segunda-feira, 12 de março de 2018

Opinião do dia: Marco Aurélio Nogueira

Pode ser. Mas nunca é cedo para se fazer o certo. A ideia de se levar o eleitor ao limite e de conclamá-lo a pensar no país só no segundo turno é uma opção suicida, que pode implicar a organização de uma disputa desconectada dos interesses populares e nacionais: daquilo que precisa ser feito.

A sociedade não merece ser tratada como se fosse uma coisa qualquer, menos importante que os caprichos, os interesses e as manias dos políticos.

A articulação dos democratas entre si, feita com generosidade, sem vetos e com programas claros, é uma saída tão evidente e tão plena de possibilidades que chega a surpreender que poucos se dediquem a ela.

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Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política da Unesp. “Onze candidatos e nenhuma ideia”.

Demétrio Magnoli: A esquerda diante da democracia

- O Globo

Boulos subordina PSOL à narrativa que nasceu como tática do PT para conservar hegemonia lulista sobre esquerda na sequência da derrota representada pelo impeachment

‘Este nosso encontro talvez fosse improvável”, sugeriu Guilherme Boulos no lançamento de sua pré-candidtura presidencial, diante de Caetano Veloso e um cortejo de celebridades. Improvável por quê? “O que nos uniu foi o avanço do conservadorismo, que nos forçou a buscar alianças novas”, explicou o candidato pelo PSOL. De acordo com a narrativa que vai sendo alinhavada pela esquerda, o Brasil já não vive numa democracia. O “golpe do impeachment” abriu uma fase de “autoritarismo” que equivale a “voltar 50 anos atrás” (portanto a 1968, segundo Boulos) e se destina a “retirar direitos” trabalhistas e previdenciários. Não é um bom caminho para enfrentar os desafios do ciclo pós-Lula.

Boulos subordina o PSOL a uma narrativa que nasceu como tática do PT para conservar a hegemonia lulista sobre a esquerda na sequência da desmoralizante derrota representada pelo impeachment. Do ponto de vista petista, a denúncia do “golpe de 2016” não passa de um expediente oportunista — e a prova disso é que o PT já anunciou a retomada da política de coligações eleitorais com os “golpistas” do MDB e do “centrão”. Mas aquilo que serve ao lulismo não serve à esquerda pós-lulista.

Taticamente, a denúncia do “autoritarismo” implica a “unidade das esquerdas” — isto é, uma frente formal (como quer Tarso Genro) ou informal (como prefere Boulos), no modelo da aliança de resistência à ditadura militar. Na prática, monta-se uma camisa de força eleitoral: após o primeiro turno, os partidos e movimentos de esquerda devem se juntar às candidaturas remanescentes do “campo da esquerda”, que tendem a ser aquelas patrocinadas pelo PT.

Marcus André Melo: O interventor e as instituições

- Folha de S. Paulo

A partir de um determinado nível, efeitos da crítica passam a ser negativos

“Quem quer que estude o papel da imprensa no domínio da polícia chegará à conclusão que ela exerce, quase sempre, uma influência má, nefasta, perigosa e apaixonada.”

A afirmação é de Aurelino Leal, chefe de polícia do Distrito Federal (1914-1918) e interventor federal no Rio de Janeiro (1923).

A denúncia não mirava apenas a polícia, mas a sociedade em geral. Em “Polícia e Poder de Polícia” (1918), Aurelino registra abismado o fato de que agentes da polícia haviam sido vaiados por transeuntes, entre os quais estavam “até senhoritas”. E faz um apelo à imprensa para que apoie a polícia.

O problema para Aurelino Leal era que “no Rio de Janeiro já passou em julgado o conceito de que a polícia é cabeça de turco, responsável por tudo, pelo que faz, pelo que deixa de fazer. Se fez, fez mal; se não fez, devia ter feito”.

E continua citando um conhecido jornalista: “Dizer mal da polícia é um hábito, quase uma obrigação, para quem escreve nos jornais. Conta-se mesmo de um talentoso jornalista carioca, já falecido, que na concessão de seu algo interessado apoio ao governo, ressalvava sempre a liberdade de desancar a polícia: se meu jornal, justificava ele, também elogiar a polícia ficará irremediavelmente desmoralizado perante o público”.

Fernando Limongi: A encruzilhada petista

- Valor Econômico

Se há um plano B, quanto antes ele virar o plano A, melhor

Lula falou longamente à "Folha de S.Paulo". A repercussão da entrevista não foi das mais favoráveis ao ex-presidente. Nas redes sociais, as chamadas para a íntegra da entrevista indicavam que os cortes e as edições teriam prejudicado os argumentos do ex-presidente. O confronto entre as duas versões não revela tamanha diferença. Com ou sem manipulação na edição, a situação enfrentada por Lula não é nada confortável.

Na entrevista, a afirmação mais importante feita por Lula, a que realmente interessa ao debate político-eleitoral, é a seguinte: "Eu sou contra boicotar as eleições." Tudo o mais que falou deve ser lido tendo essa declaração em mente.

O esclarecimento serve para afastar interpretações exageradas das primeiras reações à decisão dos três do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), como a fala de Gleisi Hoffmann sobre sangue nas ruas e outras tantas declarações na mesma direção. O PT sempre foi e continua sendo um partido eleitoral, pragmático. Os arroubos retóricos fazem parte da estratégia traçada por Lula e pelo PT para obter a absolvição do ex-presidente.

Na entrevista, Lula deixou esse ponto claro quando afirmou: "Eu quero saber o seguinte: eu proibido de ser candidato, na rua fazendo campanha, como eles vão ficar? Eles estão me transformando numa vítima desnecessária."

Marcus Pestana: Os cenários para a disputa presidencial

- O Tempo (MG)

Faltam apenas sete meses para as eleições presidenciais. O quadro ainda é extremamente instável e incerto. Muita água ainda vai passar debaixo dessa ponte. As eleições de 2018 marcarão o fim de um ciclo inaugurado pela Nova República na redemocratização.

No Brasil, com seu forte presidencialismo, ao contrário dos regimes parlamentaristas, o embate político se dá em torno de personalidades, e não em volta de ideias e programas. Isso nos leva a uma inversão do processo natural. Primeiro, discutimos nomes, depois saímos em busca de recheio de conteúdo programático da candidatura. Estas deveriam nascer a partir de um diagnóstico sólido da realidade e da projeção de ideias sobre o futuro do país. Mas aqui, e não é diferente no presidencialismo norte-americano, a discussão se concentra nos atributos, história pessoal, defeitos e qualidades dos personagens envolvidos.

