- O Globo
Apesar de toda a chuva deste verão, o nível dos reservatórios para geração de energia ainda está baixo. No Nordeste, em 5%. Por isso, aumentou o uso de energia eólica, que já responde por 46% do consumo na região, segundo a presidente da Abeeólica, Élbia Melo. No Sudeste, o nível de água é de 32%. Mesmo com a queda dos preços do petróleo e gás no mundo, as térmicas continuam sendo a energia mais cara.
O pior passou no setor do ponto de vista regulatório, acredita Élbia. Ela diz que a solução do último problema, o passivo das geradoras, foi resolvido pela MP 688. Mas a solução continuará pesando na conta de luz.
— Esse custo será repassado nos próximos três ou quatro anos, mas a Aneel ainda não divulgou quanto será repassado os consumidores — disse.
A MP 579, que provocou a crise energética, incentivou o consumo em momento de queda do nível de água nos reservatórios. As geradoras não conseguiram gerar tudo o que tinham vendido e, para entregar, tiveram que comprar no mercado livre. O problema é que o preço no mercado livre disparou por esse e outros erros do governo. As geradoras e o governo negociaram uma fórmula que significa transferir para o consumidor parte do custo. As empresas comemoram o fim do problema, mas ele recairá sobre o consumidor.
— Dificilmente a conta de luz nos próximos anos voltará ao preço que era. Terá que absorver esse passivo das hidrelétricas e existe a indexação à inflação passada. O índice ficou em 10,67% e isso vai para a conta de energia nas próximas revisões do contrato — explicou.
Os problemas da MP 579 foram muitos e ainda não se esgotaram. Ela desequilibrou financeiramente as empresas, que tiveram de cobrir os rombos do caixa com empréstimos bancários a juros altos. Tudo isso foi pago pelo consumidor no tarifaço do ano passado, o mais importante fator que levou a inflação a dois dígitos. O governo jogou toda a culpa na seca. Houve seca, sim, mas foi apenas um complicador numa conjuntura de desequilíbrio provocada por uma MP infeliz e uma administração caótica do setor elétrico. A boa notícia é ter passado o pior, na opinião da especialista ouvida pela coluna; a má notícia é que a energia continuará recebendo nos próximos anos impactos do passivo das geradoras. O nível de água em vários reservatórios subiu mas ainda é baixo.
— Existe um problema físico para resolver, que é a redução das chuvas num país que tem 60% da energia vindo das hidrelétricas. A bandeira vermelha em janeiro, em pleno período úmido, mostra que o setor ainda passa por problemas. O nível de água dos reservatórios continua muito baixo. No Sudeste, melhorou, mas não voltou ao nível anterior. Tem chovido, mas não nas cabeceiras dos rios de Minas Gerais, principalmente, que é o que a gente precisa. As chuvas mudaram não só no tempo, mas também no espaço — diz Élbia Melo.
Tudo isso tem ajudado a diversificar a matriz energética. A eólica hoje é 8% do parque instalado de energia. Em geração, a fonte já conseguiu superar 10%. Eé a segunda mais barata.
— A térmica movida a gás tem um custo muito elevado por causa do dólar. Mesmo caindo o preço internacional do gás e do petróleo, a gente precisa importar e é em dólar. O país não tem oferta de gás suficiente. A energia eólica está sendo vendida a R$ 210 o MWh; a biomassa, a R$ 280; a solar, a R$ 300. Já a térmica está custando R$ 340, por causa do dólar. O risco cambial é muito alto.
Élbia acha que as oportunidades continuam para outras fontes de energia:
— O Ministério de Minas e Energia já disse que é preciso substituir cerca de 15 GW de potência instalada de térmicas por outras fontes mais baratas. Então há muita demanda por investimentos neste momento, mesmo com a recessão, e isso é bom para o PIB do país.
Grandes empresas que atuavam no setor energético envolveram-se em corrupção em casos que vêm sendo revelados pela Lava-Jato. Essas empresas, por isso, estão reduzindo seus investimentos. Por outro lado, com alta do dólar, o Brasil está barato para os investidores:
— Tem muita gente na Europa, Estados Unidos e China de olho no país, pronto para investir.
Esta semana, a Cubico Sustainable Investiment, do banco Santander, investiu R$ 2 bi na aquisição de complexos eólicos no Nordeste.
Nenhum comentário:
Postar um comentário