentares de inquérito: sem pressa, chega-se ao último ato, considerando que se trata — afinal de contas — de julgamento político, até prova em contrário.

FONTE: JORNAL DO BRASIL

Chegando a hora:: Ricardo Noblat

“Essa CPI montada pelo PT é só para punir os que denunciaram o mensalão.” (Sérgio Guerra. presidente do PSDB)

Quem ainda tem dúvidas sobre a verdadeira natureza da relação do contraventor Carlinhos Cachoeira, preso sob a acusação de explorar jogos ilegais, com o senador Demóstenes Torres (GO)? Os dois eram amigos, por suposto. Mas as centenas de ligações telefônicas grampeadas pela Polícia Federal mostram que além de amigos também eram sócios.

A cozinha dada de presente por Cachoeira a Demóstenes foi coisa de amigo. Demóstenes acabara de se casar. Mas o Nextel que Demóstenes ganhou de Cachoeira foi coisa de bandido. Cachoeira supôs que o aparelho era à prova de grampo. Distribuiu uma dezena para pessoas que o ajudavam a fazer negócios. Demóstenes era uma delas.

Logo que ruiu sua imagem de exemplar servidor da ética, ninguém dentro do Congresso apostava uma nota de três reais no futuro de Demóstenes. Hoje, o Conselho de Ética do Senado aprovará o relatório que recomenda a cassação do mandato dele. Em seguida, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado avalizará o resultado.

Se tudo correr como o previsto, os 81 senadores (inclusive Demóstenes) se reunirão, no próximo dia 18, para confirmar ou desautorizar o que o Conselho de Ética decidiu. É aí que mora o perigo. O voto no Conselho é aberto. No plenário é secreto. Quem condenar Demóstenes no Conselho poderá absolvê-lo no plenário sem se expor.

E por que a maioria dos senadores fecharia os olhos às evidências de que Demóstenes feriu o decoro parlamentar? Ora, até Luana, minha neta de 4 anos, responderia sem gastar dois neurônios: porque estão pouco se lixando para decoro. Procedem como Demóstenes ou até pior. Não têm biografias, mas prontuários.

A chantagem é um instrumento afiado, perigoso. Políticos costumam conhecer os malfeitos praticados pelos colegas. Por curiosidade, trocam confidências a respeito. Aprendem uns com os outros. Aperfeiçoam as técnicas de se dar. E bebem em fontes comuns de financiamento de despesas de campanha.

Se um deles correr o risco de ser decapitado pelos demais, apelará para a chantagem se não lhe restar outra saída. Assim, Renan Calheiros salvou seu mandato ao se tornar público que o lobista de uma empreiteira pagava despesas de sua examante com quem ele tem um filho. Na história de 188 anos do Senado, somente um senador foi cassado.

A política virou um meio seguro e eficiente de enriquecimento ilícito. A desqualificação do Congresso pegou velocidade. Cito de memória presidentes recentes do Senado que renunciaram ao cargo ou ao mandato para não ser cassados: Jader Barbalho (PA), Antonio Carlos Magalhães (BA) e Renan Calheiros (AL). Esqueci algum?

Severino Cavalcanti presidiu a Câmara em 2005. Foi obrigado a renunciar à presidência e ao mandato porque se ficou sabendo que embolsava um mensalinho de R$ 10 mil pago pelo concessionário de um dos restaurantes da Câmara. João Paulo Cunha, que antecedeu a Severino no cargo, está para ser julgado como um dos 38 réus do mensalão.

Políticos dão a impressão de ser poderosos. E há os que de fato o são até que surja um conhecedor dos seus segredos disposto a revelá-los. Um motorista, um caseiro, uma mulher agastada — qualquer um serve. Quanto mais humilde for, maior o estrago que suas revelações poderão produzir. Quanto a quem detém de fato poder...

Essa gente não revela segredos nem quando passa aperto. Vale pelo que sabe, mas não conta. Marcos Valério, um dos cérebros do mensalão do PT, por exemplo, nada contou. Uma vez insinuou que contaria. Lula então tomou um porre e falou em renúncia. Valério acabou socorrido pelos que temeram suas inconfidências.

