Se a política fosse só o terreno da reta razão, essa reincidência espantaria, pela estupidez. Primeiro o lulo-petismo, depois o lava-jatismo, perderam o protagonismo para a serpente filo-fascista que se beneficiou daquela guerra entre santos com pés de barro. Nem a hipocrisia de direita, nem o cinismo de esquerda escaparam de efeitos não previstos da artilharia pesada disparada pelo bolsonarismo em 2018, usando munição de um arsenal montado em porões milicianos da antipolítica populista. Milícias, até então só digitais, que ocuparam um vácuo deixado pela desmoralização escandalosa, produzida pela Lava-jato, da antipolítica populista-empresarial que imperou no período anterior e que fora a fonte financiadora da farta – e, também, letal - munição oficial disparada contra adversários do governo nas eleições de 2014. Uns e outros terminaram entre os feridos, o lulo-petismo nas urnas de 2016 e 2018 e o lava-jatismo nas esgrimas palaciana, judiciária e interna ao MPF, transcorridas a partir de 2019. Tanto a política da confrontação como a da colaboração com o bolsonarismo tiveram destinos penosos. Penas análogas às cumpridas pela sociedade quase toda que, longe de ser inocente ou neutra, aceitou os termos de um duelo em que todos tinham a perder, exceto a malta ali autorizada pelas urnas a tomar de assalto o governo, desmontá-lo e, com seu bagaço, desferir torpedos contra as instituições.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
sábado, 16 de outubro de 2021
Paulo Fábio Dantas Neto* - A volta do mantra da corrupção ao palco mal iluminado do estrelismo chão
Fernando Schüler* - A onda encolheu?
Revista Veja
O mais provável é que logo poderemos voltar
a dizer que nossos políticos e empresários “são todos de centro, até de
centro-esquerda”
Houve um tempo em que a esquerda detinha
ampla hegemonia na vida brasileira. Isso vem de longe. No regime de 64, o poder
estava com os militares, mas não a hegemonia no mundo da cultura. Esta sempre
pertenceu à esquerda, e não vai aqui nenhum juízo de valor. Em seu Cultura e Política, do fim dos anos
60, Roberto Schwarz já observava que “há relativa hegemonia cultural da
esquerda. Ela pode ser vista nas livrarias de São Paulo e Rio, cheias de
marxismo, nas estreias teatrais…”. E conclui: “nos santuários da cultura
burguesa a esquerda dá o tom”.
Nos anos 80, com a redemocratização, a
esquerda consolidou sua hegemonia nos sindicatos, nas universidades, na feitura
dos livros didáticos, no mercado editorial. “Editoras grandes não topavam
publicar nossos livros”, me comentou tempos atrás um velho dirigente liberal,
“então recorríamos a editoras pequenas, e praticamente tínhamos de comprar toda
a edição.” Antonio Candido observou, em seu Direito à Literatura, de 1988, que era raro, naqueles
anos, topar com algum empresário ou político que arriscasse se dizer um
conservador. “São todos invariavelmente de centro, até de centro-esquerda,
inclusive os francamente reacionários.”
O auge dessa hegemonia se deu em algum
momento da virada dos anos 2000. A vitória de Lula, em 2002, foi uma expressão
disso, mas curiosamente também o início de uma lenta virada. Quando Lula sai do
poder, em 2010, com seus mais de 80% de aprovação, uma transformação silenciosa
vinha ocorrendo. Movimentos liberais, antes marginais, ganhavam espaço. Crescia
a presença de vozes “conservadoras” na imprensa. A longa permanência no poder
cobra seu preço, nesse caso acrescido pelo sabor amargo dos escândalos de
corrupção. “Todo império cai”, me observou, à época, um bom amigo. A esquerda
ocupou Brasília, mas perdeu muito de sua sintonia com a sociedade.
Uma “nova direita” ganhou expressão no país nos inícios dos anos 2010. Em parte, ela foi o resultado não intencionado da própria lógica de polarização empreendida por Lula na Presidência. A retórica excludente simbolizada pela repetição exaustiva do “nunca antes neste país”, que inundou o debate público. Lula consagrou, em grande estilo, a ideia do presidente-parte. Alguns gostam, outros não. Não julgo. A “nova direita” que hoje ocupa Brasília faz o mesmo, e diria que de um modo bastante menos sutil.
