terça-feira, 7 de dezembro de 2021

João Doria* - O projeto do PSDB para consertar o Brasil

Folha de S. Paulo

Debate não deve ser entre Bolsonaro e Lula, mas sobre passado e futuro

As prévias do PSDB confirmaram a vocação democrática do partido e a necessidade de mudarmos o Brasil. Precisamos da ajuda de todos, da união do PSDB e da convergência com outros líderes e agremiações para elaborar, a partir de agora, um projeto nacional inovador e realista. Um projeto que vai consertar o Brasil, sem imposições, nem personalismos. Queremos conquistar corações e mentes para superar a polarização que tem servido para empobrecer o país.

De tudo o que debatemos nas prévias e das experiências que o PSDB semeou ao longo de sua história, podemos listar sete pontos iniciais, que iremos detalhar com especialistas:

1 - Acabar com a fome: o país que é celeiro do mundo não pode ter quase 30 milhões de pessoas vivendo com menos de R$ 9 por dia. Nosso primeiro olhar será para milhões de brasileiros que hoje se encontram na miséria. Defendemos programas de transferência de renda, sem furar o teto de gastos, com ensino integral para as crianças, programas de geração de renda e emprego. Com contas sustentáveis, fazer reformas não para gerar superávit primário, mas para garantir a inclusão dos mais pobres;

2 - Gerar empregos: emprego é consequência direta do investimento. A melhoria do rendimento médio do trabalhador está ligada à formação educacional e técnica e à competitividade do país. O mercado de trabalho mundial está em transformação, e nós temos que vencer o déficit de produtividade. Novos empregos significam também mais autonomia às famílias;

Luiz Carlos Azedo - Acordo de Bolsonaro com Centrão pode ser a Geni das eleições

Correio Braziliense

O choque entre o velho patrimonialismo e a modernização da vida nacional inicia um novo capítulo. De certa forma, o chamado orçamento secreto é a ponta desse iceberg

Lembram da música Geni e o Zepelim, de Chico Buarque de Holanda, composta para a Ópera do Malandro? “De tudo que é nego torto/Do mangue e do cais do porto/Ela já foi namorada/O seu corpo é dos errantes/ Dos cegos, dos retirantes/É de quem não tem mais nada”, diz letra, cujo refrão se tornou muito popular: “Joga pedra na Geni! /Joga pedra na Geni! /Ela é feita pra apanhar! /Ela é boa de cuspir! /Ela dá pra qualquer um! /Maldita Geni!”. No jargão dos políticos, virar uma Geni é uma espécie de filme queimado, um personagem antipatizado pela opinião pública que acaba isolado dos próprios aliados.

É mais ou menos o que está acontecendo com o Centrão, sem que seus artífices se deem conta, porque vivem numa esfera eleitoral onde o patrimonialismo e o voto de cabresto ainda têm muita força. O ministro da Casa Civil e presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI); e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), hoje concentram poder suficiente para manter a base do governo na Câmara, mas inversamente proporcional à imagem que estão construindo na opinião pública. Esse poder vem diretamente do controle que hoje detêm sobre o Orçamento, principalmente sobre a distribuição e a execução das chamadas emendas secretas.

Cristina Serra - Curió, Heleno e Bolsonaro

Folha de S. Paulo

O buraco que ficou em Serra Pelada é a metáfora perfeita do Brasil que deixa gente, terra, meio ambiente e Amazônia aniquilados para o proveito de poucos

Quem é mais velho lembra, quem não lembra basta digitar "Serra Pelada" para encontrar imagens do que um dia foi o maior garimpo a céu aberto do mundo, nos anos 1980, no sul do Pará. Fotografias de Sebastião Salgado mostram homens cobertos de lama, arqueados sob o peso dos detritos que tiravam das entranhas da terra, na esperança de enriquecer.