A própria realidade vai decantando o processo. A primeira notícia já consolidada é a inexistência de “outsiders” com condições de competitividade eleitoral. Com a retirada de cena do apresentador Luciano Huck, e com o recuo do PSB em relação à candidatura do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, tudo indica que não teremos alguém com capacidade de galvanizar a opinião pública. As respeitáveis candidaturas de João Amoedo (Novo) e Paulo Rabelo de Castro (PSC) não terão ferramentas para se tornarem conhecidas e crescerem suas votações.

Gaudêncio Torquatto: Alckmin versus Ciro?

- Diário do Poder

A sete meses das eleições, não há sinais que garantam quem estará subindo ao pódio do 2º turno. Lula, exibindo folgada liderança no processo eleitoral (33,4% em recente pesquisa da CNT/MDA), ao que tudo indica deve ser impedido pela Justiça de ser candidato. O deputado Jair Bolsonaro (16,8% na mesma pesquisa) tende a ver sua margem diminuída em razão de certos fatores: curto espaço de mídia eleitoral; perfil de viés autoritário, cujo desdobramento deve descambar para forte bombardeio sobre o ideário por parte de adversários; despreparo para discorrer sobre temas prioritários, a partir da economia.

A eventual saída de Lula da arena praticamente inviabiliza as chances do PT, a ser alvo central de intenso tiroteio que se espera no pleito mais competitivo da contemporaneidade. Nem Haddad nem Jaques Wagner teriam envergadura para levar adiante a carruagem petista. Mas Luiz Inácio, é oportuno lembrar, será grande eleitor, esteja dentro ou fora da prisão, devendo com seu verbo denunciativo arrastar candidatos proporcionais e majoritários do PT em todas as regiões. O PT quer sair vivo e forte da batalha eleitoral sob pena de ver naufragado o esforço de três décadas.

Vinicius Mota: Observe Kassab

- Folha de S. Paulo

Articulações do ex-prefeito contrariam hipótese de pulverização de candidaturas

A exclusão do ex-presidente Lula da disputa pelo Planalto e o naufrágio da popularidade do presidente Temer estimulam um enxame de pretensos candidatos. De um lado, abre-se uma vaga no segundo turno. Do outro, o portador da faixa mostra escasso poder de aglutinar forças.

As condições materiais para a sustentação de uma candidatura presidencial, entretanto, provavelmente são as mais adversas desde a reinstalação do voto direto. Fechada a porta do financiamento empresarial, a divisão dos fundos públicos eleitorais dentro dos partidos será determinante para saber, afinal, quantos desses propalados estadistas aparecerão na cédula em 7 de outubro.

Optar pela candidatura ao Planalto significa destinar menos dinheiro do pote às campanhas para deputado e senador.

Quanto menor a competitividade do presidenciável, maior a chance de ser jogado ao mar pelos chefes do partido até o início de agosto, quando serão definidas as chapas. O retrato atual das pesquisas, com uma multidão de nanicos de intenção de votos, não mudará muito até lá.

Angela Bittencourt: Eleição é o maior risco para o cenário econômico

- Valor Econômico

Dez casas veem juro real de 2,2% a 2,5% por muito tempo

Menos inflação, menos juros e mais crescimento, embora lento, compõem o roteiro que o Brasil deve seguir ao menos até o primeiro semestre do ano que vem se o atual governo não inventar moda e o próximo convencer que é reformista. A eleição para presidente, governadores, deputados federais e parte do Senado aumenta o risco de projeções mais longas. Por ora, o ano de 2018 está "dado" - "conhecido" - no jargão do mercado.

A prioridade para 2019 é mais que conhecida: a reforma da Previdência. O crescimento esteve no topo das prioridades dos governos ao menos nos últimos cinco anos mas tornou-se um fato validado de três em três meses com a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento é modesto e assim continuará sem avanços na área fiscal que estabilizem a dívida pública e levem a posterior redução.

O governo Temer em breve completará dois anos. Neste período, decisões importantes foram tomadas e aplicadas. Outras não tiveram sequência porque a política partidária padece de gigantismo; a Lava-Jato, com toda a sua dedicação e mérito, não conseguiu vacinar o país contra os interesses pessoais que se sobrepõem aos interesses coletivos; e a eleição à frente é fonte de incertezas que vão além das inerentes a processos sucessórios. A sete meses das eleições quem tem bom juízo não aposta em quem será o próximo presidente e tampouco no Brasil que sairá das urnas.

Cida Damasco: Que tiro foi esse

- O Estado de S.Paulo

Ataque de Trump pode despertar o espírito protecionista no País

Não, não se trata de mais um debate sobre a banalização da violência, expressa no hit da funkeira Jojo Todynho. O tiro é outro. É aquele que veio lá dos EUA, onde o presidente Trump simplesmente cumpriu a promessa que fez durante toda a campanha e muitos preferiam esquecer: guerra aos inimigos de fora e apoio total à indústria americana, não importando se ela está ou não obsoleta, nem o quanto ela depende dos fornecedores externos.

A imposição de uma tarifa de 25% para importações de aço e de 10% para de alumínio, medida que parecia incompatível com a agenda das grandes economias, ameaça complicar a vida dos países e empresas que têm fortes relações comerciais com os EUA, como o Brasil, e, no extremo, pode até desencadear uma guerra comercial generalizada – ainda que essa hipótese, alardeada nos últimos dias, no momento não seja a mais provável.

A oficialização da nova política comercial de Trump ocorreu na quinta-feira, justamente um dia depois de o Banco Mundial divulgar estudo que destaca os benefícios da abertura comercial para a economia. No caso do Brasil, uma abertura coordenada com os outros parceiros do Mercosul poderia tirar 6 milhões de pessoas da pobreza. Cortar pela metade as tarifas de importação para compras procedentes de países de fora do bloco e acabar com os impostos de exportação poderia incorporar quase um ponto ao PIB e cerca de 400 mil novos postos de trabalho.

Cesar Maia: Forma e conteúdo dos candidatos a presidente da República!

