terça-feira, 15 de julho de 2014

Opinião do dia: Aloysio Nunes Ferreira

"Ela (Dilma) tem feito isso sistematicamente, mas acho que não pega. É um esforço público jogado fora. Ficaria melhor para ela governar. Ela é padrão Felipão."

Aloysio Nunes Ferreira, senador (SP) e candidato a vice presidente na chapa de Aécio Neves. O Estado de S. Paulo, 15 de julho de 2014.

Petrobras fez adiantamento de US$ 30 milhões por compra de Pasadena

• TCU questiona pagamento antes da compra da refinaria e sem previsão de reembolso

Eduardo Bresciani e Vinicius Sassine – O Globo

BRASÍLIA — A Petrobras adiantou US$ 30 milhões à empresa belga Astra Oil antes de concluir as negociações da compra da primeira metade da refinaria de Pasadena, no Texas. Foram pagos US$ 10 milhões em maio de 2006 e US$ 20 milhões no primeiro dia do mês seguinte. Autorizado em fevereiro de 2006 pelo Conselho de Administração da Petrobras, presidido então por Dilma Rousseff, o negócio só foi oficializado em setembro daquele ano. Relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) questiona a antecipação de recursos e destaca que eles eram “não-reembolsáveis”, caso o acordo fracassasse. No ano anterior, a Astra tinha adquirido a refinaria toda por US$ 42,5 milhões.

Os adiantamentos constam de documentos internos da Petrobras obtidos pelo GLOBO e de relatórios do TCU sobre a compra da refinaria. A justificativa é de que a negociação inicial previa a aquisição de 70% de Pasadena, mas o acordo acabou sendo fechado com a compra de 50%. Com isso, houve demora na preparação da documentação contratual, e a Petrobras estava obrigada pelo acordo anterior a antecipar os recursos para a futura sócia.

Segundo os documentos da Petrobras, o adiantamento de US$ 30 milhões foi descontado dos U$$ 360 milhões pagos pela compra da primeira metade da refinaria. A estatal, no entanto, pagou mais do que o valor anunciado porque “ajustes contratuais” consumiram US$ 71 milhões. A parceria com a Astra foi de curta duração e, após uma briga judicial iniciada em 2008, na qual a Petrobras sofreu seguidas derrotas, foi fechado um acordo para o pagamento de outros US$ 820 milhões. Com isso, o valor total pago por Pasadena foi de US$ 1,251 bilhão.

Auditor questiona contabilidade
Relatório do auditor do TCU Alberto Henriques de Araújo Pereira, de 4 de junho deste ano, questiona o adiantamento. Ele levanta dúvidas inclusive sobre se os US$ 30 milhões foram mesmo descontados no fechamento do negócio porque uma das memórias de cálculo enviadas pela estatal ao tribunal não trazia essa informação. Ele observou que mesmo o desconto deveria ter levado em conta a correção monetária, uma vez que os adiantamentos ocorreram até quatro meses antes da conclusão. Pereira ressaltou ainda que, como a Astra era a dona da companhia de forma solitária até setembro de 2006, a empresa belga pode ter incluído os recursos na contabilidade da refinaria e ter cobrado o valor da Petrobras nos ajustes finais do negócio.

“Há, igualmente, o risco de o montante dos adiantamentos ter sido indevidamente considerado pela Astra como sua parcela de despesas não-amortizadas de capital, uma vez que, em maio de 2006, a Astra ainda era a única proprietária e geria sozinha a refinaria”, ressaltou o auditor.

Procurada pelo GLOBO, a Petrobras disse que não se manifestaria sobre o adiamento. “A Petrobras informa que vem colaborando com todos os órgãos públicos (CGU, TCU, Ministério Público, entre outros), fornecendo informações sobre o processo de compra da refinaria, a fim de contribuir com as respectivas apurações. De modo a preservar o desenvolvimento dos trabalhos externos de apuração, a Petrobras não comentará o assunto”, registrou a assessoria da estatal.

A compra da refinaria de Pasadena já provocou um prejuízo contábil admitido pela Petrobras de US$ 530 milhões. Investigações em curso do TCU, porém, sugerem que os responsáveis pelos negócios devem ressarcir um valor ainda maior. O auditor Pereira sugeriu em seu relatório final que devem ser devolvidos US$ 873,1 milhões. Relatório mais recente, assinado pelo diretor Bruno Lima Caldeira, estima o montante em US$ 620,1 milhões.

Os dois técnicos têm visão divergente também sobre a responsabilidade pelo prejuízo. Pereira defende que os integrantes do conselho de administração, entre eles a presidente Dilma Rousseff, devem ser chamados a uma audiência pública para dar explicações sobre o caso. Caldeira, por sua vez, entende não haver como responsabilizar os conselheiros. Na sua visão, devem ser citados para explicar os prejuízos o ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli, o ex-diretor da Área Internacional Nestor Cerveró, o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, preso desde julho, além de outros diretores e gerentes da estatal.

Dilma diz que pessimistas foram derrotados e o Brasil realizou a ‘Copa das Copas’

• Maioria dos turistas tem intenção de voltar ao Brasil, diz pequisa. Dezesseis ministros participam de balanço do mundial

André de Souza e Jailton de Carvalho – O Globo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta segunda-feira que o Brasil derrotou os pessimistas e fez com que a anunciada Copa das Copas se tornasse realidade. De cada 20 turistas estrangeiros que vieram ao Brasil durante a Copa do Mundo, 19 têm intenção de voltar ao país. Eles são de 202 nacionalidades diferentes, percorreram 378 municípios brasileiros e ficaram, em média, 13 dias no Brasil. 

Além disso, o Brasil atendeu plenamente ou superou as expectativas de 83% dos turistas. Ao todo, 1,02 milhão de turistas visitaram o Brasil durante a Copa. A maioria (61%) visitou o país pela primeira vez. Os números foram divulgados nesta segunda-feira pelo Ministério do Turismo, que ouviu 6.627 turistas em 12 aeroportos e dez fronteiras terrestres.

- Sem sombra de dúvidas, os torcedores e amantes do futebol asseguraram uma festa que sem dúvida é uma das mais bonitas do mundo. A gente dizia que teríamos a Copa das Copas. Nós tivemos a Copa das Copas - disse Dilma, acrescentando:

- O Brasil demonstrou sua capacidade de organização. Os vaticínios, os prognósticos que se faziam sobre a copa eram os mais terríveis possíveis. Começava do "não vai ter Copa" a "Copa do caos". O estádio do Maracanã, que ontem foi palco de momento belíssimo, só ia ficar pronto em 2038 ou 2024. Enfim, não ficaria pronto nunca. Não teríamos aeroportos, e não teríamos a capacidade de receber milhões e milhões de turistas, Enfim, nós derrotamos sem dúvida essa previsão pessimista e realizamos uma imensa, maravilhosa contribuição, a Copa das Copas.

O quesito mais bem avaliado pelos estrangeiros foi a hospitalidade: 98,1% deles aprovaram. Em seguida vêm gastronomia (93,1%), segurança pública (92%), informação turística (90%), táxi (90%), transporte público (89,2%), sinalização turística (81,2%) e aeroportos (80%). Os pesquisadores, da Fundação Instituto de Pesquisa Econômicas (Fipe) continuarão em campo até o dia 23 de julho.

Dilma fez elogios a seu governo e também aos governos dos estados e cidades onde houve jogos. Segundo ela, foi um esforço conjunto, que também contou com o apoio do povo brasileiro.

- Foi uma árdua conquista para o meu governo. Todos nós nos empenhamos para assegurar que a Copa do Mundo trouxesse não só uma grande oportunidade para sediar o mais importante torneio de futebol do planeta, como também queríamos estar demonstrando naquela circunstância, quando a Copa começou, que o Brasil estava capacitado e tinha todas as condições para assegurar infraestrutura, segurança, telecomunicações, tratamento adequado aos turistas - disse a presidente.

O ministro da Casa Civil, Alozio Mercadante, concordou com a chefe sobre a organização da Copa no Brasil.

- Perdemos a taça, mas o Brasil ganhou. O mundo inteiro admirou. O Brasil soube ganhar, soube perder, soube celebrar em clima altamente receptivo, o que encantou o mundo - disse Mercadante.

O Ministério do Turismo também ouviu 6.038 turistas brasileiros que viajaram pelo país durante a Copa. Os turistas brasileiros saíram principalmente de São Paulo (858.825 pessoas), Rio de Janeiro (260.527), Bahia (220.021), Minas Gerais (204.425) e Paraná (165.694). A maioria (67%) estava visitando pela primeira vez a cidade para onde viajaram. O quesito mais aprovado foi o atendimento e receptividade (90,5%), opções de lazer e turismo (87,2%), segurança (83,8%), aeroporto (81%), hospedagem (80,6%) e informação turística (77,2%). Ao todo, 3,06 milhões de brasileiros visitaram as cidades-sede durante o Mundial.

O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, manifestou condolências pela morte dos operários na construção dos estádios e de dois jornalistas argentinos em acidentes em São Paulo e Minas Gerais. O ministro fez um balanço positivo da organização da Copa e ironizou as previsões pessimistas:

- Nem um jornalista, nem um turista foi mordido por cobra.

Aeroportos
O Brasil sediou uma Copa do Mundo nos últimos 30 dias, mas o evento não impactou muito os aeroportos do país. Números divulgados pela Secretaria de Aviação Civil (SAC), pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) ao longo das últimas semanas mostram que, no geral, o movimento não fugiu do normal e o índice de atrasos ficou dentro do satisfatório. 

Mas houve exceções, especialmente nos aeroportos das cidades-sede nos dias em que elas receberam jogos, e no caso dos voos fretados.

