segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Serra come bode e ouve forró em Exu

Letícia Lins
DEU EM O GLOBO

Governador distribui abraços e posa para fotos, mas nega campanha e diz estar em visita cultural

EXU (PE). Quinze dias após promover uma festa nordestina no Vale do Anhangabaú, em São Paulo - na qual reuniu mais de 200 mil pessoas para lembrar os 20 anos da morte do cantor Luiz Gonzaga -, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), aproveitou o sábado para visitar a cidade de Exu, no sertão de Pernambuco, onde distribuiu abraços, posou para fotografias com populares e líderes políticos da região e ouviu muitas músicas das bandinhas de forró.

Pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, Serra negou que estivesse num ato de campanha eleitoral e insistiu que a visita tinha caráter apenas cultural: ele disse que só queria percorrer os locais onde nasceu e cresceu Gonzagão, que considera um dos artistas populares mais importantes do país.

O governador de São Paulo visitou, no centro de Exu, o Museu Luiz Gonzaga, que fica dentro do Parque Asa Branca, fazenda onde o rei do baião passou os últimos anos de sua vida. Esteve também na Fazenda Caiçara, onde Luiz Gonzaga nasceu. Logo ao chegar, Serra encontrou-se com José Praxedes dos Santos, de 76 anos, que conheceu Januário - o pai de Gonzaga - e que por cinco anos serviu como vaqueiro de Gonzagão. Depois, o tucano se emocionou ao conversar com o menino João, que disse torcer pelo Palmeiras.

- Aqui no sertão encontrar com um presente deste... - exclamou.

No aeroporto de Juazeiro do Norte, Serra foi recebido com forrozeiros. Ao chegar em Exu, encontrou políticas de cidades vizinhas. Simpático, não deixou de atender a uma só solicitação de abraços e apertos de mão, sempre sorridente.

O governador foi ciceroneado pelo senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) e pelo deputado Raul Henry (PMDB-PE). Ele disse ter sido criado em um bairro operário, o da Mooca, onde passou a infância convivendo com filhos de nordestinos. Afirmou que as músicas que aprendia na escola eram as do rei do baião, como "Asa Branca" e "Assum Preto".

Na hora do jantar, Serra experimentou de tudo: paçoca de charque com farinha, purê de macaxeira com charque, baião de dois, farofa de cuscuz, tudo que Gonzaga gostava. Comeu até bode assado e guizado, apesar de os amigos dizerem que ele não gostava. Mas Serra comeu e repetiu.

À noite foi reservada para o forró. Nem o público reduzido - de 200 pessoas - desanimou o governador, que falou sobre a grande festa nordestina que fez em São Paulo em julho. Dirigindo-se ao público, perguntou:

- Quem de vocês têm irmãos ou parentes em São Paulo?

Todo mundo levantou a mão. E Serra comentou:

- Os nordestinos ajudam não só na economia, como na cultura de São Paulo. São Paulo e o Nordeste se entrelaçam. Nenhum lugar do mundo tem essa ligação étnica e cultural.

Às 22h, o tucano voltou para São Paulo, não sem antes deixar frustrados os sanfoneiros:

- Serra, venha cantar conosco, você só quer cantar com Dominguinhos! - reclamou Joquinha Gonzaga, sobrinho do rei do baião.

Joquinha queria fazer dupla com o governador no microfone, como Serra já tinha feito com o outro famoso sanfoneiro durante uma festa junina de Sérgio Guerra e no tributo a Luiz Gonzaga, em São Paulo. Sobre política, apenas uma frase: ele confirmou que pode ir mesmo às prévias do PSDB com o mineiro Aécio Neves.

- Isso não é um problema no PSDB. Se houver consenso, terá um candidato a priori. Se não houver, terá prévia sem problema nenhum. Estamos muito unidos. Só faltava, diante de um quadro político tão complicado, não estar unido - disse Serra.

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