segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

PSDB e DEM enfrentam divisão interna

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Brasília - A oposição põe os pés no governo de Dilma Rousseff (PT) assaltada por conflitos internos entre grupos que defendem uma posição menos ofensiva e aqueles que desejam manter um forte embate com o novo governo petista.

No PSDB, o ruralista Antonio Duarte Nogueira Júnior (SP) é o favorito na disputa pela liderança do partido na Câmara, com o apoio da bancada mineira, que deve emplacar o deputado Paulo Abi Ackel (MG) na liderança da minoria.

O deputado ACM Neto (BA) deve retomar a liderança do DEM na Câmara como meio de fortalecer seu grupo na disputa interna pelo comando do partido e evitar qualquer possibilidade de distensão da oposição no relacionamento com o Palácio do Planalto.

Em comum, os dois deputados têm a pouca idade, vêm de famílias tradicionais de políticos e vão pegar pela frente partidos divididos. ACM Neto (DEM) tem 31 anos e é neto de Antonio Carlos Magalhães, que dominou a política baiana até a sua morte, em 2007. Duarte Nogueira, o "Nogueirinha", tem 46 anos e é filho do ex-prefeito de Ribeirão Preto Duarte Nogueira, que governou a cidade duas vezes (de 1969 a 1973 e de 1977 a 1983).

Junto com o pai, Duarte Nogueira iniciou a sua carreira política no PFL em 1985, foi para o PTB, aderiu ao PRN na era Collor, voltou para o PFL, onde ficou até entrar definitivamente no PSDB, em 1999. O apoio do pai fez dele, aos 31 anos, secretário de Habitação de Mário Covas, em 1995. É próximo do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, de quem foi secretário de Agricultura e Abastecimento. Está indo para o seu segundo mandato na Câmara dos Deputados e promete uma oposição não tão generosa, como a que prega o senador eleito Aécio Neves (MG), nem tão a agressiva como a defendida pelos partidários do candidato derrotado a presidente, José Serra.

"Oposição tem que ser oposição", afirma Duarte Nogueira, definindo, porém, o limite dessa atuação. "Não adianta só apontar o dedo na ferida dos governos. Temos que sair na frente com propostas". Dá como exemplo o caos aéreo: "Não adianta só criticar. Temos que avaliar se é melhor privatizar os aeroportos, fazer concessões a empresas para administrá-los ou melhorar a gestão do Estado", afirma.

O candidato a líder do DEM, ACM Neto, ocupa a trincheira para evitar que o partido amenize a ofensiva antipetista mantida pelos dois maiores partidos de oposição durante os oito anos de governo Lula. Líder da bancada em 2008 e aliado do presidente da legenda, deputado Rodrigo Maia (RJ), o deputado baiano é um dos protagonistas no embate travado contra o grupo do ex-presidente Jorge Bornhausen (SC) e seu filho, o atual líder, deputado Paulo Bornhausen (SC). As duas correntes terão o decisivo confronto na convenção nacional do partido em março, mas a disputa para liderar os 43 deputados eleitos irá antecipar o debate.

O grupo de Maia e ACM Neto acusa os adversários internos de estarem muito próximos ao governo, movimento que seria constatado pelas conversas do seu maior expoente no Executivo, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, com o vice-presidente eleito e presidente nacional do PMDB, Michel Temer. Outro indício disso foi o apoio manifestado por Paulo Bornhausen ao candidato do governo a presidente da Câmara, Marco Maia (PT). Do outro lado, há a tese de que a oposição precisa manter diálogo aberto com o governo sem deixar de ter o viés crítico que caracteriza o partido. O apoio a uma candidatura alternativa poderia tirar da Mesa o partido, já reduzido nas urnas nas últimas eleições.

"Devemos estar abertos ao diálogo institucional. Na medida em que o governo queira debater projetos, estaremos abertos. Mas evidente que isso não significa nenhum tipo de moleza para o papel que devemos cumprir: acompanhar cada ato do governo, cobrar cada promessa de campanha e mostrar o que é propaganda e o que é realidade", diz. Para ele, o diálogo deve ser restrito a uma agenda convergente, baseada, por exemplo, na reforma política, no debate sobre o financiamento da saúde sem criação de tributos e na discussão sobre melhorias na segurança pública.

ACM Neto deve enfrentar na disputa interna o nome que Bornhausen tem articulado nos bastidores: Marcos Montes (MG). Médico, ex-prefeito de Uberaba e ex-secretário de Desenvolvimento Social e Esportes no primeiro mandato do governador Aécio Neves (PSDB), Montes foi reeleito para seu segundo mandato e é atual vice-líder do partido na Câmara. Um terceiro nome tem sido ainda colocado na disputa, como "independente": Mendonça Prado (DEM-SE).

Na bancada, porém, ACM Neto é favorito, muito em razão do fato de já ter sido líder e também porque o presidente do partido, também deputado, é seu aliado. De acordo com ele, a oposição na era Lula foi "competente no Parlamento, principalmente o DEM, que marcou em cima e não se furtou nas horas mais espinhosas como mensalão e a queda da CPMF" -uma crítica indireta ao PSDB, que não embarcou no acirramento da crise do mensalão e teve defecções ao votar o fim da CPMF.

Com ACM Neto, a forte crítica ao governo deve continuar a ser feita pela legenda, mas é preciso fazer com que a crítica política que se faz no Congresso chegue à sociedade. "O que ocorre dentro do Congresso fica muito restrito às classes políticas. Não soubemos levar esse trabalho para as ruas. Esse é o principal desafio nessa legislatura".

O esboço dessa estratégia, no entanto, só poderá ser melhor traçado após a convenção de março. "Somente a partir da convenção vamos ter elaborado esse plano, mas tem uma agenda pesada que não avançou nesses oito anos na qual pode haver pontos de convergência". C.J.

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