A Copa começou, inclusive, com um movimento abaixo da média. Em 12 de junho, o primeiro dia da Copa, passaram pelos 20 principais aeroportos do Brasil 434,4 mil pessoas e 3.686 aeronaves. Segundo a SAC informou em 13 de junho, a média esperada para esta época do ano é de 500 mil passageiros por dia. Nos dias seguintes, a movimentação foi maior, mas ficou dentro da normalidade. A média diária da primeira semana foi de 471 mil passageiros.

Nas semanas seguintes, o movimento aumentou. Foram 487 mil por dia, em média, na segunda semana de competição, e 507 mil na terceira. Na quarta semana, 495 mil. O recorde foi no dia 3 de julho, véspera dos primeiros jogos das quartas de final, quando 548 mil pessoas passaram pelos principais aeroportos brasileiros.

No balanço desta segunda-feira, a SAC informou que os 21 aeroportos que atenderam as demandas da Copa tiveram um movimento de 16,74 milhões de passageiros.

O ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Moreira Franco, destacou que o tempo de restituição de bagagem em voos internos durou, em média, oito minutos e 36 segundos. Já nos voos internacionais, foram 28 minutos e 18 segundos. O tempo médio de inspeção no raio-x foi de dois minutos e 13 segundos. Já o índice de atrasos (voos que partem mais de 30 minutos depois do previsto) foi 7,03%. São considerados satisfatórios índices de até 15%.

- Se tivemos condições de atingir esse índice (na Copa), não temos nenhuma razão para não garantir aos brasileiros esses patamares.

Embora os índices de atrasos tenham ficado dentro do satisfatório, alguns aeroportos foram mais problemáticos, como os de Cuiabá e Porto Alegre. Boletins divulgados pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ao longo das últimas semanas mostram que, em oito dias, os atrasos foram superiores a 15% em Cuiabá. No caso de Porto Alegre, foram sete dias.

Nesta segunda, Moreira Franco trouxe informações diferentes daquelas divulgadas anteriormente pela SAC. 

Em 13 de junho, boletim da SAC informou que, no dia anterior, quando houve a abertura da Copa, 434,4 mil pessoas haviam passado pelos principais aeroportos brasileiros, concluindo: “o número está abaixo da média esperada para esta época do ano, de cerca de 500 mil passageiros por dia”.

Na semanas seguintes, o movimento aumentou, mas ainda ficou dentro da normalidade. A média diária da primeira semana foi de 471 mil passageiros. Foram 487 mil por dia, em média, na segunda semana de competição, 507 mil na terceira, 495 mil na quarta. O recorde foi no dia 3 de julho, véspera dos primeiros jogos das quartas de final, quando 548 mil pessoas passaram pelos principais aeroportos brasileiros.

Nesta segunda, o ministro informou que os 21 aeroportos que atenderam as demandas da Copa tiveram um movimento de 16,74 milhões de passageiros, acima dos 15 milhões da mesma época no ano passado. Disse ainda que, antes da Copa, os recordes tinham sido verificados em 28 de fevereiro deste ano, no Carnaval, quando 467 mil passageiros passaram pelos aeroportos, e em 20 de dezembro do ano passado, com 420 mil passageiros.

- Nós podemos dizer com muito orgulho, com muita alegria que a infraestrutura aeroportuária brasileira conseguiu atender adequadamente o maior evento de futebol do planeta. Eu fui criado querendo a celebração. Foi um fato que se deu não apenas pelos investimentos da Copa nos aeroportos das capitais, mas por uma política que visa colocar a aviação civil em outro patamar - disse Moreira Franco.
Comunicações

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, destacou os números do setor, como as 15.012 antenas de telefonia móvel 3G e 4G instaladas nas cidades-sede e as 4,4 milhões de ligações telefônicas realizadas nos estádios.

- Foi montada uma rede de pouco mais de 15 mil km de fibras óticas, toda ela interconectada em todos os estádios, campos de treinamento, comitês de imprensa, todos os locais onde foi necessária a transmissão. 

Tivemos um trabalho bem sucedido, com 527 horas de transmissão. Não tivemos nenhuma interrupção. Os estádios tinham pelo menos duas redes operando separadamente. Se houvesse acidente em uma, a outra tinha condição de resolver o problema - disse Paulo Bernardo, destacando que foram instadas antenas de 2G, 3G e 4G em todos os estádios.

Ele disse ainda que os estrangeiros não tiveram problemas para comprar chips e fazer roaming internacional.

Segurança
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também disse que o país venceu as previsões negativas e teve uma estrutura de segurança exemplar, que já estaria até servindo de referência para a polícia de outros países. Ao todo, 59.523 homens das Forças Armadas trabalharam na segurança do evento: 13.125 da Marinha, 38.233 do Exército e 8.165 da Aeronáutica. Além disso, 61 helicópteros e outras 77 aeronaves foram usadas durante a Copa. Segundo ele, o governo federal R$ 1,113 bilhão em equipamentos e na estrutura das forças policiais. Toda essa estrutura deverá ser utilizada para reforçar a segurança nas estradas, vigilância das fronteiras e também na segurança das Olimpíadas de 2016. Segundo ele, o governo conseguiu um desconto de 39,7% de desconto na compra de equipamentos. O dinheiro que sobrou foi reinvestido na compra de mais equipamentos.

Cardozo também destacou a integração entres as forças de segurança federais e estaduais. Segundo ele, 176.579 policiais e bombeiros participaram da segurança da Copa.

- O legado maior é o rompimento do isolacionismo dos órgãos de segurança - disse Cardozo.

Atendimentos na área de saúde
O Ministério da Saúde informou que foram feitos 17.042 atendimentos dentro e fora dos estádios, o que inclui ainda o entorno dos locais de competição, fan fests e outros locais de grande concentração de turistas. Do total, 7.055 atendimentos ocorreram nos estádios. Em 192 casos, foi preciso fazer remoção para unidades de saúde. As queixas mais comuns de quem passou mal foram dor de cabeça, mal de estar súbito, hipertensão, lesões, torções e quedas de baixa gravidade. Os números são do Centro Integrado de Operações Conjuntas da Saúde Nacional (CIOCS), do próprio ministério.

O ministro da Saúde, Arthur Chioro. ressaltou que não houve epidemia de dengue ou outras doenças durante a Copa, como chegou a ser cogitado. Segundo ele, os casos de dengue tiveram uma redução de 57% na comparação com o mesmo período do ano passado.

O governo divulgou nesta segunda-feira o balanço da Copa do Mundo. Além da presidente Dilma, 16 ministros participaram do evento: José Eduardo Cardozo (Justiça), Celso Amorim (Defesa), Luiz Alberto Figueiredo (Relações Exteriores), Arthur Chioro (Saúde), Edison Lobão (Minas e Energia), Mirian Belchior (Planejamento), Paulo Bernardo (Comunicações), Aldo Rebelo (Esporte), Vinicius Lages (Turismo), Gilberto Occhi (Cidades), Moreira Franco (Secretaria de Aviação Civil), Luíz Inácio Adams (Advocacia-Geral da União), José Elito (Gabinete de Segurança Institucional), Thomas Traumann (Comunicação Social) Ideli Salvatti (Direitos Humanos) e Aloizio Mercadante (Casa Civil).

Em balanço, governo federal diz que 'Brasil ganhou a Copa'

• Dilma afirma que País venceu 'imenso desafio' de organizar Mundial

Nivaldo Souza, Ricardo Della Coletta e Rafael Moraes Moura - Agência Estado

A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta segunda-feira que o governo brasileiro conseguiu vencer "o imenso desafio" de organizar a Copa do Mundo. Em evento no qual foi apresentado um balanço institucional do Mundial, a presidente destacou a hospitalidade do brasileiro em receber turistas estrangeiros. "O brasileiro mostrou toda a sua capacidade de bem receber", disse. "O povo provou que era capaz de não só fazer a Copa das Copas, mas também de enfrentar esse desafio que é perder (para a Alemanha)", afirmou.

A presidente também aproveitou o momento para rebater os críticos que apontavam um cenário negativo para o evento, apesar da derrota da seleção brasileira para a campeã Alemanha. "A gente dizia que ia ter a Copa da Copas. Pois bem, tivemos a Copa da Copas, sem tergiversar um problema que foi o nosso jogo contra a Alemanha", declarou.

O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, afirmou que os prognósticos de que os estádios não ficariam prontos a tempo para a Copa do Mundo não se concretizaram e apresentou uma série de dados sobre o evento. Ele começou sua fala criticando manchetes de jornais e revistas que apontavam para falhas e atrasos na organização do evento. De acordo com Mercadante, mais de 1 milhão de turistas estrangeiros vindos de 202 países visitaram o Brasil.

Mercadante também ressaltou que o evento esportivo mobilizou 177 mil profissionais de segurança pública, defesa e inteligência e não houve nenhuma falha na rede de fornecimento de energia para os jogos. "Nós perdemos a taça, mas o Brasil ganhou a Copa", resumiu, destacando que o povo brasileiro soube tratar os visitantes e festejar "num clima receptivo".

Por último, Mercadante afirmou que houve ampliação de cerca de 350 mil metros quadrados em terminais de passageiros. Até 30 de maio, os investimentos realizados em aeroportos chegaram a R$ 8,78 bilhões. Na área de mobilidade, o ministro ressaltou que foram construídos 130,9 quilômetros de corredores de ônibus e de BRTs (sigla em inglês para "Bus Rapid Transit").