Pouquíssimos ficaram ricos com o ouro. A maioria morreu de doenças, tiro, faca ou foi soterrada. No lugar, restou uma imensa cratera e um lago de mercúrio. Esse inferno foi controlado com mão de ferro por um militar do Exército, o Major Curió, que participara da repressão à Guerrilha do Araguaia, nos anos 1970. Em denúncias do Ministério Público Federal, Curió é acusado de tortura e assassinato. Não por acaso, é amigo de quem? Sim, Bolsonaro.

Hélio Schwartsman - Língua dos anjos ou dos picaretas?

Folha de S. Paulo

Por que Deus, em sua suposta onipotência, teria criado uma marca religiosa que não nos permite diferenciar fiel e farsante?

Pessoas merecem respeito, mas só pessoas, não seus pensamentos. Uma ideia tola é tola não importa quem a tenha proferido. E o que dizer da glossolalia, a ideia de que fiéis, particularmente os de denominações pentecostais, podem, por inspiração do Espírito Santo, ganhar a habilidade de falar outros idiomas, naturais (caso em que o fenômeno ganha o nome de xenolalia) ou desconhecidos?

A epistemologia pode ser madrasta cruel. Como é virtualmente impossível provar que algo [o Espírito Santo] não existe num domínio tão amplo como o Universo, temos de nos contentar em analisar a plausibilidade do fenômeno. Inicialmente, religiosos acharam que os sons emitidos pelos fiéis eram outras línguas humanas. Há histórias de missionários que partiram para terras longínquas imaginando que conseguiriam miraculosamente se expressar no idioma ali falado. Mas, como mostra Robert Mapes Anderson, eles acabavam voltando, abatidos e desiludidos. Foi ganhando corpo então, entre os crentes, a ideia de que a sequência de balbucios era a própria língua dos anjos.

Joel Pinheiro da Fonseca - Existe cristofobia no Brasil?

Folha de S. Paulo

Discurso evangélico de vítima ganharia credibilidade com atos para coibir a intolerância à fé alheia

Se protestantes das mais variadas denominações já compõem mais de 30% da população brasileira, é natural e positivo que um membro desse grupo integre o STF (Supremo Tribunal Federal).

Que esse evento seja tão raro mostra que a religiosidade brasileira, assim como tantas outras coisas, tem também um recorte de classe. A comemoração efusiva da primeira-dama —se não tiver significados mais venais—, é uma mostra da importância da representatividade desejada por tantos milhões de brasileiros.

Muitos viram, riram ou se assustaram com Michelle "orando em línguas", prática comum em igrejas pentecostais. Esse tipo de reação alimenta o discurso de parte das lideranças evangélicas de que seus adeptos são uma minoria perseguida no país. Mas será mesmo?

O preconceito e a intolerância religiosos também obedecem a uma divisão de classes. Uma coisa é o que vale no discurso da elite cultural, e outra coisa é o que ocorre no dia a dia da maioria do país.

Entre a elite cultural —composta pela comunicação, jornalismo, academia, artes etc., ou seja, uma minoria letrada, com ensino superior—, há sim um menosprezo pelo mundo evangélico.

Pilhérias, espanto, repulsa ou até medo são algumas das reações que um culto evangélico mais animado pode produzir entre membros da classe, bem como comentários maldosos e um menosprezo intelectual pela pessoa. Isso tudo é real e negativo, podendo causar e perpetuar injustiças.

Eliane Cantanhêde – Bolsonaro, o boquirroto

O Estado de S. Paulo

Alguém pode dizer ao presidente para ouvir e pensar, antes de falar?

Em boca fechada não entra mosca, mas o presidente Jair Bolsonaro não para de falar absurdos que têm imenso impacto, ora na saúde e na vida das pessoas, ora na credibilidade do Brasil, ora diretamente na economia brasileira. Impressionante!

