- O Estado de S. Paulo
Retomo aqui um ponto que desenvolvi inicialmente em minha coluna do domingo de 1.º turno. Nos últimos anos, sobretudo nos últimos dois pleitos, o PSDB seguiu equivocadamente a estratégia de combater os governos petistas no plano federal buscando o antipetista mediano, mais que o eleitor mediano - aquele que decide a disputa, já que divide o eleitorado ao meio.
Essa estratégia malsã ficou clara na insistência do partido em bater na tecla da corrupção, quando já havia se evidenciado que isso significava "chover no molhado", pois o discurso acerca da corrupção do PT só sensibilizava significativamente os eleitores antipetistas, cujos votos os tucanos já tinham.
Para complicar ainda mais, o PSDB enfrentava a dura realidade do sucesso dos governos de Lula nos campos social e do crescimento econômico, ficando difícil para o partido viabilizar uma estratégia vencedora, formulando um discurso que persuadisse o eleitor mediano. As coisas ficaram mais fáceis com o governo Dilma, já que a estagnação da melhora social dos anos Lula (perceptível na desaceleração da queda da desigualdade), a estagnação do crescimento (perceptível no baixo crescimento do PIB) e o mau humor com o governo de um modo geral (expressado com as manifestações de junho e a subsequente queda de popularidade da presidente) fizeram com que se abrisse uma oportunidade para a formulação de uma mensagem mais eficaz.
Para ter sucesso, tal mensagem precisa contra-arrestar o discurso do medo feito pela campanha governista, atingindo seu contrapé. A importância disso evidencia-se ainda mais diante da aversão ao risco manifestada pelo eleitor brasileiro de um modo geral, que em diversos pleitos estaduais optou por não trocar o certo pelo duvidoso, mesmo clamando por mudança.
A estratégia governista tem sido a de colocar Aécio e o PSDB como os arautos do retrocesso, que podem pôr a perder todos os ganhos sociais obtidos nos anos de Lula (e, em bem menor medida, Dilma). Os oposicionistas tentam demonstrar que o verdadeiro retrocesso viria da manutenção de um governo que se mostrou inepto para manter as conquistas que ele próprio gerou, em função da desastrada política econômica. Noutros termos, o PSDB tenta mostrar-se mais capaz de preservar (e ampliar) as conquistas do PT do que o próprio PT.
De certa forma, isso já foi tentado em 2010 por José Serra, quando se apresentou como o "Zé", "homem do povo", mais lulista do que a candidata de Lula. O "Zé" ainda cobriu a própria aposta, oferecendo ao eleitor pobre um aumento do salário mínimo mais generoso do que os proporcionados pela arrojada política de recuperação salarial do governo. O problema é que - seguindo o adágio popular - quando a esmola é muita, o santo desconfia. Ainda mais quando o oferente não passa credibilidade. Ao tentar mimetizar Lula, o candidato tucano tornou-se patético, tão mal-ajambrado em suas vestes popularescas quanto aqueles barbados de pernas peludas que se vestem de mulher no carnaval. A consequência desse desarranjo foi uma radical guinada, pouco tempo após o início da campanha, com Serra assumindo outra persona - a do candidato direitista que invocou a temática conservadora dos valores religiosos. Deu errado do mesmo jeito.
Para ter sucesso, Aécio não pode simular ser o que não é. Precisa mostrar-se confiável ao eleitorado lulista, sem fingir ser Lula. Ao apostar na polarização esquerda-direita, o PT tenta novamente fazer o PSDB cair na arapuca de aparecer diante do eleitorado mais pobre como a encarnação do elitismo, do tecnocratismo e da insensibilidade social - agradáveis apenas ao já cativo antipetista mediano, sobretudo o dos estratos mais ricos. Pelo tom adotado e pelos resultados das pesquisas, Aécio parece ter encontrado um equilíbrio na mensagem, produzindo uma estratégia mais promissora que a de seus antecessores. Isso explica a disputa tão apertada.
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