terça-feira, 2 de agosto de 2022

Paulo Fábio Dantas Neto* - Dobrando o cabo das tormentas: a dupla via da redescoberta do Brasil

Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

(Gilberto Gil e Chico Buarque de Holanda) 

No espaço de tempo equivalente ao de uma quaresma, entre os meses de junho e julho desse 2022 inesquecível, a mobilização da sociedade civil brasileira em defesa da democracia mudou de patamar. À delicada e por vezes enervante esgrima das instituições contra o perigo que as ronda desde a eleição de Jair Bolsonaro, somou-se, há meses, o intrincado xadrez pré-eleitoral, necessário, mas não bastante. Agora a cidadania desce da arquibancada e dá início a um jogo coletivo para garantir sua ida às urnas.

Convém destacar o ponto a partir do qual a fermentação de uma indignação contida começa a adquirir contornos de um basta. Na bacia do Amazonas, na internacionalmente simbólica data de 5 de junho, Dia do Meio ambiente; e em Foz do Iguaçu, no dia 9 de julho, assassinatos políticos (no sentido socialmente mais relevante que pode ter esse adjetivo) provocaram, simultaneamente, um coro de protestos na sociedade política e um ato público cívico e interreligioso na Catedral da Sé da capital de São Paulo, estado que tivera seu feriado constitucionalista histórico impactado pelo segundo crime.

No ato da Sé predominou a atitude de resistência e de defesa de direitos humanos, não faltando, desse modo, analogias com o momento histórico de lutas democráticas que estão a completar cinquenta anos. Compreensível, pois vinha sendo farejado, cada vez mais vividamente, pela nossa memória comum, nesses quase quatro anos de tensão e agressão, o monstro autocrático que parecia pronto a perpetrar seu mister de inverter a roda do tempo para mergulhar o país numa tragédia da qual a unidade cívica e política contra a ditadura e pela democracia o libertara há quatro décadas. Duas semanas após aaquele ato, a sociedade civil continua evocando seu bom combate do passado, mas eis que o monstro de chumbo atualíssimo emerge inteiro, escancarando o veneno de seus planos para embaixadores de todo o mundo dois dias após o ato da Sé e provoca descida mais efetiva da arquibancada ao campo aberto da participação cívica. Agora protestam contra o espetáculo grotesco não apenas a galera da geral e a parte da plateia comprometida com os sem-ingresso de sempre. As vaias partem até de cadeiras cativas.

Thomas Traumann* - Não há neutralidade sobre a democracia

O Globo

Colocar suspeição sobre as urnas eletrônicas não é ponto de vista. É golpismo

O Brasil se tornou os Estados Unidos com dois anos de atraso. Em 2016, Donald Trump se elegeu presidente nos EUA com uma combinação de nacionalismo tosco (“Faça a América grande de novo”), antipolítica (“Vamos drenar o pântano da corrupção em Washington”) e mentiras (denúncias forjadas de um esquema de pedofilia envolvendo a cúpula do Partido Democrata). Em 2018, Jair Bolsonaro venceu mimetizando a fórmula do bufão americano. Em 2020, Trump perdeu a reeleição e instigou seus seguidores a tentar tomar o poder à força. Dois anos depois, Bolsonaro ameaça um golpe preventivo cuja justificativa é o medo de ter menos votos que o adversário. À diferença de Trump, no entanto, Bolsonaro tem o apoio do Exército.

Saber o que o futuro reserva permite que as pessoas se preparem. Se for uma inundação, os moradores das regiões de risco devem deixar suas casas. Se for uma tempestade, os motoristas são avisados a evitar as ruas que alagam. Mas como uma sociedade se prepara contra a ameaça de contestação da vontade da maioria dos eleitores?

Carlos Andreazza - Acordos e chantagens

O Globo

Os acordos de Brasília. A gente escuta sobre o que tratariam e parece difícil de acreditar. Mas todo o “difícil de acreditar” deve ser relativizado ante a existência — foi notícia — de ministros do STF em peleja pública para que suas influências políticas prevaleçam. No caso, para que o indicado de Jair Bolsonaro ao STJ fosse o afilhado de um em detrimento do de outro.

