Por Andrea Jubé e Bruno Peres | Valor Econômico
BRASÍLIA - O presidente Michel Temer e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reconciliaram-se na véspera da apreciação da segunda denúncia contra o pemedebista oferecida pela Procuradoria Geral da República, depois de um mês de atritos. Na expectativa de nova vitória de Temer no plenário, ambos combinaram uma agenda de votações, que Maia divulgará hoje. Temer fará um pronunciamento após o desfecho da votação anunciando os próximos passos do governo, com prioridade para a reforma da Previdência e as medidas de ajuste fiscal.
O pactuado entre Temer e Maia implica o espaço para o protagonismo de cada Poder, de modo que a Câmara votará a pauta econômica do governo porque é interesse do país, mas o presidente da Casa pautará, de igual forma, projetos do Legislativo. "Haverá convergência em algumas agendas, em outras não", explicou Maia a uma roda de jornalistas. Ele acrescentou que o "Congresso Nacional tem responsabilidade com a sociedade" e que em meio a uma profunda crise econômica "não pode haver embate político".
Depois de sair da reunião com Temer, Maia chegou à Câmara bem-humorado e contando piadas. Mas questionado sobre os embates com o presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR) - que filiou ao partido dissidentes do PSB com quem o DEM estava dialogando, - Maia sinalizou que o clima não é de plena reconciliação. A disputa com Jucá, no âmbito partidário, impactou na relação de Maia com o Planalto. "Não há amiguinhos na política", ressaltou o presidente da Câmara.
Maia declarou-se, contudo, injustiçado quanto aos rumores de que teria conspirado contra Temer. "Que ato concreto eu fiz contra o governo?", questionou aos jornalistas. Ele enumerou, ao contrário, os gestos que fez para ajudar o palácio. Primeiro, quando não havia quórum para aprovar a medida provisória que dava status de ministro para Moreira Franco (da Secretaria Geral da Presidência), ele convocou deputados para comparecerem ao plenário e votar. Lembrou, ainda, que havia pressão de parlamentares pelo fatiamento da denúncia contra Temer e os ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha (Casa Civil), e ele apontou as razões técnicas e jurídicas para que não houvesse essa divisão. "O problema são as pessoas do entorno que mais atrapalham que ajudam", avaliou.
Maia tem interesse em votar a reforma da Previdência e os projetos do ajuste fiscal, que o Planalto enviará ao Congresso até o fim do mês. Contudo, a maioria dos deputados resiste a essas votações de natureza impopular. Temer tem feito um corpo-a-corpo na tentativa de convencer os parlamentares a aprovarem a matéria. Lembra que foi relator da reforma no governo Fernando Henrique e, após a aprovação da proposta, foi reeleito deputado federal com 150 mil votos a mais que no pleito anterior.
Temer fez gestos aos deputados até o último minuto, como a sanção ontem no início da noite do programa de regularização tributária, o Refis. Os próximos passos, segundo fontes do Planalto, são a recomposição da base aliada e a equação da articulação política, já que os deputados do Centrão (PP, PR e PSD) não dialogam com o articulador político do governo, o ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy (PSDB).
Sobre Imbassahy, Maia ponderou que não há ministro da articulação política que agrade em momento de crise fiscal. Temer não substituirá Imbassahy, mas o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, terá de reforçar a articulação política nos casos mais sensíveis, como fez agora na votação da denúncia. Sem diálogo com Imbassahy, Padilha recebeu deputados do Centrão para ouvir e registrar as demandas do grupo. Ele deverá fazer o mesmo na votação da reforma da Previdência, caso o governo consiga avançar com o projeto.
Não haverá mudanças no primeiro escalão antes de abril, quando os candidatos se desincompatibilizarão dos cargos para a campanha. Temer sabe que não será um presidente popular, mas se mantiver o ritmo de recuperação econômica, com redução do desemprego, tentará influir na sucessão.
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