Por sorte, os brasileiros confiam nas vacinas, antes para o combate a doenças que foram praticamente erradicadas, agora para resistir à covid-19. Se tivessem seguido a orientação e o exemplo do presidente, a pandemia teria sido ainda mais drástica.

Por sorte também, o Brasil tem história, tradição, excelentes institutos, um bom sistema público e profissionais muito capacitados na área de saúde pública. Nossos epidemiologistas são incansáveis, um consolo.

Felipe Salto* - Zilda Arns, Dom Hélder e o Orçamento

O Estado de S. Paulo

O desafio da reconstrução e da modernização orçamentária demandará rapidez e acurácia

Em dezembro de 1991, Dom Hélder Câmara discursou em Pernambuco: “Que contradição, que negação clamorosa: cristãos (...) excluindo do acesso às mais elementares condições de vida muitos daqueles a quem proclamamos admitir como irmãos. (...) Será por incompetência? Será por inconsciência? Será por alienação? Ou será por impiedade mesmo?”. É a incompetência, Dom Hélder! Ela tem culpa maior. Muito foi feito a partir da redemocratização, mas há ainda uma situação que nos envergonha, que dói na alma de todos – cristãos ou não.

Dez anos depois, em 2001, no programa Roda Viva, na TV Cultura, Zilda Arns contou que a Pastoral da Criança gastava menos de um real (R$ 0,86) per capita ao mês. Em valores atuais, R$ 2,86 por criança. Os resultados colhidos – e a pastoral continua em operação – foram a redução da mortalidade infantil, a melhoria das condições de nutrição e a prevenção de uma série de doenças.

As práticas adotadas eram replicáveis e de baixo custo. As equipes visitavam as famílias para ensinar práticas de higiene, de aproveitamento de alimentos, pesagem dos recém nascidos, enfim, uma estratégia baseada na informação de boa qualidade e na orientação cuidadosa. Zilda Arns respondeu com ações concretas à angústia de Dom Hélder.

Ana Carla Abrão - Alta do crédito deve ser menor em 2022

O Estado de S. Paulo

Em 2022, o crédito deve crescer 7,3%, frente aos 12,7% esperados para 2021 e aos 15,7% de 2020

Crédito e atividade costumam andar juntos. A não ser por conta de intervenções pontuais (algumas desastrosas, outras bem-vindas), observa-se que o crescimento da economia e o dos volumes de crédito tendem a apresentar trajetórias muito parecidas. Em 2020 não foi assim, o que se explica pelos necessários estímulos ao crédito que, com o auxílio emergencial, atenuaram os efeitos da pandemia. Em 2021 o crescimento perdeu força, em particular no crédito para pessoas jurídicas, cuja base de comparação veio alta como consequência das ações e garantias do governo no ano anterior. Mas o crédito a pessoas físicas continuou assegurando um crescimento do crédito total em dois dígitos em 2021.

Para o próximo ano, a nota de crédito divulgada pelo Banco Central referente a outubro consolida o fechamento do ano e sinaliza o que deverá ser o próximo. Com 1,5% de crescimento nos saldos de outubro em relação a setembro de 2021, observa-se 16% de aumento na comparação anual. São R$ 4,5 trilhões, dos quais R$ 1,2 trilhão se destina a empresas em operações de descontos de faturas de cartão de crédito, capital de giro, financiamento às exportações. Na pessoa física, o crédito continua crescendo acima dos 20%, concentrado nas operações com cartão de crédito e no crédito pessoal. Há um outro tanto de crédito que, ainda hoje, se baseia em direcionamentos obrigatórios de crédito a taxas reguladas. Aqui o crédito rural se destacou.

Pedro Fernando Nery - Moronomics

O Estado de S. Paulo

Em seu livro, o papel do Bolsa Família parece subestimado pelo candidato

Gostaria de ter lido mais livros este ano. Tudo bem, não devo ter lido menos livros do que os jurados da categoria reportagem do Prêmio Jabuti. Mas, mesmo assim, queria ter lido mais. Achei, então, que não valeria a pena queimar uma leitura com o livro do Moro, mas a curiosidade me fez ir atrás.

