quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Elio Gaspari: O rancor petista virou veneno

- O Globo

Para quem joga numa eleição radicalizada, Fernando Haddad foi um colaborador impecável ao deixar a carceragem de Curitiba depois de visitar Lula. Ele definiu o papel do ex-presidente no governo que pretende fazer:

“Temos total comunhão de propósitos em relação a ele e o diagnóstico de que o Brasil precisa do nosso governo e precisa do Lula orientando como um grande conselheiro. Ele é um interlocutor permanente de todos os dirigentes do partido e nunca deixará de ser. Não temos nenhum problema com isso. Enquanto os outros partidos escondem os seus dirigentes, nós temos muito orgulho de ter o Lula como dirigente.”

Essa declaração poderia ter sido planejada pelo estado-maior de Jair Bolsonaro ou pelos urubus golpistas que pretendem deslegitimar uma eventual vitória da chapa petista.
Horas antes, em São Paulo, durante a sabatina da Folha/SBT/UOL, Haddad dissera algo racional, sem a soberba do comissariado:

“O presidente Lula, sem sombra de dúvida, na opinião da maioria dos brasileiros, foi o maior presidente da história deste país. Ele é um grande conselheiro e terá um papel destacado em aconselhamento, em falar de sua experiência. Jamais dispensaria a experiência do presidente Lula.”

Uma coisa é elogiar Lula e seus oito anos de governo. Bem outra é dizer que “não temos problema com isso”. Deviam ter, pois Lula está na cadeia, condenado por corrupção.

Milhões de eleitores estão dispostos a votar em Haddad porque ele é o candidato de Lula, mas quando se dá a um detento a condição de pai da pátria, estimula-se a dúvida em quem espera de uma vitória de Haddad a volta dos “bons tempos”, mas também teme que ela traga de volta o que há de pior no comissariado.

Merval Pereira: Duelo previsível

- O Globo

Apoio de Ciro ao PT para o segundo turno revela sentimento de impotência diante do crescimento de Haddad

A eleição deste ano vai ser definida entre os dois candidatos que têm a maior rejeição entre todos. O crescimento expressivo do candidato do PT, Fernando Haddad, que mais que dobrou sua votação entre as duas recentes pesquisas do Ibope, e a manutenção da tendência de alta de Jair Bolsonaro, mesmo que dentro da margem de erro, levam a crer que os dois disputarão o segundo turno, que, aliás, será acirradíssimo, com Bolsonaro e Haddad empatados.

Ciro Gomes descolou-se do grupo que ainda sonhava estar no segundo turno, mas também viu aumentar sua distância para Haddad. Ele ficou estagnado, Alckmin e Marina continuam em queda. Essa tendência, revelada tanto pelo Datafolha quanto pelo Ibope, faz com que o voto útil tenha direção certa, seja para Haddad ou para Bolsonaro.

A rejeição a ele continua acima de 40%, embora em pequena queda. Já Haddad soma a sua rejeição à de Lula, que é um grande cabo eleitoral, mas também um peso. A disputa entre os dois pode ser antecipada para 7 de outubro.

Bolsonaro, com seu antipetismo exacerbado, quer ganhar no primeiro turno para encurtar o tempo de campanha, da qual ele participa à meia bomba. Sem poder ir aos debates, pelo menos no primeiro turno, Bolsonaro virou alvo de críticas generalizadas, e seu vice, general Mourão, é a bola da vez. Cada declaração polêmica que dá volta feito um bumerangue contra sua chapa.

Paulo Celso Pereira: Primeiro turno se converte em plebiscito

- O Globo

Se havia alguma dúvida, não há mais. A eleição presidencial deste ano se transformou na metonímia da divisão social que se espalhou pelo país desde o pleito de 2014. O antipetismo mergulhou de cabeça na candidatura de Jair Bolsonaro, enquanto os herdeiros do lulismo aderem com velocidade impressionante à orientação do líder maior do PT. Só na última semana, Haddad cresceu 11 pontos percentuais de acordo com o Ibope, uma média de 1,5 ponto ao dia.

A polarização é gritante e crescente. Há um mês, antes de o PT lançar oficialmente Haddad, 24% dos eleitores se dividiam entre o petista e Bolsonaro (20% para o ex-capitão, 4% para o ex-prefeito de São Paulo). Hoje, 47% do eleitorado está entre eles. E não há sinais de que o ritmo de crescimento de ambos esteja no fim.

A eleição de 2018 tem tudo para ser dizimadora das premissas que pautavam as análises eleitorais há décadas. Nos últimos 30 anos, havia um consenso de que, para ganhar as eleições presidenciais, era necessário que os candidatos caminhassem em direção ao “centro”. Bolsonaro incentivou o quanto pôde o radicalismo —e acabou sendo vítima dele. O PT fez o mesmo em seu campo, desafiando ininterruptamente as instituições. Em vez de terem sido reduzidos a um gueto, ambos expandiram a polarização pela sociedade.

Bernardo Mello Franco: A eleição que virou um duelo

- O Globo

Há uma semana, cinco candidatos ainda pareciam ter chance de vitória. Agora a disputa se afunila para um plebiscito entre o bolsonarismo e o lulismo

Anova pesquisa do Ibope mostra que a corrida presidencial mudou de cara. Há uma semana, cinco candidatos ainda pareciam ter chance de vitória. Agora a disputa se afunila para um plebiscito entre o bolsonarismo e o lulismo.

Jair Bolsonaro se consolidou na liderança. Ele oscilou positivamente e chegou a 28% das intenções de voto. Fernando Haddad deu um salto expressivo e aparece com 19%. O petista abriu oito pontos de vantagem para Ciro Gomes, que estacionou em 11%.

Os números apontam para um duelo final entre Bolsonaro e Haddad. No entanto, as campanhas passaram a trabalhar com outra hipótese. Com a polarização, o eleitor pode antecipar a decisão para o primeiro turno.

“Acho dificílimo, improvável, mas não impossível”, diz o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro. “Vai depender do voto útil. Do jeito que a população está chateada, pode haver um movimento para decidir logo”.

Vera Magalhães: À espera do ‘fato novo’

- O Estado de S.Paulo

O clima no PSDB é de desalento. Esgotados todos os prazos fixados por Geraldo Alckmin para “realizar” seu potencial de crescimento eleitoral e a 18 dias das eleições, a esperança passou a ser o surgimento de algum “fato novo”, portanto exógeno à própria campanha, ou de um sentimento de última hora que una o eleitor moderado em torno do tucano.

Na busca pelo tal fato novo, pessoas próximas a Fernando Henrique Cardoso tentaram convencê-lo a procurar Alvaro Dias e Henrique Meirelles e fazer um apelo pela união tardia do centro em torno de Alckmin. O ex-presidente não se animou a dar esse passo de novo. De acordo com um de seus mais diretos interlocutores, FHC avalia que o quadro está caminhando para se definir na polarização entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad.

A reunião do comando da campanha de Alckmin nesta terça em São Paulo foi uma última tentativa de apertar os parafusos disponíveis, mas a constatação dos participantes é de que a caixa de ferramentas está meio vazia. O marketing foi poupado publicamente, mas nos bastidores a avaliação é de que não teria sabido aproveitar o tempo de TV dado pelos partidos a Alckmin e transformado em “latifúndio improdutivo”, nas palavras de um político.

Nesse inventário privado de erros, sobra também para Tasso Jereissati, eleito bode expiatório por ter fornecido, com a entrevista ao Estado na reta final da disputa, munição aos adversários para fustigar o PSDB – sendo o partido a maior âncora de Alckmin, no entender de siglas aliadas.

No barata voa da reta final, diante da consolidação da polarização eleitoral entre Bolsonaro e Haddad, sobram engenheiros de obra pronta. O que mais se diz é que a campanha tucana demorou a bater no PT, deixando o antipetismo como bandeira exclusiva do capitão.

