• Na disputa pela presidência da Câmara, Júlio Delgado atrai tucanos e Chinaglia aposta no segundo turno
Júnia Gama / Evandro Éboli / Cristiane Jungblut – O Globo
BRASÍLIA — Considerado favorito na disputa pela Presidência da Câmara, que ocorrerá no dia 1º de fevereiro, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) está dedicando tempo e dinheiro em grandes quantidades para conquistar os votos dos deputados federais eleitos em outubro passado. Superando a marca da presidente Dilma Rousseff e do senador Aécio Neves (PSDB-MG) nas viagens durante a campanha presidencial do ano passado, Cunha finaliza nesta segunda-feira um tour pelas 27 unidades da federação. As campanhas de seus dois adversários, o governista Arlindo Chinaglia (PT-SP) e o independente Júlio Delgado (PSB-MG), não chegaram nem perto de sua estrutura.
Segundo Cunha, as viagens estão sendo feitas em jatos fretados das empresas TAM e Elite, cujas faturas serão pagas pelo PMDB. Voo de carreira, só para Rio ou São Paulo. Nem o deputado nem o partido têm ideia de quanto está sendo gasto até agora na campanha e alegam que as faturas das viagens ainda não chegaram à tesouraria da legenda. Cunha garante que está usando “zero de cota parlamentar” para pagar os gastos da campanha — ou seja, que não gasta a verba que a Câmara destina aos deputados.
— Minhas despesas, os aviões que alugamos para cada viagem, a fatura vai para o partido, não tenho a mínima ideia de quanto está sendo, porque o partido paga tudo. Nos estados geralmente usamos estrutura local, cada um paga sua conta de restaurante e, em um ou outro evento, como aluguel de salão, o partido paga — diz o deputado.
Viagens diárias na agenda
Desde o início do mês, as viagens são quase diárias por todo o Brasil para participar de encontros com parlamentares, prefeitos e governadores que possam ajudar a angariar votos. Na semana passada, Cunha rodou pelo Norte e pelo Nordeste. Além disso, promove com frequência almoços e jantares em Brasília. Segundo o deputado, nesta segunda-feira irá encerrar a “primeira rodada” de viagens, tendo visitado todos os estados. Somente a partir do dia 27, na semana antes da eleição, ele pretende ficar em Brasília para se dedicar à amarração dos últimos pontos com os colegas:
— Acabo segunda-feira com a primeira rodada de viagens e terei rodado os 27 estados. Provavelmente ainda vou fazer uma segunda rodada em São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul.
Cunha também investiu pesado em material de campanha. A entrada de seu gabinete tem as paredes cobertas do chão ao teto com cartazes que mostram sua foto de campanha. O deputado afirma estar pagando de seu bolso a produção do material. Diz não saber exatamente o número de banners, botons e praguinhas (adesivos) produzidos, mas estima ter feito cerca de 5 mil folhetos. Ao todo, acredita ter investido aproximadamente R$ 20 mil de recursos próprios no material.
Sem alarde e atuando nos bastidores, a coordenação da campanha está sendo feita pela própria filha, a publicitária Danielle Cunha, de 27 anos. Ela, que vive no Rio, participa de reuniões com parlamentares do PMDB e orienta como eles podem ajudar no projeto. Ela já participou de encontros com peemedebistas na liderança da legenda da Câmara, onde discutiu e submeteu, por exemplo, o slogan “Câmara independente, democracia forte” aos correligionários. Danielle trabalhou na reeleição de Cunha para o Congresso na campanha eleitoral deste ano.
A publicitária cuida da campanha de Cunha nas redes sociais. É ela quem dá dicas e escolhe os depoimentos dos apoiadores do pai para serem postados na internet. Danielle afirmou que no início da campanha de Cunha a presidente havia um ruído.
— O associavam a um político antigoverno, o que não é verdade. Ele é da base do PMDB. Não é um rebelde — disse Danielle ao GLOBO.
Independência do governo
Apesar da ressalva da filha, o próprio deputado deixa claro em sua campanha que atuação como presidente, caso seja eleito, será de independência em relação ao governo. Ele prega uma Câmara “altiva”, não submissa ao Planalto.
Sobre remuneração, Danielle afirma que no início seu trabalho era voluntário, mas com a proporção nacional que adotou a candidatura do pai, a coisa mudou. Ela tem uma equipe e um dos integrantes acompanha Cunha em suas viagens buscando apoio nos estados.
— Somos uma empresa de um cliente só. Ele (Cunha) arca com as despesas. Não obtenho lucro com ele — disse.
A publicitária quer atuar na área do marketing político e contou que seu trabalho busca soluções digitais políticas. Danielle atua também com imagens de artistas. No entanto, não revela um nome.
— Temos um grande artista e outra que se transformará numa grande. Vocês saberão em breve (quem é).
