quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Ricardo Noblat || Receita para o desastre

- Blog do Noblat / Veja

Enganou-se quem quis
Primeiro você se elege sem dispor de um plano de governo e sem precisar debater as escassas, vagas e mal costuradas ideias que tinha. Uma vez empossado, tenta fazer o que lhe passa pela cabeça ou o que lhe sopram a cada instante. Natural que assim seja.

À falta de uma equipe afiada para governar, improvisa. Cerca-se de auxiliares que sejam leais. Competência importa menos. E se alguns deles, por qualquer razão ou sem nenhuma, o decepciona, dispensa-os. Pessoas… Com é mesmo? São como fusíveis.

Se lhe cobram provas ou evidências das afirmações mais disparatadas que oferece para distrair a massa ignara, responde: “Para quê provas? É a minha verdade”. Se anuncia uma medida errada, recua e diz que não é obrigado a saber de tudo. Ninguém é.

Se os adversários se horrorizam com o que faz, é sinal de que está mais do que certo. E se aqui e ali contraria até mesmo os que o elegeram e o mimam, ora o problema é deles, e não seu. Se ficarem insatisfeitos, que escolham outro nome na próxima eleição.

A imprensa não dá sossego? Tenta enfraquecê-la desacreditando-a. Estelionato eleitoral é fazer o contrário do que prometeu. Deixa de ser estelionato se chamado por outro nome. Como Nova Política em contraposição à Velha que deve ser banida por todos os meios.

A Nova Política favorece toda a sorte de vantagens para o reaparelhamento do Estado ao gosto do freguês, e também para que se teste e se possa ir além dos limites estabelecidos por leis que pedem para ser reescritas ou simplesmente ignoradas.

Afinal, vale o quê? A vontade da maioria. À minoria resta a subordinação à espera do momento de reinventar-se para que se torne maioria outra vez. É assim por toda parte onde o voto decide, embora não fosse tal mal no tempo da ditadura…

Se os demais poderes criam dificuldades à realização dos seus desejos, acusa-os de sabotá-lo e contra eles mobiliza seus devotos. Aponta-os como culpados pelo insucesso de ações destinadas a assegurar um futuro melhor para o país. Provas? Não precisa.

O que está por vir não o aflige. Não estava no seu plano chegar aonde chegou. Foi Deus que quis. E foi para beneficiar a família que se lançou candidato. Se Deus não quiser mais, irá para casa com a certeza de que pode ter sido tudo, menos um banana.

É o que sempre foi, porra! Não escondeu quem era. Não pode ser responsabilizado pelo eventual engano alheio. Taokey? Taokey?

A volta da censura

Sinais da treva
Henrique Pires, Secretário Especial de Cultura, deixou o governo Bolsonaro por não concordar com a censura às manifestações de arte. “Seguir [no cargo] para ficar e bater palma para a censura, eu prefiro sair”, justificou-se.

Três filmes foram proibidos de participar da Mostra do Filme Marginal promovida pelo Centro Cultural da Justiça Federal, no Rio, marcada para o próximo dia 18. Dois deles continham críticas a Bolsonaro.

Era assim no tempo da ditadura militar de triste memória.

Doria é ainda um amador

A aula que ele perdeu
A lição é velha, tem mais de 70 anos, e foi ensinada pelos sábios do Partido Social Democrático (1945-1965) criado durante a ditadura do Estado Novo e sob a inspiração do então presidente Getúlio Vargas: não se faz uma reunião sem antes acertar seus resultados.

Por jovem e com poucos anos de política, o governador João Doria ignorou a lição e colheu sua mais importante derrota até agora desde que passou a mandar no PSDB, despachando para o exílio os históricos líderes do partido.

Com seu aval, as seções municipal e estadual do PSDB de São Paulo patrocinaram os pedidos de expulsão do partido do deputado Aécio Neves (MG), ex-candidato a presidente da República em 2014, acusado de corrupção e obstrução de Justiça.

Por 30 votos contra 4, a Executiva do PSDB recusou os pedidos. Bruno Araújo (PE), presidente do partido por obra e graça de Doria, explicou que o Código de Ética do PSDB só prevê expulsão em casos de corrupção cuja sentença tenha transitado em julgado.

Aécio sequer foi condenado ainda na primeira instância da justiça. Pelo visto, Doria desconhecia o Código de Ética do partido que imagina controlar. Se não desconhecia, apostou que ele não seria levado em conta. Perdeu, e feio.

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