Ex- Blog do Cesar Maia

1. Uma tendência política geral dos últimos anos é a convergência das antigas esquerda e direita ao centro. Se há exceções, estas estão no campo do populismo e, assim mesmo, dos vetores mais demagógicos.

2. Com isso, as ideologias da Guerra Fria não fazem mais sentido para o eleitor. Ou seja, as decisões de voto não passam mais por elas. E os que insistem nisso, em qualquer lugar do mundo, se isolam e se minimizam.

3. Em países que têm cláusula de barreira para acesso ao parlamento, os que insistem na Guerra Fria são eliminados.

4. Um dos desdobramentos desta tendência é a prevalência da imagem multiplicada pelo impacto da comunicação audiovisual. As redes sociais são pulverizadoras e, nesse sentido, seus impactos são menores do que muitos supõem. São menores e são passageiros, ou cíclicos.

5. Mais importante que a quantidade de acessos nas redes a um fato ou personagem, é a permanência destes. Digamos, a sustentabilidade visual.

6. Por isso tudo, no caso das eleições gerais, os candidatos majoritários se agrupam mais por perfil que por ideologia ou propostas.

7. O que se chama de candidatos de centro, na verdade, são candidatos de perfil ou comunicação suave. Os candidatos ditos de esquerda ou direita são os mais estridentes ou raivosos na defesa de suas candidaturas.

8. Num quadro destes, tem ocorrido constantemente que quando o eleitor procura uma candidatura raivosa reproduzindo -na forma- o sentimento de rejeição do eleitor, a troca de votos pelo eleitor se dá entre estes, independente de que um seja de esquerda e outro de direita.

9. Olhando este quadro pré-campanha no Brasil, os candidatos de perfis suaves são percebidos pelo eleitor de forma semelhante. Os analistas e a imprensa às vezes se confundem e os chamam de Candidatos de Centro.

10. A complexa tarefa dos chamados marqueteiros é como diferenciá-los mantendo o perfil sem agressões.

11. Do outro lado, os estridentes ou raivosos de esquerda e direita tenderão a trocar voto ou eleitor entre si. No caso brasileiro, neste ano, estes candidatos serão Bolsonaro e Ciro Gomes. O eleitor os confundirá, independente do conteúdo de suas comunicações. Formam um mesmo bloco, dos estridentes. O eleitor raivoso ou não votará ou escolherá entre eles. E podem se entusiasmar e darem um abraço de afogado.

Dividido, o centro sofre ameaça real dos extremos: Editorial | Valor Econômico

Faltam seis meses para a eleição e o país não sabe ainda quem serão os candidatos ao Palácio do Planalto e muito menos o que cada um pensa fazer na hipótese de ser o vitorioso. Antes disso, o que até agora se ouve é uma cacofonia de ofensas pessoais que serve para encobrir a falta de programas. As pesquisas indicam que mais de dois terços da população ainda não têm candidato. E não é propriamente por desconhecimento dos demandantes, pois vários já estiveram em disputas passadas, inclusive três deles (Lula da Silva, Geraldo Alckmin e Marina da Silva) no segundo turno.

Pode ser que a partir de 7 de abril a disputa comece a ganhar contornos mais precisos. Essa é a data final para a filiação partidária de quem pensa em ser candidato, caso, por exemplo, do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, e para quem ocupa funções no governo deixar seus cargos, hipótese na qual se enquadra o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles e uma dezena de outros integrantes do gabinete de Michel Temer. Sabendo-se quem está habilitado a concorrer, os partidos podem enfim tratar das candidaturas e alianças para 2018.

Por enquanto, há muita espuma e pouca matéria sólida nos movimentos dos partidos. O Judiciário também não ajuda ao deixar em aberto uma disputa que diz respeito a todos os brasileiros. Se há alguma dúvida a respeito da prisão após o trânsito em julgado de condenação em segunda instância, cabe ao STF dirimi-la, pouco importa se o julgamento interessa a Lula. Pior será uma eleição realizada sob alta tensão.

Na radicalização que tomou conta da política brasileira, certamente há uma carrada de eleitores que preferem ver Lula preso. Mas há também outra parte que prefere vê-lo livre. A decisão a ser tomada pelo Supremo transcende a questão do encarceramento do velho líder populista.

O interesse pessoal, no geral, prevalece sobre o público. A manutenção da candidatura Lula é uma demonstração de como está atrasado o trabalho eleitoral do PT. Lula pode se livrar da prisão, mas é improvável que escape da lei da ficha limpa. Já é tempo de o PT e seu líder máximo tratarem de uma alternativa à sucessão. Menos mal que Lula condenou a ideia do boicote às eleições, pregada por setores do PT, e já indicou que, na sua ausência, o PT vai ter sim candidato a presidente.

Há notícias de que Geraldo Alckmin dispõe de grupos de trabalho discutindo sobre todas as áreas de governo. Mas se desconhece o que o governador de São Paulo pretende fazer, se chegar ao Palácio do Planalto. Alckmin parece ter evoluído suas ideias sobre o Estado-Empresário desde a eleição de 2006, que perdeu para Lula da Silva. À época foi constrangedora a tentativa de Alckmin de demonstrar que não tinha cabimento a ideia de que venderia a Petrobras e o Banco do Brasil. Agora, já declarou que é favorável à privatização da Petrobras. Em qual Geraldo Alckmin acreditar?

Investigar Temer: Editorial | Folha de S. Paulo

A despeito de limitações impostas pela Carta de 1988, é desejável que se avance na apuração

Como tantas outras coisas no Brasil, abre-se a distintas interpretações constitucionais a decisão sobre se é ou não possível submeter o presidente da República a uma investigação policial.

A questão dificilmente seria analisada em detalhe, por envolver hipótese relativamente remota, fossem outros os tempos e outros os ocupantes do poder.

Com um intervalo de poucos dias, entretanto, dois ministros do Supremo Tribunal Federal, por motivos distintos, autorizaram tais providências contra o presidente Michel Temer (MDB).

Edson Fachin tomou a medida levando em conta as suspeitas em torno de um jantar ocorrido em 2014, no Palácio do Jaburu, do qual participaram Temer, o empreiteiro Marcelo Odebrecht, seu auxiliar Claudio Melo Filho e o emedebista Eliseu Padilha, atual ministro da Casa Civil.