Ascânio Seleme - Ciro x Lula, a guerra prematura
O Globo
Todo mundo no PT sabia que seria
difícil evitar um confronto com Ciro Gomes, mas também não se esperava que
partissem do próprio PT as pedradas que desencadeariam a tormenta. O ideal era
que o confronto ocorresse apenas na campanha, talvez nos debates, na propaganda
de TV, nas entrevistas dos candidatos. Mas, não, os ataques que ajudam a
desmontar a história alternativa que o partido pretendia contar sobre os seus
quatro mandatos no governo do Brasil foram iniciados depois das agressões da
militância petista a Ciro na manifestação do dia 2 de outubro. Era tudo o que
ele precisava e queria. Imaginem se o quadro seria o mesmo se no palanque da
Avenida Paulista Gleisi e Haddad tivessem dado as mãos a Ciro.
A estratégia agora no PT, com o leite derramado prematuramente, é evitar danos maiores. A primeira ordem do comando, de não responder a eventuais ataques, caiu antes mesmo de ser implementada. A afirmação de que Lula contribuiu de maneira decisiva para o impeachment de Dilma, que passou anos falando mal dela e de seu governo, foi prontamente respondida por Dilma. E, mais grave, pelo próprio Lula, que mordeu a isca. Falou, de maneira inapropriada para um momento grave como este, que Ciro deve ter sequelas no cérebro em razão da Covid, mas não fez referência direta à acusação de que falava mal de Dilma. Talvez para não ser pego na mentira, vai que alguém gravou.
Hélio Schwartsman - Rua Jair Bolsonaro
Folha de S. Paulo
Depois que um lugar fica conhecido pelo
nome, mudá-lo gera confusão
Adorei a justificativa que Jair Bolsonaro
deu para vetar o projeto
de lei que batizava com o nome de João Goulart uma rodovia federal.
“Busca-se que personalidades da história do país possam ser homenageadas em
âmbito nacional desde que a homenagem não seja inspirada por práticas
dissonantes das ambições de um Estado democrático”, fez estampar o presidente
no Diário Oficial.
Se isso se firmar como jurisprudência, Bolsonaro assegura que seu nome nunca será dado nem a uma pinguela federal. Não há, afinal, nada mais “dissonante das ambições de um Estado democrático” do que o capitão reformado que trabalha incansavelmente para erodir as instituições e cujo governo trouxe enormes retrocessos em campos tão variados como meio ambiente, direitos humanos, educação, ciência.
Demétrio Magnoli - Os intocáveis
Folha de S. Paulo
Há alguma verdade na alcunha 'PEC da
vingança', mas corporação tenta seguir como sentinelas da lei autorizados a
agir fora da lei
“PEC
da vingança” –é assim que a corporação dos procuradores da República apelidou
a proposta de Emenda
à Constituição de reforma do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
Há alguma verdade na alcunha pois, desde
a desmoralização
da Lava Jato, a elite política articula-se para limitar
investigações sobre corrupção. Sobretudo, porém, o que os procuradores
pretendem é preservar seu estatuto de intocáveis –ou seja, de sentinelas da lei
autorizados a agir fora da lei.
A Constituição de 1988 fabricou uma
anomalia ao desenhar o atual Ministério Público (MP). Inexiste, no mundo,
instituição similar com prerrogativas tão amplas e tão pouca responsabilização
como o nosso MP.
Numa ponta, os constituintes atribuíram-lhe poderes excepcionais,
encarregando-o da tutela dos “interesses difusos” dos cidadãos. A função
permite ao MP lançar acusações judiciais amparadas exclusivamente nas crenças
ideológicas dos procuradores.
Na outra, isentaram-no de controles
externos, traçando um círculo aristocrático de impunidade em torno de seus
integrantes. O CNMP,
finalmente criado em 2004, funciona apenas como simulacro de controle externo
pois o próprio MP indica metade dos conselheiros.
O ser teratológico evoluiu como estufa ideal para a militância de procuradores engajados na missão da reforma da sociedade. Dentro do MP, nasceram partidos políticos com programas e associados, como o “MP Democrático”, sob influência lulopetista, e o “MP Pró-Sociedade”, de inspiração moro-bolsonarista.