Acontece que, semanas atrás, antes mesmo da facada, o discurso era outro, entre os próprios políticos do Centrão, que diziam que o “inimigo” a ser batido primeiro era Bolsonaro, e o PT seria o alvo no segundo turno, uma vez que se acreditava na repetição quase por osmose da eterna disputa entre petistas e tucanos pela hegemonia política brasileira.

Agora, diante da chance real de o PSDB ser substituído pela direita genuína, depois de servir de cavalo de Troia para ela desde 1994, com a aliança com o PFL de Bornhausen e ACM, os tucanos, perplexos, se dividem sobre o que fazer no segundo turno caso estejam mesmo assistindo da janela. O mais provável é que o partido se exima de apoiar alguém, mas não serão poucos os tucanos a pousar num e noutro poleiro. O mesmo vale para o Centrão, que, antes mesmo da reunião da Rua Alasca (a ironia do endereço), já se divide numa diáspora nem tão silenciosa.

Eliane Cantanhêde: Guerra entre petismo e antipetismo

- O Estado de S.Paulo

O segundo turno está sendo antecipado e por uma disputa voto a voto entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad

Apesar dos xingamentos pelas últimas colunas, elas estavam corretas: o segundo turno está sendo antecipado e por uma disputa voto a voto entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, o que caracteriza ou a chegada da extrema direita ou a volta do PT ao poder. O eleitorado de Bolsonaro e de Haddad é bastante diferente. Enquanto o capitão atinge 41% com renda familiar mensal acima de cinco salários mínimos, o petista dispara de 10% para 27% entre os que têm renda de até um mínimo. A curva dos dois também se cruza quando se fala em escolaridade. Enquanto Bolsonaro sobe de 29% para 36% entre os mais escolarizados, Haddad pula de 6% para 24% entre os menos escolarizados. Grosso modo, um é preferencialmente candidato dos “ricos com diploma” e o outro, dos “pobres e mais ignorantes”.

A pergunta é se Bolsonaro e Haddad bateram ou não no teto. Se é para apostar, a resposta é não, pois o candidato do PSL sobe de pesquisa em pesquisa e, com 28%, logo bate 30%. E Haddad, que deu salto de 11 pontos, ainda está com 19%, bem longe do porcentual de Lula com sua candidatura fake. O resultado prático do Ibope é que o PT já despacha emissários para os partidos adversários, especialmente PDT de Ciro, PSDB de Alckmin e MDB de Meirelles, em busca de compromissos e apoios no segundo turno. E, obviamente, no governo.

O segundo turno é uma segunda eleição, com tempo de TV igual, busca de alianças e embate cara a cara entre os candidatos. Isso tudo fará diferença, até porque, pelo Ibope, o segundo turno está ainda mais indefinido do que o primeiro foi durante todos esses meses, com empate entre Bolsonaro e Haddad. Mas uma coisa é certa: vai ser uma guerra entre petismo e antipetismo.

Rosângela Bittar: Teoria para valentões

- Valor Econômico

Bolsonaro é o PT de farda, se oferece como um guarda

Nunca houve uma escolha como essa, tão diferente, tão parecida. Um preso e condenado quer voltar ao poder para continuar o "bullying" que faz sobre o Brasil; outro, gravemente ferido, hospitalizado, tendo a certeza apenas de que está na cédula e já desconfia do próprio sucesso. Ambos estabeleceram com o Brasil uma relação individual de poder. Jair Bolsonaro e Lula são valentões, simplórios vitoriosos, em campanha eleitoral permanente, manipulam o mesmo medo e a mesma esperança.

Há décadas, também no Brasil, diante de um impasse pela radicalização entre dois polos, Alceu Amoroso Lima anunciou seu "adeus à disponibilidade", ignorando a disputa e tomando um terceiro caminho.

Já não será tarde desta vez?

A campanha vai chegando à reta final mergulhada em varejo eleitoral de baixa qualidade, com a ameaça ao eleitor de ter que escolher entre o hospital e a cadeia.

Que eleição é essa?

Há tentativas de teorizá-la, apesar da tensão com o que representa de ameaça à sobrevivência das instituições democráticas e às liberdades individuais. A mais recente delas partiu do sociólogo, deputado federal por 6 mandatos pelo PT, Paulo Delgado. Ele não inventou uma saída, mas seu diagnóstico é preciso e amplo, e distribui responsabilidades a todos, sem exceção, mas sobretudo aos privilegiados de todas as colorações ideológicas.

"O Brasil foi abandonado pela sua elite. Não está preparado para um moderado. A elite inventou uma raiva, um sentimento pequeno, menor do que a indignação. Uma elite que impôs esta lógica binária direita-esquerda para bloquear o centro e usar os extremos como prostituta, palácio de favores. O que está menos em discussão é a liberdade. Não tem porque a elite estar fazendo isso com o Brasil a menos que aposte no evento trágico e acabe com a eleição dia 7, no primeiro turno, para depois se acertar com o vencedor", afirma, cortante.

Bruno Boghossian: Caça-fantasma

- Folha de S. Paulo

Haddad antecipa caça aos fantasmas do PT para segurar rejeição

Foram necessárias sete perguntas em quatro minutos até que Fernando Haddad desse sua declaração mais enfática até agora sobre a possibilidade de um indulto que poderia tirar Lula da prisão. “Não. A resposta é não”, afirmou.

Uma semana após assumir a candidatura do PT, Haddad tenta afastar um dos principais fantasmas que pairam sobre sua campanha. Em entrevista à CBN, disse que Lula não quer ser solto por medida excepcional, desautorizou petistas que defendem esse perdão ao ex-presidente, reclamou do debate sobre o assunto e sentenciou: “Não ao indulto”.

Haddad caminhava sobre uma corda bamba. Lula assombra parte dos eleitores, mas é tratado como espírito divino por outros. Ao refutar uma manobra aberta para libertar o padrinho, o candidato indica que a preocupação com o crescimento do antipetismo começa a falar mais alto.

O crescimento de Jair Bolsonaro e a tentativa do candidato do PSL de turbinar o sentimento de medo da volta do PT obrigaram Haddad a emitir sinais antecipados de moderação. Além da declaração contra o indulto, o petista ensaia correções na cartilha econômica defendida pelo partido nos últimos meses.

Vinicius Torres Freire: Eleição na miséria, ideias doidas

- Folha de S. Paulo

Como em 1989, país vai à urna em desgraça econômica, tema que mal aparece

Nesta eleição que tende a se transformar em plebiscito de ânimos extremados, economia não é lá um assunto no debate "pop". A conversa nacional poderia ficar menos envenenada caso se discutissem a vida do povo comum e interesses em disputa na eleição, alguns dos sentidos da palavra "economia", neste caso.

A atividade econômica ou o mal-estar das pessoas não parecem explícitos nos debates mais frequentes e polares, um tanto como em 1989, uma eleição irmã na desgraça desta de 2018.

Como em 1989, o governo de turno (Sarney) era irrelevante e pestilento. Temer foi sarneyzado. O problema econômico então aparecia na conversa da eleição travestido de "marajás" (privilégio da casta estatal) e "corrupção", no caso da demagogia de maior sucesso. Lembra algo?

Mas há contrastes interessantes. Primeiro, quanto aos programas em provável disputa. Em 1989, Fernando Collor (PRN) oferecia uma salada liberaloide; Lula da Silva (PT), uma feijoada esquerdista gordurosa. E agora?

Jair Bolsonaro (PSL) até ontem era um estatista nacionalista autoritário. Faz poucos meses, terceirizou seu programa econômico para um ultraliberal que nem sequer compreende.

No caso da provável disputa polar, enfrentaria Fernando Haddad, dito "petista tucano", que herdou um programa PT "vintage", modelo 2001 cheio de mofo. Mas Haddad tende a procurar alianças até no centro liberal, tentando fazer acordos análogos ao de Lula 2002 (ou além disso).