O presidenciável defendeu o pagamento do Auxílio Brasil sem furar o teto de gastos, manifestando-se contrário à PEC dos Precatórios. Mas isso implica corte de dezenas de bilhões em outras despesas. Quais? Daí fui procurar no livro o que ele pensa.

Só que o livro não traz respostas como essa. É mais um esforço de relações públicas do que uma análise aprofundada dos problemas do País, lembrando os lançamentos do mercado americano. Lá é comum que pré-candidatos se apresentem com autobiografias simpáticas.

Andrea Jubé - Apoio do PSB implica “PAC do futuro”

Valor Econômico

Pacto de economia verde demandaria R$ 500 bi ao ano

Indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2011, “Lixo Extraordinário” apresentou ao mundo dois fenômenos: o trabalho do artista plástico Vik Muniz em um grande aterro sanitário na Baixada Fluminense; e o líder dos catadores de material reciclável do local, Sebastião Carlos dos Santos.

Conhecido como Tião Santos, ele fundou e se tornou o principal porta-voz da Associação de Catadores de Material Reciclável do Jardim Gramacho, em Duque de Caxias (RJ). Com a repercussão do filme, ele ganhou notoriedade, tornou-se consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e palestrante na área de economia verde.

Onze anos depois da fama e na esteira dos debates da Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP-26), Santos não tem diploma de economista, mas sabe fazer contas, talvez mais do que muitos gestores.

Luiz Schymura* - É preciso gerar trabalho de qualidade

Valor Econômico

É fundamental que importantes aprimoramentos institucionais entrem em vigor, como os do sistema tributário, do sistema educacional e da gestão do Estado brasileiro

Muitos dados e estudos têm sido apresentados para descrever a deterioração das condições do mercado de trabalho brasileiro. De fato, a realidade não é nada animadora. Para piorar, com a chegada da pandemia, um quadro que já causava preocupação ficou ainda mais crítico. Agora é aguardada a volta à “normalidade” em um ambiente transformado pela revolução tecnológica na estruturação do trabalho remoto.

De início, em relação ao período pré-pandemia, proponho a análise dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que classifica as ocupações do trabalho brasileiros em 127 categorias. De acordo com a Pnad entre o terceiro trimestre de 2012 e igual período de 2019, houve a criação de 4,4 milhões postos de trabalho. Salta aos olhos que em seis das 127 categorias profissionais, que empregam hoje cerca de apenas 18% do total da população ocupada (PO), foram geradas 5,25 milhões novas vagas. A Pnad classifica as seis ocupações da seguinte forma: “comerciantes e vendedores de lojas” (6,5 milhões de ocupados no terceiro semestre de 2021); “vendedores de rua e postos de mercado” (915 mil, na mesma data); “outros vendedores” (3,01 milhões); “condutores de automóveis, caminhonetes e motocicletas” (2,8 milhões); “cabeleireiros, especialistas em tratamento de beleza e afins” (2,1 milhões); e “cozinheiros” (1,3 milhão). É importante notar que as 121 categorias remanescentes agregadamente tiveram um desempenho pífio. Ao longo do período, destruíram liquidamente 850 mil postos de trabalho.

Luiz Gonzaga Belluzzo* - Terrivelmente evangélico

Valor Econômico

Constituição é a fonte das razões que devem ser compartilhadas por crentes e descrentes

Uma coincidência biológica me proporcionou a ventura de frequentar as lições de um juiz ao longo de 60 anos. Escolhi o discurso de 1965 proferido por ocasião de sua aposentadoria. Aposentou-se por temer a invasão de suas prerrogativas de juiz independente por um esbirro fardado das oligarquias golpistas. Nada de heroico, apenas submissão aos valores liberais e republicanos que guiaram sua vida desde os tempos da Faculdade de Direito de São Paulo.