O socorro a Valério foi financeiro. Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta, não quer dinheiro, mas proteção. Com a autoridade de quem admitia gastar R$ 6 milhões com um senador ou R$ 30 milhões para descolar um bom negócio, cobra proteção a seus amigos infiltrados na CPI do Cachoeira. Está sendo protegido até o momento.

FONTE: O GLOBO

Não há amor em SP::Melchiades Filho

A campanha eleitoral vai coincidir, em agosto, com o julgamento do mensalão. Prestes a ganhar munição extra para fustigar o adversário, o tucano José Serra celebra aliança com o PR de São Paulo, justamente o parceiro preferencial do PT no maior escândalo do governo Lula. Dá para entender?

E como explicar que o petista Fernando Haddad se lance à prefeitura como candidato do "novo" e corra para selar acordo com Paulo Maluf, logo o símbolo do que há de mais retrógrado na política municipal?

Esses acertos estapafúrdios embutem duas informações.

A primeira é que os dois lados perderam todo e qualquer escrúpulo para comprar (ôps, garantir) apoio de outros partidos. O objetivo, simples e caro, é obter mais tempo de televisão e rádio (horário fixo e inserções diárias) e se beneficiar da alavancagem proporcionada pelos candidatos a vereador. Ou seja, combustível adicional para a hora em que a eleição pegar fogo.

Nesse cenário polarizado, em que ambos estão dispostos a qualquer negócio, seria lógico que as adesões saíssem mais naturais -ou com menos ruído. Mensaleiros com mensaleiros, conservadores com conservadores, assim por diante.

Em São Paulo, porém, as fronteiras se esfumaçaram. Maluf endossa Haddad, mas continua prestigiado pelo tucano Geraldo Alckmin na coalizão do Estado. O prefeito Gilberto Kassab (PSD) apoia Serra na capital e o PT nas cidades do entorno. O PSB, dirigido em São Paulo por um alckmista de longa data, vai compor chapa com Haddad.

A sanha hegemonista do PT e a impermeabilidade do PSDB a novas lideranças contribuem para tamanha dispersão. Mas, se as demais legendas tentam manter os pés nas duas canoas, é porque não têm certeza de qual delas vai seguir boiando. É um indício de que o jogo está aberto -não apenas na sucessão de Kassab, mas também na de Alckmin.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Momentum:: José Roberto de Toledo

A metáfora da corrida de cavalos para representar a campanha eleitoral é mais apropriada do que a sua vulgarização pode sugerir. Como no turfe, os candidatos precisam dosar suas forças e traçar suas estratégias com precisão para não arrancar antes da hora nem se deixar "encaixotar" no pelotão intermediário. Tanto um erro quanto o outro pode impedir o maior favorito de cruzar o disco em primeiro lugar.

Na eleição paulistana, José Serra (PSDB) surgiu nas primeiras pesquisas como barbada, tão à frente dos demais que só caberia prognóstico para o segundo colocado da dupla vencedora. Mas o apostador experiente sabe que cânter não ganha páreo. Galopar garboso na apresentação ao público não é garantia de bom desempenho quando o chicote começa a vibrar. E a semana não foi nada boa para o haras tucano.

A um custo ainda difícil de contabilizar, o stud petista tirou um grande peso da sela de Fernando Haddad. Na última hora, cooptou o PP de Paulo Maluf, formalizou a aliança com o PSB de Luiza Erundina e ultrapassou todos os rivais em tempo de propaganda no rádio e na televisão. O apoio malufista se deu em troca da Secretaria de Saneamento do Ministério das Cidades - responsável por programas de esgoto e lixo. Sem comentários.

Nas contas dos repórteres Daniel Bramatti e Julia Duailibi, o candidato a prefeito do PT deve aparecer em 107 inserções de 30 segundos por semana a partir de agosto. Ou seja, 15% a mais do que Serra e quase 50% a mais do que Gabriel Chalita (PMDB). Isso significa só uma coisa: Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva fizeram a parte deles. Cabe a Haddad mostrar se tem força para atropelar na reta final ou se é o matungo que os adversários tentam pintar.