Nos dois casos, trata-se de conversões recentes ou de convergências extravagantes, que levantam sobrancelhas de quem se ocupa de assuntos econômicos. Não há clareza sobre diretrizes ou sobre os meios políticos para implementá-las.

Luiz Carlos Azedo: A fraude e o golpe

- Correio Braziliense

“Com as urnas eletrônicas, ninguém até hoje comprovou fraudes em resultados eleitorais cujos votos são apurados no mesmo dia da votação, em todo o território nacional”

Se tem uma coisa pela qual o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, deveria agradecer é a existência de urnas eletrônicas. Essa é a maior garantia de que poderá vir a assumir a Presidência da República se essa for a vontade da maioria dos eleitores. Graças a elas, a eleição nos mapas de apuração das seções eleitorais controladas por oligarquias políticas, que era mais comum do que se imagina, inclusive durante o regime militar, acabou definitivamente. E o Brasil se tornou a democracia de massas com o sistema eleitoral mais eficiente que se conhece no mundo. Critica-se o Congresso, os partidos, o voto proporcional, o abuso do poder econômico, a manipulação midiática, os cambaus. Mas ninguém até hoje comprovou fraudes em resultados eleitorais cujos votos são apurados no mesmo dia da votação, em todo o território nacional, principalmente para o Executivo.

No domingo, o candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, em transmissão ao vivo pelo Facebook, disse que as eleições 2018 podem resultar em uma “fraude” por causa da ausência do voto impresso. Questionou o Supremo Tribunal Federal (STF), que em junho deste ano, por oito a dois, derrubou a adoção do voto impresso nas próximas eleições, que havia sido aprovado na minirreforma eleitoral de 2015, pelo Congresso Nacional. Ontem, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Rosa Weber, defendeu a confiabilidade das urnas eletrônicas: “Temos 22 anos de utilização de urnas eletrônicas. Não há nenhum caso de fraude comprovado. As pessoas são livres para expressar a própria opinião, mas quando essa opinião é desconectada da realidade, nós temos que buscar os dados da realidade. Para mim, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, as urnas são absolutamente confiáveis.”

Rosa Weber lembrou que, em 2014, foi feita uma auditoria requerida pelo PSDB, que não identificou nenhuma irregularidade. “Nós abrimos para possibilidade de auditagem de maneira geral (…) Nas últimas eleições presidenciais houve uma desconfiança, o partido que no caso não saiu vencedor, expressou, requereu e o TSE abriu todos os dados e depois de um ano se constatou que de fato não havia nada”, garante. O questionamento feito pelos tucanos serviu para demonstrar duas coisas: primeiro, que não houve fraude na reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff; segundo, que as urnas eletrônicas são auditáveis, ou seja, é possível conferir se o resultado divulgado corresponde à votação.

A conversa de Bolsonaro lembra a trajetória de levantes militares e tentativas de impedir a posse de presidentes eleitos que marcaram a história do Brasil no século passado. A maior virada de mesa foi na Revolução de 1930. A chamada política café com leite, pela qual mineiros e paulistas se revezavam no poder, foi rompida nas eleições de 1930 pelo presidente Washington Luiz, que indicou o governador de São Paulo, Júlio Prestes, como candidato à Presidência. Líderes do partido Republicano Mineiro se uniram ao Partido Republicano e ao Partido Libertador do Rio Grande do Sul, ao Partido Democrático de São Paulo e ao Partido Republicano da Paraíba para criarem a Aliança Liberal, que lançou a candidatura de Getúlio Vargas, o então governador gaúcho.

A antecipação do 'voto útil': Editorial | O Estado de S. Paulo

A sombria perspectiva de um segundo turno da eleição presidencial disputado entre extremistas, francamente indispostos à negociação política para alcançar o urgente consenso nacional, antecipou a estratégia do chamado “voto útil” – quando se defende o voto em determinado candidato não em razão de suas qualidades, mas por ser capaz de impedir a eleição de alguém considerado indesejado.

Em geral, esse tipo de campanha é deflagrado nos últimos dias antes do primeiro turno ou apenas no segundo turno, quando cada candidato retrata o adversário como um perigo para o futuro. Mas, desde que o PT começou a radicalizar seu discurso antagônico às “elites” e seu comportamento arrogante ante os que se recusavam a se dobrar à sua doutrina antidemocrática e a suas concepções irresponsáveis de Estado, o “voto útil” parece ter se tornado na prática um voto permanente contra esse partido.

Um dos exemplos mais significativos dessa indisposição ao PT se deu em 2016, quando o então prefeito de São Paulo, o petista Fernando Haddad, perdeu já no primeiro turno para o novato tucano João Doria, sendo derrotado em todas as regiões da cidade. Até a véspera do pleito, pesquisas apontavam a possibilidade de um segundo turno entre Doria e Haddad, que ganhara fôlego na reta final, mas, ao mesmo tempo, indicavam a hipótese de vitória do tucano no primeiro turno. Diante da chance de impedir que o PT continuasse sua tão característica pregação intolerante num segundo turno, em que os candidatos têm igual tempo de exposição, e de dar nos petistas um corretivo exemplar no principal colégio eleitoral do País, o eleitor paulistano entregou-se ao voto útil. No dia anterior à votação, ainda havia 25% de eleitores dispostos a mudar de voto, a depender do cenário – clássica situação em que o cidadão vota de maneira “tática”. Foi o que decidiu a eleição.

A faca e a urna: Editorial | Folha de S. Paulo

Campanha de Bolsonaro emite sinais alarmantes de desapreço pelas regras do jogo democrático

Candidatos com chances crescentes de chegar ao segundo turno procuram, em geral, maneiras de se tornar aceitáveis para o máximo de eleitores de seus concorrentes. A vantagem básica do sistema de duas votações está, justamente, em incentivar a conciliação com a maioria dos representados.

A campanha presidencial de Jair Bolsonaro parece inclinada a desafiar essa lógica singela.

O postulante do minúsculo PSL apresenta solidez nas pesquisas de intenção de voto no primeiro turno, em particular nas realizadas após o execrável ataque a faca de que foi vítima. Ao mesmo tempo, sua taxa de rejeição permanece a mais alta da disputa —e nem ele nem seus aliados demonstram empenho em reduzi-la.

Ao contrário, persistem acusações irresponsáveis, demonização de adversários e, pior, sinais alarmantes de desapreço por regras do jogo democrático.

Mostrou-se especialmente desastrado o protagonismo assumido pelo candidato a vice na chapa, o general da reserva Hamilton Mourão(PRTB). Já no dia da facada, 6 de setembro, divulgou nota em que culpava, com leviandade inaceitável, “um militante do Partido dos Trabalhadores” pelo atentado.

Em entrevista, divagou a respeito de hipóteses em que um presidente poderia aplicar um autogolpe; depois, defendeu um novo texto constitucional, não necessariamente elaborado por parlamentares sufragados pela população.

Para evitar uma crise institucional nas eleições: Editorial | O Globo

Crítica perigosa de Bolsonaro à urna eletrônica, agressividade e o não debate degradam a campanha

Candidatos e partidos têm de preservar legitimidade da campanha e da votação. A campanha recebeu um impacto forte, por óbvio, com o atentado contra Jair Bolsonaro, um momento crítico da política nacional desde a redemocratização formalizada na Carta de 1988. O ataque ao menos gerou um armistício, mas não duradouro.

O próprio Bolsonaro, em vídeo emotivo, produzido com ele no leito do Einstein, em São Paulo, tratou de pregar contra a urna eletrônica. Qual a intenção?

Toffoli lhe respondeu de forma adequada: o sistema está aberto a qualquer auditoria de partidos e entidades. Poderia ter acrescentado que nunca se provou qualquer falha nas urnas. Durante 22 anos, completou depois a presidente do TSE, ministra Rosa Weber.

