quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Uma gestão paradoxal | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

A Câmara começa hoje a analisar a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer. Se não houver surpresas, ele se livrará do processo, como já se livrou da primeira investida da Procuradoria-Geral da República e da ação na Justiça Eleitoral que também poderiam tê-lo apeado do cargo.

Há algo de paradoxal aí. Temer, apesar de ser o presidente mais impopular da história do país e estar enroladíssimo em escândalos de corrupção, conseguirá, ao que tudo indica, concluir seu mandato, enquanto Dilma Rousseff, igualmente impopular, mas que ainda conserva uma imagem de honestidade pessoal, perdeu o seu. A elucidação do mistério é simples. Dilma dilacerou a economia do país e ainda por cima se meteu numa crise política que praticamente inviabilizava suas tentativas de consertar as coisas. Nem o PT votava a favor de suas medidas.

Já Temer logrou impedir a deterioração do quadro econômico e ganhou algum tempo para a aprovação de reformas. Equilibra-se agora entre o fisiologismo explícito e o cálculo pragmático de que não vale muito a pena iniciar um longo processo de afastamento (que resultaria em eleição indireta), quando estamos a menos de um ano do pleito direto.

Temer teve a chance de passar para a história como o presidente que estabilizou a economia e fez as reformas necessárias para o país voltar a crescer. As coisas começaram a dar errado para ele quando os irmãos Batistas entraram em cena, solapando a ampla maioria parlamentar que o governo vinha construindo.

Já para o país, as coisas começaram a dar errado quando o presidente, em vez de renunciar ao cargo e deixar que a agenda de reformas seguisse sob a batuta de outro, se pôs a comprar os votos necessários para salvar seu mandato, num movimento que, ironicamente, conspira contra a recuperação da economia, que sempre foi a primeira e única razão de ser do governo Temer.

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