A chapa petista-malufista-socialista (e, talvez, comunista, se o PC do B também aderir) é o melhor exemplo da grande zona cinzenta que é a política brasileira. Enxergar branco e preto num cenário desses é miragem. Vale lembrar que Maluf estava mais perto da cocheira tucana até ser seduzido pelo churrasco de verbas petista. E que o impoluto PR de Valdemar Costa Neto segue firme no bridão do PSDB paulista.

Esse é o jogo político-eleitoral brasileiro. Joga quem quer, ganha quem pode. E quem não pode denuncia - pelo menos até passar a poder.

A perda da aliança com o PP não custou apenas algumas inserções comerciais a Serra. Produziu um desconforto no campo tucano. Segundo o noticiário, Geraldo Alckmin não quis dar os cargos estaduais reivindicados por Maluf, o que teria empurrado o ex-prefeito para o colo adversário. Administrativamente defensável, a atitude do governador ressuscita velhos murmúrios sobre lealdades e traições que remontam à eleição de 2008, quando ele estava no papel de Serra, e o correligionário apoiou veladamente Gilberto Kassab, então no DEM.

Nada indica que sejam mais do que fofoca, mas tais intrigas bastam para dar a impressão de que uma campanha perde confiança, enquanto a do adversário ganha ritmo. É um jogo psicológico restrito a candidatos, articuladores e assessores - que, por enquanto, a grande maioria dos paulistanos não está nem aí para a eleição. Mas é o que alimenta o blá-blá-blá político até a corrida começar para valer.

Pela lei, a campanha eleitoral só começa em julho. Para o eleitor desengajado, a largada é em agosto, com a entrada no ar do horário eleitoral obrigatório. O calendário já condicionou o eleitorado. Raras vezes uma campanha mobiliza corações e mentes antes de o palanque eletrônico entrar no ar. Uma dessas exceções ocorreu na sucessão de Lula.

A eleição de 2010 começou a tomar corpo muito antes da propaganda formal. O principal motivo foi a campanha desabrida que o ex-presidente fez por sua candidata desde muito antes da votação. A frequência com que Lula repetiu o nome de Dilma em palanques, inaugurações, discursos e festas de aniversário é inédita na história moderna do Brasil. A oposição reagiu indignada, esquentou o debate e, sem querer, ajudou Lula a promover a desconhecida Dilma.

Tudo muito diferente do que nesta morna eleição paulistana. Fora da Presidência, Lula não teve palanque nem saúde para repetir o nome do desconhecido Haddad como fez com Dilma. A campanha não empolgou ninguém. Vai sobrar tudo para a TV. Por isso, os minutos de propaganda ganhos por Haddad via PP e PSB valem muito mais do que os 8% a que ele chegou no Datafolha esta semana.

A corrida eleitoral paulistana será curta, sem curvas. Ganha quem alcançar momentum no final.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Para suprimir duas injustiças:: Renato Janine Ribeiro

O sistema federativo brasileiro está baseado em duas injustiças, que mais ou menos se compensam. A primeira é a desigualdade na representação dos cidadãos na Câmara de Deputados. A segunda é a cobrança do ICMS no Estado de origem, não no de destino. As duas injustiças se equilibram: a primeira prejudica São Paulo, politicamente; a segunda beneficia esse Estado, fiscalmente. A última é boa para as finanças estaduais paulistas. A primeira é ruim para a participação dos cidadãos que moram em São Paulo nas decisões políticas que passam pelo Congresso.

Numa federação, é correto que Estados de população desigual tenham igual representação em alguma instância. Normalmente, esta é o Senado. Assim acontece nos Estados Unidos. Cada Estado tem dois senadores. Já a Câmara de Deputados expressa a população do país, repartida pelos Estados. Lá, nenhum tem menos de um deputado; no Brasil, porém, o mínimo é oito. Foi de quatro no começo da República, subiu para seis com o golpe do general Geisel em 1977, quando ele fechou o Congresso e emendou a Constituição com sua simples assinatura, e atingiu oito na Constituinte. Geisel também introduziu um máximo de cinquenta e cinco deputados, especificamente para São Paulo, o Estado mais desenvolvido e que, por isso, poderia ser o mais crítico da ditadura. Em 1988, os constituintes subiram o teto para setenta. Resumindo, o Estado de São Paulo tem menos deputados do que deveria ter, em condições normais. Já notei que essa situação enfraquece a própria Câmara, porque ela se torna uma espécie de segundo Senado.