A intenção parece óbvia: se perder, denunciará fraude, o que jogará as eleições numa crise de legitimidade. Bolsonaro segue a mesma cartilha de radicalização adotada há tempos pelo PT, segundo a qual o impeachment bem fundamentado de Dilma foi “golpe” e eleição sem Lula seria “fraude”. Até que os petistas, sem opção, se curvaram à lei, mas criaram o fantoche Fernando Haddad, que aparece na propaganda eleitoral com a trilha sonora da voz de Lula. Se Haddad ganhar, quem governará? Um presidiário? A reverência é tanta que o candidato preposto iniciou a entrevista ao “JN” dando boa noite ao presidiário, que o assistia por certo. Patético.

Além de tudo, há o general Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, com suas teses, aí sim, golpistas. Como a do “autogolpe” e da Constituinte sem votos. Defende, ainda, ideias discriminatórias, contra negros e índios, em oposição à miscigenação da população brasileira, ponto forte da nação.

Na rua, Ciro Gomes não falhou: em Boa Vista, Roraima, xingou alguém e o acusou de ser um militante da campanha de Romero Jucá (MDB), pedindo que o prendessem, sem ter poderes para tal. Pode parecer fortuito, apesar do histórico de explosões do candidato, mas engrossa o clima de tensão que começa a voltar a crescer.

Alberto Goldman: Ele não (Vídeo)

Assim como Dilma em 2014, Haddad mente para o eleitor na campanha

Clarissa Lemgruber: Portal do PSDB

Mentiras, contradições e histórias mal contadas parecem continuar fazendo parte do modus operandi do PT como método de persuasão política. Ao longo de 14 anos, os governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba desde abril, e da ex-presidente Dilma Rousseff foram marcados por promessas falsas e mentiras. A situação se repete agora com o novo poste de Lula, o ex-prefeito Fernando Haddad, alçado à condição de candidato petistas após a impugnação da candidatura do ex-presidente petista.

Desde que se tornou o candidato oficial da legenda, Haddad tem utilizado o Bolsa Família como uma das suas principais bandeiras de campanha. Na TV, o petista tem repetido o bordão de que “até o Bolsa Família já está sendo cortado” pelo governo federal. Para exemplificar isso, exibiu o depoimento de uma dona de casa que afirmava ter perdido o benefício na gestão de Michel Temer. Mas o GLOBO descobriu a mentira.

O jornal foi atrás da verdadeira história e apurou que, ao contrário do que sugere a gravação, a dona de casa Cleide da Rocha recebeu o Bolsa Família até agosto, como comprova o extrato do seu cartão. De fato, dona Cleide deverá ter seu benefício suspenso, mas porque sua renda subiu e , por isso, não teria mais direito ao Bolsa Família, como determina a lei criada pelo próprio PT.

Na avaliação do deputado federal Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE), essa é mais uma constatação do histórico de mentiras do PT, que se utiliza da boa fé das pessoas, principalmente as mais carentes, para enganar a população e ganhar votos.

“O PT continua com suas mentiras, querendo ter a paternidade dos programas, como é o caso do Bolsa Família, que tem o DNA do PSDB. Haddad está na mesma linha de seus líderes, de mentir para o povo. Mais uma vez, o PT mente com propostas sociais. É muito triste que isso continue acontecendo”, lamentou.

Questionada pela reportagem sobre os pagamentos, a dona de casa primeiro disse que estava sem receber “há seis meses”. Depois, diante dos dados, admitiu ter recebido em agosto e deu explicações confusas para o suposto bloqueio do benefício nos meses anteriores.

Geraldo Alckmin promete ampliação de crédito para microempreendedores

SÃO PAULO - Em visita ao Brás nesta terça-feira (18), bairro de São Paulo com grande comércio popular, Geraldo Alckmin, candidato à Presidência da República pelo PSDB, prometeu ampliar a oferta de crédito para microempreendedores. Na ocasião, Alckmin criticou o BNDES por privilegiar grandes empresas com empréstimos subsidiados.

“Vamos dar crédito para o pequeno, pro micro e pro médio empreendedor. Crédito para ter mais investimento. A população quer trabalhar, precisa trabalhar, precisa ter apoio para crescer.”, disse o tucano.

Aos jornalistas, Geraldo Alckmin contou como pretende, se eleito, reduzir o desemprego e acelerar o crescimento da economia.

“A maior angústia dos brasileiros é emprego e renda. Vou colocar aqui as quatro propostas que nós vamos fazer. Primeiro a questão tributária, a simplificação tributária, substituindo cinco impostos por um só. Depois a redução do imposto das empresas para a gente ter mais investimento e mais emprego. Segundo reduzir o custo do dinheiro com mais bancos, mais disputa, mais regulação. Tornar os juros mais barato no Brasil. Desburocratizar, simplificar a questão dos negócios, ter um ambiente de negócios melhor.”, explicou.
O ex-governador de São Paulo afirmou que estas medidas irão beneficiar também os consumidores.

“Vai ajudar o consumidor, porque você vai tornar o sistema mais eficiente. Ao invés de ter ISS, IPI, PIS, CONFINS, ICMS você vai ter um IVA. Então, simplifica, reduz custos, atrai mais investimentos. E reduzir imposto para quem investe.”, disse.

Geraldo Alckmin também comentou a declaração feita pelo General Hamilton Mourão, candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro, em que afirma que família sem a figura paterna é “fábrica de elementos desajustados” e alvos fáceis do narcotráfico.

“Fiquei horrorizado com a declaração do general Mourão, vice do Bolsonaro, dizer que as crianças criadas pelas mães e avós elas são desvirtuadas. Isso é uma ofensa às mães que criam seus filhos com dificuldade, com sacrifício, às vezes dois, três filhos, sozinhas. As avós que são verdadeiras heroínas. É lamentável esse tipo de coisa.”, criticou Alckmin.

Alckmin promete programa 'Linha Dura'

Campanha do ex-governador de São Paulo nas eleições 2018 reforça discurso da segurança pública

Pedro Venceslau | O Estado de S.Paulo

Em busca do eleitorado de Jair Bolsonaro, presidenciável do PSL, a campanha do ex-governador Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à Presidência da República nas eleições 2018, reforçou o discurso da segurança pública e lançou no horário eleitoral um programa chamado “Linha Dura”, que promete “endurecer as leis”.

O comercial exibido hoje também criticou os governos Dilma Rousseff e Michel Temer, mas poupou Bolsonaro de ataques diretos no bloco de 5min32s exibido na tarde desta terça-feira, 18.

O comercial tucano apresentou um novo jingle que exalta a experiência do tucano e prometeu criar uma força tarefa de elite “nos moldes do FBI”.

O comando da campanha tucana promoveu mudanças na estratégia de marketing após as mais recentes pesquisas de intenção de voto mostrarem que Alckmin está estagnado, Bolsonaro estabilizado na liderança e Fernando Haddad (PT) em curva ascendente.

Em entrevistas e sabatinas, Alckmin tem feito um apelo pelo voto útil ao pregar que votar em Bolsonaro é passaporte para a volta do PT porque o candidato do PSL perderia para qualquer um no segundo turno.

A campanha de Alckmin está sendo pressionada por aliados e tucanos a focar a estratégia no antipetismo para chegar ao segundo turno.

Alckmin critica o vice de Bolsonaro: "Isso é uma ofensa às mães que criam seus filhos”

Candidato do PSDB à Presidência tem tentado se colocar como uma opção em relação ao candidato Jair Bolsonaro

Adriana Ferraz, O Estado de S.Paulo

O presidenciável tucano Geraldo Alckmin, dono de uma coligação com oito partidos , afirmou na tarde desta terça-feira, 18, que não tem qualquer "procedência" a sugestão de que uma debandada de sua coligação esteja em curso. De forma enfática, Alckmin disse que a reunião prevista para ocorrer com o prefeito de Salvador ACM Neto (DEM) já estava combinada e ocorre toda semana às segundas ou terças.

