quarta-feira, 11 de maio de 2011

Bancos públicos lideram alta dos juros

Depois de comandarem a oferta de crédito, com taxas abaixo da média de mercado, instituições controladas pelo governo botam o pé no freio e cortam vários benefícios

Usados sem constrangimento pelo governo nos últimos dois anos como instrumentos para impulsionar o crédito e o consumo, os bancos públicos inverteram a mão e, agora, estão liderando a alta das taxas de juros às pessoas físicas com o objetivo de dar mais poder à política do Banco Central de combate à inflação. “Neste momento, não nos interessa ver as instituições públicas com o pé no acelerador do crédito, cobrando taxas muito abaixo das médias de mercado”, disse um integrante do Ministério da Fazenda. “Mas isso não impede que, mais à frente, esses bancos venham a forçar novamente os juros para baixo, quando a inflação estiver sob total controle”, acrescentou.

O movimento de encarecimento do crédito comandado pela Caixa Econômica Federal e pelo Banco do Brasil se deu, principalmente, nas operações de prazos curtíssimos, como o cheque especial, uma das linhas de empréstimos mais caras do mercado. No BB, a elevação dos juros médios mensais foi de 0,45 ponto percentual, de 8,17% para 8,62%, taxa que, anualizada, chega a 104%. Na Caixa, a subida foi de 0,38 ponto, de 6,68% para 7,06% ao mês. Nos bancos públicos regionais, o salto foi ainda maior. Os juros cobrados pelo Banco do Nordeste aumentaram 1,05 ponto, de 6,32% para 7,37% mensais. Já os do Banco da Amazônia passaram de 7,69% para 8,63% (mais 0,94 ponto percentual). Com esse aumento, as instituições cortaram parte dos benefícios dados aos clientes que têm aplicações financeiras. Os juros cobrados deles não são mais tão baixos como se via há seis meses.

Nos financiamentos de veículos, é a Caixa a principal alavanca dos juros. Desde dezembro do ano passado, a instituição controlada pelo Tesouro Nacional elevou as taxas em 0,54 ponto, de 1,57% para 2,11% ao mês, entrando em um embate com os bancos das montadoras, que estão tentando fazer frente às ferramentas do governo para diminuir consumo. As instituições financeiras ligadas às fabricantes de veículos estão dividindo a entrada dos financiamentos e ofertando taxas abaixo da média do mercado. Enquanto o sistema financeiro cobra, na média, 2,5% ao mês, os bancos das montadoras estão com juros de 1,7% mensais.

O BC acredita, porém, que esse diferença não será suficiente para manter o consumo de carros tão forte como se viu nos últimos meses. Além de ter aumentado a exigência de capital do sistema financeiro como um todo para créditos de prazos mais longos (acima de 36 meses), o governo dobrou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de 1,5% para 3% — medidas chamadas de macroprudenciais. Para completar, neste ano, o BC já empurrou a taxa básica de juros (Selic) de 10,75% para 12% ao ano. Procurada pelo Correio, a Caixa não comentou o processo de alta dos juros. O BB, por sua vez, informou que adotará uma política de juros diferenciados, beneficiando os bons pagadores com custos menores nos empréstimos e financiamentos.

Competição

Na avaliação de Miguel Oliveira, economista-chefe da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), depois do início da política restritiva de crédito, não fosse a intensa concorrência que hoje existe no setor financeiro, os juros aos consumidores teriam disparado. “Apenas por isso, as taxas não subiram mais”, avaliou. Pelos seus cálculos, o custo do crédito só recuará para um nível mais baixo no último trimestre do ano. Segundo uma pesquisa de taxas de juros coordenada pelo economista, de cinco modalidades de crédito observadas, três ficaram mais caras em abril: cheque especial, crediários de lojas e empréstimo pessoal em bancos. O cheque especial, no ranking das opções mais caras, só perde para o rotativo do cartão de crédito. Enquanto o plástico cobra 238,30% ao ano, o limite especial tem taxa de 150,98% — a mais elevada desde 2008.

Com o crédito ficando vez mais caro, o brasileiro já endividado passou a necessitar de linhas de curto prazo para não ficar inadimplente, mas, aos poucos, está perdendo o controle do orçamento. O volume de calotes, assim como esperava o BC quando iniciou a política de aperto monetário, está em ritmo de crescimento — aumentou 3,5% em abril somente no comércio (leia mais na página 9). No cheque especial, a dívida dos brasileiros chegou a R$ 19,2 bilhões em março. Desse total, R$ 2,3 bilhões, ou 11,9%, estão em atraso.

Para Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), a inadimplência tornou-se uma grande preocupação. “A demanda por financiamentos de curto prazo, como o cheque especial, está crescendo por causa da inadimplência. A pessoa perde a capacidade de quitar as suas contas devido ao excesso de juros e necessita dessa linha mais cara, de curto prazo”, analisou. “O governo queria que o crédito encarecesse e foi isso que ocorreu”, sentenciou.

R$ 1,75 trilhão em empréstimos

Mesmo depois de o Banco Central ter colocado um freio no crédito, o sistema financeiro continua a se expandir a fortes taxas. As operações acumulam alta de 21,8% nos 12 meses até março. No ano, as instituições estatais expandiram o crédito na mão de consumidores em 2,9%. Na iniciativa privada, o incremento foi de 2,2%. Todos os segmentos juntos, incluindo os bancos estrangeiros, entregaram aos brasileiros e às empresas R$ 1,752 trilhão em financiamentos.

Inflação maior para a baixa renda

A procura por crédito começa a dar os primeiros sinais de arrefecimento. Nas contas da Serasa Experian, recuou 3% de março para abril. A desaceleração, porém, foi contida pela corrida consumista promovida pelos brasileiros de baixa renda — entre eles, de janeiro a abril, a busca por empréstimos cresceu 41,8%. Com tamanho desejo por compras, os consumidores de menor poder aquisitivo contribuíram para a escalada de preços. O Índice de Preços ao Consumidor Classe 1 (IPC-C1), que mede o custo de vida entre as famílias que recebem até 2,5 salários mínimos, registrou alta de 0,84% em abril, mais que o dobro do considerado tolerável pelo Banco Central (0,37%). Das sete classes de despesas observadas no indicador, cinco apresentaram alta.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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