Dilma voltou a citar um samba ao comentar a derrota brasileira na Copa. "Eu acredito que tudo na vida é superação e acho que aquela frase do Paulo Vanzolini, ''levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima'', que eu coloquei no meu Twitter, é um exemplo de que temos de ter presente diante do que aconteceu. Acho que nesses tempos de reunião dos Brics (em Fortaleza), lembro aquele provérbio chinês de que a derrota é a mãe de todas as vitórias", afirmou

Gil Castello Branco: O legado dos 7 x 1

• Oportunismo por parte das autoridades teve como finalidade descolar as derrotas contundentes do projeto de reeleição

- O Globo

O talento de Carlos Drummond de Andrade vai além da capacidade de transformar palavras em arte. Na semana passada, atordoado com os 7 x 1, reli a crônica “Perder, ganhar, viver”, publicada há 32 anos, na derrota do Brasil para a Itália, no Mundial de 1982. No texto, o poeta retratou a frustração que tomou conta do país, comparável à que nos envolveu agora, nas goleadas impostas por Alemanha e Holanda.

A respeito da reação dos políticos, Drummond escreve: “...Vi a decepção controlada do presidente, que se preparava, como torcedor número um do país, para viver o seu grande momento de euforia pessoal e nacional, depois de curtir tantas desilusões de governo; vi os candidatos do partido da situação aturdidos por um malogro que lhes roubava um trunfo poderoso para a campanha eleitoral; vi as oposições divididas, unificadas na mesma perplexidade diante da catástrofe que levará talvez o povo a se desencantar de tudo, inclusive das eleições...” Nada tão atual.

Horas depois do maior atropelo da seleção brasileira em cem anos, os políticos entraram em campo e jogaram para a arquibancada. A presidente da República deu entrevista à CNN sobre a necessidade de renovação do futebol brasileiro e concluiu que “o Brasil não pode mais continuar exportando jogador”, sem explicar como irá aprisionar as jovens revelações ou repatriar Neymar, Thiago Silva, David Luiz e outros. Pelo que imagino, será mais difícil do que congelar as tarifas de energia ou o preço da gasolina. O jornalista Franklin Martins, responsável por um dos blogs da campanha de Dilma, jogou no colo da CBF, de José Maria Marin e Ricardo Teixeira, a conta do vexame, mas exagerou na dose a ponto de a “chefa” reclamar do tom. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, defendeu “intervenção indireta”, mal explicada. O mais curioso é que essas propostas só agora tenham vindo à tona, apesar de o Ministério do Esporte existir desde 2003, inclusive tendo na sua estrutura, a partir de 2009, a Secretaria Especial de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor.

Mudar as leis, porém, depende do Congresso Nacional e, nesse sentido, o projeto de lei original que lá se encontra é do deputado Vicente Cândido (PT/SP), por coincidência vice-presidente da Federação Paulista de Futebol para a região metropolitana e o ABCD. No bojo, muito mais sobre a anistia das dívidas fiscais bilionárias dos times de futebol do que sobre a responsabilização dos dirigentes e entidades esportivas. Cá entre nós, o surto de oportunismo por parte das autoridades governamentais teve como única finalidade descolar as derrotas contundentes da seleção do projeto de reeleição da candidata-presidente. Afinal, as mazelas do futebol brasileiro e a patota que o comanda são conhecidas há muitos anos.

Em 2001, a CPI da CBF-Nike, presidida justamente pelo então deputado Aldo Rebelo, desvendou esse esquema de grandes negócios que enriquece cartolas à custa da penúria dos clubes, transforma jogadores em mercadoria e destrói a seleção. No livro que escreveram sobre a CPI, os deputados Aldo e Silvio Torres entraram de sola na cúpula do futebol brasileiro:

“...São milhões de dólares que rolam em contratos obscuros e desaparecem. Quanto maiores os contratos, mais endividados ficam a CBF, as federações e os clubes, enquanto fortunas privadas formam-se rapidamente, administradas em paraísos fiscais de onde brotam mansões, iates, e se alimenta o poder de cooptação e de corrupção.”

Apesar dessas constatações, o que se viu nos últimos 13 anos foi mais do mesmo. Como as mudanças dependem do Congresso Nacional, que neste ano praticamente já encerrou as suas atividades em função das eleições, essa tal “reformulação do futebol brasileiro”, decorrente do “legado dos 7 x 1”, ficará para o próximo governo.

O importante, neste momento, é mudarmos o disco. Pior do que a seleção de Felipão é a conjuntura da economia. O crescimento econômico em 2014 será de 1%, se tanto. A inflação acumulada em 12 meses estourou o teto da meta de 6,5%, mesmo com os preços administrados represados. O déficit em conta-corrente (diferença entre importações e exportações de bens e serviços) acumulado até maio já alcança 4,3% do PIB. Sem as “mágicas contábeis”, o superávit primário (necessário para o pagamento dos juros da dívida pública) é nulo. Ao que parece, está na hora de realizarmos “a eleição das eleições”.

Desta forma, volto a Carlos Drummond de Andrade: “Foi-se a Copa? Não faz mal. Adeus chutes e sistemas. A gente pode, afinal, cuidar dos nossos problemas.”

Gil Castello Branco é economista e fundador da organização não governamental Associação Contas Abertas

“A ‘Copa das Copas’ não aconteceu”

- ITV

Dilma Rousseff praticamente se livrou da taça ontem na cerimônia de premiação da campeã Alemanha, na tentativa de evitar vaias e apupos. Mesmo levando três segundos para passá-la às mãos do capitão Philipp Lahm, não conseguiu. Com a mesma velocidade, o governo petista quer agora dar um jeito de virar a página da Copa do Mundo, decretando seu sucesso absoluto. Devagar com o andor: política, como futebol, não se ganha no grito. A “Copa das Copas” não aconteceu.

O Mundial realizado novamente no Brasil depois de 64 anos teve muito de positivo. Mas, principalmente, pelo que ocorreu dentro das quatro linhas dos gramados. O sucesso decorreu especialmente do futebol organizado, planejado e globalizado jogado pela maior parte das 24 seleções que vieram disputar a taça.

É deste futebol vencedor que o governo petista agora quer afastar nossos bons jogadores, com sua proposta de criar barreiras para impedir a exportação de talentos para o exterior. Seria uma maneira, segundo disse a presidente na semana passada, de encher estádios – os mesmos que estão fadados a se tornar uma manada de elefantes brancos em virtude da megalomania exibida pelos petistas na organização da Copa.

Trata-se de mesma visão isolacionista e intervencionista que marca muitos aspectos da atual gestão. Tal vezo colide com a constatação de que um dos motivos de a Copa ter tido futebol tão exuberante e equilibrado foi o fato de todas as seleções serem predominantemente formadas por jogadores que disputam alguns dos mais competitivos campeonatos nacionais e regionais na Europa. Já pensou se nossa seleção só pudesse contar com as estrelas do Brasileirão?

Bons resultados também foram notados em relação à organização do torneio, à realização das partidas e dos eventos paralelos. Neste caso, deve-se muito ao esforço de milhares de brasileiros, à simpatia e hospitalidade de outros tantos e à participação de diversas esferas de governo espalhadas em 12 cidades-sede. Querer atribuir-se senhor absoluto deste êxito, como tenta fazer o governo federal, é gol de mão.

Pior ainda é tentar, usando todos os seus poderosos instrumentos de propaganda, decretar no grito que tivemos a “Copa das Copas”. Entre uma bela Copa e uma Copa perfeita, vai distância tão grande quanto a que separa o futebol vencedor jogado pelos alemães da bolinha batida pela seleção do agora ex-técnico Luís Felipe Scolari.

O Brasil foi escolhido em outubro de 2007 para sediar o torneio. Nestes quase sete anos, teve todas as condições de transformar a oportunidade de abrigar uma Copa num motor de realizações, numa usina de produção de benefícios duradouros para a população brasileira. Os resultados não passam nem perto disso.

Os balanços da Copa devem se basear no cotejo entre aquilo que o governo se comprometeu a fazer e o que efetivamente fez até o torneio. O levantamento mais completo é o que foi feito pela Folha de S.Paulo no primeiro dia em que a bola rolou nos gramados brasileiros.

Dos 167 compromissos assumidos em 2010, apenas 53% foram finalizados a tempo do Mundial. Outros 41% estavam incompletos e seriam concluídos durante ou, na maior parte dos casos, depois da Copa. Um mês antes, também a Folha havia apontado que somente 10% das obras de mobilidade prometidas haviam sido concluídas.

A promoção do torneio custou mais caro que o previsto, chegando a R$ 26 bilhões, dos quais 84% saíram de cofres públicos via orçamentos ou linhas de crédito liberadas por instituições federais, segundo o Valor Econômico. Os gastos especificamente com estádios triplicaram em relação ao informado à Fifa.

Para garantir melhor desempenho durante o torneio, a organização brasileira também teve que se valer de esquemas especiais, como a escalação de homens do Exército para policiar vias públicas ou a decretação de feriados para esvaziar as metrópoles em dias de jogos. Teve, portanto, que recorrer ao improviso.

Passada a Copa do Mundo, cabe ao governo de turno responder por que não entregou o que prometeu. Cabe, ainda, explicar à população os motivos de ter feito tanto esforço para bem atender o público internacional durante 32 dias de festa e não exibir a mesma dedicação cotidiana para tornar o dia a dia de 200 milhões de brasileiros melhor. O fim dos jogos é só o início desta prestação de contas.

Membros da campanha de Aécio criticam balanço da Copa

• Aloysio Nunes e José Agripino consideram que o evento foi utilizado para a campanha da petista

Débora Álvares - Agência Estado

Integrantes da campanha de Aécio Neves (PSDB), principal adversário da presidente Dilma Rousseff nas eleições deste ano, criticaram há pouco a cerimônia balanço da Copa do Mundo realizada esta tarde. O vice na chapa tucana, Aloysio Nunes, e o coordenador geral da campanha, José Agripino (DEM-RN), classificaram o evento que contou com a participação de 16 ministros como "uso da máquina pública" para campanha.