Fala-se mesmo que um teria ameaçado retirar o apoio ao presidente da República. Refiro-me a um ministro do Supremo; que ameaçava não mais apoiar o chefe de Estado caso o escolhido fosse o desafeto apadrinhado por outro ministro do STF. Temos: ministro de Corte constitucional que apoia presidente da República; e ameaça lhe retirar apoio.

Afinal, levou o que queria.

Não deixa de ser façanha, ainda que alcançada via chantagem. Bolsonaro é um traidor contumaz. Mas precisava — precisa — daquele supremo apoio. Precisa muito mais de confrontos.

Escrevo isso a propósito de uma ideia de acordo ventilada nos últimos dias. A plantação segundo a qual os civis do Planalto, os supostos moderados, trabalhariam para convencer o TSE, a partir da futura presidência de Alexandre de Moraes, a aceitar conjunto de propostas do Ministério da Defesa para as urnas eletrônicas.

Míriam Leitão - A urgente agenda ambiental perdida

O Globo

País precisará resgatar a agenda ambiental para desfazer retrocessos e conter a alta dos crimes e do desmatamento na Amazônia

O Brasil está numa situação tão dramática nas ameaças ao meio ambiente e aos povos indígenas que o novo governo — em caso de derrota de Bolsonaro — precisará de um amplo plano de reconstrução. A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva tem falado, nos seus discursos, em “buscar e atualizar a agenda ambiental perdida”, num paralelo com a agenda perdida na economia que foi defendida por economistas em 2002. Ontem se soube que cresceram em 8% os alertas de incêndio na Amazônia em julho. O primeiro semestre foi o pior em sete anos em alertas de desmatamento.

Edu Lyra - Pobreza até quando?

O Globo

Temos pressa para encontrar uma solução para um problema que vem assolando o Brasil há séculos

Regra básica de qualquer manual de administração: para atingir um objetivo, é preciso estabelecer prazos. A ausência de um deadline significa que a tarefa em questão não é prioritária e que, portanto, pode esperar. Não há empresa no mundo que ignore a importância de um bom cronograma, com data de início e fim dos trabalhos, para o sucesso de uma ação.

Qualquer um pode intuir esse princípio elementar, que se aplica também à vida pessoal. Quando planejamos uma viagem, uma reforma em casa ou a compra de um bem mais valioso, como um carro, um dos primeiros passos é decidir quando pretendemos atingir nossa meta. Sem um prazo, é mais difícil se organizar financeira e até psicologicamente.

Luiz Carlos Azedo - Supremo volta do recesso fortalecido

Correio Braziliense

Fux reiterou que “nossa democracia conta com um dos sistemas eleitorais mais eficientes, confiáveis e modernos de todo o mundo” e “uma justiça eleitoral transparente”

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux, no discurso de abertura do semestre, reverberou o fortalecimento da Corte em razão do maciço apoio que recebeu da sociedade civil, nos dois manifestos anunciados na semana passada, um liderado por juristas ligados à tradicional Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, e o outro por empresários e banqueiros ligados à Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e à Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), respectivamente. Ambos foram uma resposta aos ataques feitos pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) às urnas eletrônicas, à Justiça Eleitoral e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em particular, aos ministros do STF Luís Roberto Barroso, Édson Fachin e Alexandre de Moraes — respectivamente ex, atual e futuro presidente da Corte eleitoral.

Fux reiterou que “nossa democracia conta com um dos sistemas eleitorais mais eficientes, confiáveis e modernos de todo o mundo” e “uma Justiça Eleitoral transparente, compreensível e aberta a todos aqueles que desejam contribuir positivamente para a lisura do prélio eleitoral”. O presidente do STF também condenou a violência nas eleições: “O Supremo Tribunal Federal anseia que todos os candidatos aos cargos eletivos respeitem os seus adversários, que, efetivamente, não são seus inimigos. Confia na civilidade dos debates e, principalmente, na paz que nos permita encerrar o ciclo de 2022 sem incidentes”, disse.

Cristina Serra - Coragem para derrotar Bolsonaro

Folha de S. Paulo

A notícia mais auspiciosa dos últimos dias foi a carta pela democracia e a mobilização que ela gerou

A notícia mais auspiciosa dos últimos dias foi a "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito" e a mobilização em torno dela para coleta de assinaturas. A carta será lida em 11 de agosto na Faculdade de Direito da USP e assinala os 45 anos de outro documento, lido no mesmo lugar e em momento bem mais difícil da vida nacional.