Principais disputas estaduais ficam longe da onda antipolítica
Campanhas nos maiores colégios eleitorais
serão protagonizadas por candidatos com trajetória de mandatos eletivos
João Pedro Pitombo e José Matheus Santos /
Folha de S. Paulo
SALVADOR e RECIFE - As eleições
para governador nos maiores colégios eleitorais serão protagonizadas por
candidatos com experiência administrativa, trajetória de mandatos eletivos e
distantes do discurso
antipolítica das eleições de 2018, marcada pela ascensão do
presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Levantamento da Folha aponta que,
faltando um ano para as eleições, já são cerca de 50 pré-candidatos nos 10
estados com maior eleitorado do país. Dentre eles estão governadores, prefeitos
e senadores, além de ex-governadores e ex-prefeitos.
Eles vão para as urnas amparados pela
popularidade do trabalho de combate à pandemia e, em sua maioria, com os cofres cheios
para o lançamento de pacotes de obras e programas de
transferência de renda em estados e municípios.
Dos governadores dos dez maiores colégios
eleitorais, cinco vão concorrer à reeleição no próximo ano. Em sua maioria, são
governadores que chegaram ao poder em 2018 embalados por uma onda conservadora
e que terão 2022 como uma espécie de teste de fogo na trajetória política.
É o caso, por exemplo, do governador de
Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Ao contrário de 2018, quando disputou e venceu
sua primeira eleição, o empresário vai concorrer a um novo mandato amparado por
uma ampla coligação que deve incluir até antigos protagonistas da política
mineira, caso do PSDB.
Por outro lado, terá um cenário menos
favorável do que o de 2018, quando os adversários Fernando Pimentel (PT) e
Antonio Anastasia (PSD) viviam momentos de baixa. Desta vez, Zema deve
enfrentar um político em ascensão: o prefeito de Belo Horizonte,
Alexandre Kalil (PSD).
A situação é parecida no Rio de Janeiro e
em Santa Catarina, que também elegeram em 2018 nomes de fora da política
embalados pela onda conservadora. No Rio, o governador Cláudio Castro (PL), que
assumiu o cargo em definitivo em maio após o impeachment de Wilson Witzel, vai
disputar a reeleição.
Para isso, buscou um partido mais robusto. Filiou-se ao PL, legenda que ganhou força no Rio ao filiar 10 novos prefeitos, além dos senadores Romário e Carlos Portinho.
João Gabriel de Lima – O alicerce da democracia é o pesadelo dos autocratas
O Estado de S. Paulo
Cabe à imprensa estabelecer o alicerce de
fatos sobre o qual se ergue o debate de qualidade
Em vez de retórica pomposa, objetividade
inteligente. Esse é o estilo de Maria Ressa, a jornalista filipina que acaba de
ganhar o Prêmio Nobel da Paz, nas palestras que faz pelo mundo. Há dois anos,
na Califórnia, tive a oportunidade de vê-la ao vivo num evento do Google. Ressa
narrou alguns episódios em que o bom jornalismo do Rappler, site fundado e
dirigido por ela, incomodou o presidente Rodrigo Duterte, o autocrata de
plantão em seu país – é frequente que o bom jornalismo incomode autocratas.
Ressa não se colocou, no entanto, no papel
de heroína da resistência. Em vez disso, preferiu discorrer sobre três
vertentes de seu trabalho: apuração rigorosa, inovações tecnológicas e
sustentabilidade financeira. São três fundamentos inseparáveis. A tecnologia
ajuda o jornalismo a chegar a mais leitores, garantindo a independência
financeira do veículo. E a excelência do trabalho traz apoios de peso. Entre os
investidores do Rappler está Pierre Omidyar, criador do site ebay.
“Quando não há acesso aos fatos, não há confiança. E confiança é o que nos mantém unidos para resolver os problemas complexos que nosso mundo enfrenta atualmente”, disse Ressa em sua palestra na Califórnia. Tal máxima, repetida em várias entrevistas, resume com precisão o papel do bom jornalismo nas democracias. Cabe à imprensa estabelecer o alicerce de fatos sobre o qual se ergue o debate público de qualidade. Não existe democracia sem verdade factual, parafraseando o título de um ensaio escrito por Eugênio Bucci, colunista do Estadão e professor da Universidade de São Paulo.
