Carolina Mandl, de Exu (PE)
DEU NO VALOR ECONÔMICO
DEU NO VALOR ECONÔMICO
"Quem aqui tem um parente que mora em São Paulo?" Embaixo do palco, a maior parte da plateia de cerca de 150 pessoas levantou a mão. "Isso mostra que São Paulo e o Nordeste se entrelaçam.", disse o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), depois de observar as respostas. "São Paulo é a cidade que mais tem nordestinos fora do Nordeste".
Em visita a Exu, cidade do sertão pernambucano onde nasceu o compositor Luiz Gonzaga, o governador paulista e pré-candidato à Presidência da República, vestiu chapéu de vaqueiro, comeu bode e cantou baião. A visita foi uma homenagem aos 20 anos da morte do compositor pernambucano.
Serra sempre gostou de Luiz Gonzaga, e Gonzagão sempre gostou de política. Apesar de nunca ter sido eleito a nenhum cargo, o músico que traduziu o sofrimento nordestino com Asa Branca sempre esteve ligado aos políticos. Apoiou candidatos da Arena durante muitas eleições e os seguiu no PDS e depois e no PFL, partido que originaria o DEM, atualmente o principal partido aliado do governador. Chegou, inclusive, a avaliar ser prefeito de Exu quando voltou a morar na cidade em 1982.
Exu é uma cidade marcada há décadas pela violência causada pelas brigas das famílias Alencar e Saraiva. Hoje é o tráfico de drogas que a motiva. Em junho, Léo Saraiva (PR), prefeito de Exu, foi preso em uma operação de combate ao tráfico de drogas e ao porte ilegal de armas. No mês passado, foi solto.
No centro dessa cidade que fica na região Polígono da Maconha pernambucano, lá pelas 21h de sábado, cerca de 150 pessoas ouviam o governador de São Paulo. Pouco antes Serra tinha acabado de receber de presente uma réplica do chapéu de couro usado por Gonzaga em dias especiais. Além de ouvir Serra, o pequeno grupo aguardava o início dos festejos de comemoração dos 20 anos da morte do compositor, marcado para as 22h.
O contingente reduzido pode ser explicado em parte pelo receio do próprio PSDB em caracterizar a visita de Serra ao Parque Asa Branca, local onde o compositor viveu e construiu um museu, como comício eleitoral. Depois de ser convidado para conhecer a terra de Gonzaga por um radialista pernambucano em um programa ao vivo, o governador vetou da comitiva nomes políticos de expressão no Estado, além das tradicionais faixas de boas-vindas. Apenas o deputado federal Raul Henry (PMDB-PE), defensor do parque, e o senador e presidente do PSDB, Sérgio Guerra, foram ao sertão. Serra também se negou a cantar no microfone. "Podem descobrir que eu sou tão bom cantor quanto governador", esquivou-se. O resultado foi um evento que pareceu mais programado para ser divulgado por jornais, rádios e televisão.
Mas nem por isso os beijos em crianças, autógrafos e fotos - tão comuns em época de eleição - ficaram fora do script. Tampouco impediu que alguns exuenses fossem ao parque para vê-lo. "Estou aqui porque ele é o meu candidato a presidente. Já votei nele na eleição de 2002 e vou dar meu voto de novo. Gosto dele porque ele já foi prefeito e governador de São Paulo e ainda foi um bom ministro da Saúde", disse Itamar Aluísio, representante de uma operadora de telefonia celular.
Dona Mundica - Raimunda de Sales, cozinheira de Gonzaga por quase 20 anos - participou do evento com Serra como convidada. Aos 59 anos, ela não conhecia muito bem o currículo do governador, mas se sentiu prestigiada com a visita. "Ele não tem nada a ver com o Nordeste, mas saiu lá do Sul para vir aqui. Isso mostra consideração". Na plateia, muitos conheciam Serra de vê-lo "na televisão" e de lembrar dele na eleição de 2002, como a vendedora de doces Iolanda Batista. Segundo pesquisa Datafolha divulgada em junho, apesar de liderar a disputa pela presidência em todas as regiões do país, Serra tem sua menor votação no Nordeste, enquanto a ministra Dilma Rousseff tem o maior percentual de votos entre os nordestinos. É esse cenário que o PSDB quer reverter até o dia da votação.
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