segunda-feira, 17 de abril de 2017

Temer e o dígito solitário | Jose Roberto de Toledo

- O Estado de S. Paulo

Michel Temer chegou a um dígito de popularidade. Nova pesquisa nacional do Ibope, publicada aqui com exclusividade, mostra o presidente com 9% de ótimo ou bom. É um ponto a menos do que em março, e quatro a menos do que em setembro. A tendência de queda continuada é anterior à Lista de Fachin. A pesquisa fechou antes de as delações da Odebrecht com citações a Temer e oito ministros seus explodirem nas mídias tradicionais e sociais.

Defensores do presidente costumam dizer que a desaprovação é geral, que a revolta é contra todos os políticos. Pode ser, mas com Temer é pior, bem pior. A taxa de ótimo e bom dos governadores é mais do que o dobro da do presidente: 22%. E a dos novos prefeitos, quatro vezes superior à de Temer: 37%.

Mais importante é que, comparando-se esses resultados com os de dezembro de 2015 (última vez que o Ibope avaliou as três esferas de governo ao mesmo tempo), Temer é o único em baixa. Na média nacional, o ótimo e bom dos governadores cresceu três pontos, e a dos prefeitos aumentou de 24% para 37%. O salto de 13 pontos se explica pelo fato de os prefeitos recém-eleitos terem sido empossados há cem dias. Mas os governadores estão há mais tempo no poder do que o presidente, alguns com governos quebrados.

A amostra da pesquisa não permite extrair recortes estaduais, mas, mesmo no Sudeste, onde o Rio de Janeiro passa pela mais grave crise fiscal de sua história, a taxa de ótimo e bom dos quatro governadores é, na média, o dobro da de Temer: 17% a 8%. No Nordeste, então, é uma lavada: 33% a 5% para os governadores. Comparar a popularidade de Temer com a dos prefeitos nordestinos é covardia: 44% a 5%. Também no Sudeste, 35% a 8%.

Por que Temer é tão mais impopular que prefeitos e governadores?

Embora em sua gestão a diferença de popularidade seja maior do que na da antecessora, ele já pegou a Presidência em baixa. Em abril de 2015, quando Dilma Rousseff ainda estava no Planalto, o ótimo/bom presidencial já era metade do dos outros governantes. Temer ampliou esse gap de popularidade por três motivos: desemprego maior, renda menor e reforma da Previdência.

Pesquisa Ibope/CNI mostrou que, em março, o noticiário sobre mudanças na aposentadoria despertou mais do que o dobro da atenção que as notícias sobre corrupção e Lava Jato. Raro, o fato sugere que parte da população entendeu que o governo pretende atrapalhar sua vida. Somem-se a dificuldade recorde de conseguir emprego e a diminuição da renda familiar vinda do trabalho e está explicado porque quase 60% dos mais pobres e dois terços dos nordestinos acham Temer ruim ou péssimo.

Quando Dilma chegou a um dígito de ótimo/bom, na primavera de 2015, o então vice fez a profecia autorrealizável de que seria difícil para ela manter-se no cargo por mais três anos. Apesar de ele acrescentar que não mexia uma palha para virar presidente, a declaração de Temer virou manchete, seu aliado Eduardo Cunha deflagrou o impeachment e Dilma caiu em sete meses. Cabe perguntar: por um ano e nove meses, dá para segurar?

É mais provável que sim do que não. Por ao menos cinco razões. Embora crescente, a taxa de ruim/péssimo do atual governo (56%) ainda é bem menor que a do pior momento de Dilma (70%, em dezembro de 2015). Empresários querem que Temer fique para aprovar reformas. Embora decrescente, a maioria do governo no Congresso ainda é expressiva. O presidente da Câmara não é Eduardo Cunha, mas o genro do secretário-geral da Presidência.

O quinto motivo é o principal: o presidente não tem um vice dizendo abertamente ser difícil ele se manter no cargo com um único e solitário dígito de popularidade. Para Temer sair antes do palácio é preciso haver alguém querendo entrar logo.

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