Segundo as delações de Odebrecht e Melo Filho, acertou-se naquela ocasião o repasse ilícito de R$ 10 milhões, a serem divididos entre Padilha e o então candidato do MDB ao governo paulista, Paulo Skaf (presidente da federação das indústrias do estado).

Outro pedido de investigação, deferido agora pelo ministro Luís Roberto Barroso, incide sobre possíveis entendimentos entre empresários e Temer a propósito de um decreto renovando contratos de concessão de portos.

Para esclarecer o fato, Barroso autorizou a quebra dos sigilos bancário e telefônico do atual presidente, no período entre 2013 e 2017.

Sem contestar frontalmente essas iniciativas, o presidente encaminhou à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pareceres e observações que põem em dúvida sua constitucionalidade.

Argumenta-se que, sendo vedada pela Carta de 1988 a responsabilização de um chefe de governo por atos estranhos a seu mandato, as investigações teriam de aguardar a saída de Temer do governo.

Importaria seguir, aqui, a lógica geral da Constituição, que ao prever o foro privilegiado e um ritual próprio para o impeachment (que comporta investigações só depois de aberto o processo) busca preservar o pleno exercício de um mandato eletivo.

Devolver o dinheiro ao dono: Editorial | O Estado de S. Paulo

Na quinta-feira passada, após encontro do juiz da 7.ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, Marcelo Bretas, com o interventor federal na segurança pública do Estado, general Walter Braga Netto, foi anunciado que o dinheiro recuperado pela Lava Jato no Rio de Janeiro será usado pela polícia para a compra de veículos e equipamentos. Até o momento, consta que a operação no Estado do Rio recuperou R$ 450 milhões. No ano passado, o juiz Marcelo Bretas liberou recursos provenientes de esquemas criminosos para o pagamento de salários atrasados de servidores inativos e para reformas de escolas.

A respeito do acerto entre o juiz e o interventor, o porta-voz do Gabinete de Intervenção, coronel Roberto Itamar, disse que toda a verba destinada às polícias é “bem-vinda” e se junta ao “esforço que está sendo realizado para melhoria das condições da segurança pública”. “Esses recursos normalmente são destinados a equipamentos de tecnologia de investigação para a Polícia Civil e também para manutenção e aquisição de veículos para o apoio às Polícias Civil e Militar”, afirmou o coronel.

Certamente, é necessário destinar recursos à segurança pública. E uma intervenção federal, para que possa cumprir suas tarefas, necessita de verbas extraordinárias. O problema é que a gestão dos recursos públicos não cabe ao Poder Judiciário. Não é ele que deve definir o uso específico das verbas recuperadas da corrupção. Seu papel é restituir os recursos a quem foi lesado.

Concorrência saudável: Editorial | O Globo

O projeto original inviabilizava os aplicativos, mas o bom senso prevaleceu no Congresso

A discussão sobre os aplicativos de transporte de passageiros, como o Uber, não acontece somente em cidades brasileiras, mas em metrópoles do mundo inteiro. Não surpreende. Toda vez que uma nova tecnologia é incorporada ao dia a dia dos cidadãos, ela rompe paradigmas, muda comportamentos, agita mercados e gera descontentamento em grupos e corporações que resistem a se adaptar aos novos tempos. Aconteceu na Revolução Industrial, e tem sido assim ao longo dos séculos. Mas, como mostra a História, algumas mudanças são inexoráveis.

É esse o caso dos aplicativos de transporte. Oferecendo comodidade — o serviço é pedido pelo telefone celular — e tarifas competitivas, eles conquistaram uma legião de passageiros, tanto no exterior quanto no Brasil. E, aqui como lá, despertaram a ira de taxistas, que até então se beneficiavam de uma retrógrada reserva de mercado.

No Rio, taxistas promoveram uma série de protestos e, em alguns deles, chegaram a parar a cidade, prejudicando a rotina de milhares de cidadãos, para pressionar as autoridades a não liberar os aplicativos de transporte. Mas convém lembrar que serviços como Uber, Cabify e 99 cresceram no vácuo dos maus serviços prestados por alguns taxistas. Corridas cobradas fora do taxímetro — especialmente quando se trata de turistas —, tarifas superdimensionadas e falta de cortesia com passageiros, para citar apenas alguns fatores, deram gás à concorrência.

Temer mira Maia com reforma ministerial

Negociação com partidos que querem cargos é estratégia para enfraquecer candidatura do deputado ao Planalto

Marina Dias | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer decidiu usar a reforma ministerialque fará no fim deste mês para tentar isolar a pré-candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ) ao Palácio do Planalto e, com isso, ganhar uma sobrevida até julho para seu desejo de concorrer à reeleição.

A estratégia de Temer é dar um ultimato a partidos de sua base aliada, como PP, PR e PTB, e negociar indicações aos ministérios apenas com siglas que se comprometerem com seu projeto eleitoral. O plano pode ser o de sua reeleição ou o de uma candidatura como a do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

As tratativas foram aceleradas nesta semana, após Temer sofrer três reveses na Justiça e Maia ter lançado seu nome ao Planalto com demonstração de apoio de pelo menos 12 partidos, vários deles aliados do governo.

Com o fôlego dado ao inquérito que apura irregularidades no setor de portos, a autorização para a quebra de seu sigilo bancário e a inclusão de seu nome em investigação sobre repasses da Odebrecht ao MDB, o presidente avaliou que precisa reforçar sua fragilizada base enquanto tenta manter influência no tabuleiro eleitoral.

Temer terá de trocar o controle de pelo menos 12 ministérios até 7 de abril –prazo para que os ministros que queiram concorrer às eleições deixem seus cargos.

Confederação defende lançar Afif para o Planalto

Ex-ministro disse que decidirá sobre candidatura quando cenário eleitoral estiver mais preciso

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A Confederação Nacional das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil propõe, em comunicado que circula nesta segunda (12), a candidatura do ex-ministro Guilherme Afif Domingos (PSD) à Presidência.

"Precisamos de um líder íntegro, coerente e preparado, que olhe para a frente, sem revanchismos, sem ressentimentos, que una novamente o país", afirma um trecho do anúncio, intitulado "Afif Presidente do Brasil".

Procurado pela reportagem, Afif disse que está conversando com a confederação e outras entidades, mas só tomará decisão sobre uma eventual candidatura quando o quadro eleitoral estiver com contornos mais precisos.

Afif é presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Começou a carreira política em 1980 como secretário do então governador, Paulo Maluf. Foi ministro da petista Dilma Rousseff (2013-2015), cargo que acumulou com o de vice-governador do tucano Geraldo Alckmin, em São Paulo.

Ele disputou a Presidência em 1989 pelo PL —obteve 3,2 milhões de votos e ficou em sexto lugar.

A confederação diz ter 2 milhões de associados.

Conselheiro de Ciro defende desvalorização do câmbio

Por Estevão Taiar | Valor Econômico

SÃO PAULO - O dólar entre R$ 3,80 e R$ 4 estaria no patamar necessário para a indústria nacional ter uma margem de lucro semelhante à do exterior e impulsionar o crescimento do país. É o que diz o economista Nelson Marconi, um dos principais formuladores do programa de governo de Ciro Gomes, pré-candidato do PDT à Presidência da República. Coordenador do Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), ele defende que o Brasil adote uma política desenvolvimentista, mas faz questão de diferenciá-la da que foi implantada pela ex-presidente Dilma Rousseff. Com um discurso próximo da centro-esquerda, diz que "é preciso respeitar a eficiência do mercado", mas destaca a necessidade de uma reforma tributária "que acelere a distribuição de renda".

"A política macroeconômica precisa ser mais azeitada", afirma. O ponto chave dessa equação, segundo ele, são as contas públicas. Um ajuste fiscal permitiria a queda dos juros e a tão almejada desvalorização do câmbio. No curto prazo, esse ajuste fiscal seria feito principalmente "passando um pente fino" nas despesas do governo e revendo medidas como a desoneração da folha de pagamento. "Mas ainda não estimamos a economia que pode ser feita", admite. Em um segundo momento, a própria queda dos juros também levaria a um recuo dos gastos do governo. Benefícios de determinados setores do serviço público também estão na mira. Tudo isso, segundo ele, colocaria o câmbio no nível almejado. "Uma vez que ele chegue a essa faixa, é preciso mantê-lo lá, dando certa previsibilidade ao exportador e ao importador", afirma. O dólar entre R$ 3,80 e R$ 4 resultaria em alta de aproximadamente 1 ponto percentual da inflação, nos cálculos dele. Mas essa alta poderia ser combatida com a própria política fiscal contracionista e maior desindexação da economia à inflação passada, de acordo com ele.

Falta de reação popular a favor de Lula surpreende, diz Esquivel

Por Cristiane Agostine | Valor Econômico

SÃO PAULO - A esquerda deve aprender "a somar e multiplicar", em vez de só "se dividir e diminuir", de acordo com o advogado argentino Adolfo Perez Esquivel, prêmio Nobel da Paz de 1980. Esse seria o único modo deter o que ele chama de "monocultura das mentes", uma onda conservadora que, em sua visão, estaria associando em toda a América Latina e de forma orquestrada a esquerda com a corrupção.

Referência internacional na defesa dos Direitos Humanos, Perez Esquivel reuniu-se com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no dia 3, no instituto do ex-presidente, três dias antes de o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negar o pedido de um habeas corpus preventivo para o petista. No encontro, pediu informações sobre os dois mandatos do petista para indicá-lo ao Prêmio Nobel da Paz, o que poderia ampliar a repercussão no exterior da condenação judicial sofrida por Lula em segunda instância, que, caso mantida, o inabilita a participar da eleição e o sujeita à prisão.

Esquivel diz ter ficado surpreso com a fraca reação popular contrária não só ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, mas também à condenação em segunda instância de Lula, em janeiro.

"Me assombrou muito o fato de ter havido uma certa reação, mas não a suficiente", diz, em referência ao impeachment e à condenação. "É preciso pensar em como [a esquerda pode] chegar a acordos e consensos, não os ideais, mas os possíveis. Se é que querem resgatar os espaços de liberdade e de participação social, cultural, política", diz, em entrevista ao Valor, em São Paulo.

O ativista acompanhou de perto a votação do impeachment de Dilma e, ao discursar no Senado, criticou o processo como golpe. Também tem se informado sobre os processos envolvendo Lula. Para Esquivel, o enfraquecimento da esquerda no Brasil, com os escândalos de corrupção e a condenação do principal líder político do grupo, tem reflexo e " forte influência" em toda a América Latina, que também enfrenta dificuldades para se contrapor a partidos e grupos políticos conservadores.

Interesses regionais esfriam negociação entre Barbosa e PSB

A pouco menos de um mês para o fim do prazo de filiação partidária, ex-presidente do STF e legenda vivem impasse sobre a candidatura

Pedro Venceslau e Eduardo Kattah | O Estado de S.Paulo

O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa ainda espera um sinal mais consistente do PSB sobre sua eventual candidatura ao Palácio do Planalto para decidir se ingressa na legenda. O partido, por outro lado, insiste que Barbosa precisa primeiro se filiar e, depois, viabilizar seu nome para a disputa presidencial. O impasse esfriou a negociação da sigla com o ex-ministro do STF.

Aliados que estiveram recentemente com Barbosa avaliam que ele aceita assinar a ficha de filiação dentro do prazo legal, dia 7 de abril, mesmo sem ter a garantia de candidatura. Mas não tomará a iniciativa sem uma “segurança mínima”.

Há mais de um mês, porém, a cúpula do PSB não o procura. O ex-ministro tem acompanhado pela imprensa os movimentos da legenda, que em sua convenção recuperou as diretrizes de centro-esquerda.

A executiva do PSB abandonou a ideia de subir no futuro palanque do governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, e ainda mantém a porta aberta para ter uma candidatura própria. Segundo o Estado apurou, no entanto, a posição majoritária da legenda hoje é ficar neutra na disputa pelo Planalto para facilitar a construção de alianças regionais, considerada a prioridade total.

A “opção Barbosa” esbarrou nos interesses do PSB em Pernambuco, no Distrito Federal e em outros Estados.

Parecer
Com residência fixada no Rio, Barbosa passa também temporadas em Brasília e em São Paulo por causa de seu trabalho como advogado parecerista, ofício que passou a exercer após se aposentar e deixar o Supremo.

Num estilo adequado à sua personalidade, o ex-ministro tem adotado uma postura bastante discreta nas conversas políticas. Segundo um interlocutor próximo, ele não quer “fazer barulho” sobre sua pretensão por ora. Também oscila entre o ceticismo em relação ao projeto presidencial com o PSB e a desconfiança sobre a capacidade do partido de se unir e ter uma estrutura competitiva para a eleição.

