- Folha de S. Paulo
O mote foi cunhado por Tancredo Neves em Vitória, no feriado de 15 de Novembro de 1984. A dois meses do que seria a última eleição indireta para a Presidência, ele proclamou: "Teremos que lançar os alicerces da Nova República". O mineiro ganhou a disputa, mas o slogan, que deveria acompanhar o novo período democrático, acabou condenado ao esquecimento.
A expressão Nova República sintetizava em duas palavras o desejo geral por mudanças. Era chegada a hora de modernizar o país, restaurar as liberdades, varrer o entulho de duas décadas de ditadura militar. O lema uniu opositores e dissidentes do regime, na aliança que permitiu a vitória sobre Paulo Maluf no Colégio Eleitoral.
No mundo real, nem tudo era novo. Tancredo, um conciliador, negociava a convivência pacífica com os chefes da repressão. Seu palanque estava cheio de defensores da velha ordem, do vice José Sarney aos ministeriáveis Antonio Carlos Magalhães, Jorge Bornhausen e Marco Maciel.
"A eleição de Tancredo foi um acordão entre militares e civis", resume a cientista política Maria Celina D'Araújo, da PUC-Rio. "O Brasil tem a tradição de anunciar o novo quando, na verdade, faz grandes acordos de continuidade. Também foi assim em 1930, quando passaram a chamar o período anterior de República Velha, e em 1937, na criação do Estado Novo".
Apesar das companhias, a figura de Tancredo inspirava confiança. Eleito em 15 de janeiro de 1985, ele anunciou: "Chegamos agora ao limiar da Nova República". A escolha fez 30 anos na última quinta, mas o lema foi pouco lembrado.
Na prática, a Nova República morreu com Tancredo. Sarney prometeu conduzi-la ao futuro, mas o desastre econômico de seu governo empurrou o slogan para a lata de lixo da história. Quando Collor se elegeu, ninguém mais queria ouvir falar nisso. Falta outro nome para descrever o que vivemos depois dele, com Itamar, FHC, Lula e Dilma.
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