domingo, 18 de janeiro de 2015

Miriam Leitão - E agora Joaquim?

- O Globo

O mais difícil em política econômica é ter que limpar os erros feitos pela equipe anterior. O risco é ficar com o peso do que foi feito por outros e não permanecer no posto o tempo suficiente para colher novos frutos. Essa é a ameaça que pesa sobre o ministro Joaquim Levy. As correções podem afundar mais a economia em um primeiro momento. Haverá o segundo momento?

A economia já está mal pelos inúmeros equívocos cometidos na política econômica do primeiro mandato. Todos os dados mostram que o PIB teve crescimento perto de zero no ano passado. Pelo menos, o número ficará na série histórica do período Guido-Arno. A inflação de janeiro virá pesada, em torno de 1%, porque os preços foram reprimidos no final do ano para que o IPCA não estourasse o teto. Como estatística não vem com impressão digital, a alta em janeiro ficará na conta de Levy. Será a primeira inflação do novo período na Fazenda.

O tarifaço de energia também acontecerá de agora em diante. O desmonte das bondades aos lobbies das montadoras, igualmente. Outras más notícias virão. Levy vai confirmar a sina do ministro da Fazenda, segundo a receita de Mário Henrique Simonsen: “se é popular, está fazendo alguma coisa errada.”

Eis o tripé dos desatinos herdados: preços falsos de energia; a política econômica de gastos excessivos, subsídios às empresas, pedaladas fiscais e incentivo ao endividamento. Por fim, corrupção na Petrobras. Dos três pontos virão frentes frias sobre a economia.

A política econômica anterior queimou toda a possibilidade de usar o espaço fiscal para estimular a economia. O governo gastou muito e mal, acabou com o superávit primário, distribuiu subsídios aos grandes grupos de lobby, demoliu a credibilidade fiscal. Não apenas deteriorou as contas públicas, como as maquiou. Deixou inflação alta com estagnação do PIB. A pior dupla para se enfrentar. A inflação elevada impede incentivos ao crescimento, mesmo os corretos. Os ajustes das contas públicas podem derrubar o PIB ainda mais este ano.

A crise da energia acumulou lixo demais. As distribuidoras estão endividadas e jogarão o custo sobre os consumidores. Algumas geradoras estão quebradas e o governo não sabe o que fazer. Os preços eram artificiais e terão que ser corrigidos. O estoque de água nos reservatórios está muito baixo. Para piorar, o dólar subiu, e o preço de Itaipu é dolarizado. Arrumar tudo isso vai produzir mais inflação. O que entrará na conta de quem está no comando.

A roubalheira da Petrobras terá cada vez mais efeitos econômicos. A estatal investirá menos. Isso afetará a indústria de óleo e gás. As maiores empreiteiras estão envolvidas e bloqueadas de fazer negócios com a empresa. Todos pedirão socorro ao governo. Alguns fornecedores da Petrobras estavam mal antes, por má gestão ou corrupção privada. Se os bancos públicos forem socorrer os afetados pela crise da Petrobras, virarão hospitais de empresas. Muitas delas, corruptas.

Poderá o governo socorrer empresas suspeitas enquanto eleva juros para todos, tira benefícios de desempregados, dá um tarifaço na energia e ameaça aumento de impostos?

A cada número ruim que o governo colher agora na operação desmonte dos erros, a presidente Dilma ouvirá crítica dos seus amigos, ex-professores, e de toda a turma na qual sempre acreditou. A economista Dilma Rousseff não acredita em nada do que está sendo feito no segundo mandato da presidente Dilma. Como viverá internamente a contradição entre ter que aprovar a receita na qual não acredita, colhendo números negativos no primeiro momento, e o coro dos seus amigos lhe dizendo para voltar às suas verdadeiras crenças?

A chance de evitar o desastre do segundo mandato, e um fim melancólico ao seu governo, é deixar a equipe econômica trabalhar. Os números vão piorar antes de melhorar, seus amigos e eleitores vão reclamar, e a popularidade vai cair. Tudo isso ocorreria se não fosse feito o ajuste. Seria uma piora pelo simples colapso de uma política econômica que era insustentável. Se deixasse tudo como estava, persistindo no erro, ela culparia quem fez a bagunça. Seria justo. Agora, diante das más notícias, o que ela dirá? Chamará o seu ministro da Fazenda e perguntará: “E agora Joaquim?” E ele terá que ter boas respostas.

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