"Ela não tem legitimidade para falar sobre desempenho da Copa. No caso dos aeroportos, por exemplo, ela aderiu às concessões porque sabia que não daria conta de entregar o que prometeu, o que precisava ser feito", avaliou Agripino, para quem a transmissão da cerimônia de hoje pela NBR configura claro uso da máquina pública em favor da campanha petista.

O mesmo raciocínio é defendido por Aloysio Nunes, que complementa: "Ela (Dilma) tem feito isso sistematicamente, mas acho que não pega. É um esforço público jogado fora. Ficaria melhor para ela governar", afirmou o vice de Aécio na disputa presidencial.

O coordenador da campanha tucana garantiu que o assunto Copa está superado e não terá mais espaço nos discursos de Aécio. "Eles (PT) querem provocar um debate, mas não vai colar", disse Agripino. Para o senador, a avaliação do governo da presidente Dilma "pode ser medido pela manifestação do público nos estádios" - ontem, a petista voltou a ser alvo de vaias e xingamentos durante a partida de encerramento do mundial e ao longo da cerimônia de entrega do prêmio aos melhores jogadores.

A crítica foi reiterada por Aloysio, que invocou a comparação que a própria presidente Dilma se fez. "Ela é padrão Felipão". O senador também dá finalizada as menções ao mundial. "A Copa foi boa não por causa da Dilma, mas do povo, dos jogadores, do futebol. Há um gasto generalizado nas obras e estádios superdimensionados, uma inflação. Mas não é hora de fazer uso disso", finalizou.

Pessimismo econômico afetará disputa, preveem especialistas

Guilherme Serodio e Alessandra Saraiva – Valor Econômico

RIO - O pessimismo com a economia terá peso expressivo na escolha do presidente da República em outubro. É o que concluem cientistas políticos ouvidos pelo Valor. Esse mal estar com o quadro econômico já se reflete nos índices inéditos de votos em branco e nulos apurados pelas pesquisas eleitorais, mas a direção que a insatisfação deve tomar ainda é uma incógnita.

Em maio, todos os indicadores de confiança do consumidor, indústria, serviços e varejo encerraram em queda, atingindo patamares equivalentes aos do auge da crise global de 2009. No mês seguinte, quase todos os índices repetiram a trajetória pessimista.

O fenômeno não parece ser passageiro. Para o superintendente-adjunto de ciclos econômicos da Fundação Getulio Vargas (FGV), Aloisio Campelo Junior, responsável pelo Índice de Confiança da Indústria (ICI), o patamar menos otimista do brasileiro deve permanecer até o fim do ano eleitoral. "Somente em 2015 devemos ter algum tipo de reação na confiança, com patamares semelhantes ao de antes da crise global em 2009", diz.

A continuidade do fenômeno pode reforçar a possibilidade de termos parcelas recordes de votos nulos e em branco nas eleições presidenciais desse ano, segundo o cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Paulo Baía. "Se observamos as pesquisas de intenção de voto mais recentes, podemos notar que os percentuais de votos em branco e nulos já estão acima de 15%, e até próximos a 20%, 25%. Nas décadas de 1980 e 1990, essa parcela não chegava a 10%, 15%", avalia. "De todas as campanhas que acompanhei, essa será a que encontrará o eleitor mais pessimista; e com o maior grau de insatisfação", afirma Baía.

À frente de pesquisas que relacionam indicadores econômicos ao voto, os cientistas políticos da FGV Cesar Zucco e Daniela Campello afirmam que a avaliação negativa da economia está tendo um peso exacerbado nas pesquisas no começo da campanha. Segundo eles, a economia tem pior avaliação do que os programas sociais do governo e o desempenho da presidente.

"A economia está puxando a popularidade da presidente mais para baixo do que deveria, considerando-se a avaliação do governo em outras áreas", diz Zucco. Para Daniela, "há um excesso de pessimismo que ainda pode se reverter. Os programas governamentais são o espaço que o governo tem para atuar [na campanha]".

Por sua vez, a economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Viviane Seda, responsável pelo Índice de Confiança do Consumidor (ICC), não acredita em reversão rápida do cenário pessimista atual. No âmbito do consumidor, nem mesmo a alta de 1% do ICC em junho - o único índice de confiança a apresentar melhora no mês -, pode ser comemorada, pois foi motivada por aumento de empregos temporários por conta da Copa, na análise dela.

Para Ricardo Ismael, cientista político da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio), o cenário atual da economia é bem mais adverso para o governo do que em 2010, primeira eleição de Dilma. Naquele ano, o país cresceu 7,5% e vivia uma fase de expansão do consumo das famílias. Na sua visão, é a oposição que deve ser favorecida com os dados negativos da economia. "A primeira constatação, bastante óbvia, é que aumentam as chances da oposição", afirma. "Mas há uma variável a favor da Dilma que é o desemprego baixo", ressalta.

O superintendente-adjunto de inflação do Ibre/FGV, Salomão Quadros, também alerta para o avanço da inflação nos primeiros meses de 2014. Isso, na prática, acabou fortalecendo ainda mais o pessimismo do eleitor com a economia. Ele considera que a inflação é um dos indicadores macroeconômicos mais próximos à percepção do brasileiro. "Quando os preços sobem, o brasileiro nota rapidamente", comenta.

Um dos aspectos que também contribuem para a piora do humor com a economia é a ausência de perspectiva de melhora. O consultor do Ibre/FGV, responsável pelo Índice de Confiança do setor de Serviços (ICS), Silvio Sales, comenta que, diferentemente de 2009, "fundo do poço" nas avaliações sobre a economia brasileira, não há, em 2014, percepção de que o quadro poderia melhorar em poucos meses. Isso porque a crise global daquele ano era o grande fator de influência - o que não é o caso esse ano, com cenário influenciado por fracos indicadores macroecônomicos.

Mas, na análise do especialista, o "efeito líquido" do pessimismo com a economia em outras frentes, como a da política, por exemplo, ainda não está muito claro. "O que podemos dizer é que o nível de desconfiança [do brasileiro] com o futuro aumenta", afirma.

Brasil entre o fiasco da Seleção e o jogo eleitoral da Copa

• Vaiada no Maracanã, a presidente convoca 16 ministros para celebrar o torneio e encorpar os argumentos que serão utilizados na disputa eleitoral. A oposição acusa o governo de fazer festa seletiva ao ignorar as promessas não cumpridas

João Valadares, Grasielle Castro e Étore Medeiros – Correio Braziliense

Um dia após o término do Mundial, a presidente da República, Dilma Rousseff (PT), escalou um time de 16 ministros para capitalizar eleitoralmente o sucesso da "Copa das Copas". No Centro Integrado de Comando e Controle em Brasília, por duas horas e meia, em rede de emissoras públicas, pelo menos 13 deles se revezaram no púlpito para apresentar, com embrulho de campanha eleitoral, o balanço do megaevento esportivo. Durante a explanação, ministros anunciaram o mote "imagina nas Olimpíadas", hashtag que já inunda as redes sociais. A oposição reagiu. O PSDB, por meio do Instituto Teotônio Vilela (ITV), divulgou nota com um balanço paralelo para mostrar que muito do que foi prometido pelo governo acabou não sendo cumprido.

O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, aproveitou o evento para fustigar, sem mencionar nomes, os dois principais adversários da presidente Dilma na corrida pelo Planalto, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB). "Agora, a presidente mandou uma carta para todos os jogadores, diferentemente de outros candidatos, e ela teve um comportamento sempre de solidariedade à Seleção, dando todo o empenho que nós podíamos dar para que ela fizesse o melhor", declarou.

A presidente abriu o evento afirmando que foi um grande desafio organizar e garantir uma Copa à altura do povo brasileiro. "Nós vivemos, nesses dias, uma festa fantástica. Mais uma vez, o povo brasileiro revelou sua capacidade de bem receber", disse. Dilma aproveitou a oportunidade para citar prognósticos que indicavam o atraso nos estádios e em outras obras de infraestrutura.

Segundo ela, as previsões de que os empreendimentos não ficariam prontos para o megaevento esportivo estavam erradas. "Diziam que o Maracanã, que foi palco ontem (domingo) de um momento belíssimo, só ficaria pronto em 2038. Enfim, não ficaria pronto nunca. Nós não teríamos aeroportos nem a capacidade de receber milhares e milhares de turistas vindos de outras partes do mundo. Derrotamos, sem dúvida, a previsão pessimista e realizamos, com a imensa e maravilhosa ajuda do povo brasileiro, essa Copa das Copas", emendou.

A exemplo do que fez na última semana, a presidente voltou a falar do resultado da Seleção dentro de Campo. "A gente dizia que ia ter a Copa das Copas, pois bem, tivemos a Copa das Copas. Tivemos, sem tergiversar, um problema, que foi nossa partida com a Alemanha. No entanto, eu acredito que tudo na vida é superação", completou. Para Dilma, o povo mostrou que também foi capaz de enfrentar esse desafio. Mercadante engrossou o coro. "Perdemos a taça, mas o Brasil ganhou a Copa como um grande evento que o mundo inteiro admirou", pontuou.

Quanto ao impacto econômico do evento, o ministro informou que ainda não foi feita uma análise ampla, mas citou os R$ 30 bilhões calculados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de São Paulo (USP). Mencionou ainda a possibilidade de um impacto equivalente a 1% do PIB, segundo estudo ainda não concluído e cuja fonte não foi revelada.

O ministro da Defesa, Celso Amorim, ressaltou a integração das forças de segurança. "A palavra para o legado que fica para o aspecto de defesa e segurança é integração. Foi mais do que coordenar. Foi integrar em todos os níveis, federal, estadual e, quando necessário, municipal", destacou.