Eduardo Cunha afirma que Danielle é uma profissional capaz, com formação no exterior, e que resolveu colaborar com a sua campanha.
— Sou grato a ela. É uma excelente profissional, com formação no exterior, e que resolveu abrir mão das coisas que faz para me ajudar — acrescentou Eduardo Cunha.
Chinaglia quer levar disputa para o 2º turno
Candidato do PT à presidência da Câmara e nome preferido do Palácio do Planalto para a função, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) também entrou numa maratona de viagens pelo país na busca de votos dos deputados para a eleição do comando da Casa. Chinaglia tenta levar a disputa ao segundo turno para conquistar o comando da Casa. O parlamentar é visto hoje como a alternativa governista para a candidatura do líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), que prega uma posição de independência em relação ao governo federal.
Com algumas semanas de atraso em relação a Cunha, o petista começou o roteiro de viagens pelo país no último dia 9. De olho no apoio de Júlio Delgado (PSB-MG) em um eventual segundo turno, Chinaglia tem dito que apoiará o parlamentar do PSB caso seja ele a ir para a etapa final contra Cunha. Hoje na Câmara, a única hipótese aventada para o peemedebista não chegar à etapa final é o eventual surgimento de uma denúncia contra ele.
Na maratona de viagens, Chinaglia já esteve em vários estados do Nordeste (PI, CE, PB, AL, BA, PE e MA) e ainda no Rio, no Espírito Santo e em São Paulo, seu reduto eleitoral. No Rio, conseguiu reunir também parlamentares de fora do PT, como Clarissa Garotinho (PR-RJ) e Hugo Leal (PROS-RJ). Na última quinta-feira, o petista esteve em Recife, onde se reuniu com parlamentares de outros partidos, como Sílvio Costa (PSC-PE). Amanhã, o petista vai ao Paraná e, na terça-feira, tem evento no Rio Grande do Sul.
Apesar de ter defendido na última semana que não é necessária a criação de uma nova CPI da Petrobras, o petista tem ressaltado que não seria submisso ao Palácio do Planalto. Nos encontros recentes, Chinaglia procura garantir um tom mais independente, no sentido de ressaltar a importância do Parlamento.
— Não existe democracia forte sem parlamento forte — repete Chinaglia aos deputados, de olho no voto dos insatisfeitos com o governo.
Nas viagens, o deputado petista leva apenas um painel, que tem sua foto à frente do Congresso, e que é colocado nas salas dos encontros. O material impresso de campanha, com suas propostas, começará a ser distribuído na próxima semana. O foco de Chinaglia é desde o início rivalizar com Eduardo Cunha, a quem já acusou de ter indicados no governo e ainda o comparou com o senador cassado Demóstenes Torres.
Júlio Delgado atrai tucanos
Nos últimos dias, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) está tendo de rebater informações de que sua candidatura à Presidência da Câmara desidratou e que poderia desistir. Ele garante que continua como candidato. O deputado tem tentado alavancar seu nome com apoio de governadores e caciques do PSDB. Ao longo da semana passada, ele se reuniu com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e na quinta-feira, em Belo Horizonte, conversou por telefone com o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que teria lhe dado ânimo.
O deputado concentrou as viagens ao longo da última semana: esteve no Espírito Santo, São Paulo, Brasília, Mato Grosso do Sul e Minas. Nesta semana, estará no Rio Grande do Sul, Pará, Amazonas e talvez vá ao Nordeste. Júlio iniciou sua campanha em dezembro por Pernambuco, quando visitou Renata Campos, viúva de Eduardo Campos (PSB), ex-governador de Pernambuco que morreu num acidente aéreo na campanha presidencial de outubro. Todos os voos são em aviões de carreira.
— Estou passando o que passa o cidadão: fico preso por causa de chuva, de atraso, porque tem mala extraviada. Sou deputado e sou mortal também. A maioria dos deputados viaja em jatinho e não sabe o que é ficar na fila.
O PSB está bancando os gastos com as viagens e também o pouco material que Júlio irá produzir. Ele conta com colaborações informais do staff de Aécio Neves para produzir seu material e ajudar na estratégia de marketing. As peças de campanha, por exemplo, são feitas pelo marqueteiro Paulo Vasconcelos, que cuidou da campanha presidencial do tucano. Até o momento, Júlio tem apenas cem adesivos que irá levar para Brasília. A ideia é ser visto como um nome da sociedade, por isso o slogan “A Câmara com o respeito de todo o Brasil”.
— Para contrapor às outras campanhas estamos tentando fazer diferente. Estive em uns oito estados e, até o final da campanha, devo fazer a metade. Tem estado com liderança para receber e outros, não. Fazer almoço, evento em todos os lugares, são muitos gastos e meu partido tem limitações. Não vou expôr o PSB a uma campanha milionária. Isso iria contra a mudança que queremos no Legislativo.
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