O deputado federal Júlio Delgado (MG), líder do PSB na Câmara, reconhece que a executiva pessebista esfriou o diálogo com o ex-ministro do STF. “Não desistimos do Barbosa, mas ele está se sentindo como aquele que foi convidado para jantar, mas não recebeu o endereço”, disse ao Estado. Segundo o parlamentar, a última conversa pessoalmente com Barbosa foi antes do carnaval. Depois disso, eles se comunicaram mais duas vezes por meio do WhatsApp.

Anastasia descarta concorrer em MG e ameaça planos de Alckmin

Ex-governador rejeita apelos para se candidatar e impulsionar palanque tucano

Maria Lima | O Globo

-BRASÍLIA- Abalado pelo escândalo da delação da JBS, o grupo político do senador Aécio Neves (PSDB-MG) revive o fantasma de 2014, quando o mineiro perdeu em seu estado a eleição para o Palácio do Planalto. Na reta final para a formação de alianças e da construção de palanques para sustentar os presidenciáveis, os tucanos perdem terreno e põem em risco uma rede de apoio competitiva para o pré-candidato Geraldo Alckmin no segundo maior colégio eleitoral do país.

A tábua de salvação para unir o PSDB, segundo os tucanos de Minas, seria o senador Antônio Anastasia aceitar concorrer novamente ao executivo no estado. Mas o ex-governador resiste aos apelos de Alckmin, Aécio e outros emissários tucanos mais próximos. Na lista de argumentos, o senador é lembrado que pode ser responsabilizado mais tarde por uma eventual derrota dos tucanos. Também pesa o fato de Anastasia ter se projetado politicamente a partir do apoio de Aécio.

Irredutível, Anastasia diz que, desde o ano passado, o partido sabe da sua posição “definitiva” de não concorrer ao governo de Minas novamente. Ele diz que já fez sua parte.

— Ser governador foi uma grande honra. Acredito que já colaborei com meu estado e meu partido naquele momento, fazendo um governo sério, com planejamento, que apresentou resultados concretos que melhoraram a vida dos mineiros — disse Anastasia, ao GLOBO, após encontros com Alckmin, Aécio e dirigentes tucanos em Minas. — Tenho um compromisso com o governador Geraldo Alckmin de, na medida de minhas possibilidades, colaborar para a sua vitória e para a vitória do nosso candidato em Minas Gerais. Vou trabalhar muito para isso, porque acredito na capacidade do governador de São Paulo.

ALIADO CLAMA POR “SACRIFÍCIO"
Apontado como um dos nomes para substituir o senador na chapa majoritária, o secretário geral do PSDB, deputado Marcus Pestana (MG), diz que a candidatura do senador mineiro é uma questão “de vida ou morte” para o partido.

— Está em jogo o futuro de Minas e do país. Temos que respeitar suas razões pessoais, mas o momento é extremamente delicado, e o senador Anastasia tem que fazer sacrifícios. Quem entra na vida pública entrega um quinhão da sua vida para a sociedade. O governador Fernando Pimentel está extremamente fragilizado, mas precisamos de uma oposição unida, e o único nome que une é o de Anastasia. Qualquer outro nome não teria o poder de agregação que ele teria — apela Pestana, que ainda acredita em uma reviravolta.

Enquanto permanece o impasse sobre o candidato a governador, para reduzir o impacto negativo da Lava-Jato, Aécio percorre o estado em reuniões com prefeitos e lideranças locais. Ele já decidiu que disputará a reeleição ao Senado e diz que as pesquisas o colocam em primeiro e segundo lugares em todas as consultas.

Em 2014, o PSDB disputou o governo com o ex-ministro Pimenta da Veiga, que, afastado da política mineira, foi derrotado por Pimentel, do PT, e deu à ex-presidente cassada Dilma Rousseff a vitória em Minas. Aécio diz que a candidatura de Anastasia ainda não está 100% descartada. Outro argumento usado é que o PSDB tem um desempenho péssimo no Nordeste e, no Sul, o eleitorado tucano tem migrado para a candidatura do ex-tucano Álvaro Dias (Podemos). Então, o paulista tem que tirar essa diferença no Centro-Oeste e Sudeste, que abrigam os três mais importantes colégios eleitorais.

O grupo político de Aécio faz a seguinte avaliação do quadro eleitoral: se Anastasia for candidato, pode vencer no primeiro turno. No segundo turno, Alckmin teria chances de uma vitória “avassaladora” em Minas, já que os prefeitos vão querer se aliar ao governador eleito.

— Todos respeitamos a posição do senador Anastasia, mas sabemos que ele tem consciência de sua responsabilidade nesse momento delicado em relação à eleição de Minas e à candidatura presidencial. Vamos dar tempo ao tempo — diz Aécio, afirmando que tem feito um “esforço hercúleo” para manter unido o grupo com os aliados tradicionais.

Desgastado, MDB fluminense perde deputados para o DEM

Bancada emedebista na Câmara deve encolher para menos da metade; maioria deve ir para o partido de Rodrigo Maia

Igor Gadelha | O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Com a imagem desgastada pelos desdobramentos da Operação Lava Jato no Estado, o MDB do Rio verá sua bancada na Câmara dos Deputados, que já foi a maior do partido, encolher para menos da metade durante a chamada janela partidária, período que permite parlamentares mudarem de legenda sem risco de perda de mandato.

Metade desses dissidentes emedebistas deve migrar para o DEM, partido do presidente da Casa, Rodrigo Maia (RJ). Maia tenta herdar o espólio político deixado pelo MDB no Estado para fortalecer sua pré-candidatura à Presidência da República, lançada oficialmente na semana passada, e ainda alavancar o pai, o ex-prefeito Cesar Maia, na disputa ao governo do Rio.

Desde que o MDB fluminense viu seus principais líderes serem presos – o ex-governador Sérgio Cabral, o deputado federal cassado Eduardo Cunha e o presidente afastado da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani –, o partido tem perdido espaço político no Estado.

Apenas nos primeiros dias da janela partidária, que começou na semana passada e vai até o dia 7 de abril, quatro dos oito deputados do MDB do Rio que estavam no exercício do mandato já se desfiliaram ou comunicaram que vão deixar a legenda. Dois deles anunciaram filiação ao DEM: Laura Carneiro e Zé Augusto Nalin. Já o deputado Altineu Côrtes informou que retornará para o PR, enquanto Celso Pansera se filiou ao PT.

