sábado, 18 de outubro de 2014

PT manterá ataques para tentar ampliar rejeição a Aécio

• O PT vai manter o tom beligerante da campanha, numa tentativa de tirar de Aécio votos dos eleitores de outros candidatos que migraram para o tucano

• Dos 22 filmes do PT na TV no 2º turno, 19 têm ataques a Aécio; do lado oposto, 8 dos 18 são mais críticos a Dilma

• Petistas dizem que tom beligerante será mantido; PSDB afirma que vai reagir na mesma linha se for preciso

- Folha de S. Paulo 

BRASÍLIA, SÃO PAULO, FLORIANÓPOLIS e CURITIBA - O PT vai manter o tom beligerante da campanha para tentar desidratar os votos de Aécio Neves, mesmo que eles não migrem necessariamente para Dilma Rousseff. Mas, na campanha, a defesa é que esta estratégia venha mesclada com propostas para diluir a imagem de que ela decidiu partir para o vale-tudo.

O presidenciável tucano instruiu sua equipe a reagir no mesmo tom, se preciso for, o que tende a conservar em fogo alto a temperatura da disputa nesta reta final.

Aliados e até mesmo petistas consideraram que Aécio se saiu melhor no debate do SBT, UOL e Rádio Jovem Pan realizado nesta quinta-feira (16), daí a decisão dos petistas de continuar no ataque.

A avaliação geral é que a presidente precisa melhorar sua performance nos dois últimos confrontos televisivos, razão pela qual cancelou sua agenda no Rio prevista para este sábado para se preparar melhor para o embate da Record, no domingo.

Para os tucanos, o objetivo do PT ao fazer ataques a Aécio é tirar dele os votos dos "neoaecistas" --eleitor que antes votava em outros candidatos e agora migrou para ele.

"A estratégia é tentar fazer com que o eleitor que ainda não conhece bem Aécio, mas que também rejeite Dilma, se descole do tucano e não vote em ninguém", afirmou o marqueteiro Nelson Biondi, que atuou na campanha de reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo.

Ele lembra que a expectativa de voto e a rejeição de Dilma são bastante consolidadas. Com isso, é baixa a probabilidade de ela perder votos, mesmo parecendo mais agressiva. É uma situação diferente da de Aécio.

Na campanha do PSDB, a ordem é iniciar o debate da Record no domingo transmitindo o recado de que o candidato tucano quer evitar "baixarias". Um assessor diz, porém, que Aécio está pronto para revidar qualquer ataque, seguindo a mesma linha do último confronto.

O PSDB quer colar em Dilma a imagem de que a petista está promovendo "a mais baixa campanha" desde a redemocratização, como ele disse no debate de quinta.

Nesta sexta (17), o PSDB passou a veicular anúncio em que relembra manchetes que ligam o PT e nomes-símbolo do partido, como o ex-ministro José Dirceu, à corrupção.

A partir deste sábado, duas novas propagandas vão associar a petista à corrupção. Elas mostram uma imagem de Dilma e dizem que ela deve explicações sobre os desvios na Petrobras, apontados pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

Para analistas ouvidos pela Folha, como o repertório de ataques contra Dilma já foi muito explorado desde o primeiro turno (denúncias na Petrobras, mensalão, aparelhamento do Estado), a repetição desses temas por parte de Aécio não gera mais surpresa no eleitorado.

Já as acusações contra Aécio (reforma de um aeroporto para uso privado, nepotismo no governo de Minas, recusa de fazer um teste de bafômetro e favorecimento a rádios da família) são menos conhecidas. O potencial para sensibilizar eleitores pouco convictos, portanto, seria maior.

O caso do bafômetro, citado no debate da Bandeirantes, foi pesquisado pela campanha de Dilma antes da decisão de divulgar o assunto.

Boa briga
Cerca de 90% dos eleitores diziam desconhecer o fato de que Aécio foi barrado uma vez numa blitz e se recusou a fazer o teste para verificar se estava dirigindo alcoolizado.

Dos 22 filmes produzidos pela campanha de Dilma neste segundo turno, 19 contêm ataques a Aécio, mostra contagem feita pela Folha. No rádio, das 19 inserções, 13 são de ataque ao tucano. Dos 18 filmes para a TV do PSDB, 8 contêm ataques a Dilma. E, das 11 inserções de rádio, 5 trazem investidas contra a petista.

Nesta sexta (17), em evento em Florianópolis (SC), Dilma responsabilizou Aécio pelo aumento dos ataques pessoais. "Eu não estou tomando esse rumo, fui levada a esse rumo", disse.

Em outro evento, em Curitiba (PR), a petista afirmou: "Nós não somos da guerra, da briga. Mas, quando nos desafiam, a gente encara uma boa briga".

(Fernando Rodrigues, Natuza Nery, Valdo Cruz, Ricardo Mendonça, Daniela Lima, Rayanne Azevedo, José Marques, Diogenes Campanha e Estelita Hass Carazzai)

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