Em agosto de 1977, era preciso coragem para escrever e ler em público a "Carta aos Brasileiros", como fez o jurista Goffredo da Silva Telles Jr. Por muito menos, a ditadura torturava e matava, e a chamada "linha dura" dos militares ameaçava com tempos ainda mais sombrios.

Alvaro Costa e Silva - A guerra do javali

Folha de S. Paulo

Sob Bolsonaro, caça ao animal virou pretexto para armar a população

Entre as promessas de Bolsonaro estava a de aniquilar o javali. "É liberar a caça ao javali e ponto final. Não temos como conviver com javalis. Alguns falam em castração, mas não tem como castrar. A velocidade de procriação é enorme, três crias por ano, uma fêmea chega a gerar 50 filhotes", disse ele no Facebook, em 2018. Os javalis, a despeito da sentença de morte, seguem procriando adoidado.

Outra das promessas era dar um fim à bandalheira financiada pelo governo. Mas os corruptos nunca tiveram tanta facilidade para agir, sobretudo depois que Bolsonaro, para evitar o impeachment, abriu os cofres ao centrão, tornando o presidente da Câmara, Arthur Lira, dono do Orçamento –que passou a ser distribuído secretamente. Mais robusto que o mensalão e o petrolão, o dinheiro do secretão financiaria o extermínio de manadas de javalis e javaporcos no mundo inteiro.

Joel Pinheiro da Fonseca - O Brasil pune mal os crimes hediondos

Folha de S. Paulo

O país precisa ter coragem de aplicar pena integral para assassinatos

Entretenimento, jornalismo e combate ao crime têm interagido de maneiras interessantes. Primeiro foi o podcast "A Mulher da Casa Abandonada" que lançou luz sobre a escravidão moderna.

Agora é a série documental "Pacto Brutal" que, ao relembrar o assassinato da atriz Daniella Perez, realça também como são leves as penas para crimes hediondos no Brasil. Guilherme de Pádua, o assassino, foi condenado a 19 anos e seis meses de prisão.

Se tivesse cumprido esses quase 20 anos de sua pena até o fim em regime fechado, isso em nada se compararia à perda da vida de sua vítima, é claro, mas ao menos seria uma punição relevante. Ele sairia da prisão tendo perdido fatia considerável de sua vida. Não foi o que aconteceu, infelizmente. Saiu da prisão em liberdade condicional após apenas 6 anos e nove meses.

Eliane Cantanhêde – Do varejo para o atacado

O Estado de S. Paulo

Restaurar ordem, disciplina e hierarquia nos quartéis é tão difícil quanto reflorestar a Amazônia

Do varejo para o atacado: depois de rasgar o Estatuto Militar e o Regimento Interno do Exército e deixar as Forças Armadas no maior dilema ao atrair o general da ativa Eduardo Pazuello para um palanque eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro agora quer levar não um militar, mas o Exército Brasileiro para um ato de campanha no 7 de Setembro, a menos de um mês da eleição. Em vez de o presidente ir ao desfile do Dia da Pátria, o desfile é que vai servir a ele.

Em tensas conversas no fim de semana, militares da ativa e da reserva concordaram em que ordem do presidente se cumpre, porque ele é comandante em chefe das Forças Armadas, mas que é importante explicar a ele quanto é inviável levar tropas para desfilar junto a civis em plena Copacabana. Argumento técnico, questão de logística...

O desfile militar é, desde sempre, na Avenida Presidente Vargas, em frente ao Palácio Duque de Caxias, e, quando tentaram mudar para o Aterro, deu errado. Largura da via, acesso, escoamento, segurança... Ok. Mas, depois que o Alto-comando ignorou todas as regras para perdoar Pazuello, tudo é possível. No fim, decretam-se cem anos de sigilo...

Paulo Hartung* - É tempo de agir para transformar

O Estado de S. Paulo

Para nos superarmos no suceder dos dias, como bem inspiram os ditames do ESG, é preciso combater o obscurantismo.

Toda crise gera desafios, sofrimento, mas também oportunidades. Pandemia, convulsão climática, guerra na Ucrânia, extremismos políticos, populismo crescente, obscurantismo, desarranjo das cadeias globais de suprimento e ampliação das desigualdades sociais no mundo. Esses e tantos outros eventos desconcertantes e com grave repercussão na vida cotidiana do hoje e do amanhã podem e devem desencadear um movimento para a reinvenção virtuosa da existência.

Desde os princípios do milênio, quando o então secretário-geral da ONU Kofi Annan lançou o Pacto Global, segundo o qual organizações alinhariam suas estratégias a dez princípios universais nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção, temos à nossa disposição um norte efetivo de ação com vistas à transformação.

Com o passar do tempo, esses princípios moldaram o conceito ESG (ambiental, social e governança, em português). Aqui, há uma simbiose de mudanças que se somam para produzir efeitos transformadores não somente nas corporações, mas, especialmente, na cena socioeconômica e político-cultural na qual elas se inserem.

Trata-se de interagir, responsavelmente, com o meio ambiente, de efetivar laços socioeconômicos com base na diversidade e na equidade e de executar sua missão organizacional com a ética de quem se sabe parte importante e referencial da sociedade. E, como ainda estamos muito distantes de realidade aceitável, que tal aproveitar esta fase de mudanças impositivas para progredirmos numa parte essencial que nos toca a todas e todos?

Luiz Gonzaga Belluzzo* - A Carta às brasileiras e aos brasileiros*

À véspera das eleições, a Carta deve ser lida e relida pelos brasileiros com a mesma devoção que os cristãos deveriam prestar à leitura do Sermão da Montanha

 “Nesse momento não tem empresário, jurista ou artista, é a defesa de todos, das pessoas que começam a prestar mais atenção e perceber que as coisas estão transbordando”. Assim falou ao Valor o empresário Horácio Lafer Piva.

A “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito” será lançada na Faculdade de Direito da USP em 11 de agosto, no Pátio das Arcadas.

Entre tantos parágrafos valiosos, ousei escolher dois que me tocaram fundo:

“Nossa democracia cresceu e amadureceu, mas muito ainda há de ser feito. Vivemos em um país de profundas desigualdades sociais, com carências em serviços públicos essenciais, como saúde, educação, habitação e segurança pública. Temos muito a caminhar no desenvolvimento das nossas potencialidades econômicas de forma sustentável. O Estado apresenta-se ineficiente diante dos seus inúmeros desafios. Pleitos por maior respeito e igualdade de condições em matéria de raça, gênero e orientação sexual ainda estão longe de ser atendidos com a devida plenitude”.

Andrea Jubé - Lições do golpista arrependido

Valor Econômico

Lacerda articulou carta em defesa da democracia em 1966

 “Assim como o aliado de hoje pode ser o inimigo de amanhã, o inimigo de ontem pode ser o aliado de hoje”. Quem disse essa frase? Dica: um político de expressão nacional, dono de uma oratória ímpar e no contexto da criação de uma Frente Ampla em defesa da democracia. Este político convidou antigos adversários para dar corpo ao movimento, e reuniu lideranças de todos os matizes, imbuídos da missão de lutar pela realização de eleições livres e gerais no Brasil.

A declaração e o movimento político descritos no parágrafo anterior ressoam atuais. Dialogam com a “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, que será lida na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no dia 11 de agosto, e que já reuniu mais de 600 mil assinaturas, contando com adesões de empresários, banqueiros, artistas, advogados, jornalistas e demais representantes da sociedade civil. “Independentemente da preferência eleitoral ou partidária de cada um, clamamos as brasileiras e brasileiros a ficarem alertas na defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições”, diz um trecho do documento.

Luiz Schymura* - A melhora na taxa de desemprego

Valor Econômico

Emprego está sendo puxado por setores de baixa produtividade

O mercado de trabalho surpreendeu positivamente no primeiro semestre deste ano: a taxa de desemprego na PnadC caiu de 11,1% de dezembro de 2021 para 9,3% na de junho de 2022 (números relativos ao trimestre encerrado ao fim do mês de referência da pesquisa). Sem dúvida, a melhora em pontos percentuais é expressiva. E, se pensarmos retrospectivamente nas projeções da maioria dos analistas no início de 2022, taxas de desemprego em um dígito eram apenas esperadas dentro de alguns anos. O que traz a seguinte indagação: o que levou aos prognósticos menos otimistas dos analistas?