Defensores da desigualdade argumentam que ela evita a excessiva preponderância do Estado mais rico. Discordo. Em primeiro lugar, a diferença de população tem um fórum no qual é compensada e até zerada: o Senado. Segundo, a Câmara não representa os Estados, papel que é do Senado, mas os brasileiros. A divisão das bancadas por Estados é apenas um expediente para classificar os cidadãos do país. Quer dizer que a redução da bancada paulista afeta, não os paulistas, mas os brasileiros que votam em São Paulo, de qualquer origem que sejam - e esse Estado recebe migrantes do país todo. Terceiro, numa democracia, a principal casa do Congresso é justamente a eleita pelo povo, o que é o caso de nossa Câmara, dos Comuns britânicos e dos Representantes americanos. Sem dúvida, o Senado brasileiro e o dos Estados Unidos são eleitos hoje pelo voto direto dos cidadãos, mas eles não representam o povo e sim os Estados. A Casa que representa o povo, no Brasil, sofre assim uma deformação, pela qual alguns são mais iguais do que outros.

O Brasil poderia negociar o fim de duas injustiças

Finalmente, não é verdade que, com uma menor representação dos brasileiros de São Paulo na Câmara, se compensará o poder econômico do Estado. Na verdade, a participação política é o melhor antídoto ao excesso de poder econômico. É a política que limita os perigos da economia. É o voto do cidadão o melhor controle sobre a desigualdade acentuada pelo capitalismo. Por isso, o poder econômico sediado em São Paulo seria mais bem limitado se o voto de todos os brasileiros, inclusive os que residem nesse Estado, fosse igualmente considerado nas eleições legislativas federais.

A outra injustiça é a cobrança do ICMS na origem e não no destino. Obviamente, ela beneficia São Paulo. É injusta porque o imposto sobre vendas deve ser cobrado onde a venda se efetua, melhor dizendo, onde está o comprador. Agora, assim como "São Paulo" no caso de sua bancada na Câmara não é um todo homogêneo, uma entidade metafísica própria, também não o é na hora em que aufere impostos adicionais. O "São Paulo" politicamente prejudicado não é o mesmo "São Paulo" fiscalmente beneficiado. Basicamente, quem ganha com a tributação na origem são o governo estadual e, em decorrência, os municipais. Sem dúvida, isso permite que obras sejam realizadas, que favorecem a sociedade. Mas continua havendo uma diferença entre os dois papéis atribuídos a São Paulo. Se os cidadãos brasileiros que residem no Estado tiverem na Câmara o peso que é seu, pela natureza democrática da representação popular, terão voz para decidir, no foro competente, questões que dizem respeito à arrecadação e dispêndio federais, à organização do país e outras, que os afetam, não como paulistas, mas como brasileiros. O relativo isolamento de São Paulo em relação ao resto do país diminuirá. Nossa democracia ganhará com isso, pois desconheço um regime democrático que funcione na base da redução do valor dos votos de sua unidade subnacional mais populosa.

Por que não acabar com essas duas injustiças? Faz algum tempo, a injustiça na cobrança do ICMS está sendo enfrentada. O Valor de quinta-feira diz que está no horizonte a transferência definitiva da cobrança do ICMS para o destino. Ora, por que não aproveitar para anular, a um só tempo, duas injustiças que até hoje se equilibram? Se a vantagem tributária paulista for extinta, por que manter a desvantagem política que prejudica os brasileiros que votam nesse Estado? Seria um ato de estadistas promover essa mudança. Até porque, como já disse, as duas injustiças são de ordem diferente. Na democracia, não há como defender que uma categoria inteira de pessoas, pelo acaso de sua origem ou pelo acaso de sua residência, tenha diminuído o valor de seu voto. Adaptando a frase de um juiz americano, para quem a luz era o melhor detergente da corrupção, podemos dizer que na democracia o valor do voto é o melhor detergente para a injustiça e a desigualdade. Pena que nossos políticos não tenham negociado o fim, conjunto, de dois erros.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Metas para seres humanos iguais:: Luiz Carlos Bresser-Pereira

Os pobres não devem renunciar a melhores padrões de vida; os ricos é que devem diminuí-los

Nos últimos 50 anos a proteção do ambiente tornou-se, historicamente, o quinto objetivo político fundamental das sociedades modernas. Todas as sociedades, desde a antiguidade, buscaram segurança.