Seguindo a estratégia de se colocar como uma opção em relação à candidatura de Jair Bolsonaro (PSL), líder das pesquisas, o tucano fez questão de comentar a declaração do candidato a vice na chapa de Bolsonaro, general Hamilton Mourão, sobre criação de filhos em casas que têm apenas as figuras da mãe e da avó. Mourão disse que crianças, nestas situações, podem ser desvirtuadas e cooptadas pelo tráfico.

"Isso é uma ofensa às mães que criam seus filhos com dificuldades, no sacrifício, às vezes dois, três filhos, sozinhas. As avós, essas heroínas. É lamentável isso", declarou em resposta a Mourão. O tucano ainda diz que não ataca Bolsonaro e não comentou pedido de resposta feito pelo adversário na Justiça Eleitoral.

Durante agenda de campanha no bairro do Pari, zona central da capital paulista, Alckmin ainda afirmou que um indulto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Operação Lava Jato, seria um "acinte" à Justiça. Nesta terça, o candidato petista Fernando Haddad afirmou que Lula não deseja isso e que não o faria, caso vença a eleição.

Cúpula da campanha de Alckmin faz reunião

Fernando Taquari | Valor Econômico

SÃO PAULO - O candidato do PSDB a presidente, Geraldo Alckmin, está reunido na tarde desta terça-feira com a cúpula dos partidos do chamado Centrão. O encontro acontece na casa do coordenador do programa de governo do tucano, Luiz Felipe d’Avila.

A reunião tem o objetivo de discutir os rumos da campanha nesta reta final. Alckmin segue patinando nas pesquisas de intenção de voto, o que tem preocupado os aliados, que temem dispersão do Centrão nos Estados.

Participam do encontro o tesoureiro da campanha, Silvio Torres, os presidentes do PRB e PPS, Marcos Pereira e Roberto Freire, respectivamente, o prefeito de Salvador, ACM Neto, o ex-deputado Valdemar Costa Neto (PR) e o marqueteiro Lula Guimarães, além dos deputados Aguinaldo Ribeiro (PP) e Guilherme Mussi (PP).

Um levantamento interno do PSDB no Estado de São Paulo tem gerado um clima de desespero entre os tucanos paulistas. A proporção de votos de Jair Bolsonaro (PSL) para Alckmin no Estado, conforme esta sondagem, é de três para um.

Os aliados esperavam que o presidenciável não repetisse em seu reduto eleitoral o desempenho de Aécio Neves na campanha de 2014, quando o tucano foi derrotado por Dilma Rousseff (PT) em Minas Gerais.

Cobrado por aliados, Alckmin decide subir tom de ataques

Estacionado nas pesquisas, tucano rediscute campanha com partidos coligados

Thais Bilenky | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Cobrado por aliados pela postura considerada morna, o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) concordou nesta terça-feira (18) com a necessidade de partir para o ataque para garantir uma vaga no segundo turno.

Até então refratário a fazer colocações mais agressivas, o tucano foi convencido de que o voto conservador continuará na órbita de Jair Bolsonaro (PSL) caso ele não suba o tom.

O receituário é o mesmo que ele já evidenciou nos últimos dias. Alertará para o que chama de risco de radicalismo de direita, com o capitão reformado, e populismo de esquerda, com Fernando Haddad (PT). A forma é que, segundo aliados, mudará.

A previsão é que Alckmin não deixe que apenas propagandas eleitorais de sua coligação batam em Bolsonaro e no PT, mas ele próprio vá à televisão com a mensagem —que precisa ser exposta por ele de maneira mais clara e direta, na avaliação da campanha.

O tucano se encontrou, em São Paulo, com seu marqueteiro, Lula Guimarães, e líderes dos partidos de sua coligação, na segunda reunião dessa envergadura desde o início oficial da campanha.

Estavam presentes representantes dos partidos da coligação como Valdemar Costa Neto, que manda no PR apesar de estar desfiliado, Marcos Pereira, presidente do PRB, ACM Neto, presidente do DEM, Guilherme Mussi e Aguinaldo Ribeiro, do PP, e Roberto Freire, do PPS.

Solidariedade, PSD e PTB mandaram emissários de segundo escalão.

Alckmin tenta manter apoio de aliados e diz que eleição não terá apenas um turno

Presidenciável do PSDB reuniu nesta tarde todos os partidos da sua coligação e ouviu cobranças para retomar ataques a Bolsonaro

Silvia Amorim | O Globo

SÃO PAULO - Em reunião nesta tarde em São Paulo, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, agiu para manter o apoio dos partidos aliados a sua candidatura, descartando uma vitória de Jair Bolsonaro (PSL) já no primeiro turno da eleição. Alguns líderes partidários chegaram ao encontro preocupados com a campanha pelo voto útil que o adversário passou a fazer nos últimos dias para liquidar a disputa em um turno.

O marqueteiro da campanha, Lula Guimarães, mostrou aos aliados dados da rejeição de Bolsonaro, que, segundo ele, inviabilizariam uma eleição de primeiro turno este ano. O número mais destacado foi o da rejeição do adversário entre o eleitorado feminino, que, pelas pesquisas tucanas, estaria em mais de 50%.

Após quase duas horas de reunião, os líderes do DEM, PP, PR, PRB, SD, PPS, PTB e PSD deixaram o encontro reafirmando uma eleição em dois turnos.

— Não há hipótese dessa eleição acabar no primeiro turno. Esqueçam. É a eleição mais pulverizada desde 1989. Essa onda toda que se quer criar já aconteceu em outras eleições e todas elas foram para o segundo turno — afirmou o presidente nacional do DEM, ACM Neto.

— Vamos mostrar que é muito complicado declarar um voto para o Bolsonaro e achar que ele vai ganhar no primeiro turno. Vamos dizer que votando no Bolsonaro você está votando no PT — disse o presidente do PP em São Paulo, Guilherme Mussi.

A preocupação de integrantes da coligação com a possibilidade de uma eleição em um turno começou no domingo passado, durante reunião de Alckmin com alguns aliados na residência do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. Na ocasião, eles avaliaram que a pregação de Alckmin pelo voto útil, iniciada dias atrás, estaria causando um efeito reverso. Em vez de atrair votos para Alckmin, eleitores de outros candidatos estariam declarando voto a Bolsonaro para que ele ganhasse no primeiro turno e, assim, fosse enterrado o risco de volta do PT ao poder. Alckmin tem dito que votar em Bolsonaro no primeiro turno é "passaporte" para o retorno do PT.

Foi a segunda vez, desde o início da campanha, que Alckmin reuniu representantes dos oito partidos da sua aliança. A primeira havia sido em Brasília pouco antes do início do horário eleitoral.

RETOMADA DA OFENSIVA A BOLSONARO
Numa mansão em São Paulo onde fica equipe do programa de governo tucano,eles discutiram o rumo da propaganda de Alckmin nos próximos 20 dias para tentar reverter a estagnação do tucano nas pesquisas. Pesquisa Datafolha mostrou Alckmin com 9% das intenções de voto. A principal reivindicação do grupo de apoiadores foi a retomada da campanha contra Bolsonaro no rádio e na TV e mais clareza na críticas. A ofensiva havia sido suspensa após o atentado ao adversário.

— Não se faz campanha elogiando o adversário. Tem que dizer o que ele significa. Estamos numa disputa em que o risco que temos é o das liberdades e da democracia. Se dissesse uma vez só o defeito de uma pessoa e isso resolvesse, era muito simples. Tem que continuar. A gente vinha bem e o atentado paralisou — afirmou o presidente do PPS, Roberto Freire.

ACM Neto reforçou que a estratégia de apontar os erros do PT e as "fragilidades" de Bolsonaro está mantida.

— Não podemos num debate político, faltando 20 dias para e eleição, negligenciar informações muito importantes da população, deixando claro que o PT é o principal responsável pela crise que vivemos hoje, pelos 13 milhões de desempregados e o caos na saúde e segurança. De outro lado, não podemos deixar de evidenciar as fragilidades da candidatura de Bolsonaro, afinal o Brasil tem o direito de se perguntar o que de concreto ele fez em 30 anos de mandato pelo país. Elas coisas não podem deixar de ser colocadas. Elas precisam ser ditas claramente.