Ele falou aos amigos que o homenageavam: “Preferi a tranquilidade do silêncio ao ruído das propagandas falazes; não suportei afetações; as cortesias rasteiras, sinuosas e insinuantes jamais encontraram agasalho em mim; em lugar algum pretendi subjugar, mas ninguém me viu acorrentado a submissões; dentro de uma humildade que ganhei no berço, abominei a egomania e a idolatria; não me convenceram as aparências, e para as minhas convicções busquei sempre os escaninhos. No exercício das minhas funções de magistrado, diuturnamente, dei o máximo dos meus esforços para bem desempenhá-las, e, ainda que em meio de uma atmosfera serena e compreensiva, em nenhum momento transigi com a nobreza do cargo; escapei de juízos temerários, tomando cautelas para desembaraçar-me das influências e preferências determinantes de uma decisão; e, se alguma vez, inadvertidamente, pequei contra a lei, vai-me a certeza de que o fiz para distribuir bondade e benevolência”.

Merval Pereira - Líder de fancaria

O Globo

O presidente Jair Bolsonaro empenha-se diariamente em desmontar a frágil institucionalidade brasileira, por palavras e atos. Muitas dessas atitudes são pura falta de educação, mas a maioria delas reflete uma necessidade de controle autoritário dos órgãos públicos com fins pessoais, sejam eleitorais ou simplesmente em defesa de interesses próprios.

Uma visão da máquina estatal amesquinhada pelos muitos anos de vida parlamentar à sombra de pequenos desvios, como as “rachadinhas” nos gabinetes próprios e dos filhos, que o seguiram na carreira parlamentar, herdeiros de um império eleitoral montado em bases frágeis, do ponto de vista democrático, e conspurcado por relações promíscuas.

A intervenção na Receita Federal é a mais recente decisão nesse sentido, com a saída do secretário José Tostes devido a uma divergência com a família Bolsonaro, que tem candidato para o cargo de corregedor do órgão, vago desde julho. Por que a família presidencial tem interesses desse tipo em diversos órgãos fiscalizadores, como a Receita, o Coaf, a Polícia Federal?

Míriam Leitão - O favoritismo de Lula em 2022

O Globo

A preocupação com a fome e a miséria voltou a ser um dos cinco mais importantes temas apontados pelo eleitor. “Isso é a primeira vez que acontece desde a eleição de 2002”, explicou Márcia Cavallari do Ipec, Inteligência em Pesquisa e Consultoria. Entre os eleitores que recebem até dois salários mínimos, 60% manifestam intenção de votar no ex-presidente Lula. “Eu não me lembro de ter visto um apoio tão intenso como esse, entre os mais pobres”, disse o cientista político Jairo Nicolau, da FGV. O primeiro turno será daqui a dez meses, mas os especialistas já sabem que a crise econômica estará no centro do debate.

Segundo Márcia, nas pesquisas feitas pelo Ipec, a saúde é apontada como um dos assuntos mais importantes, mas isso sempre aconteceu desde 1989. O desemprego é outro ponto. A preocupação com a fome e a miséria é para 21% o problema mais importante, enquanto o combate à corrupção, que em 2018 apareceu com 40%, perdeu força e está agora com 17%.

Carlos Andreazza - Como se faz um Mendonça

O Globo

André Mendonça é ministro do Supremo. Pode-se afirmar que tinha, no momento da sabatina, saber jurídico maior que o de Dias Toffoli quando de sua inquirição no Senado; ambos, um como ministro da Justiça, o outro, como guarda da Constituição, tendo usado a autocrática Lei de Segurança Nacional — que confunde a defesa impessoal de Poderes com a proteção personalista do poderoso de turno — contra o que consideraram ameaças institucionais à República, o primeiro para intimidar críticos de Jair Bolsonaro, o segundo com censura a uma revista, a Crusoé, cuja investigação lhe fora desagradável.

