- O Estado de S. Paulo
Quando a presidente Dilma Rousseff anunciar a composição da nova equipe econômica, estará transmitindo uma mensagem ao mundo, ao Brasil, mas também ao ex-presidente Luiz Inácio da Silva. Para fora, a escolha sinalizará o rumo de governo; para dentro, a qualidade da relação entre os dois no transcorrer dos próximos anos.
No momento em que ficou claro para Lula que Dilma não abriria espaço para se discutir a possibilidade de troca de candidato e que Rui Falcão interditava de vez esse debate nas internas do partido, o ex-presidente deu por encerrado o assunto que até então (meados do ano) chegara a abordar com clareza com petistas, com lideranças do PMDB - José Sarney, especificamente -, mas jamais tocara com Dilma Rousseff.
A preocupação dos defensores da "volta" era com a possibilidade da derrota ou com um possível desastroso segundo mandato. Não se sabe exatamente até hoje por qual razão, provavelmente constrangimento pessoal, Lula recusou-se a usar sua força política para deflagrar o processo, embora emitisse sinais de que não desestimularia o movimento se ele ganhasse corpo no partido.
Não foi o que aconteceu. Lula não passou recibo e, por mais que tenha havido desmentidos sobre o afastamento dos dois, fato é que se ele conhecesse Dilma no poder como veio a conhecer, provavelmente não teria feito dela a candidata à sua sucessão. Pelo seguinte: na condição de subordinada, era uma pessoa. Ao assumir o posto de chefe da Nação, mostrou-se outra completamente diferente. Semelhante àquela de temperamento autoritário cujos ouvidos só escutam a própria fala.
Daí a explicação para os longos períodos de silêncio do ex-presidente durante a campanha eleitoral. Entrou quase na reta final quando a própria Dilma se convenceu de que, sem a ajuda dele no Nordeste e na periferia das grandes cidades, a derrota seriam favas quase certamente contadas. Pois bem: seria esse socorro suficiente para que a presidente reeleita se dobrasse à evidência de que sozinha não faz frente às necessidades do bom exercício da Presidência?
Há quem confie e quem duvide. Lula está entre os que têm certeza. Consumada a vitória, o ex-presidente assegurou a um dos interlocutores encarregados daquela difícil e delicada tarefa de tentar encaminhar a troca de candidato que "faria" a equipe econômica. Ou seja, convenceria Dilma a indicar para o ministério da Fazenda e o Banco Central pessoas comprometidas com a estabilidade econômica e, portanto, com o restabelecimento da credibilidade do governo. Na ocasião, o confidente alertou: "Ela não vai seguir a sua orientação, e o senhor vai se arrepender". Lula retrucou com segurança: "Fique tranquilo, Dilma não tem outra saída".
Dessa conversa é que se depreende o quanto ficará demarcada a influência de Lula no segundo mandato de Dilma, a depender da escolha da equipe econômica. Da incerteza de que a presidente adotará um modo agregador de governar, à maneira do ex-presidente, é que decorrem as insatisfações manifestadas de forma explícita pelo PT. O partido aquietou-se ao perceber que Lula não tomava à frente do movimento para afastar a candidatura de Dilma à reeleição e que o presidente do PT, Rui Falcão, se mantinha firmemente aliado à presidente.
Em recente reunião, o partido reclamou a escalação de um ministério "mais qualificado", mais diálogo com o Planalto e participação no encaminhamento de assuntos de interesse do governo no Congresso. Fica aí subentendido que o PT preferia mesmo é que o presidente eleito tivesse sido Lula. Não por outro motivo a não ser o de que, com ele, se sentiam a bordo de um projeto com comando e por todos perfeitamente conhecido. Com Dilma, a sensação é a de que estão embarcados em uma nau sem rumo.
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