Outros dois deputados do MDB fluminense também negociam filiação ao DEM: Alexandre Serfiotis e Soraya Santos. “Hoje, quem é o do MDB quer sair. E a tendência é ir para um partido que também tem força no governo federal. E o DEM é o melhor caminho”, afirmou o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ).

Cavalcante foi escalado por Maia para negociar a filiação de novos parlamentares no Rio. Segundo o parlamentar, o fato de o presidente da Câmara ser do DEM tem servido como um “atrativo” para filiar os dissidentes emedebistas.

A ofensiva, no entanto, é criticada por dirigentes do MDB. Em reservado, eles acusam Maia de usar o cargo para tentar atrair os dissidentes. De acordo com emedebistas, o presidente da Câmara prometeu acelerar a substituição do deputado Celso Jacob (MDB-RJ), que está preso desde junho, para favorecer Nalin. O parlamentar já está no exercício do mandato, mas poderá voltar para a suplência quando o ministro do Esporte, Leonardo Picciani (MDB-RJ), retornar para a Câmara, no início de abril.

“Não teve esta promessa. O caso do Celso Jacob precisa esperar decisão de recurso no STJ (Superior Tribunal de Justiça), acho eu. Este tempo eu não comando”, afirmou Maia. Ele também negou que o DEM esteja atuando para esvaziar a bancada do MDB do Rio. “Os deputados estão saindo do MDB por decisão própria”, disse.

Godard comandou 1968, o ano da virada no cinema brasileiro e mundial

Cineasta francês teve cinco de seus filmes lançados no Brasil no ano em que Nelson Pereira dos Santos e Rogério Sganzerla fizeram suas obras-primas

Sérgio Augusto | O Estado de S.Paulo / Aliás

1968 não teve início no primeiro dia de janeiro, mas em 28 de março. Às 18h30 daquela quinta-feira, o estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto, 18 anos, foi morto por policiais militares, durante uma invasão do restaurante de estudantes do Calabouço, no Rio. Dali em diante, a reação ao regime militar ganhou as ruas, a repressão recrudesceu, culminando, cinco meses depois, com a primeira manifestação de massa contra a ditadura, e a decretação do AI-5, em 13 de dezembro, quando 1968, efetivamente, chegou ao fim.

Em todas as esferas, instâncias e circunstâncias, aqui e na maior parte do Ocidente, 1968 foi um ano inesquecível, um turning point político, estético e comportamental, que teve o cinema como seu mais saliente protagonista. Ao mítico mês de maio de 68, auge da agitação estudantil nas ruas de Paris, precedeu um chienlit cinematográfico, envolvendo o então ministro da Cultura, o escritor André Malraux, e o intocável diretor da Cinemateca Francesa, Henri Langlois.

Por motivos políticos, Malraux afastou Langlois da Cinemateca em fevereiro, mas teve de engolir seu triunfal retorno no início de maio, sob pressão de cineastas, críticos, atores e diretores, que, motivados por reivindicações mais amplas e radicais, acabariam montando uma frente de ação revolucionária, ao estilo 1789, e fechando o Festival de Cannes, após sua sessão de abertura. À frente da luta e do motim festivalesco, os cineastas Jean-Luc Godard e François Truffaut.

Godard sempre foi e continuaria sendo mais politizado do que Truffaut e também o mais original, audacioso e polêmico cineasta francês. Revolucionara a maneira de se fazer filme e refletir sobre o mundo com uma câmara, e vivia o apogeu de sua petulância quando se tornou o mais extremado “soixante-huitard” da Nouvelle Vague. Mas sua utopia de um cinema marxista, de parceria autoral com a classe trabalhadora, resultou tão frustrada quanto a aliança dos estudantes com os proletários da Renault.

Idolatrado e execrado por boa parte da crítica, Godard teve cinco filmes inéditos lançados no Rio em 1968: A Chinesa (La Chinoise), Tempo de Guerra (Les Carabiniers), Duas ou Três Coisas que Eu Sei Dela, Masculino-Feminino e Made in U.S.A. Parecia até combinado.

Na semana em que que Edson Luís foi morto pela polícia, um deles, Tempo de Guerra (Les Carabiniers), estava em cartaz no cinema Paissandu, o mais frequentado templo da cinefilia carioca nos anos 1960, em cujo altar-mor nenhuma outra deidade fazia sombra a Godard. Era uma sala de 742 lugares, entregue ao desvelo de um bonachão gerente de nome bressoniano, Baltazar, e foi um dos pontos de encontro da turba que em 26 de junho partiu rumo ao centro da cidade para engrossar a Passeata dos 100 mil contra a ditadura.

1968, o ano dos loucos desejos que nunca encontrou fim

Período ecoa nos dias de hoje e parece resistir a qualquer tentativa de classificação

Gilles Lapouge | O Estado de S.Paulo / Aliás

Em janeiro de 1968, um ministro do General de Gaulle visitou a Faculdade de Nanterre. Ele fala. Um estudante o interrompe. “Você diz bobagens. Você não fala sobre os problemas sexuais dos jovens.” O ministro responde: “Se você está muito quente, vá se refrescar na piscina”. O aluno ri: “Se eu quiser receber uma estudante, antes preciso tirar a cama do meu quarto. É grotesco.” O aluno é um desconhecido. Não o será por muito tempo.

Quatro meses depois, Paris é uma cidade louca. Uma cidade desconhecida tomou seu lugar. Barricadas, música, lutas, desfiles e a alegria dos corpos de moças e rapazes. As noites são belas como os dias. Paris é uma festa. Em todos os lugares, como um elfo, está o insolente estudante de Nanterre, Daniel Cohn-Bendit. A polícia se descabela. Como ele é meio francês, meio alemão, é expulso para a Alemanha. Mas é um demônio, não se preocupa com fronteiras. E olá, está ele de volta a Paris! Como um tiro pela culatra, um retorno de alegria.

