quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Políticos vivem ‘pavor generalizado’ com novas delações da Lava-Jato

• Ninguém sabe quem ainda será atingido, o que cria cenário de incerteza

Leticia Fernandes, Maria Lima - O Globo

-BRASÍLIA- A divulgação de novos trechos da delação do exdirigente da Petrobras Nestor Cerveró deixou o mundo político em polvorosa. Entre os parlamentares, há um sentimento de que o teor da delação cria um “pavor generalizado” tanto entre políticos quanto entre empresários, colocando num cenário de incertezas o futuro do governo, a sobrevivência do ex-presidente Lula até as eleições de 2018 e a situação de caciques do PMDB, de partidos da base e até de alguns dos principais nomes da oposição.

Na classe política, gerou temor a constatação de que “nada prescreve”, já que as denúncias chegaram ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP), que deixou a presidência em 2002.

— A grande novidade dessa Lava-Jato é que não tem ninguém se abraçando para se salvar, é todo mundo querendo furar a boia. Há um pavor generalizado, ninguém sabe se vai sobrar alguém de pé — disse um peemedebista.

Lideranças dos partidos da base e oposição relatam um clima de apreensão com os desdobramentos das delações em curso de dirigentes da Andrade Gutierrez e do senador Delcídio Amaral (PT-MS). Senadores se falam frequentemente por telefone para sentir o clima e avaliam que a delação de Cerveró é pequena perto do que está por vir. Citado pelo delator, aliados do presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) dizem que ele está angustiado.

— O quadro da política na volta do recesso vai ser muito complicado. Ninguém sabe o que vem pela frente diante de tantas delações. O momento é de apreensão tanto na política quanto no mundo empresarial. Há muitas dúvidas — diz o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE).

As incertezas são ainda maiores pelo fato de não terem vindo à tona todos os detalhes da delação de Cerveró e de nem mesmo ter sido homologada a proposta de delação do ex-presidente do PP Pedro Corrêa. Este citou em sua proposta de acordo o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, e o senador Aécio Neves, mas ainda não foram revelados detalhes do que se trataria.

As referências recentes a Aécio e ao governo FH animaram o PT, que anunciou que “vai partir para cima do PSDB” e cobrar a abertura de inquérito no caso do senador tucano.

Petistas admitem, no entanto, o desgaste do governo e a desidratação de Lula para 2018:

— É um desgaste contínuo, mas concretamente não há nada contra o Lula. Só a gente sabe o preço que estamos pagando — avaliou um petista.

Aécio criticou o que chamou de tentativa de atingir a oposição:

— Essa tática de embolar todo mundo não é nova, mas as coisas contra eles são tão fortes que não serão capazes de esboçar reação tentando de forma irresponsável nos envolver. A Lava-Jato terá um curso próprio. Estou preocupado é com o que vai restar de Brasil lá na frente — reagiu Aécio.

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