Apesar das dificuldades da candidatura, os aliados tentaram mostrar unidade em torno do candidato.

— Nunca estivemos tão coesos quanto agora. Nunca foi discutido retirar o apoio — disse Marcos Pereira, líder nacional do PRB.

Na TV, Alckmin volta a subir o tom e critica Bolsonaro e Haddad

Ofensiva acontece no mesmo dia em que o tucano foi cobrado por aliados a reforçar ataques a adversários do PSL e do PT

Silvia Amorim | O Globo

SÃO PAULO - Estagnado com baixa popularidade nas pesquisas, o candidato do PSDBàP residência, Geraldo Alckmin, subiu o tome retomou ontem, fortemente, os ataques contra os presidenciáveis Jair Bolsonaro (PSL)e Fernando Haddad( PT ), respectivamente em primeiro e em segundo lugar na pesquisa Ibope de ontem.

A ofensiva acontece no mesmo dia em que o tucano, em encontro em São Paulo, foi cobrado por aliados a reforçar as críticas contra os adversários.

À noite, no horário eleitoral obrigatório na TV, Alckmin dividiu o programa basicamente para atacar as “turmas” de Haddad e Bolsonaro. O discurso foi duro:

“De um lado, temos a turma do vermelho que quer o fim da operação Lava-Jato para encobrir o maior escândalo de corrupção do mundo. De outro lado, temos a turma do preconceito que persegue as mulheres até nas redes sociais, a turma da revolta, da intolerância, do ódio a tudo e a todos”, diz a apresentadora.

Em seguida, Alckmin reforça o ataque aos dois:

“Os brasileiros já elegeram um poste vermelho e não deu certo. Se não deu certo com o primeiro, não vai dar certo com o segundo. Também já caímos os no conto do vigário de um presidente sem apoio e que se dizia o novo. Deu no que deu: impeachment duas vezes”. A campanha chega a mostrar a imagem de Haddad e Bolsonaro, com a seguinte inscrição: “O Brasil não pode errar de novo”.

— Não se faz campanha elogiando o adversário. Estamos numa disputa em que o risco é o das liberdades e da democracia. A gente vinha bem, mas o atentado paralisou — disse o presidente do PPS, Roberto Freire, que participou do encontro.

O presidente do DEM, ACM Neto, reforçou que a estratégia tem que ser apontar as “fragilidades” de Bolsonaro, além de erros do PT.

— Não podemos, faltando 20 dias para a eleição, negligenciar informações importantes da população. O PT é o principal responsável pela crise de hoje e temos que evidenciar as fragilidades de Bolsonaro —disse ACM.

Algumas lideranças chegaram ao encontro preocupadas coma campanha pelo voto útil que o candidato do PS L passou afazer nos últimos dias para liquidara eleição em um turno.

Ao mesmo tempo, na reunião com os presidentes dos partidos, Alckmin também agiu para manter o apoio em torno de sua candidatura. Numa estratégia para manter o apoio político dos aliados, o marqueteiro da campanha, Lula Guimarães, mostrou dados da rejeição de Bolsonaro, que, para ele, inviabilizaria uma eleição de primeiro turno.

ELEITORADO FEMININO
Um dos números apresentados foi a reprovação entre o eleitorado feminino, que seria superior a 50%, segundo as pesquisas tucanas. Após quase duas horas de conversa, os líderes do DEM, PP, PR, PRB, SD, PPS, PTB e PSD deixaram o encontro reafirmando apoio ao tucano e a convicção numa eleição em dois turnos.

A preocupação de integrantes da coligação começou no domingo passado em reunião de Alckmin com aliados na casa do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, em São Paulo. Na ocasião, eles avaliaram que a pregação de Alckmin pelo voto útil, iniciada dias atrás, estaria causando um efeito reverso. Apesar das dificuldades da candidatura, os aliados tentaram mostrar unidade em torno de Alckmin.

—Nunca estivemos tão coesos quanto agora. Nunca foi discutido retirar o apoio — disse Marcos Pereira, líder nacional do PRB.

Apesar dos discursos de otimismo, tem sobrado apreensão na campanha. Mesmo aliados mais próximos do candidato avaliam que o cenário é difícil. Há impaciência com o fato de Alckmin não ter conseguido até agora aparecer ao eleitor como o anti-PT, apesar de ter intensificado as críticas ao partido. Além disso, cobram que Alckmin é o candidato com menos assunto gerado nas redes sociais.

Após reunião com Centrão, Alckmin vai retomar ataques a Bolsonaro

Aliados do tucano tentam tranquilizar grupo que teme vitória do presidenciável do PSL no 1.º turno

Pedro Venceslau e Adriana Ferraz | O Estado de S.Paulo

O ex-governador Geraldo Alckmin, presidenciável do PSDB nas eleições 2018, se reuniu nesta terça-feira, 18, em São Paulo com lideranças do Centrão para pedir engajamento aos aliados, anunciar mudanças na estratégia e afinar o discurso do grupo. Segundo auxiliares do candidato, o encontro foi marcado para tentar dissipar o temor de que Jair Bolsonaro (PSL) vença a eleição no primeiro turno ou passe para o segundo com Fernando Haddad (PT).

Presente ao encontro, o marqueteiro Lula Guimarães, que coordena o marketing de Alckmin, disse aos dirigentes que a campanha vai retomar em seu programa no horário eleitoral os ataques ao presidenciável do PSL e reforçar o discurso antipetista. O discurso do entorno de Alckmin é que Bolsonaro tem uma rejeição “irreversível”. A ideia a partir de agora é pregar o voto útil com o argumento de que votar em Bolsonaro significa carimbar o passaporte do PT no segundo turno.

A nova estratégia já foi colocada em prática no programa do tucano exibido na noite desta terça-feira na TV. “De um lado está a turma do vermelho, da Dilma, que quer o fim da Lava Jato. Do outro está a turma do preconceito, que persegue mulher até nas redes sociais”, disse uma atriz. Em seguida, Bolsonaro foi chamado de “deputado despreparado e sem proposta que quer resolver tudo na bala”.

A reunião com o Centrão foi convocada pelo prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), coordenador político da campanha de Alckmin, e reuniu dirigentes do PR, PSD, PTB, PRB, SD e PSDB no comitê do programa de governo, nos Jardins, na zona sul da capital paulista. Entre os participantes estavam Valdemar Costa Neto, do PR, Roberto Freire, do PPS, Guilherme Mussi, do PP, e Silvio Torres, tesoureiro do PSDB.

Para FHC, democracia e instituições não correm risco

Por Estevão Taiar | Valor Econômico

SÃO PAULO - Mesmo com o acirramento das tensões políticas, a democracia e as instituições não estão ameaçadas neste momento, de acordo com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "A democracia está enraizada aqui, o país é muito diversificado", disse ontem ao Valor após evento realizado na fundação que leva seu nome, em São Paulo (SP), para debater os 30 anos da Constituição de 1988.

Para FHC, o principal risco agora é de uma continuação da piora das condições de vida da população. "A democracia funciona de maneira pior ou melhor, depende da liderança, das condições econômicas sociais. Esse é o risco: de haver um processo de deterioração das condições de vida do povo brasileiro", disse.

Durante o debate, ele pediu a palavra para afirmar que o próximo presidente precisará de "liderança" para conquistar "coesão" e lidar com um "Congresso oligárquico".

Os participantes do debate, no entanto, foram mais pessimistas e afirmaram que há algum risco às instituições. O candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, foi alvo de críticas. "Neste momento é o caso de voltarmos a olhar um pouco a questão militar", disse José Eduardo Faria, professor titular da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Para ele, de maneira semelhante ao período que antecedeu a ditadura, é necessário "saber de novo" quem forma a cúpula das Forças Armadas e "perceber que há riscos em potencial".

