Na cidade que lançou sua campanha, ex-ministro é visto como símbolo de ruptura
Andrei Netto | O Estado de S. Paulo
LYON, FRANÇA - Para responder à população que deseja expulsar do poder líderes políticos históricos e partidos tradicionais, 100% dos candidatos à eleição presidencial na França se apresentam como “antissistemas”. A fórmula vale até para o ex-premiê François Fillon, católico e conservador, acusado de ter empregado a mulher desde 1982 como funcionária fantasma.
E não é diferente com o ex-ministro da Economia Emmanuel Macron, ex-banqueiro que fez fortuna no mercado financeiro, mas hoje representa uma esperança de “algo novo” para seu eleitorado.
Uma das forças da candidatura de Macron, hoje ainda considerado líder nas pesquisas de opinião, apesar do empate técnico, é o fato de ele ter rompido com o Partido Socialista (PS), do qual foi militante, em 2008. Desde então afastado dos aparelhos partidários, o ex-economista do Banco Rothschild decidiu criar, em 2016, um novo movimento político, o social-liberal En Marche! (Em Movimento!), uma legenda de “terceira via” que se apresenta como sendo “nem de direita, nem de esquerda”. O argumento soa como música para seus apoiadores, que veem na ruptura do velho esquema ideológico francês a grande novidade da eleição.
Essa estratégia de rompimento com os partidos tradicionais nasceu em Lyon, terceira maior cidade da França, com 1,6 milhão de habitantes. Foi Gérard Collomb, prefeito de Lyon e oficialmente ainda membro do PS, que lançou Macron à presidência, contrariando sua legenda. Popular em sua região, o prefeito fez da cidade o epicentro do terremoto político causado pela criação do En Marche! e pela candidatura do economista de 39 anos.
“Na história da França, há muitas coisas que partiram de Lyon. Nessa eleição, é a mesma coisa. Para Macron, Lyon é o berço, o nascimento”, diz Gregory Dayme, de 39 anos. Na sexta-feira, o empresário buscou no comitê do candidato panfletos para distribuir em favor de Macron. Ex-militante do partido centrista Movimento Democrático, Dayme aderiu ao desafio de eleger o ex-ministro de François Hollande. “Creio que Macron chegará ao segundo turno com Marine Le Pen e vencerá. Qualquer que seja o candidato, ele vencerá com folga.”
Macron também tem fãs. Jovem, elegante e bem apessoado, ele usa de um discurso erudito e cursou a Escola Nacional de Administração, pela qual passaram três dos últimos sete presidentes da França. A formação impecável para um garoto oriundo da classe média interiorana desperta o sonho de mobilidade social, do qual o candidato é um dos defensores.
Anne Quiviger, funcionária de uma empresa de logística, foi seduzida pelo ex-ministro e agora faz campanha por ele na família. “Eu o apoio e quero mostrá-lo a parentes e amigos. Há um terço de franceses indecisos e quero que conheçam melhor o programa de Macron”, conta a jovem, que era eleitora do PS. “O que me atrai em Macron é a mudança, sua juventude. Gosto de sua posição centrista.”
Amandine Di Loreto, estudante de 18 anos, tornou-se uma militante. “Entre os eleitores de Macron, encontramos origens diferentes. Sou centrista de direita, mas há muitas pessoas centristas de esquerda”, diz, enumerando as vantagens de um candidato “aberto” a outras tendências políticas. Ela lamenta que na campanha não se tenha discutido mais os programas dos candidatos, que acabaram se digladiando em questões como escândalos de corrupção. “Na França, a política é uma instituição, mas hoje ninguém mais se interessa.”
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