E a partir do século 18, acrescentaram a esse objetivo mais quatro objetivos: a liberdade, o bem-estar ou o desenvolvimento econômico, a igualdade ou a justiça social, e finalmente a proteção da natureza.

Na luta por esse quinto objetivo, o mundo se reúne hoje no Rio de Janeiro, na conferência patrocinada pelas Nações Unidas, Rio +20.

Já sabemos que não é possível esperar muito dessa reunião. Que ela acontece em um momento difícil para todos os países, sobretudo para os ricos imersos na crise profunda que herdaram dos 30 Anos Neoliberais do Capitalismo (1979-2008).

Mas isso não significa que não haverá avanços. Duas conquistas estão bem encaminhadas: o fortalecimento do Pnuma (a agência da ONU que cuida do ambiente) e a definição dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

No primeiro caso, trata-se de melhorar a governança global; no segundo, definir metas para o mundo e para os países como foram estabelecidos os Objetivos do Milênio.

Pode-se argumentar que não haverá um meio de exigir o cumprimento dos objetivos, porque os países não vão se dispor a adotar metas nacionais compatíveis e porque, mesmo fortalecido, o Pnuma não terá condições de forçá-los a adotá-las. Isso é verdade. Sabemos que o problema fundamental da proteção da natureza e do aquecimento global é a prática do "carona".

O problema é de todos porque os prejuízos evitados beneficiam a todos, mas cada um quer se aproveitar do esforço dos outros e minimizar os seus. Mas o "carona" não é o único princípio que comanda tanto os seres humanos como os países.

Há também valores morais compartilhados, e espírito de cooperação. O fato é que o futuro da humanidade -dos nossos filhos e netos- está em risco. E que, ao definir objetivos e melhorar a governança global na área do ambiente, além de afirmar nossa vontade de cooperar, dizemos que precisamos regular o presente e planejar o futuro.

Que a alternativa de deixar o problema "por conta do mercado", como ainda vejo economistas neoclássicos e neoliberais afirmarem, não faz o menor sentido.

E que mesmo o mercado de carbono faz pouco sentido. Faz mais sentido, a curto prazo, taxar as empresas e as atividades poluidoras. E, a médio prazo, desenvolver sistemas de acompanhamento e de execução das metas acordadas.

Mas é importante ser razoável na definição das metas, porque desenvolvimento sustentável não é apenas proteção do ambiente; é também crescimento e diminuição das desigualdades.

O desenvolvimento sustentável deve ser econômico, social e ambiental. E não podemos repetir tolices como a de afirmar que os países em desenvolvimento não podem reproduzir os padrões de consumo dos países ricos.

Talvez isso não seja possível, mas, se não for, não são os pobres que devem renunciar a melhores padrões de vida, mas os ricos que devem diminuí-los. E para isso só há uma solução: começar a discutir metas ambientais.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Uma semana para não ser esquecida :: Luiz Carlos Mendonça de Barros

Quando esta coluna for lida no Valor de segunda feira, já será conhecido o resultado das eleições parlamentares na Grécia e os mercados financeiros na Ásia já estarão reagindo a ele. Felizmente os líderes do chamado G-20 prepararam, antecipadamente, um plano concertado de ação para enfrentar o pior. Uma questão fortuita facilitou essa ação na medida em que estavam previamente agendadas para esta semana uma reunião formal do G-20 no México e uma outra dos ministros das Finanças da Europa. Nesses dois fóruns é que terão que ser decididas as medidas concretas para estabilizar os mercados financeiros no curto prazo, pelo menos.

As alternativas de ação dos países mais ricos para lidar com a crise de confiança dos mercados dependem de qual dos caminhos possíveis foi o escolhido pelo eleitor no país de Sócrates: a vitória de uma coligação comprometida com a Europa, a de um grupo de esquerda radical e que prega uma ruptura com os acordos já negociados e, finalmente, a necessidade de realização de novas eleições.