Como se sabe, o surgimento da covid-19 trouxe, além do desastre humanitário, muitas incertezas quanto à resposta da economia e, em especial, do mercado de trabalho. Ao longo do processo de arrefecimento da pandemia, a economia retomou uma dinâmica que parece comum à grande maioria dos países do globo: nas primeiras etapas da recuperação, setores de maior produtividade e menos intensivos em trabalho tiveram destaque. Vencido esse período inicial, a volta à força de trabalho passou a ser puxada por segmentos intensivos em mão de obra e de produtividade mais baixa.

Aylê-Salassié Filgueiras Quintão* - Pior que o mensalão...

Alguém desconfia do que se trata? ... 49% dos brasileiros evitam falar sobre política, segundo pesquisa do Datafolha, que não detectou, nem procurou, qualquer rejeição moral ou imoral ao processo eleitoral, mesmo diante de um quadro explícito de corruptos e incompetentes   querendo retornar às cenas do crime. Roberto Jefferson, da sua "prisão domiciliar’, acaba de lançar-se candidato à presidente da República. É pra valer ou apenas uma estratégia para ressuscitar memórias enterradas? 

Difícil acreditar que o cidadão brasileiro não perceba este, sim, "novo normal", que se esconde atrás das liberdades e dos resíduos da democracia, agenciando, com sinceridade duvidosa, a retomada do Poder do Estado, coniventemente com a própria Justiça e com   fanatismos emergidos da desinformação e das angustias da população.

Falar em política nesse momento no Brasil é dar legitimidade a candidaturas de quase 100 cretinos com processos   por corrupção em tramitação na Justiça, e liberados pelo Judiciário para serem candidatos à cargos públicos. A melhor descrição feita desse quadro é do Alkmim, que está aí, hoje, aparentemente corrompido, desfrutando cinicamente do mesmo espaço dos seus acusados:  " volta à cena do crime". No cenário despontam desde candidatos à presidente da república, a governador, a senador, a deputado, a prefeito e a vereadores. O círculo está fechado somente para o eleitor.  Nesta democracia apregoada, o cidadão não tem direito a escolha. Tudo está dado. 

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Editoriais / Opiniões

Bombas no caminho do próximo governo

O Estado de S. Paulo

Desarranjo fiscal, dívida mais cara, juros altos e baixo potencial de crescimento formam o legado previsto para o futuro presidente da República

Baixo crescimento econômico e alta dívida pública estão no horizonte brasileiro há muitos anos, mas o futuro pode ser mais sombrio com a herança deixada pelo atual governo. O Tesouro Nacional poderá enfrentar em 2023 um aumento de R$ 63 bilhões no custo de sua dívida e uma perda de recursos de R$ 178,2 bilhões, segundo cálculos de economistas do mercado. Empenhados em conquistar ganhos eleitorais, o presidente Jair Bolsonaro, ministros e parlamentares aumentam gastos, cortam impostos e criam enorme desarranjo fiscal para a União, os Estados e os municípios. Somados os três níveis de governo, o corte de receita poderá atingir R$ 281,4 bilhões, de acordo com projeções de especialistas. O próximo governo enfrentará economia estagnada, maiores gastos, juros maiores, inflação ainda elevada e compromissos inflados com medidas eleitoreiras.

Economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI), de outras organizações multilaterais e também do mercado identificaram há muito tempo o escasso potencial produtivo do Brasil, sua rigidez fiscal e seu elevado endividamento público. Previsões de médio e de longo prazos dificilmente incluem taxas anuais de crescimento superiores a 2%. Maior dinamismo só será possível com mais investimentos em capital fixo – máquinas, equipamentos, infraestrutura e outras obras – e em formação de capital humano. O País tem feito muito menos que o necessário em todas essas frentes. Para fazer mais, precisará de mais poupança, interna e externa, de melhores padrões de gestão pública e de um retorno duradouro às práticas de planejamento.

Poesia | Manuel Bandeira - Desencanto

 

Música | Boca Livre - O Trenzinho do Caipira (Villa Lobos e poema de Ferreira Gullar)