quarta-feira, 11 de maio de 2011

Grandes partidos reagem, atacam e planejam mas economia é que terá mais peso à frente

Jarbas de Holanda

Travando embates no Congresso, preparando-se para o pleito municipal de 2012 e já mirando a sucessão presidencial de 2014, os três maiores partidos – PMDB, PT e PSDB – acirram a disputa entre si mesmos; reagem a tentativas de quebra do protagonismo que exercem, por parte de dois outros de porte médio: o PSB predominantemente nordestino e o emergente PSD com sua sedutora ambiguidade, bafejada pelo governo em face do papel, inicial, de agente desagregador da oposição; e projetam cenários de afirmação ou revigoramento, com horizonte mais amplo. A última e mais interessante projeção com esse horizonte foi a do líder do PMDB no Senado, Romero Jucá: a de que a legenda poderá ou deverá ter candidato presidencial próprio em 2014, para isso dispondo de dois nomes “altamente qualificados”, Michel Temer e Sérgio Cabral. Projeção que se seguiu – e certamente procurou responder – a outro evento significativo, ocorrido na cúpula do PT: a reconquista pelo grupo do ex-ministro José Dirceu da cabeça da executiva nacional do partido, com a derrota da articulação da presidente Dilma Rousseff e de Lula em favor do nordestino Humberto Costa e a eleição para o cargo do paulista Rui Falcão. Episódio sinalizador de mais atrito entre os dois parceiros básicos na sustentação parlamentar do governo e na composição da máquina administrativa federal, em prejuízo do papel do PMDB nesta, bem como de distanciamento nos palanques municipais de 2012 e no encaminhamento das definições para os pleitos estaduais e o presidencial daqui a três anos.

Por seu turno, o PSDB – se na convenção do próximo dia 28 superar de fato o conflito entre os grupos de José Serra e Aécio Neves, através da eleição de uma nova executiva e de um conselho político que respaldem a nova e mais aglutinadora liderança do senador mineiro – terá como seus desafios imediatos conter o processo de desagregação das forças oposicionistas, sobretudo do DEM, bem como revigorar a atuação articulada delas no Congresso e nos planos estadual e municipal e no diálogo com a opinião pública, em torno de grandes temas nacionais, com consistentes críticas ao Palácio nos campos da economia e da gestão governamental.

Quanto aos partidos menores já destacados, cabe assinalar o anúncio feito ontem pela direção do PSB: o propósito de lançar candidatura própria à presidência da República – a do seu dirigente e governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Manifestação reforçada por críticas a restrições ao papel do partido no governo Dilma e pela indicação de que ele terá alianças e candidatos bem distintos dos do PT nas eleições do próximo ano.

Assim, de par com a movimentação em torno dos problemas e objetivos de curto prazo, os partidos acima avaliados (bem como outros que, embora de peso menor, têm consistência política definida) preparam-se para as etapas mais à frente, tendo em vista especialmente a sucessão presidencial. Buscando maior controle da máquina federal e de seu uso nos estados e municípios, como o PT. Contrapondo-se a isso e partindo para articular candidatos e alianças eleitorais distintas, como o PMDB e o PSB. Ou, como o PSDB, reestruturando- se na expectativa de que a oposição possa preservar-se e fortalecer-se nos estados e municípios e chegar bem competitiva à disputa presidencial.

Mas esses projetos e perspectivas vão depender, em parte já nos pleitos municipais de 2012 e decisivamente nas disputas maiores de 2014 para o poder central e para as administrações dos estados e o Congresso, do comportamento da economia ao longo do governo Dilma. Em particular, da taxa de inflação, o indicador de mais aguda repercussão social, inclusive na chamada nova classe média. Um sucesso do Planalto na contenção e na reversão do processo inflacionário, articulado com a obtenção de índice satisfatório de crescimento do PIB, diluirá o peso político da persistência no governo Dilma do abusivo aparelhamento partidário e de outras graves distorções políticas e econômicas (entre estas as ações de intervencionismo estatal, até acentuado). Favorecendo a reeleição da presidente, e com ampla aliança partidária. O quadro político – eleitoral de 2014, será porém, substancialmente diferente – com uma previsível substituição da candidatura dela pela de Lula, um desmanche da aliança em
 2010 e a montagem de forte alternativa oposicionista – num cenário de descontrole da inflação e das contas públicas, de sufocante carga tributária e de elevadas taxas de juros, com inevitável queda do crescimento e do emprego. Cenário que também traria, ou trará, ao primeiro plano a causa mais relevante da pressão inflacionária: o salto dos gastos públicos, sobretudo das despesas de custeio, para a provisão do gigantismo estatal populista. Herdado e até agora mantido pelo governo Dilma.

Jarbas de Holanda é jornalista

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