"Vaias e apupos"
O site oficial do PSDB deu destaque à nota do Instituto Teotônio Vilela, do próprio partido, no qual ressalta o constragimento de Dilma ao entregar à taça à seleção alemã no Maracanã. "Dilma Rousseff praticamente se livrou da taça na cerimônia de premiação da campeã Alemanha, na tentativa de evitar vaias e apupos. Mesmo levando três segundos para passá-la às mãos do capitão Philipp Lahm, não conseguiu. Com a mesma velocidade, o governo petista quer agora dar um jeito de virar a página da Copa do Mundo, decretando seu sucesso absoluto", ressalta a nota.

A oposição afirma que o governo quer ganhar no grito. "Devagar com o andor: política, como futebol, não se ganha no grito. A "Copa das Copas" não aconteceu." O PSDB aproveitou a ocasião para divulgar uma espécie de contrabalanço. "Dos 167 compromissos assumidos em 2010, apenas 53% foram finalizados a tempo do Mundial. Outros 41% estavam incompletos e seriam concluídos durante ou, na maior parte dos casos, depois da Copa", diz o texto. O PSB do candidato Eduardo Campos não se manifestou sobre o assunto.

Estreia no Twitter
O candidato tucano à Presidência, Aécio Neves, estreou ontem conta no Twitter. Na primeira postagem, ele afirmou que ainda estava aprendendo a utilizar a rede social. "Amigos, finalmente estou no Twitter. Resolvi aprender a operar essa importante rede de diálogo. Aliás, ainda estou aprendendo", postou. Em seguida, publicou que o site oficial da campanha será lançado hoje.

Eduardo Campos defende passe livre para estudantes

• Durante debate em São Paulo, candidato prometeu discutir proposta em nova versão de seu programa de governo

• Conversa com jovens faz parte da estratégia do ex-governador para atrair eleitorado de sua vice, Marina Silva

Marina Dias

SÃO PAULO - O candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, resolveu adotar como bandeira de campanha o debate da principal reivindicação dos movimentos que capitanearam os protestos de junho: o passe livre para estudantes em todo o país.

A promessa foi feita nesta segunda-feira (14) durante evento com cerca de cem universitários de escolas públicas e privadas de São Paulo.

Ao lado da ex-senadora Marina Silva, vice em sua chapa na disputa pelo Palácio do Planalto, o ex-governador de Pernambuco se comprometeu a incluir a discussão do passe livre para o transporte público em seu programa de governo, que terá versão reformulada entregue no final do mês ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

A primeira cópia do documento traz soluções genéricas sobre mobilidade urbana e não faz nenhuma menção à implantação da tarifa zero.

A fixação dos valores das passagens de ônibus e metrô, porém, é de responsabilidade dos governos municipal e estadual, respectivamente. O que o presidenciável propõe é discutir a implementação do passe livre com medidas que podem ser financiadas pela União, como a desoneração de setores e a baixa do preço do combustível.

Segundo Campos, desde os protestos de 2013, essa é uma demanda "posta à mesa", mas "jogada para debaixo do tapete" pelos governantes.

No auge das manifestações de junho, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), decidiu apoiar o passe livre. O benefício seria custeado com o aumento de recursos para a educação, previsto no PNE (Plano Nacional de Educação). O projeto segue em tramitação.

O debate com universitários faz parte da estratégia da campanha de Campos para atrair o eleitorado de Marina Silva, concentrado principalmente entre os jovens de grandes centros urbanos.

Além de se comprometerem com a discussão do passe livre, os companheiros de chapa responderam a perguntas sobre segurança, saúde, educação, geração de emprego e combate às drogas.

Com duas horas de duração, a conversa foi gravada para ser utilizada no site da campanha e no programa de TV. O formato é reedição das rodas de conversa que Marina fazia 2010 e terá versões com mulheres e representantes da saúde e educação.

Candidato do PSB é sabatinado hoje em São Paulo

SÃO PAULO - Terceiro mais bem colocado nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República, Eduardo Campos (PSB) será sabatinado nesta terça (15), em evento realizado pela Folha, pelo portal UOL, pelo SBT e pela rádio Jovem Pan.

A entrevista com o ex-governador de Pernambuco será conduzida pelos jornalistas Ricardo Balthazar (Folha), Josias de Souza (UOL), Kennedy Alencar (SBT) e Patrick Santos (Jovem Pan).

A sabatina ocorre às 11h, no Teatro Folha (shopping Pátio Higienópolis, 2º piso, av. Higienópolis, 618, São Paulo), e terá transmissão ao vivo no UOL e no site da Folha.

Na quarta (16), o candidato Aécio Neves (PSDB), segundo mais bem colocado nas pesquisas de intenção de voto, será sabatinado.

Ainda não está confirmada a participação da presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição e primeira colocada nas pesquisas, na série de sabatinas com os principais presidenciáveis.

Aécio Neves inaugura ofensiva na internet com Twitter e portal

• Criação do site teve supervisão de Andrea Neves, irmã do tucano

Daniela Lima

SÃO PAULO - Meses após ter começado uma guerra jurídica para identificar seus detratores em blogs e redes sociais, o candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG), iniciou nesta semana uma ofensiva para ganhar força na internet.

Um dia depois de ter estreado seu perfil no microblog Twitter, o tucano lança, nesta terça-feira (15), o portal oficial de sua campanha.

Segundo aliados, o site, criado sob a supervisão de Andrea Neves, irmã de Aécio, apostará na interatividade e no "engajamento" dos eleitores para decolar.

Apresentado como coordenador digital da campanha do tucano ainda no início do ano, o ex-deputado federal Xico Graziano perdeu o protagonismo nas decisões sobre a área. Engenheiro agrônomo, Graziano foi presidente do Incra na administração de Fernando Henrique Cardoso, secretário da Agricultura no governo Mário Covas e secretário do Meio Ambiente no governo José Serra.

O site assinado por Graziano ainda na pré-campanha acabou retirado do ar. E, segundo tucanos, desta vez ele pouco palpitou na execução do portal oficial.

A assessoria do PSDB disse que Graziano está "à frente da operação de internet, que integra a estratégia de comunicação, comandada por Paulo Vasconcelos", marqueteiro de Aécio.

As estratégias para a entrada de Aécio no Twitter e o processo de criação do site foram guardados a sete chaves pela equipe de comunicação do presidenciável mineiro.

Toda a concepção do portal se deu em São Paulo, e os principais executores do projeto, de acordo com aliados, foram os publicitários Zuza Nacif e Mino Mazzamati.

Ambos divulgaram em suas páginas os tuítes de Aécio. "Amigos, finalmente estou no Twitter. Resolvi aprender a operar essa importante rede de diálogo", escreveu na sua primeira mensagem. Em seguida, ele postou uma "selfie". Em três horas, o perfil reuniu 39 mil seguidores.

Em panfleto, chapa de filho de Sérgio Cabral tem Aécio, e não Dilma

• Ex-governador declarou apoio à presidente; mesmo material omite nome de Cesar Maia

Marcelo Remígio – O Globo

RIO — A defesa em público da reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) feita pelo ex-governador Sérgio Cabral não se repete no material de campanha de seu filho Marco Antônio Cabral (PMDB), candidato a deputado federal. O peemedebista tem dividido com Marcelo Queiroz (PP) — que disputa uma vaga na Alerj — panfletos que pedem votos para Aécio Neves, candidato tucano à Presidência, apesar de o PMDB integrar a aliança nacional com o PT. No panfleto aparece ainda o governador Luiz Fernando Pezão, que diz ser Dilma sua candidata ao Planalto.

O material de propaganda política que começa a chegar às ruas do Rio tem mostrado que fidelidade não será o ponto forte dos palanques no estado. No mesmo panfleto de Marco Antônio, o espaço para indicação ao Senado, no qual deveria estar o nome do ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM), está vago. Cesar é o candidato da coligação do peemedebista. Embora tenha sido escolhido para a disputa, Cesar não foi um nome de consenso entre as 18 siglas da aliança de Pezão. Vice na chapa, o senador Francisco Dornelles é um dos caciques da coligação que defendiam o nome de Sérgio Cabral para o Senado.

Dornelles é do mesmo partido de Queiroz, que omitiu Cesar. O sumiço do nome do ex-prefeito também pode ser verificado em panfletos do deputado estadual André Corrêa (PSD), candidato à reeleição. O PSD, que está na coligação do PMDB, chegou a brigar pelo posto oferecido ao DEM. Por meio de sua assessoria, Marco Antônio Cabral informou que, em função das alianças proporcionais e majoritárias, há partidos na coligação do PMDB que apoiam Aécio e outros candidatos a presidente, como Pastor Everaldo (PSC).

Por isso, o nome de Dilma não está nos panfletos de sua dobradinha com Queiroz. O material foi feito pelo PP. Cesar não comentou seu desaparecimento dos panfletos.

Disputa judicial por vaga ao senado
O PSB anunciou nesta segunda-feira que vai recorrer à Justiça para conseguir a 1ª suplência ao Senado na chapa de Lindbergh Farias (PT), candidato a governador. O PSB já indicou o titular — o deputado Romário — e diz não concordar com o PCdoB na 1ª suplência, entregue pelo PT para a formação da coligação, que também tem o PV.

José Serra: Um homem honrado

• Há homens que admiramos não porque falam o que pensamos, mas porque falam o que pensam. Plínio se foi de bem com sua consciência

- Folha de S. Paulo

Morreu Plínio de Arruda Sampaio. Era um homem inequivocamente de esquerda sem nunca ter sido de fato marxista. Foi um democrata cristão no início de sua vida pública sem jamais ter sido um conservador. Sua personalidade complexa e aparentemente contraditória, que conheci bem, guardava uma notável coerência.

Concordasse eu com suas escolhas ou não --e é certo que, politicamente, estivemos mais próximos no passado do que em dias recentes--, tenho claro que Plínio rompeu barreiras políticas sempre por bons motivos, que nunca atenderam à sua conveniência pessoal. Há homens que admiramos não porque falam o que nós pensamos, mas porque falam o que eles pensam. Plínio se foi de bem com sua consciência, e aí está uma grandeza e uma paz merecidas.