Aos que já reagem dizendo que não se podem comparar atos discricionários de Toffoli/Moraes, porque centrados em bandidos bolsonaristas, com os de Mendonça, cujo ministério abrigou dossiê contra servidores, pergunto se não terá sido essa relativização do bem, pela causa virtuosa, uma das máquinas a asfaltar a estrada por meio da qual sectários (também) reivindicam o direito de interpretar a Constituição enviesadamente desde o Supremo. Hein?

Um Toffoli, advogado de partido, sempre chama um fundamentalista advogado de capitão.

Isso para desde logo dizer que a dilapidação do STF não começou ontem e não deriva exclusivamente de despreparo; mas da compreensão da Corte como arena político-partidária, palco para pelejas ideológicas, logo terreno para a representação de grupos de interesse.

Aylê-Salassié Filgueiras Quintão* - Digerindo o futuro do presente

Passaremos o Natal comedidos e assustados, esperando a recessão de 2022 e envolvidos em uma luta política que nada tem a ver com a vida cotidiana e sofrida dos cidadãos. Não haverá nenhuma grande reforma, nem revolução. Apenas eleições. Será um espetáculo, com a possibilidade de gerar poucas esperanças e, concomitante, algumas consequências desastrosas. Nunca soluções.  Os brasileiros digerem mal o presente e não sabem discutir o futuro. 

A sociedade, tratada ainda, no campo da política, como "massas”, enreda-se fácil pelas conversas inócuas, pelas falsas agendas e explicações técnicas para algo que, por antecipação, já se sabe que não vai acontecer. Será mais um ano de inutilidades - à ser acrescentado às tais décadas perdidas -, de digestão de ódios. de frustrações e muitas agressões ao bom senso e à cidadania.  Não tem um culpado específico. Todos somos culpados, coniventes com esse ambiente. A realidade está em outra direção.

A tendência do Milênio destoa totalmente do que vamos assistir no próximo ano por aqui, com o agravante imediato, segundo o próprio Mark Zuckerberg, de que "se o Facebook não atualizar suas políticas e deixá-las nebulosas, existe uma probabilidade muita alta de se ter uma avalanche de desinformação e tentativas de interferência nas eleições" (Campos Mello, FSP, C-4, agosto, 2021). O brasileiro estará mais distante ainda do futuro que se anuncia com a chegada das novas gerações. 

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Cisternas do centrão

Folha de S. Paulo

Programa para o semiárido dá exemplo nefasto de politização da política pública

O programa federal de cisternas levou mais de 929 mil reservatórios d’água para pequenas propriedades do semiárido —cerca de 58 mil por ano até o início do governo de Jair Bolsonaro. Em 2019, antes da epidemia, foram 26,5 mil. Neste 2021, só foram instalados em torno de 2.700 equipamentos.

São sinais de que falta prioridade para um investimento de baixo custo destinado a melhorar as condições de vida em regiões pobres do país. Ou, talvez, de dificuldades impostas pela Covid, embora as empresas da construção civil tenham levado adiante um grande volume de obras muito mais complexas, driblando o vírus.

Mais certo é que o programa foi desestruturado por uma mistura de desordem institucional e politização indevida da política pública.

Reportagem da Folha mostrou que o governo federal passou a ignorar organizações sociais e conselhos locais que, no sentido amplo, supervisionavam o projeto. No lugar de uma iniciativa bem-sucedida e de prestígio internacional, fica o toma lá dá cá da baixa política.

Poesia | Graziela Melo -Poema tímido

Há,

na timidez

do meu

silêncio,

 

constante

ou esporádico,

 

noturnas

lembranças

incertezas

fortuitas!

Saudades

perenes

 

perambulam

dentro

de minha alma!!!

 

Circunspecta,

tímida,

impotente

Música | Teresa Cristina e Grupo Semente - Samba do amor (Paulinho da Viola)