sexta-feira, 27 de agosto de 2010

''É uma tentativa de desqualificar Serra na mão grande''

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

ENTREVISTA - Wagner Cinchetto, sindicalista

Ele afirma que núcleo envolvido com a violação de sigilo de tucanos é uma extensão do grupo criado em 2002 pelo PT

Fausto Macedo

Wagner Cinchetto, veterano sindicalista, afirmou ontem que o núcleo envolvido com a violação de sigilo fiscal de tucanos em operação nos escaninhos da Receita é "uma extensão" do grupo de inteligência supostamente criado em 2002 por lideranças do PT. Ele diz ter certeza de que os mesmos personagens estão atrelados aos dois episódios.

Sua convicção, afirma, reside no fato de os dossiês, o de oito anos atrás e o de agora, terem como alvos Ricardo Sérgio de Oliveira, Gregório Marin Preciado e Luiz Carlos Mendonça de Barros. "Já naquela ocasião eles eram os pontos centrais da investigação feita pelos porões do PT", denuncia Cinchetto. Avalia que "estão fazendo agora apenas uma atualização de dados".

Cinchetto admite ter participado da organização de 2002 que, segundo acusa, planejava golpear a reputação de José Serra (PSDB), candidato à sucessão de Fernando Henrique Cardoso. "O grupo está de posse daquele dossiê até hoje onde aparece o Ricardo Sérgio. Estão fazendo uso de dados que nos foram passados na época por funcionário do Banco do Brasil."

Ricardo Sérgio foi diretor do BB na gestão FHC. Mendonça de Barros exerceu o cargo de ministro das Comunicações no mesmo período. Preciado é casado com uma prima de Serra.

Os três são citados no processo aberto pela Corregedoria da Receita para identificar quem furou o sigilo de Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB - a suspeita é que a ação ocorreu na agência do Fisco em Mauá, na Grande São Paulo.

Por que os alvos são os mesmos?

Em 2002, o grupo sabia que o principal candidato a ser batido era o Serra e foi se preparando para reunir o máximo de informações contra ele. Eu avisei que não havia nada que desabonasse o Serra, que ele é ficha limpa. O grupo de inteligência se determinou a vasculhar a vida dos aliados mais próximos do Serra para tentar atingi-lo e afetar sua candidatura.

O sr. acredita que os mesmos personagens do grupo de 2002 estão envolvidos nesta ação na Receita?

Não tenho dúvida nenhuma. É sequência, uma extensão. Eles não teriam alvo tão definido principalmente agora que quase ninguém ouve mais falar em Ricardo Sérgio, ninguém nem sabia quem era Gregório Preciado e o Mendonça de Barros nem está em tanta evidência assim. Por que os mesmos nomes? É o desespero de tentar colar no Serra uma biografia de coisas erradas. Mas não tem. Pode-se enfrentar o Serra de qualquer maneira, menos no terreno da moral e da credibilidade. Se o grupo não gosta, paciência. O material de agora, a partir de dados da Receita, é requentado. Prejudicar o Serra é uma obsessão do pessoal do PT.

Como foi a operação de 2002?

A gente já tinha como alvos principais o Ricardo Sérgio e o Gregório. Houve uma triangulação, eu tive um encontro no Maksoud Plaza de São Paulo com o senador Antonio Carlos Magalhães (morto em 2007). Ele tinha um vasto material sobre o Ricardo Sérgio, os dois haviam brigado. Eu pedi ao senador que entregasse os documentos para o nosso grupo. A gente tinha certeza que iria atingir o Serra. Minha missão era trazer esse material para o grupo do PT. Recorremos ao ACM porque o grupo de inteligência ainda não tinha acesso fácil à máquina da administração, não tinha elementos infiltrados em repartições públicas estratégicas. Com o poder na mão o grupo devassou sigilos. Estão usando instrumentos do Estado. As informações daquele dossiê podem ter sido atualizadas, mas a base de toda a investigação de agora é o dossiê de 2002.

Quem fazia parte do grupo?

O pessoal do ABC e o pessoal dos bancários de São Paulo liderado pelo Ricardo Berzoini (ex-presidente do PT) e outros que nos apoiavam. O que está sendo feito hoje em Mauá eu posso afirmar que é comandado pela ala sindical ligada ao prefeito Luiz Marinho (de São Bernardo), ao Grana (Carlos Alberto Grana, candidato a deputado estadual) e ao Vicentinho (que concorre à reeleição a deputado federal). É o núcleo forte do governo, o grupo do ABC. Não por acaso essas violações de dados na Receita estão surgindo por ali. É uma tentativa de desqualificar o Serra na mão grande.

A turma de 2002 se comunica com o grupo que age na Receita?

Continuam operando juntos e se a imprensa não divulgasse eles continuaram operando nos porões, acessando informações secretas porque hoje eles estão mais fortes, eles agregaram outros setores nesse trabalho de inteligência que se iniciou lá atrás. Outros sindicalistas participam, é máquina poderosa.

O grupo de inteligência do PT aperfeiçoou métodos de ação e conta com colaboradores infiltrados na máquina pública?

Não há dúvida. O problema é que o governo nunca faz nada. Imaginei que o Lula na Presidência fosse varrer a podridão do sindicalismo. Não fez nada. Desde 2002 eu denuncio esse grupo. Ninguém tem coragem de me colocar perante o Congresso, perante as autoridades. Eu atuei com eles, trabalhei pelo grupo. Não tenho medo. Eu sou fruto deles, faço parte deles, nasci com eles. Fui testemunha ocular de todas as falcatruas do movimento sindical.

O grupo a que o sr. se refere se fortaleceu no governo Lula?

É evidente. Se isso ocorreu daquela maneira que eu presenciei, imagina agora que eles têm indicações na Petrobrás, na Itaipu Binacional, no Conselho de Desenvolvimento Econômico. Já vasculharam minha vida, mas eu não sou da laia deles. Eu quis me desgarrar dessa turma não porque recebi proposta daqui ou dali. Saí por causa da minha consciência. Não aceito a máfia sindical. Fazer uma aceração é o que eu mais gostaria, ficar frente à frente com todo o grupo, o Berzoini, o Marinho.

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