Bolsonaro atinge 28%; com 19%, Haddad se isola em 2º

Ciro fica estável, com 11%; Alckmin oscila na margem de erro, com 7%. Marina cai 3 pontos e vai a 6%

O candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, oscilou dois pontos porcentuais para cima e chegou a 28% na pesquisa Ibope/Estado/TV Globo, divulgada ontem. Fernando Haddad (PT) subiu 11 pontos porcentuais em uma semana e se isolou no segundo lugar, com 19%. Na sequência, aparece Ciro Gomes (PDT), com os mesmos 11% da semana anterior. Geraldo Alckmin (PSDB) oscilou dois pontos para baixo, de 9% para 7%, e Marina Silva (Rede) caiu de 9% para 6%. Haddad avançou em todas as regiões, especialmente no Nordeste, onde foi de 13% para 31% das intenções de voto. O candidato do PSL mantém o maior índice de rejeição, com 42% – o do petista foi de 23% para 29%. Nas simulações de segundo turno, Bolsonaro está tecnicamente empatado com Haddad, Ciro e Alckmin. Marina é a única que perde do deputado fora da margem de erro. A pesquisa também sondou a tendência de “voto útil” e 43% dos entrevistados disseram que são “baixas” ou “muito baixas” as chances de votar em um candidato que não seja de sua preferência para evitar que outro ganhe.

Haddad cresce 11 pontos e se isola no segundo lugar

Daniel Bramatti Caio Sartori Cecília do Lago Alessandra Monnerat | O Estado de S. Paulo

O candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, subiu 11 pontos porcentuais em uma semana e se isolou na segunda colocação, com 19%, atrás de Jair Bolsonaro (PSL), que oscilou dois pontos porcentuais para cima e chegou a 28%. É o que revela pesquisa Ibope/Estado/TV Globo divulgada ontem, a quarta desde o início oficial da campanha eleitoral.

A seguir aparece Ciro Gomes (PDT), que se manteve com os mesmos 11% da semana anterior. O presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, oscilou dois pontos para baixo, de 9% para 7%. E Marina Silva (Rede) caiu três pontos, de 9% para 6%.

Bolsonaro lidera com 28%; Haddad vai a 19% e se isola em segundo lugar

No Ibope, Ciro está em terceiro, estável com 11%, seguido de Alckmin e Marina, que perderam pontos

O candidato do PT, Fernando Haddad, subiu 11 pontos na pesquisa do Ibope divulgada ontem, isolando-se em segundo lugar, atrás do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, que chegou a 28% das intenções de voto. Haddad abriu diferença de oito pontos percentuais sobre Ciro Gomes (PDT), que repetiu os 11% do levantamento anterior. Geraldo Alckmin (PSDB), com 7%, e Marina Silva (Rede), com 6%, se distanciaram do pelotão dianteiro. Bolsonaro continua sendo o candidato com o maior índice de rejeição: 42% dos eleitores dizem que não votariam nele de maneira nenhuma. Haddad passou a ser o segundo mais rejeitado, com 29%.

Bolsonaro é líder, Haddad sobe 11 pontos

Deputado do PSL chega a 28%, e candidato petista avança de 8% para 19%

Marco Grillo | O Globo

A quarta pesquisa Ibope após o início oficial da campanha mostra, pela primeira vez, um cenário eleitoral mais consolidado. O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, continua isolado na frente, agora com 28% das intenções de voto —a terceira oscilação positiva de dois pontos percentuais na margem de erro. A novidade é o descolamento de Fernando Haddad (PT) do bloco que, até então, brigava pela outra vaga no segundo turno: o ex-prefeito de São Paulo subiu 11 pontos percentuais em uma semana e chegou a 19%, deixando os adversários para trás.

Haddad foi oficializado como candidato do PT na semana passada, em substituição ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba. Desde então, a sigla tem insistido na mensagem de que Haddad é o candidato de Lula, seja em eventos de campanha ou na propaganda em rádio e TV.

O crescimento de Haddad foi maior justamente no eleitorado mais fiel a Lula: o candidato saltou de 13% para 31% no Nordeste; de 10% para 27% entre os eleitores de famílias com renda mensal de até um salário mínimo; e de 6% para 24% entre quem cursou até a 4ª série do ensino fundamental.

Já o candidato do PDT, Ciro Gomes, permaneceu com os 11% do levantamento anterior. Ele está empatado, no limite da margem de erro, com Geraldo Alckmin (PSDB), que tem 7%, uma oscilação negativa de dois pontos em comparação como resultado da semana passada. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Depois de crescer três pontos entre o fim de agosto e o início de setembro, Ciro permaneceu estável conforme a campanha petista se direcionou a Haddad, que se transformou no herdeiro dos votos de Lula. Já Alckmin não conseguiu fazer com que o volume de tempo na TV, bastante superior ao dos adversários, revertesse votos a seu favor. A campanha tucana, após um período de trégua em função do atentado à faca contra Bolsonaro, voltou nesta semana a atacá-lo, na tentativa de atrair os votos antipetistas.

MARINA EM QUEDA LIVRE
O Ibope também mostrou a continuidade da trajetória de queda de Marina Silva (Rede). Em uma semana, ela passou de 9% para 6%, o que configura uma situação de empate técnico com Alckmin. Mas, se antes a candidata da Rede ainda estava embolada com os concorrentes na briga pelo segundo turno, a nova pesquisa mostra que, agora, ela está um nível abaixo: empatada tecnicamente, no limite da margem de erro, com Henrique Meirelles (MDB), Alvaro Dias (Podemos) e João Amoêdo (Novo), que têm 2%, cada.

Um terço do eleitorado está propenso a dar voto útil para evitar vitória de candidato que rejeita

Segundo o instituto, 32% dizem que possibilidade é 'alta' ou 'muito alta'

Marco Grillo | O Globo

RIO - A pesquisa Ibope divulgada nesta terça-feira identificou que aproximadamente um terço do eleitorado brasileiro está propenso a dar um voto útil, com o objetivo de impedir a vitória de outro candidato. Segundo o instituto, 32% dos eleitores classificam como "muito alta" ou "alta" a probabilidade de escolher um nome que não seja o seu preferido para evitar que outro candidato vença a disputa.

O Ibope fez a seguinte pergunta aos entrevistados: "Votaria em um candidato que não seja de sue preferência para evitar que outro que você não goste vença?". Ao todo, 14% classificaram a possibilidade como "muito alta", enquanto 18% disseram que a chance é "alta". Dos entrevistados, 18% disseram que a possibilidade é média, 20% classificaram como "baixa", 23% afirmaram ser "muito baixa" e 6% não souberam opinar ou não responderam.

O levantamento registrou o crescimento de onze pontos percentuais, em uma semana, do candidato do PT, Fernando Haddad - saiu de 8% para 19%. Jair Bolsonaro (PSL) permanece na frente, com 28%, uma oscilação positiva de dois pontos percentuais, dentro da margem de erro, na comparação com a sondagem anterior. São os dois únicos candidatos que têm trajetória ascendente desde o início da série de pesquisas, em 20 de agosto: Bolsonaro tinha 20% na ocasião, enquanto Haddad marcava 4%.

A polarização entre Bolsonaro e o PT também pode ser verificada nos índices de rejeição: 42% dos eleitores dizem que não votariam "de jeito nenhum" no candidato do PSL, uma oscilação positiva de um ponto na comparação com o levantamento anterior; já a rejeição de Haddad subiu seis pontos no período, passando de 23% para 29%.

Míriam Leitão: Juros estáveis e pressão em alta

- O Globo

BC deve manter os juros hoje, na última reunião do Copom antes das eleições. Quando o fim de outubro vier, o Brasil já terá outro governo sendo montado
Termina hoje a última reunião do Copom antes das eleições. Quando o fim de outubro vier, o Brasil terá outro governo sendo montado. A decisão de hoje deve ser a de manter os juros em 6,5%, uma taxa que foi conseguida pelos acertos da política monetária e econômica. A alta do dólar está afetando preços por atacado como mostrou ontem o IGP-M, que reajusta os aluguéis. Os juros futuros subiram diante da ausência de qualquer informação concreta sobre o que será a economia do ano que vem.