Adriana Fernandes - Operação Lira
O Estado de S. Paulo
Com a aprovação pela Câmara das mudanças no
ICMS, Lira transferiu o problema para o Senado. Bolsonaro já fez isso antes
O presidente da Câmara, Arthur Lira, achou
que conseguiria com mão de ferro dar uma resposta rápida para conter a alta dos
combustíveis. Embalado pelas críticas generalizadas da população à escalada dos
preços, encampou o discurso do presidente Jair Bolsonaro de transferir a culpa
dos preços altos para os governadores.
Em seguida, apresentou uma cesta de
propostas “salvadoras”, que incluía não só mexer na cobrança do ICMS (tributo
recolhido pelos Estados), mas também criar um fundo estabilizador dos preços
com dividendos pagos pela Petrobras ao Tesouro e royalties de petróleo.
Não demorou muito tempo para ele perceber,
em conversas com especialistas de dentro e fora do governo, que o buraco era
mais embaixo.
Lira partiu, então, para pressionar a Petrobras mais uma vez. Numa ação com pouco ou quase nenhum efeito prático, perguntou se não seria o caso de privatizar a Petrobras.
Carlos Alberto Sardenberg - Fora da realidade
O Globo
Que o presidente Bolsonaro não tem a menor
noção dos principais assuntos nacionais, já se sabia. Mas a ignorância revelada
no comentário sobre as bandeiras tarifárias na conta de luz é avassaladora.
Deveria ter causado uma confusão enorme nos meios econômicos e políticos, mas
está passando batido. O pessoal sabe que é ignorância, apenas uma bobagem.
Foi o seguinte: o presidente se queixou das
agruras de governar — como se ele pegasse no batente — e comentou que havia
sido muito duro colocar a conta de luz na bandeira vermelha, que aumenta o
custo.
Errado. A Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel) está aplicando uma espécie de bandeira extraordinária, de
“escassez hídrica”, desde 1º de setembro, com vigência até 30 de abril de 2022.
Aumenta R$ 14,20 por 100 kWh, sendo a mais alta.
O objetivo: financiar a energia mais cara
fornecida pelas usinas termelétricas, hoje utilizadas intensamente devido à
falta de água nos reservatórios das hidrelétricas.
Reparem que a vigência foi estendida até
abril do ano que vem, justamente porque é preciso esperar todo o próximo
período de chuva para verificar se o nível dos reservatórios se normaliza.
Mas o presidente Bolsonaro entendeu, mal, que as recentes chuvas, esparsas, bastavam. Assim, ele disse que determinaria ao ministro da Energia, Bento Albuquerque, que voltasse à “bandeira normal”.
Dora Kramer - Senado em foco
Revista Veja
Lula tem destacado duas prioridades para
2022: conquistar uma bancada ampla de senadores e dar atenção especial aos
eleitorados de Minas e do Rio
Nas reuniões políticas que vem fazendo em
busca de reforço para a disputa de 2022, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva
tem destacado duas prioridades em seu projeto de voltar ao Palácio do Planalto:
conquistar uma bancada ampla de senadores e dar atenção especial aos
eleitorados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, não necessariamente elegendo
governadores do PT.
O entendimento exposto por Lula aos
interlocutores é o de que presidentes não precisam de governadores, ao
contrário, pois a dependência de verbas federais assegura harmonia política. Em
relação aos senadores é diferente: os presidentes precisam, e muito, de uma
base sólida no Senado. Para quase tudo de importante na República.
Passam pelo crivo desses parlamentares as indicações ao Supremo Tribunal Federal, a agências reguladoras, ao Ministério Público, a embaixadas, entre outras funções da alta administração federal. É atribuição dos senadores autorizar operações financeiras externas de interesse de todos os entes federativos. Também é deles a prerrogativa de julgar processos de crimes de responsabilidade envolvendo o presidente, o vice, ministros do Supremo, comandantes das Forças Armadas, o procurador-geral e integrantes dos conselhos nacionais de Justiça e do MP.
