O Globo
Com a possibilidade real de se tornar
inelegível em consequência do inquérito aberto contra ele no Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), pelos ataques antidemocráticos ao sistema eleitoral e pela
ameaça de não realizar as eleições do ano que vem, Bolsonaro precisa reavaliar
bem sua estratégia política, que claramente tem o objetivo de causar confusão e
enfrentamento de autoridades, para retornar ao Bolsonaro da campanha de 2018 —
que na verdade só existiu para reafirmar seu instinto vulgar, mas não corresponde
ao inimigo do establishment depois que se entregou de corpo e alma ao Centrão.
Ontem, a posse do senador Ciro Nogueira como ministro da Casa Civil foi uma
demonstração de força, submetendo até mesmo o general Augusto Heleno ao
beija-mão dos políticos que, na campanha, chamou de ladrões. A foto da imensa
fila de deputados à porta do Palácio do Planalto, com os generais Luiz Eduardo
Ramos, da Secretaria de Governo, e Augusto Heleno, do GSI, olhando de cima
aquela multidão de políticos que invadiram o salão nobre para festejar a tomada
de assalto do grupo ao centro do poder, é reveladora.
O corregedor do TSE, ministro Luis Felipe Salomão, ao pedir ao Supremo Tribunal
Federal (STF) o compartilhamento de provas e investigações em curso por lá para
anexá-las ao inquérito que investiga irregularidades na campanha eleitoral que
elegeu Bolsonaro e seu vice, Hamilton Mourão, acrescentou mais lenha na
fogueira da disputa política entre o presidente e o STF. O ministro Alexandre
de Moraes, relator do inquérito das fake news no Supremo, acolheu ontem a
notícia-crime encaminhada pelo presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, e
determinou a instauração imediata da investigação das condutas do presidente
Bolsonaro.