segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Na TV, Dilma repete argumento da ditadura militar

Segurança Nacional. Crime do art. 39, i, do dl. 314, de 1967, na redação do dl. 510 , de 20/3/69. Utilização de meio de comunicação social como veículo de guerra psicológica adversa. Pregação que visa a criar clima psicológico favorável a subversão.

Como escreveu Marx no livro O 18 Brumário de Luiz Bonaparte: “Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.”

Para Dilma, área econômica enfrenta 'guerra psicológica'

Presidente fez a afirmação em seu 17º pronunciamento em rede nacional

A petista, que deve ser candidata à reeleição, ignorou o principal fato político deste ano, os protestos de junho

Fernanda Odilla

BRASÍLIA - No último pronunciamento em rede nacional do ano, a presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que a área econômica de seu governo é vítima de "guerra psicológica" por parte de setores do empresariado, ainda que admita haver o que "retocar" e "corrigir" na economia.

A fala, de 12 minutos, ignorou o principal fato político do ano, as manifestações de rua de junho que derrubaram abruptamente a popularidade do governo.

Dilma citou superficialmente que "ouviu reclamos" da sociedade e que está "implantando pactos para acelerara o cumprimento de nossos compromissos".

Assim, segue a estratégia do Planalto, temeroso de novos protestos durante a Copa do Mundo, de tentar "esfriar" o assunto e tratá-lo como página virada.

Dilma usou um roteiro de campanha eleitoral em seu discurso de ontem, enaltecendo programas federais e instando a audiência a pensar "no que aconteceu de positivo nos últimos anos na vida do Brasil".

Boa parte do discurso, o 17º do seu mandato, foi dedicada a promover uma visão otimista da economia, principal área a sofrer críticas em sua gestão.

Em 2013, a inflação novamente fechará acima do centro da meta do Banco Central, o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) está projetado pelo governo para magros 2,3% e a política fiscal é bombardeada até por aliados.

Apesar de ter deixado claro que o pessimismo não pode contaminar a economia e que está atuando "nos gastos" e no combate inflacionário, Dilma ponderou que "não existe um sistema econômico perfeito" nem um "país com uma economia perfeita".

"Em toda economia haverá algo por fazer, algo a retocar, algo a corrigir", disse ela, que previu um 2014 melhor para o bolso dos brasileiros.

Citando "redução de impostos" e "diminuição da conta de luz", a presidente disse que tem recebido "duras críticas daqueles que não se preocupam com o bolso da população".

"Se mergulharmos em pessimismo e ficarmos presos a disputas e interesses mesquinhos, teremos um país menor", afirmou ela, em outro momento.

Dilma também fez seu ataque mais duro, sem nominar o pedaço do empresariado ao qual se referia. "Se alguns setores, seja porque motivo for, instilarem desconfiança, especialmente desconfiança injustificada, isso é muito ruim. A guerra psicológica pode inibir investimentos e retardar iniciativas", disse.

Também sem citar o mensalão, cujos protagonistas da antiga cúpula do PT no governo Luiz Inácio Lula da Silva foram presos em 2014, Dilma afirmou que não abriu mão em apoiar o combate à corrupção.

Como de praxe neste tipo de balanço, a presidente listou o que considera sucesso em sua gestão, e que estará em sua propaganda na campanha à reeleição em 2014: Mais Médicos, Ciência sem Fronteiras, Pronatec (programa de formação profissional), Minha Casa, Minha Vida e o Brasil sem Miséria --esses dois últimos heranças dos anos Lula.

"Nos últimos anos somos um dos raros países do mundo em que o nível de vida da população não recuou ou se espatifou em meio a uma grave crise. Chegamos até aqui melhorando de vida, pouco a pouco, mas sempre de maneira firme e segura", disse.

O pronunciamento deste domingo foi o sétimo do ano e o 17º desde 2011 --ela já superou os números do antecessor, que fez 11 no primeiro mandato (2003-2006) e 10 no segundo (2007-2010).

Além de evitar os riscos do contraditório em entrevistas, o monólogo em rede nacional de rádio e TV garante maior alcance.

Fonte: Folha de S. Paulo

Nenhum comentário: