domingo, 5 de agosto de 2018

Em crítica a Bolsonaro, Alckmin combate ódio e pancadaria na eleição

Em convenção, tucano diz que não precisa de pimenta para ser presidente

Daniel Carvalho, Thais Bilenky | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Oficializado neste sábado (4) candidato a presidente, Geraldo Alckmin (PSDB) criticou sem citar o adversário Jair Bolsonaro (PSL) em um discurso contra o ódio e a pancadaria.

“Precisamos da ordem democrática, que dialoga, que não exclui, que tolera as diferenças, que não busca resolver tudo na pancadaria nem usa o ódio como combustível da manipulação eleitoral”, afirmou, na convenção do PSDB, em Brasília.

Simpático à ditadura militar e entusiasta dos presidentes generais, Bolsonaro, que é capitão reformado, insuflou nos últimos meses um discurso autoritário como forma de resolver a crise nacional. Alckmin se contrapôs.

“Ainda hoje, na América Latina, vemos em que degeneraram regimes conduzidos por quem promete dar murro na mesa, dizendo que ‘faz e acontece’, que pode governar sozinho ou acompanhado apenas de um grupo de fanáticos. Gente assim quer é ditadura. E é ditadura que implantam quando chegam ao poder. Ditadura que logo degenera em anarquia”, atacou.

O tucano disputa com Bolsonaro uma vaga no segundo turno e precisa recuperar votos do campo da centro-direita. A escolha da senadora Ana Amélia (PP-RS) como vice reforça a estratégia de acenar ao eleitorado que flerta com o capitão reformado.

Ana Amélia prometeu ser leal e respeitar a palavra dada. “Quando tiver alguma coisa que eu não concorde, direi para ele corrigir o rumo, se for o caso, com a franqueza que precisa ter”, afirmou ela na saída.

Para elogiá-la, Alckmin lançou uma indireta a Bolsonaro e também a João Doria (PSDB), que se elegeu prefeito negando ser político, mas um gestor.

“Em seu primeiro mandato, ela já fez muito mais do que muitos que fingem há décadas não serem políticos”, alfinetou.

O tucano brincou ainda com sua fama de ser sem sal. “Alguns dizem que eu serei um bom presidente, mas que não sou um candidato com a dose necessária de pimenta. Mas esta não é eleição para candidato. É a eleição para presidente!”.

Prevendo nova polarização com o PT no segundo turno, o candidato tucano responsabilizou o partido pelo desemprego que assola o país, como antecipou a Folha.

“Foram as bravatas e o radicalismo que criaram a coincidência que sintetiza a herança trágica que o governo petista nos deixou: 13, o número do partido que lá esteve por 13 anos; pois bem, são hoje 13 milhões o número de famílias brasileiras atiradas ao desemprego”, disse.

Alckmin teve sua candidatura homologada por 288 votos a favor, uma abstenção e um voto contra após conquistar apoio do centrão (DEM, PP, PR, PRB e SD) e de PSD, PTB e PPS, maior arco de aliança entre os presidenciáveis.

Dos comandantes destes partidos, apenas ACM Neto (DEM), Gilberto Kassab (PSD) e Roberto Freire (PPS) compareceram. Nomes envolvidos em casos de corrupção, como o chefe do PR, Valdemar Costa Neto, não apareceram no evento.

Figura presente em todos os eventos do PSDB, Aécio não foi à convenção deste sábado nem foi mencionado nos discursos.

Candidato ao governo de Minas Gerais, o senador Antonio Anastasia (PSDB), não quis comentar a decisão de seu correligionário de tentar apenas uma vaga na Câmara dos Deputados.

“Sempre falei que íamos aguardar e respeitar a decisão dele. Foi tomada, vamos adiante”, limitou-se a dizer Anastasia quando chegou à convenção.

VICE
Considerada um ganho para a chapa do tucano, Ana Amélia despertou declarações inspiradas. Foi saudada com um vídeo em que foi chamada de "parceira perfeita". Ao chegar à convenção, Alckmin voltou a chamá-la de vice dos sonhos.

Candidato a governador de Minas e seu colega no Senado, Antonio Anastasia (PSDB) foi direto. “Eu sou apaixonado pela Ana Amélia”, declarou, olhando-a. A candidata lhe mostrou um coração de pelúcia do PSDB Mulher.

Dois discursos depois, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) também fez seu flerte. Dirigindo-se a Anastasia, disse: “Desculpe a concorrência, mas eu também sou apaixonado pela Ana Amélia”.

O senador José Serra (PSDB-SP), depois de encerrar sua fala, retornou o microfone “para fazer uma reclamação, viu, Geraldo? Por levar Ana Amélia embora. Minha parceira no Senado”.

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, chamou-a de “cereja do bolo, essa querida e brilhante mulher”. O seu colega do DEM, ACM Neto, disse que torceu “muito para que fosse ela, uma mulher de fibra”.

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