No caso da formação de um governo comprometido com a Europa os mercados devem reagir bem e algum tempo mais será dado aos líderes europeus para definir um plano de voo de médio prazo para estabilizar a Zona do Euro. Nesse caso não será preciso acionar o Plano de Emergência que está sendo articulado pelos Bancos Centrais do G-20 e as atenções vão se voltar para a reunião dos ministros europeus. Esses senhores estarão reunidos por dois dias, preparando a agenda para o encontro dos chefes de Estado que será realizada na semana seguinte.

Só uma ação conjunta dos Bancos Centrais do G-20 nos mercados de câmbio e títulos soberanos poderá evitar um Armagedon

A agenda a ser definida necessariamente terá que apresentar uma solução clara e crível para que o mercado consolide uma visão mais otimista sobre o futuro. Infelizmente, as informações disponíveis mostram ainda que, apesar de algumas novas ideias interessantes, não existe uma agenda consistente de ações imediatas. Conceitos corretos como a busca de uma integração fiscal maior entre os países do euro, um redesenho dos sistemas financeiros nacionais e a criação de um novo arranjo institucional para os maiores bancos europeus não serão suficientes para convencer investidores e empresas que a Europa Unida não vai se desintegrar. Será preciso mostrar como todos esses objetivos serão atingidos.

Uma ideia nova que tem circulado na imprensa internacional - a criação de um Fundo Europeu para mutualizar parte das dívidas nacionais - traz uma alternativa para permitir um ajuste mais suave no endividamento público e abrir algum espaço para uma política de estímulo ao crescimento. Essa ideia - sugerida pela associação de economistas da Alemanha - é muito parecida com a adotada pelo governo Fernando Henrique Cardoso em 1999 para lidar com o elevado endividamento da maioria dos estados brasileiros. E os resultados aqui no Brasil foram muito positivos.

Na Europa a proposta é a de se criar um fundo supranacional que assumiria a parcela da dívida pública, de todos os países, que supere o limite de 60% do PIB. No caso da Europa de hoje, os 17 países da zona do euro seriam elegíveis para participar desse mecanismo. Até mesmo a poderosa Alemanha participaria desse clube dos endividados, o que certamente facilitaria sua aprovação nos países que ainda se mostram reticentes em dividir os ônus da estabilização financeira da Europa.

Mesmo com um reequilíbrio político entre os defensores radicais da austeridade fiscal e aqueles que defendem a necessidade da volta do crescimento econômico criado pela vitória dos socialistas franceses, parece que estamos ainda muito distantes da construção de um consenso. Por isso, mesmo com um cenário positivo na Grécia, os mercados não vão deixar de lado a postura especulativa sobre um fim inglório para o sonho da Europa Unida e a crise deve continuar.

A segunda alternativa para as eleições gregas - a vitória da esquerda radical - deverá mergulhar os mercados em todo o mundo no modo pânico. A ruptura com os acordos negociados defendida publicamente pelo Syriza levará certamente a uma moratória na Grécia e, no final de um processo dramático, à troca de sua moeda. Como não existem mecanismos legais que lidem com essa possibilidade, o pânico vai ser legítimo. Mas não apenas na Grécia, pois certamente o medo de um final semelhante em países como Portugal, Irlanda e Espanha - porque não a Itália? - tomará conta de todos.

Nessa situação apenas uma ação conjunta e orquestrada dos Bancos Centrais do G-20 a partir da noite de domingo nos mercados de câmbio, juros e de títulos soberanos poderá evitar um Armagedon financeiro e econômico. Mesmo assim o risco de fracasso dessas iniciativas é grande e assustador para qualquer analista com um mínimo de conhecimento de crises financeiras passadas.

Além desse movimento dos Bancos Centrais, os líderes políticos do mundo todo terão que encontrar na reunião do G-20 energia e coragem para construir um pacote de intervenção mais amplo para trazer de volta um mínimo de confiança aos mercados e, com isso, evitar uma nova depressão econômica que poderá fazer a dos anos trinta do século passado uma experiência menor.

Por tudo isto vou passar um fim de semana com muito medo e apreensão.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.

FONTE: VALOR ECONÔMICO