No dia 3 de maio, estudantes tomam a venerável Sorbonne, no coração de Paris. Primeiras barricadas. Pessoas feridas. As noites são calorosas. A desordem vai às mil maravilhas. No dia 13 de maio, um milhão de manifestantes. Eles desafiam o intimidante general Charles de Gaulle: “Charlot, basta!” A Sorbonne se proclama “comuna livre”. As figuras do passado são mescladas com o caso. Em meio à fumaça do gás lacrimogêneo, Marx, Bakunin, Lenin, Mao Tsé-tung, Ho Chi Minh, Castro, Guevara e até mesmo o General de Gaulle, o de 1939, aquele mesmo que tolamente continuou na guerra após a derrota do exército francês. Qual a alquimia que fez uma pequena faísca (as garotas nos quartos dos rapazes) produzir esse fogo gigantesco? Nem Maquiavel a teria previsto.

Cinquenta anos depois, os historiadores, como Maquiavel, também “não fazem a menor ideia”. O belo mês de maio escorrega pelas suas mãos. Eles não sabem o que fazer. Como rotular? “É um mistério”, dizem eles. O melhor pensador da direita, Raymond Aron, escreveu: La Révolution Introuvable (A Revolução Esquiva). Não pretendo levantar esse mistério. Em vez disso, coloque esse mistério em uma perspectiva dupla, geográfica e histórica. No espaço e no tempo.

Maio de 68 é considerado francês. Ele havia sido precedido por sinais vindos de outros lugares. Em 1962, a pílula na França foi legalizada. As garotas conquistam uma liberdade. O baby boom do pós-guerra chega ao fim. A libertação das colônias também. Descobrimos, na Indochina, na Argélia, o lado tenebroso das aventuras coloniais e a existência das minorias. A Guerra do Vietnã humilhou os EUA, criou soldados loucos, abalou valores como família, trabalho, consumo.

A contracultura era como fogo selvagem. Em São Francisco, Los Angeles, ela assola. Defendemos um retorno à natureza. A autenticidade. O amor estava nos lábios de todos. A América se tornava um vasto laboratório de LSD, de paraísos artificiais. A pirâmide da sociedade e seus líderes torpes e tirânicos foram abalados. Escrevemos poemas por todos os cantos. Tivemos nostalgia pelos ameríndios e pela sabedoria do Oriente. Em várias partes do globo, pode-se ver implicitamente e não só na França, desde 1965, as efígies trêmulas do que virá a se tornar Paris e a França em maio de 1968. Mas os EUA não são os únicos a tê-lo precedido ou seguido. Itália, Alemanha, Checoslováquia, México. Cada um deles teve seu maio de 68.

Lenin, Martov, a Revolução Russa e o Brasil

por Cláudio Oliveira 

A obra resgata Julius Martov, o rival no Partido Operário Social Democrata de Vladimir Lenin, líder da Revolução Russa de 1917. Martov propôs um governo de união dos socialistas para evitar a guerra civil, recusado por Lenin. Em 1919, apresentou medidas para tirar a Rússia da crise. Tal plano serviu para Lenin formular, em 1921, a Nova Política Econômica, melhorando a situação do país. A NEP inspirou Deng Xiaoping a reformar a China, a partir de 1978. As ideias de Martov influenciaram o Estado do Bem-Estar Social na Suécia. A revolução de 1917 na Rússia e a de 1918 na Alemanha aprofundaram a divisão entre comunistas e socialdemocratas. Para Palmiro Togliatti, líder do PC italiano, tal divisão facilitou a vitória do fascismo. No Brasil, o líder do PCB, Astrojildo Pereira, foi expulso do partido, acusado de “menchevismo martovista” por se aliar a socialistas e liberais contra a Velha República.

- Sumário

1 Apresentação 
A obra é um resgate de Julius Martov, o rival de Vladimir Lenin, líder da Revolução Russa de 1917, no Partido Operário Social Democrata Russo.

2 - O fechamento da Constituinte na Rússia de 1918 
O fechamento da Constituinte, em 1918, foi o pecado original de Lenin. Tal fato marcou o DNA do regime soviético com o gene do autoritarismo. 3 - Julius Martov e a Revolução Russa Julius Martov propôs um governo de união dos socialistas para evitar a guerra civil, recusado por Lenin. As ideias de Martov influenciaram o Estado do Bem-Estar Social na Suécia.

4 - O plano menchevique e a NEP de Lenin 
Em 1919, Julius Martov apresentou medidas para tirar a Rússia da crise. Tal plano serviu para Lenin formular, em 1921, a Nova Política Econômica, melhorando a situação do país. A NEP inspirou Deng Xiaoping a reformar a China, a partir de 1978.

5 - A Revolução Russa e o fascismo 
A revolução de 1917 na Rússia e a de 1918 na Alemanha aprofundaram a divisão entre comunistas e socialdemocratas. Para Palmiro Togliatti, líder do PC italiano, tal divisão facilitou a vitória do nazismo.

6 - Quatro mulheres na Revolução Russa
As biografias de Alexandra Kollontai, Nadezhda Krupskaia, Lydia Dan e Eva Broido mostram a participação das mulheres na revolução, vítimas também da falta de democracia do socialismo soviético.

7 - A Revolução Russa e o Brasil 
Em 1930, o PCB sofreu intervenção da Internacional Comunista. Seu líder, Astrojildo Pereira, foi expulso do partido, acusado de “menchevismo martovista” por se aliar a socialistas e liberais contra a Velha República.

8 – Posfácio 
Em 1989, em Praga, acompanhei as manifestações que levaram ao fim do comunismo. Com base no que vivi, decidi escrever os textos reunidos no ebook.

9 - Bibliografia consultada

10 - Sobre o autor 
Cláudio de Oliveira é jornalista pela UFRN, com especialização em artes gráficas na Escola Superior de Artes Industriais de Praga, República Tcheca.

eBook Kindle
R$ 16,27

Tom Jobim: Insensatez

Ferreira Gullar: Neste leito de ausência

Neste leito de ausência em que me esqueço
desperta o longo rio solitário:
se ele cresce de mim, se dele cresço,
mal sabe o coração desnecessário.

O rio corre e vai sem ter começo
nem foz, e o curso, que é constante, é vário.
Vai nas águas levando, involuntário,
luas onde me acordo e me adormeço.

Sobre o leito de sal, sou luz e gesso:
duplo espelho — o precário no precário.
Flore um lado de mim? No outro, ao contrário,
de silêncio em silêncio me apodreço.

Entre o que é rosa e lodo necessário,
passa um rio sem foz e sem começo.