terça-feira, 17 de abril de 2012

A batalha Hollande x mercados:: Clóvis Rossi

O candidato socialista, favorito na França, promete o ineditismo de ser mais forte que o mercado

Se ganhar a eleição francesa, como dizem todas as pesquisas, o socialista François Hollande terá feito, no domingo, sua promessa mais difícil de cumprir, quase impossível, para ser bem franco: Hollande quer ser "um presidente mais forte do que o mercado".

Não há exemplo recente, especialmente na Europa, de governante que tenha realmente se imposto aos mercados. Primeiro, os exageros de mercados desregulados levaram à crise de 2008, que rola até hoje. A crise, por sua vez, engoliu um governante após o outro, derrotando todos os que enfrentaram eleições desde então.

Na segunda onda da crise, a partir de 2010, os mercados sitiaram a Europa, e a reação dos governantes, sem exceção, foi a de ceder, promovendo ajustes brutais que minaram a popularidade de todos, uns mais que outros.

O exemplo mais recente é o do espanhol Mariano Rajoy, eleito faz apenas quatro meses e meio, com 44% dos votos: depois de propor ao Congresso o Orçamento mais austero desde que a Espanha recuperou a democracia, há 35 anos, a popularidade de Rajoy desceu a 38%. E 58% dos consultados desaprovam sua gestão, conforme pesquisa publicada no domingo pelo jornal "El País".

Para ser de fato mais forte que os mercados, Hollande teria que combinar duas coisas que parecem incompatíveis: adotar políticas pró-crescimento e, por extensão, pró-emprego sem se deixar dobrar pela inevitável reação dos mercados.

O líder socialista já avisou, aliás, em entrevista ao "Jornal de Domingo", que haverá, sim, uma reação dos agentes de mercado, apenas seis dias depois do segundo turno, marcado para dia 6.

A agência de avaliação de risco Moody"s dirá se mantém ou não a cotação da França (a melhor possível, AAA) ou se seguirá a Standard & Poor"s, que cortou a nota francesa há três meses.

Hollande tratou de explicar que é mera coincidência o fato de a avaliação sair tão perto da eleição, mas é inevitável que, se a nota for rebaixada, o gesto seja entendido como o primeiro ataque dos mercados ao novo presidente.

Não que Hollande seja um radical cujo programa preveja trocar a austeridade pelo crescimento. Ele quer, sim, rever o pacto fiscal europeu que exige cravar na Constituição de cada país o equilíbrio fiscal até 2016, mas não para rejeitar a austeridade. Quer, apenas, acrescentar a ela medidas pró-crescimento e, por extensão, pró-emprego (o desemprego na França está em 10%, o mais alto em 12 anos).

Mas os mercados têm reagido sempre com virulência a qualquer iniciativa destinada a mitigar a austeridade, mesmo que seja para combinar equilíbrio fiscal e crescimento, que é a necessidade mais premente de uma Europa estagnada.

Hollande cobre a sua retaguarda assegurando, como o fez no comício de domingo, que a mudança -sua palavra de ordem- será "calma, firme e lúcida".

Convencerá os mercados? Pode ser, mas é improvável. Os tempos da política, necessariamente mais lentos, não combinam com os dos mercados, elétricos, agitados, raramente lúcidos.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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