A primeira vez em que ouvi falar dele foi na minha adolescência. Plínio era subchefe da Casa Civil do governo de São Paulo, e lhe coubera coordenar um plano de ação que orientaria os investimentos do Estado de 1958 a 1962, ano em que se elegeu com facilidade deputado federal pelo Partido Democrata Cristão.

No Congresso, foi relator do projeto de reforma agrária contemplado nas "reformas de base" do governo de João Goulart. Em abril de 1964, com o golpe militar, teve seu mandato cassado e seus direitos políticos suspensos por dez anos.

No exílio chileno, Plínio tornou-se técnico da FAO, num projeto de capacitação e pesquisa sobre a reforma agrária conduzido pelo governo democrata cristão de Eduardo Frei. Em Santiago, frequentar a casa de Plínio e Marieta era um dos meus hábitos preferidos em razão da acolhida de toda a família.

Depois da vitória da Unidade Popular, de Salvador Allende, no fim de 1970, ele se mudou para os EUA. Tornara-se funcionário do Banco Interamericano de Desenvolvimento. E foi lá que a família Sampaio nos acolheu em sua casa --a mim, mulher e dois filhos pequenos--, em meados de 1974, depois da prisão e perseguição que sofremos da ditadura do general Pinochet.

Após um mês e meio de hospedagem, fomos para a Universidade de Cornell, onde eu iria obter o doutorado em economia. Descobri que havia lá um mestrado em economia agrícola. Um pouco mais tarde, convenci Plínio a fazê-lo. Na pequena cidade de Ithaca, as duas famílias conviveram intensamente. Foi de lá que ele regressou ao Brasil, em 1976.

A partir de 1977, um grupo, do qual faziam parte eu, Fernando Henrique Cardoso, Francisco Weffort, Almino Affonso e Plínio começou a discutir a ideia de se criar um novo partido de esquerda. Plínio e Almino propuseram lançar a candidatura de FHC ao Senado nas eleições de 1978, a fim de aglutinar as forças que comporiam a nova legenda.

Pensava-se em atrair Lula, o dirigente sindical mais expressivo da época, que viria a participar da campanha de FHC naquele ano. Em 1979, fez-se uma grande reunião aberta no ABC para impulsionar a criação do novo partido. Ocorreu, porém, o oposto: de um lado, Lula defendeu a criação de um partido operário; do outro, os "autênticos" do MDB, Fernando Lyra à frente, defenderam a permanência no MDB como frente ampla da oposição ao governo do general Figueiredo.

Plínio engajou-se então na criação do PT, com o respaldo de setores da Igreja Católica. A história posterior é mais conhecida. Mas vale registrar um episódio: em 1988, ele foi pré-candidato a prefeito de São Paulo. Apesar de sua experiência, foi preterido por integrantes do aparato petista. Em 1990, deram-lhe a candidatura ao governo do Estado, quando a chance de vitória PT era nenhuma.

Em 2010, ambos candidatos à Presidência da República, fui inquirido por ele em vários debates na TV: firme, sem fazer concessões. Em vez de me chamar de "Serra", preferia o "Zé", o vocativo de uma amizade de tantas décadas. E fazia essa escolha não porque pretendesse me preservar das nossas divergências, mas porque um confronto também pode ser elegante.

Velórios são tristes. Velórios de pessoas de bem são especialmente tristes. Eu estava lá porque queria dignificar as nossas diferenças. Eu estava lá, sobretudo, porque queria dignificar a nossa amizade --as diferenças e a amizade de um homem honrado, com uma família adorável.

José Serra, 72, foi ministro da Saúde e do Planejamento e Orçamento (governo FHC), prefeito de São Paulo (2005-2006) e governador de São Paulo (2007-2010) pelo PSDB

Marco Antonio Villa: Montoro, pedagogo da política

- O Estado de S. Paulo

Amanhã, dia 16 de julho, completam-se 15 anos do falecimento de André Franco Montoro. Ele percorreu um caminho raro entre os políticos brasileiros: foi vereador, deputado estadual, deputado federal, senador, governador e ministro de Estado. Contudo nunca afastou o exercício da função pública da elaboração de ideias que tivessem aplicação prática na vida das pessoas. O fortalecimento da sociedade civil sempre foi uma preocupação central da sua ação, isso num país onde o papel do Estado foi superdimensionado, tanto pela direita como pela esquerda.

Montoro teve na democracia cristã do pós-guerra a sua matriz ideológica. E com base nesse pensamento agiu como um pedagogo da política, escrevendo, debatendo e formando militantes. Por onde passou foi deixando a sua marca. Nos dez meses em que esteve à frente do Ministério do Trabalho, durante o Gabinete Tancredo Neves, foi pioneiro no incentivo à sindicalização rural - tema, à época, explosivo - e criou o salário-família.

Na Câmara dos Deputados destacou-se na defesa dos trabalhadores e da democracia. Tanto que, após a extinção dos partidos políticos, em 1965, foi um dos primeiros a organizar o MDB. Cinco anos depois foi eleito senador, numa eleição marcada pelo medo, no auge do regime militar.

Nos anos de vida parlamentar foi um incansável propagador da integração econômica e cultural com a América Latina. De início foi voz solitária. Poucos se interessavam. Mas a pregação foi ganhando adeptos até ser incorporada à Constituição de 1988.

Assumiu o governo de São Paulo em março de 1983. O País estava em recessão - o produto interno bruto (PIB) caiu 2,9% - e com uma inflação anual de 211%. A economia estadual passava por uma profunda crise. O número de desempregados não parava de aumentar. E as finanças estaduais estavam em petição de miséria após o trágico quadriênio Maluf-Marin.

Organizou um secretariado de nível ministerial. Teve entre seus principais colaboradores (incluindo os bancos e empresas estatais paulistas) José Serra, João Sayad, Luiz Carlos Bresser-Pereira, Almino Affonso, Miguel Reale Júnior, Almir Pazzianotto, José Gregori, Paulo Renato e Paulo de Tarso, entre outros. Nomeou para a Prefeitura de São Paulo Mário Covas. Entendeu que na administração pública deviam ser escolhidos os melhores. E que o governador não devia temer a competência dos seus auxiliares, muito pelo contrário.

Pôs em prática os princípios defendidos desde os anos 1950. Fez da descentralização um dos carros-chefes do governo. Insistiu na tese de que o município é a base da democracia, da boa gestão e onde o cidadão vive. Fez o saneamento financeiro zerando o déficit orçamentário graças à austeridade nos gastos. Diversamente do governo anterior, deu à ética um papel central. Relacionou-se com a Assembleia Legislativa de forma republicana. Acentuou a necessidade da participação do cidadão nos negócios públicos. E foi o primeiro governador a ter preocupação (e ação) com o meio ambiente - basta recordar o tombamento da Jureia, onde Paulo Maluf queria construir duas usinas nucleares.

Conviveu com diversos movimentos grevistas. Reivindicações contidas à força pelos governos anteriores acabaram eclodindo. Soube buscar soluções harmoniosas em meio à tensão política. No tristemente célebre episódio da derrubada das grades do Palácio dos Bandeirantes agiu com moderação. Sabia que estavam em jogo a abertura democrática e o exercício da autoridade. Era uma provocação arquitetada pelos extremismos à direita e à esquerda. Tomou as decisões necessárias e saiu engrandecido.

A campanha das diretas teve início - efetivamente - no dia 25 de janeiro de 1984, no comício da Praça da Sé. Foi um ato de ousadia e coragem política. Poucos acreditaram no sucesso do comício. E a participação de 300 mil pessoas demonstrou a correta análise de conjuntura do governador Montoro. A partir daí, a campanha deslanchou. Foram realizados dezenas de atos por todo o Brasil. E em São Paulo, em 16 de abril, foi encerrada com o maior comício da História do Brasil.

A derrota da Emenda Dante de Oliveira não desanimou o governador. Tornava-se indispensável a união da oposição. Passou a articular uma frente de governadores. Era natural que fosse o candidato oposicionista no Colégio Eleitoral. Afinal, o PMDB de São Paulo tinha a maior bancada na Câmara dos Deputados, o presidente nacional do partido era paulista, governava o mais importante Estado da Federação e tinha sido eleito com mais que o dobro de votos do segundo colocado.

O interesse do País, porém, estava acima de qualquer veleidade pessoal. Montoro identificou no governador de Minas Gerais, Tancredo Neves, o nome ideal para unir a oposição e dividir o PDS, estimulando o surgimento de uma dissidência, essencial para obter a maioria no Colégio Eleitoral. E foi no Palácio dos Bandeirantes que Tancredo foi lançado candidato do PMDB à Presidência da República. Não deve ser esquecido que naquele momento, agosto de 1984, a sorte da sucessão presidencial não estava decidida. O País corria o sério risco de ter Paulo Maluf como presidente da República por seis anos e com poderes arbitrários garantidos pela desastrosa Emenda Constitucional n.º 1 de 1969.

Desiludido com os rumos do PMDB, foi fundador do PSDB, em 1988. Criou o símbolo do partido: o tucano. Foi um defensor do parlamentarismo. Mesmo adoentado continuou entusiasmado pela política. Morreu quando estava a caminho de um seminário no México.

O esquecimento de Franco Montoro é um ato perverso. Perverso para a jovem democracia brasileira, tão carente de exemplos que dignifiquem o compromisso com o interesse público. Perverso porque vivemos um momento em que abundam políticos profissionais e são cada vez mais raros os homens públicos.