Ricardo Rangel - Cegos para o que mais importa
Revista Veja
Uma revolução está em andamento e ninguém
parece enxergar
O século XXI traz dois desafios
fundamentais, os maiores que a humanidade já enfrentou. O primeiro é ambiental:
todos os países, incluindo os maiores poluidores, sabem que ou bem o futuro
será ambientalmente sustentável ou bem não existirá. O Brasil se destaca como a
única exceção: nós ignoramos deliberada e olimpicamente a questão.
Ressalvadas as honrosas exceções de praxe,
nossa visão é a mesma de séculos atrás: o progresso advém da exploração (e da
espoliação) dos recursos naturais. Preservação ambiental e crescimento
econômico são incompatíveis.
Essa visão predatória e obscurantista,
dominante nas Forças Armadas, na esquerda tradicional, no centro fisiológico e
em boa parte do empresariado, chega ao paroxismo no governo atual, para quem
destruir o meio ambiente parece um fim em si mesmo. Às vésperas da COP26, subsidiamos
combustível fóssil e fazemos manobras contábeis para ocultar o aumento da
emissão de CO2.
Não vamos progredir destruindo a natureza. Mas vamos piorar a seca, reduzir a produtividade agrícola, prejudicar a produção de energia, perder as oportunidades da economia verde, sofrer sanções econômicas internacionais.
Marcus Pestana* - Cenários e horizontes para 2022
Três candidaturas, a meu ver, são irreversíveis: as de Bolsonaro, Lula e Ciro Gomes. Bolsonaro será candidato à reeleição, apesar de suas intenções de voto apontarem para seu piso de 20% e enfrentar uma rejeição altíssima para uma eleição em dois turnos. Alimenta com o discurso radicalizado sua bolha e vai trabalhar para tentar reverter a presente situação adversa. Da economia, não há sinais de que ocorrerá nenhum fato impactante. No campo social, o “Auxílio Brasil” enfrenta restrições fiscais graves e é eclipsado pelo desemprego e pela inflação. Perdeu espaço em seus principais temas de campanha em 2018. Moro levou consigo a bandeira do combate a corrupção. A agenda liberal modernizante de Paulo Guedes é hoje só um retrato na parede. Muitas pessoas que gostavam de Bolsonaro, o abandonaram afetados pela perda de parentes e amigos próximos na pandemia. Outros, se decepcionaram pela falta de dedicação ao trabalho governamental e pelo excesso de radicalismo. Não sei se haverá tempo para uma recuperação.
O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões
EDITORIAIS
Deter crescimento das favelas tem de ser
prioridade
O Globo
Popularmente podem ser chamadas de grotões,
invasões, alagados, vilas, palafitas, comunidades ou favelas. Na definição do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são “aglomerados
subnormais”. Independentemente da palavra, o conceito é o mesmo: ocupação
irregular para fim de habitação em área urbana, em geral caracterizada por
edificações precárias e carente de serviços públicos essenciais. Historicamente
presentes nas metrópoles brasileiras, as favelas dobraram em número entre 2010
e 2019. Foram de 6.329 em 323 cidades para 13.151 em 734 municípios, de acordo
com dados do Censo de 2010 e estimativas feitas pelo IBGE. Como numa gangorra,
o emprego e a renda caíram, e as comunidades cresceram. No Estado do Rio, o
número de domicílios nessas condições subiu de 617.466 para 717.326 em nove
anos.
A vergonha que esse aumento causa na sociedade deveria ser um combustível para que o Brasil encarasse com seriedade o desafio do déficit habitacional. Não se trata de problema para o qual a humanidade desconheça solução. Uma experiência nacional, o programa Minha Casa Minha Vida, criado em 2009 no governo Lula, proporcionou, com seus erros e acertos, uma importante curva de aprendizado. É lastimável que o governo Bolsonaro tenha demonstrado interesse insuficiente pelo assunto.
Poesia | Joaquim Cardozo - Canto do homem marcado
Em país ocupado
Pelo estrangeiro.
Sou marinheiro
Desembarcado;
Marcho na bruma
das madrugadas;
Mas-
Trago das águas
A substância
Da claridade.
DA CLARIDADE!
Sou o indefinido,
O inesperado
Viajante da tarde
nua,
Que uma dor augusta comoveu ...
Tudo a renuncia,
Tudo