quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Diretoria da estatal é ligada a acusados

• José Antônio Figueiredo tem vínculos com Renato Duque, e José Carlos Cosenza era próximo de Paulo Roberto Costa

• Almir Barbassa, diretor financeiro, fazia parte da cúpula quando foi aprovada a compra da refinaria de Pasadena

Raquel Landim – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Dois membros da atual diretoria da Petrobras só chegaram aos cargos graças ao apoio de seus antecessores Paulo Roberto Costa e Renato Duque, ambos acusados na Operação Lava Jato de receber propina de empreiteiras contratadas pela estatal.

Levantamento feito pela Folha mostra que, dos sete integrantes da diretoria, cinco --incluindo a presidente, Graça Foster-- têm ligação direta ou indireta em algum dos escândalos da estatal. Assinaram documentos e deram aval para operações agora sob suspeita.

José Antônio Figueiredo, diretor de Engenharia, é próximo de Pedro Barusco, o braço direito de Duque que aceitou fazer uma delação premiada e devolver US$ 97 milhões à Justiça.

Os dois tinham estreito contato quando Figueiredo atuava como gerente executivo de Exploração e Produção. Barusco era gerente executivo da Engenharia.

Figueiredo substituiu Duque no cargo em maio de 2012, após o nome da confiança de Graça, Richard Olm, descobrir que sofria de câncer. Graça promoveu uma ampla troca na diretoria quando assumiu a presidência, em fevereiro de 2012.

Figueiredo também foi citado por ex-funcionário da holandesa SBM, que assumiu ter pago propinas no Brasil. Em carta aberta publicada na Wikipedia e que desencadeou o escândalo, o ex-funcionário disse que representantes da empresa tiveram um encontro com Figueiredo para "estender um contrato de aluguel de navios sem licitação".

Segundo pessoas que trabalham na Petrobras, Figueiredo tem muita influência na área de afretamento de navios, que funcionava na diretoria de Exploração e Produção. Depois que assumiu a Engenharia, ele trouxe essa área para sua alçada.

José Carlos Cosenza, diretor de Abastecimento, substituiu Paulo Roberto Costa no cargo. Funcionário de carreira, ele se aproximou de Costa e chegou a gerente executivo da área.

Como sempre atuou na área de abastecimento, Cosenza ajudou o chefe, que era egresso da exploração e produção. Segundo delegados da Polícia Federal, Costa e Youssef citaram em suas delações premiadas que Cosenza também recebia "comissões" das empreiteiras. Ele nega.

José Alcides Santoro, diretor de Gás e Energia, é o executivo mais próximo de Graça. Ele era gerente executivo da área. Substituiu a chefe quando ela foi escolhida pela presidente Dilma Rousseff para comandar a estatal.

Quando ocupava o cargo de gerente executivo de gás e energia, Alcides recomendou à diretoria que pagasse uma série de aditivos de obras de termelétricas e gasodutos para as construtoras envolvidas no escândalo. Graça era a diretora responsável.

O gasoduto Urucu-Manaus, que já foi citado por um dos empreiteiros como alvo de propina, foi orçado pela área técnica em R$ 1,2 bilhão, mas custou R$ 4,48 bilhões à estatal por conta dos aditivos.

Já no cargo de diretor, Alcides assinou recentemente o pagamento de US$ 434 milhões a mais do que o previsto em contrato pelo gás da Bolívia, atendendo um pleito do presidente Evo Morales.

O corpo técnico da Petrobras era contra o extra, que agora é questionado pelo Tribunal de Contas da União.

Almir Barbassa, diretor financeiro, já fazia parte da diretoria, quando foi aprovada a polêmica compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Por isso, foi um dos executivos responsabilizados pelo TCU. É criticado pelo mercado por ter permitido que o nível de endividamento da estatal piorasse muito.

Procurada, a Petrobras não se pronunciou.

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