Historiador

Merval Pereira: Responsabilidade fiscal nos clubes

- O Globo

A partir da discussão sobre o que fazer para reorganizar nossa estrutura futebolística, o primeiro passo parece ser a mudança a partir dos próprios clubes, que são a fonte de poder das federações estaduais, que por sua vez elegem a diretoria da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Não há como começar esse processo sem ser dessa base, dizem os especialistas, pois sendo uma entidade privada, a CBF não está sujeita a intervenções oficiais, protegida pela própria FIFA, que proíbe a interferência de governos e de tribunais que não sejam os da Justiça Esportiva.

Mesmo que a interferência do governo e dos políticos seja indesejável, será preciso repactuar as dívidas dos clubes com o governo para que reformulemos nossa estrutura clubística em novas bases.

Já existe na Câmara dos Deputados em Brasília um substitutivo, do deputado federal do PSDB do Rio Otávio Leite, que pode ser votado em breve, pois está pronto para ir ao plenário desde abril, depois de ser aprovado pelas comissões. Mas vem sofrendo a obstrução da base aliada do governo.

A proposta é ampla e representa importante avanço, a partir da renegociação da dívida dos clubes, mas com punições rigorosas, que podem chegar ao rebaixamento, para o não pagamento. O substitutivo já está sendo designado como Lei da Responsabilidade Fiscal do Esporte, numa alusão proposital à Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada junto com o Plano Real, que limitou as dívidas dos Estados e Municípios e impôs aos entes federativos hábitos financeiros saudáveis que até hoje vêm sendo respeitados, a despeito de diversas tentativas de burlá-la.

Não haverá anistia nem perdão das dívidas, mas uma renegociação dos débitos com o governo: INSS, IR, FGTS, Timemania e Banco Central. O montante único dos débitos seria refinanciado em 25 anos com a taxa TJLP, usada pelo BNDES para seus empréstimos. O total da dívida, excluídas as trabalhistas e os empréstimos que não entrariam nesse refinanciamento, é de R$ 3,3 bilhões aproximadamente.

A União teria uma arrecadação anual estimada em R$ 140 milhões, e com a unificação dos débitos haveria um documento único de arrecadação e a redução dos meios administrativos dos órgãos públicos que cuidam das dívidas.

O objetivo da LRFE de ter uma “gestão transparente e democrática” seria monitorado por várias medidas, como a apresentação obrigatória de Certidão Negativa de Débito (CND) ao início de cada competição, sob pena de rebaixamento.

Também o cumprimento regular de pagamentos dos contratos de trabalho dos jogadores e funcionários dos clubes seria fiscalizado. Os dirigentes seriam responsabilizados pessoalmente pelas dívidas dos clubes, e seria proibido o aumento do nível de endividamento depois da repactuação.

Haverá uma expressa proibição de antecipação de receitas de qualquer natureza que ultrapasse o fim do mandato do dirigente. E os mandatos de presidente serão limitados a 4 anos, com uma única recondução. Haverá ainda um Comitê de acompanhamento da execução das regras estabelecidas, formado por representantes dos clubes, dos jogadores, dos patrocinadores, da imprensa, do grupo de jogadores Bom Senso e do Poder Executivo.

A legislação prevê ainda a criação de um Fundo de Iniciação Desportiva na Educação, que teria recursos, entre outros, vindos de uma nova loteria e a instituição de um imposto sobre a venda de patrocínios da camisa de Seleção.

A necessidade de dar resultados financeiros e ter transparência nos gastos para reformar as dívidas, mas, sobretudo, a responsabilização pessoal dos dirigentes, obrigaria os clubes a uma profissionalização indispensável para uma nova etapa de reorganização do futebol brasileiro a partir de sua base, que são os clubes.

Dora Kramer: Palácio do Palanque

- O Estado de S. Paulo

O instituto da reeleição impõe um desafio legal (e moral) difícil de ser cumprido. Nem por isso deve deixar de ser perseguido por candidatos a um segundo mandato consecutivo: a separação dos atos de campanha dos compromissos de governo.

O limite da distinção entre uma agenda e outra é sutil, mas com boa-fé, com respeito ao jogo limpo, com um mínimo de discernimento sobre o momento em que se ultrapassam essas fronteiras e, sobretudo, com consciência sobre o significado da representação do cargo público, principalmente quando se refere ao conjunto da Nação, é possível o governante administrar a vantagem natural sem perder a estribeiras.

Pois a presidente Dilma Rousseff, que já tinha ficado perigosamente próxima de perdê-las na semana passada naquela megassolenidade via teleconferência de entrega de casas populares e promessas de construção de outras tantas unidades, em ato financiado com dinheiro público para ser usado no horário eleitoral, agora vai deixando desandar a carruagem.

Deu uma entrevista à TV Al Jazeera, do Qatar, simplesmente pedindo votos. "Eu acredito que o povo brasileiro deve me dar a oportunidade de um novo período de governo pelo fato de que nós fazemos parte de um projeto que transformou o País", disse.

Na condição de presidente de uma república em entrevista a uma emissora internacional, falando como representante de todo o Brasil, no exercício de seu posto, Dilma Rousseff apresenta-se como integrante de um grupo. A referência ao já notório "nós" pressupõe a existência do igualmente afamado "eles", um ente apartado do País.

Definitivamente, não são maneiras de um mandatário. Nem de candidato à reeleição na posse ética para o jogo. E o pior é que não foi um lapso. A presidente prosseguiu ao falar sobre os índices de pobres e miseráveis que passaram a integrar a classe média: "Nós transformamos a vida dessas pessoas".

Faltou completar, mas deixou implícito: e, por isso, devem por gratidão votar em "nós". A senhora Dilma Rousseff, talvez empolgada com a campanha eleitoral que agora se inicia, parece ter perdido a noção de que até o dia 1.º de janeiro de 2015 ainda é presidente do Brasil e pode vir a ser por mais quatro anos.

Enquanto estiver no exercício da Presidência representa todos os brasileiros. Ou entende isso, e assim se comporta, ou se enfraquecem os apelos ao respeito à instituição presidencial quando a chefe de governo é desrespeitada, por exemplo, em estádios.

No discurso de palanque ao microfone da Al Jazeera Dilma recitou o versinho marqueteiro: "Nós oferecemos o seguinte: quem fez, sabe continuar fazendo, enquanto quem quando pode não fez, não sabe fazer. É simples a opção".

Paralelo a isso, o Palácio do Planalto faz toda uma cenografia de neutralidade dizendo que há um esquema especial de comando de governo para evitar a ultrapassagem de limites.

Ocorre que os ministros escalados para ficar em Brasília, oficialmente com funções exclusivamente relacionadas com o governo, informalmente participam de decisões de campanha. Funcionarão como "consultores", alega-se.

Sabem o senhor e a senhora como é? Quando vários ministros no auge da campanha estiverem em pleno horário de expediente se movimentando para cima e para baixo, recebendo prefeitos, dirigentes partidários, reunindo-se para discutir como responder a esse ou àquele ataque da oposição, serão apenas atos de "consulta".

Não importa que todos eles façam isso a partir da estrutura de governo. Do Palácio do Planalto (do Palanque?), dos ministérios, a qualquer hora, de qualquer local. Na prática, está tudo liberado.

Como a partir de agora a presidente não pode inaugurar obras nem anunciar novas realizações de governo, faz uma agenda de entrevistas. No exercício do cargo de presidente. E nelas pede votos na condição de candidata.

Eliane Cantanhêde: O melhor do Brasil

- Folha de S. Paulo

Na hora dos balanços sobre a Copa, é necessário reconhecer: todo mundo (quase literalmente) achava que o Brasil levaria a taça nos gramados e daria um vexame fora deles, com manifestações, quebra-quebra, violência policial, aeroportos insuportáveis, estádios cheios de tapumes e uma onda de assaltos a nacionais e a estrangeiros. Ocorreu justamente o oposto.

Se a expectativa era muito favorável à seleção e bem pessimista quanto à capacidade do país em recebê-lo, no fim o time do Felipão é que se revelou um fiasco histórico, enquanto a Copa se afirmava como um sucesso para brasileiros e para torcedores das mais diferentes nacionalidades.

Como sempre se critica aqui o uso despudorado dos instrumentos e da visibilidade da Presidência da República para fazer campanha aberta, agora faça-se justiça: depois de meses engolindo críticas e dúvidas, Dilma, como presidente, acertou ao reunir uma penca de ministros para prestar contas, fazer um balanço, apontar o dedo na cara dos "pessimistas" e capitalizar o sucesso do maior evento desportivo do planeta.

Vá lá que obras de mobilidade urbana ficaram para "depois" e que houve atrasos e improvisos, com tudo entregue em cima da hora, incompleto e com problemas, mas, no geral, os aeroportos e estádios funcionaram a contento e o esquema de segurança foi integrado e aparentemente impecável.

E a "hospitalidade" do brasileiro, o clima do Brasil e o ambiente da festa fizeram o resto e definiram o êxito, como confirma o Datafolha.

Podemos até estar perdendo o carimbo de "país do futebol", mas, ainda assim, um mês de Copa do Mundo fez mais pela diplomacia e pela imagem do Brasil no mundo do que os quatro anos de política externa do governo Dilma Rousseff.

Conclui-se, pois, de uma vez por todas, que --apesar da corrupção, da violência, da malemolência e do espírito "macunaímico"--, o melhor do Brasil é mesmo... o povo brasileiro.

Luiz Carlos Azedo: O signo da mudança

- Correio Braziliense

Os políticos — como quaisquer seres humanos — se valem de signos para convencer a sociedade dos próprios objetivos. São empregados para capturar o voto do eleitor nas campanhas por meio da emoção, e não da razão. Cores, imagens, objetos, palavras, sorrisos, tudo é válido – desde que transmita alguma informação capaz de estabelecer sintonia entre o candidato e o povo, sem ter que dar muitas explicações.

Por exemplo, na sucessão de Juscelino Kubitscheck, em 1960, Jânio Quadros (UDN/PR/PL/PDC/PTN) usou uma vassoura como símbolo de campanha. Ela representava o combate à corrupção. O adversário, o marechal Henrique Teixeira Lott (PSD/PTB/PST/PSB/PRT), optou pelo óbvio: a espada, que representaria a ordem. Jânio foi eleito com 48% dos votos, contra 32% de Lott e 19%, de Adhemar de Barros (PSP), candidato cujo slogan era "rouba, mas faz".

A campanha eleitoral deste ano ocorre sob o signo da mudança, esse é o desejo de dois terços do eleitorado, insatisfeitos com a situação do país. A oposição tenta agarrar esse sentimento difuso na sociedade com as duas mãos: "Muda, Brasil", é o slogan do candidato a presidente da República do PSDB, senador Aécio Neves. Eduardo Campos, do PSB, vai na mesma linha: "Coragem para mudar".

Até a presidente Dilma Rousseff, que busca a reeleição, incorporou a palavra ao slogan de campanha: "Para o Brasil seguir mudando". O contorcionismo verbal foi a fórmula encontrada para tentar capturar esse desejo da sociedade e defender a continuidade do atual governo.

No começo do mandato, bem que Dilma tentou construir uma marca própria para o governo dela, mas não conseguiu: a "faxina" para fechar "os ralos" da administração levou um chega pra lá do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Resultado: a reeleição depende do legado deixado pelo antecessor. Onde está a mudança? Signos precisam ser traduzidos por símbolos.

A Copa das Copas
A reunião de balanço da Copa do Mundo feita por Dilma Rousseff ontem, que reuniu 16 ministros, ilustra a dificuldade do governo para construir sua marca. A capacidade gerencial de Dilma está sendo questionada pela oposição. O povo se queixa da saúde, da educação, dos transportes, da energia, da violência. A "Copa das Copas" seria uma resposta?

Alguém já disse que o sucesso é autoexplicativo. O Palácio do Planalto, porém, gastou horas de seus ministros para demostrar que foi muito competente e tem capacidade de realização. Pelo menos 13 autoridades se revezaram para contar o que fizeram na preparação e durante a realização dos jogos.

Foi o troco nos "pessimistas" que fizeram previsões alarmistas, dentro e fora do país, em relação aos jogos. Todo esforço subliminar, entretanto, foi para descolar do governo o fracasso vergonhoso da Seleção Brasileira, que levou uma goleada histórica da Alemanha por 7 x 1 na semifinal e perdeu a disputa do terceiro lugar para a Holanda por 3 x 0.

Para o governo, mais importante do que a taça perdida são os 12 novos estádios e as reformas dos aeroportos, a segurança dos jogos e a satisfação dos torcedores brasileiros e estrangeiros. A realização do evento que mais mobilizou o governo Dilma foi uma demonstração da capacidade do país. A autoestima do brasileiro foi alavancada pelo torneio.

As pesquisas realmente mostraram, durante a Copa, que a opinião pública havia virado em relação ao evento. A maioria dos que antes criticavam, passou a aplaudir o governo. O Palácio do Planalto aposta que esse sentimento não teria se alterado com as derrotas da Seleção, embora Dilma tenha sido vaiada e xingada novamente, desta vez no Maracanã. A falta de educação e o desrespeito da torcida presente ao estádio não abalou o governo, foi coisa da "elite branca".

Quem assistiu pela televisão à cerimônia na qual Dilma fez a entrega da Copa à seleção alemã não ouviu os apupos, porém, soube da vaia e percebeu que a presidente da República não estava feliz. De cara feia, em nenhum momento ela sorriu. Ou seja, o balanço oficial da Copa é uma coisa; a imagem de Dilma no domingo, outra. É aí que entra o tal do signo.

César Felício: Quem continua invicto na Argentina

• Para mandar no futebol, Cristina fez pacto com cartolas

Valor Econômico

É difícil encontrar um exemplo mais acabado de intervencionismo estatal em uma democracia do que a Argentina. A fragilidade institucional do país vizinho já foi exaustivamente discutida, mas há uma esfera no país vizinho em que o poder público pactua, negocia a entrega e o recebimento de apoio, mas não se assenhora de seu comando. Entre o peronismo e o futebol, há uma aliança para a perpetuação mútua de suas cadeias de comando, que não envolve subordinação de parte a parte.

Cristina Kirchner não enfrentou a vaia quase certa de seus compatriotas no Maracanã no domingo. A presidente argentina, tradicionalmente, só aparece em público para plateias cuidadosamente controladas, como era o caso da recepção ontem na sede da Associação de Futebol Argentino (AFA), em Ezeiza, na região metropolitana de Buenos Aires, onde a presidente proclamou que para ela a Argentina "ganhou a partida".

A seleção vice-campeã do mundo obteve a sua melhor performance nos gramados desde 1986, invicta no tempo regulamentar de cada jogo, mas a boa relação entre o governo e a cartolagem argentina é antiga, assim como não é nova, nem decorrente do péssimo desempenho nos gramados da seleção brasileira, a indisposição do governo da presidente Dilma Rousseff com a CBF.

Há um marco emblemático deste pacto de aço: 11 de agosto de 2009, quando o governo argentino anunciou o programa Futebol para Todos. A iniciativa é tema do livro "A Política dos Gols", editado este ano, que mostra na capa uma imagem de Cristina chutando a bola para o leitor. "O governo e a AFA se tornaram sócios estratégicos no uso de uma engrenagem política", afirmou o co-autor do livro, o jornalista esportivo David Cayón.

A AFA é comandada desde 1979 por Julio Grondona, vice-presidente da Fifa. Em 1991, Grondona encerrou a era da transmissão do futebol argentino pela rede de TV aberta. Garantiu exclusividade do campeonato para o conglomerado de mídia Clarín, dono do canal pago TyC. Dezoito anos depois, com os clubes argentinos em péssima situação financeira, Grondona e o Clarín começaram a negociar um aumento do valor do contrato.

Neste instante entrou em cena o kirchnerismo, que havia rompido com o Clarín no ano anterior. Grondona, do dia para a noite, transferiu o televisionamento para o governo, que passou a transmitir os jogos gratuitamente para a população pela TV pública. Em troca, passou a receber o dobro pelos direitos do que o Clarín pagava. Desde então, pelas contas de Cayón, a Casa Rosada já teria pago 7 bilhões de pesos argentinos para a AFA, algo como US$ 860 milhões pela taxa oficial de ontem. Os dividendos políticos foram mais do que compensadores.

"O governo garante não só audiência em um horário nobre, como controla a publicidade veiculada no evento. Durante a transmissão, os torcedores são informados sobre como Cristina está fazendo mais escolas e casas populares", comentou Cayón.

O uso do futebol como propaganda vai um pouco além disso: não se trata apenas de divulgar os feitos do governo, ou de fomentar o culto à imagem de figuras queridas ao sistema, batizando o primeiro e o segundo turno da competição com nomes como "torneio presidente Nestor Kirchner", ou "torneio Evita Perón".

A ofensiva também envolve atacar os adversários. Algo que foi feito na própria cerimônia de lançamento do programa, quando, ao lado de Grondona e do ex-jogador Diego Maradona, Cristina afirmou que a iniciativa punha fim ao "sequestro dos jogos" por parte de um ente privado, em um ataque ao Clarín que era alusão óbvia ao regime militar dos anos 70.

Em 2012, uma greve dos metroviários em Buenos Aires colocou o prefeito oposicionista da cidade, Mauricio Macri, em confronto com o governo. Macri foi responsabilizado pela paralisação em um anúncio do governo veiculado durante a transmissão de um jogo. A mesma arma foi usada contra o governador de Córdoba, José Manuel de la Sota, que brigava por financiamento ao seu sistema previdenciário.

"O monopólio da publicidade está sendo usado mesmo na transmissão de competições que não são organizadas pela AFA, como a Copa do Brasil", disse Cayón. Apesar de receber recursos públicos, uma diferença importante em relação à CBF, a AFA não tem suas contas auditadas. Passa pela entidade os repasses aos clubes dos direitos de transmissão, principal fonte de sobrevivência das equipes argentinas.

Existem nos clubes argentinos cartolas governistas, como o senador Alberto Fernández, do Quilmes; ou oposicionistas, como o sindicalista Hugo Moyano, recém-eleito presidente do Independiente. O principal comunicador do país, Marcelo Tinelli, uma espécie de Silvio Santos argentino, comanda o San Lorenzo, e Macri se lançou na política ao tomar o controle do Boca Juniors. Mas Grondona reina sem adversários desde os tempos da presidência de Videla. "Seu poder tem origem fora da Argentina e ninguém jamais conseguiu confrontá-lo daqui. Trata-se de um integrante da cúpula da Fifa", explica Cayón.

No Brasil, Ricardo Teixeira perdeu a presidência da CBF em 2012 exatamente ao ser atacado de fora para dentro. O cartola brasileiro resistiu durante mais de uma década a um bombardeio de denúncias de irregularidades na trincheira doméstica. Afastou-se da linha de frente de seu império quando o presidente da Fifa, Joseph Blatter, lhe soltou a mão. O fato de ter uma relação ruim com o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, e com a própria presidente decerto o fragilizou, mas parece ter sido o fator secundário em sua saída de cena.

Não há mais um Grondona no Brasil e nem um governo hiperpresidencialista como o de Cristina. Mas a CBF já providenciou sua sucessão, enquanto no governo brasileiro as gestões por uma reforma do futebol são apenas mais um lance de uma campanha. Talvez por isso, com a tranquilidade de quem sabe onde estará em 2015, o presidente eleito da CBF, Marco Polo del Nero, tenha dito em entrevista o "Estado de S.Paulo" na sexta-feira de que o interesse do governo em relação ao tema é bem vindo, mas "dentro de limites".