É uma taxa de juros baixa para os nossos padrões, mas cercada de pressões. A Selic pode acabar sendo elevada em uma das próximas reuniões, por força da soma dos problemas que circundam a economia. Sobem nas pesquisas os candidatos com as propostas mais rasas sobre o que fazer para enfrentar os graves problemas fiscais brasileiros.

Países emergentes, principalmente Turquia e Argentina, afundam-se em crises. Na Turquia, o governo Erdogan tenta resolver com golpes de populismo e autoritarismo os problemas da economia, entre eles, a inflação e a crise cambial. Naturalmente fracassa. Na Argentina, o governo Macri queimou o bom momento em que teve a confiança dos investidores tomando medidas graduais demais para o tamanho do desequilíbrio macroeconômico deixado por Cristina Kirchner. A inflação voltou a subir, o dólar disparou, e o país pediu ajuda ao FMI. A crise da Argentina nos afeta diretamente pela interligação entre as economias.

Cristiano Romero: Era uma vez um país que sobreviveu à pior crise...

- Valor Econômico

Brasil foi um dos primeiros a sair da crise mundial de 2008

Há exatos dez anos, o mundo vivia sua pior crise financeira e, pela primeira vez, o Brasil conseguiu enfrentar um abalo daquela magnitude sem desorganizar a economia. O país estava preparado. Quatro meses antes, ganhara de uma das agências de classificação de risco o selo de bom pagador - o grau de investimento, segundo designação das agências. Após quase três décadas de muito pelejar, o que desde 1982 significava cortar investimento público e aceitar a deterioração dos serviços prestados pelo Estado, a União tinha dívida cadente, embora ainda cara e com prazos de vencimento curtos. Isso permitiu controlar a inflação, praticamente dobrar o ritmo de crescimento do PIB, diminuir o desemprego e ampliar gastos sociais.

A crise de 2008 não foi uma "marolinha". Por causa do pânico generalizado, a atividade econômica teve parada súbita depois da quebra, em 15 de setembro, do banco americano Lehman Brothers. O PIB entrou em recessão técnica (crescimento negativo por dois trimestres consecutivos), os bancos pequenos e médios sofreram corrida que lhes custou perda de R$ 40 bilhões em depósitos e, o que parece uma contradição, grandes empresas exportadoras amargaram prejuízos bilionários por causa da desvalorização abrupta da taxa de câmbio.

Monica De Bolle: A desgraça dos números primos

- O Estado de S.Paulo

Infelizmente, nas eleições já não cabem os arranjos, a conciliação de diversos, a estruturação em conjunto

O dia do mês em que este artigo será publicado, 19, é um número primo. Para quem não lembra, números primos são aqueles que só podem ser divididos por eles próprios, ou pelo número 1. Números primos são responsáveis por inúmeros problemas matemáticos e conjecturas até hoje sem solução. Matemáticos ainda não foram capazes de encontrar nenhuma regularidade ou padrão na sequência infinita de números primos existentes. Sobre os mistérios dos números primos, disse o matemático, físico, e astrônomo suíço Leonhard Euler no século 18: “A matemática tentou em vão descobrir alguma ordem na sequência de números primos, e temos motivos para crer que esse é um mistério impenetrável para a mente humana”. Entre todos os números primos há sempre números pares que impedem que se toquem. Entre os primeiros dez números primos está o número 13, imediatamente seguido pelo número 17.

Tínhamos o 45, o 18, o 12. Também tínhamos o 30 e o 15. Todos números afeitos à composição, todos provenientes da multiplicação de pares de outros números que não eles próprios ou o singular dígito 1. Infelizmente, nas eleições brasileiras, já não cabem os arranjos, a conciliação de diversos, a estruturação em conjunto. Em meio à paranoia, às teorias conspiratórias, à confusão, e à desordem, parece claro que os números compostos estão prestes a cair no esquecimento do eleitorado brasileiro. Movimenta-se a população em direção àqueles números que se reduzem apenas a si mesmos ou ao isolamento unitário.

EUA e China ampliam guerra comercial com mais tarifas: Editorial | Valor Econômico

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, levou em frente sua ameaça e estabeleceu tarifas de 10% para mais US$ 200 bilhões em exportações chinesas para o país. Metade das vendas da China aos EUA estão agora sob retaliação, algo inédito no comércio internacional. A China anunciou em seguida que mais US$ 60 bilhões em mercadorias americanas pagariam de 5% a 10% em uma lista de 5207 produtos - isto é, 85% da exportação americana foi taxada. As medidas valem a partir de segunda-feira.

O jogo bruto tornou-se a tática habitual de Trump, mas segundo os líderes chineses, "não vai funcionar". O governo americano preparava uma nova rodada de negociações para breve, mas a pior maneira de convidar alguém para discutir algo é ameaçá-lo, como Trump fez. Ele, com sua habitual ligeireza, disse que já aplicou as tarifas sobre produtos chineses e nada de ruim até agora ocorreu com os EUA. E sentiu-se encorajado ao constatar, sabe-se lá com que dados, que a economia chinesa está em maus lençóis com a pressão americana. Trump disse que se Pequim não entrar em algum acordo para cessar suas práticas desleais de comércio e roubo de propriedade intelectual, não só aumentará a última leva de tarifas de 10% para 25%, como poderá taxar mais US$ 257 bilhões - ou todo o comércio chinês com os EUA.

Gal Costa: Ligia

Carlos Drummond de Andrade: Canto do Rio em Sol

I
Guanabara, seio, braço
de a-mar:
em teu nome, a sigla rara
dos tempos do verbo mar.

Os que te amamos sentimos
e não sabemos cantar:
o que é sombra do Silvestre
sol da Urca
dengue flamingo
mitos da Tijuca de Alencar.

Guanabara, saia clara
estufando em redondel:
que é carne, que é terra e alísio
em teu crisol?

Nunca vi terra tão gente
nem gente tão florival.
Teu frêmito é teu encanto
(sem decreto) capital.

Agora, que te fitamos
nos olhos,
e que neles pressentimos
o ser telúrico, essencial,
agora sim és Estado
de graça, condado real.

II
Rio, nome sussurrante,
Rio que te vais passando
a mar de estórias e sonhos
e em teu constante janeiro
corres pela nossa vida
como sangue, como seiva
-- não são imagens exangues
como perfume na fronha
... como pupila do gato
risca o topázio no escuro.
Rio-tato-
-vista-gosto-risco-vertigem
Rio-antúrio

Rio das quatro lagoas
de quatro túneis irmãos
Rio em ã
Maracanã
Sacopenapã
Rio em ol em amba em umba sobretudo em inho
de amorzinho
benzinho
dá-se um jeitinho
do saxofone de Pixinguinha chamando pela Velha Guarda
como quem do alto do Morro Cara de Cão
chama pelos tamoios errantes em suas pirogas
Rio, milhão de coisas
luminosardentissuavimariposas:
como te explicar à luz da Constituição?

III
Irajá Pavuna Ilha do Gato
-- emudeceram as aldeias gentílicas?
A Festa das Canoas dispersou-se?
Junto ao Paço já não se ouve o sino de São José
pastoreando os fiéis da várzea?
Soou o toque do Aragão sobre a cidade?

Não não não não não não não

Rio, mágico, dás uma cabriola,
teu desenho no ar é nítido como os primeiros grafismos,
teu acordar, um feixe de zínias na correnteza esperta do tempo
o tempo que humaniza e jovializa as cidades.
Rio novo a cada menino que nasce
a cada casamento
a cada namorado
que te descobre enquanto rio-rindo.
assistes ao pobre fluir dos homens e de suas glórias pré-fabricadas.