Entrevista com Márcio França
Gabriela Sá Pessoa / Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Vice-governador de São Paulo, Márcio França (PSB), 54, tem hoje 3% das intenções de voto para o governo do Estado, segundo o Datafolha. Porém, aposta na projeção que terá ao assumir o Bandeirantes, quando Geraldo Alckmin (PSDB) renunciar para disputar a Presidência.
Ex-prefeito de São Vicente e ex-deputado federal, França é conhecido por sua capacidade de articulação política: hoje, espera ter uma base de ao menos sete partidos, que lhe dariam exposição de rádio e TV na campanha.
Em entrevista em seu gabinete, diz que compreende uma candidatura do PSDB e que, apesar do confronto com os tucanos, terá o apoio do governador: "Serei um dos candidatos do Alckmin. Ele fez essa opção quando me convidou para ser vice, sabendo que eu iria assumir".
• Folha - O sr. assume São Paulo quando Alckmin deixar o governo e disputará a reeleição...
Márcio França - Toda a minha chance é resultado do cargo. Sou conhecido por 7% do Estado, é um número muito baixo. Venho de um eleitorado restrito [da Baixada Santista]. Desde o início, tenho dito que seria candidato. Sendo franco, o governador é experiente. Quando ele me escolheu como vice, sabia que deixaria a sucessão comigo. Me sinto, de alguma forma, prestigiado e escolhido por ele.
Ele vai renunciar porque a lei exige, e já disputou a Presidência numa eleição muito mais difícil que essa [em 2006], com o Lula em alta, e perdeu por 6% [França se refere ao primeiro turno, quando a diferença entre Lula e Alckmin foi de 6,9 pontos percentuais; no segundo turno, ela foi de 21,6 pontos percentuais]. Tirando os neófitos, qualquer um que você pergunte, hoje, quem é o favorito, dirá Alckmin.
O Bolsonaro está em partido com tempo muito pequeno de rádio e TV, tem só um deputado. Ele terá o tempo de um deputado, o que significa que terá de somar vários dias para ter um comercial de 30 segundos. Ele será atacado e não terá como se defender.
• Alckmin parece ser o candidato do centro, que está se fragmentando. Especula-se que Rodrigo Maia possa se candidatar, Henrique Meirelles.
Desde a eleição passada, as pessoas sempre vão com nomes. E o [Luciano] Huck? E o Maia? E o Joaquim Barbosa? Se outros nomes surgirem, a análise será diferente.
Com a presidência do PSDB na mão, Alckmin é um dos "players". Não há por que não imaginar que ele não estará no segundo turno, ele é o franco favorito a ter mais tempo de rádio e TV.
[França desliza o celular em sua direção, sobre a mesa de seu gabinete. Então mostra uma cartografia dos resultados das últimas eleições no Brasil: um país representado de vermelho no Norte e Nordeste, onde o PT tem a maioria dos votos, e azul no Centro-Oeste, Sul e Sudeste, onde o PSDB tem a preferência. Sua tese é que, para vencer a eleição, os tucanos precisam aumentar a vantagem no Nordeste, mais petista.]
Eliminando-se Bolsonaro pelo tempo de TV, fica entre PT e PSDB. Possivelmente, sem o Lula –o mais provável é que o PT indique o Jaques Wagner [ex-governador da Bahia], que é de um Estado grande e tem um sucessor. O eleitor tende a votar no candidato do seu Estado. Assim como no Ceará, a tendência é de se votar num candidato do Ciro. A margem que sobra [de votos] na Bahia e no Ceará é pequena, então o foco fica em Pernambuco.
• Que é onde o PSB tem força.
Tem força. Desde o início, o governador de alguma forma anteviu isso. Ele é uma pessoa discreta e estudiosa.