Candidata da Rede foi oficializada neste sábado (4) ao lado do vice Eduardo Jorge (PV)
Angela Boldrini/ Joelmir Tavares | Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Com o desafio de provar que tem viabilidade eleitoral, Marina Silva foi oficializada neste sábado (4) como candidata à Presidência da República pela Rede Sustentabilidade.
"Estamos aqui pela terceira vez, talvez em situação bem mais difícil, mas confiando que dessa vez a postura vai derrotar as estruturas", afirmou a candidata.
Em evento em Brasília, o partido homologou a chapa “Unidos para Transformar o Brasil”, composta pela ex-senadora e o ex-deputado Eduardo Jorge (PV). Ele foi chamado por ela de "querido amigo de luta e de paz".
"Não quero mais disputa para o atraso, temos que disputar os avanços", discursou ela, em crítica aos chamados partidos tradicionais.
Na fala aos apoiadores, de cerca de 50 minutos, a ex-senadora disse que representa "o projeto mais preparado" e que sua candidatura "é a que tem mais condições de unir o Brasil".
Ela reforçou mensagens como a de que não fará desconstrução de biografias de adversários e de que defenderá o fim da reeleição, caso chegue ao Planalto.
Também exaltou sua história pessoal de superação e falou de bandeiras como educação e igualdade social.
Candidata em 2010 e 2014, Marina obteve 22 milhões de voto no último pleito, mas não conseguiu chegar ao segundo turno, que foi decidido entre o PT e o PSDB.
Neste ano, pela Rede, ela mantém o discurso de que é a terceira via e contra a “velha política” e fechou apenas uma aliança, com uma sigla da qual já fez parte, o PV. Segunda colocada nas pesquisas de intenção de voto em cenários sem o ex-presidente Lula, com 15%, terá que enfrentar dificuldades geradas pelas escassas alianças, como a falta de recursos e tempo de televisão.
Em Brasília, a convenção contou com a presença de políticos, militantes e do ator Marcos Palmeira, que atuou como mestre de cerimônias. “Ele foi eleito o segundo homem mais bonito, só depois de mim”, brincou o porta-voz da Rede e coordenador de campanha Pedro Ivo Batista, ao abrir o evento.
Palmeira, que chegou até a ser cotado para vice na chapa, abriu o evento dizendo que ali ocorria um encontro "de pessoas do bem".
Após duas horas de espera por caravanas de apoiadores saídas de São Paulo e do Mato Grosso, Marina Silva e seu vice saíram do camarim para o palco sob aplausos.
Organizados com camisetas verdes, laranjas e amarelas, militantes se dividiram em três as arquibancadas ---os de verde ficaram atrás da candidata.
O primeiro a falar foi o pastor Levi Araújo, da Igreja Batista. "Há esperança para o Estado laico, esperança para aqueles que não misturam Bíblia com Constituição", afirmou.
Marina é evangélica e tem procurado manter pontes com igrejas, embora tente se distanciar da bancada religiosa.
Depois, um grupo de mulheres puxou a presidenciável e o vice para o palco para uma apresentação. Em ciranda, eles cantaram uma música sobre a força da mulher rendeira. A letra continha um jogo de palavras unindo as expressões "rede" e "vai balançar".
Entremeando as falas, houve performances de black music e música regional. Discursaram pré-candidatos do partido, como a indígena Joênia Wapichana (RR) e a ex-senadora Heloísa Helena (AL), que disputarão vagas na Câmara dos Deputados.
Eduardo Jorge sugeriu que o nome da coligação deveria priorizar outra mensagem em vez de transformação. "Prefiro que ela [Marina] seja a candidata da pacificação. Pacificar para transformar", disse.
O vice falou que "Marina é uma voz de esperança neste momento dramático".
Além de Eduardo, o presidente do PV, José Luiz Penna, compareceu à convenção. Penna, que é ligado ao pré-candidato Geraldo Alckmin (PSDB), foi vencido pelo grupo que defendia o apoio à ex-senadora.
A coligação foi representada por militantes do PV do Distrito Federal, e uma faixa com os dizeres “Marina Silva + Eduardo Jorge = O Brasil que eu quero” foi colocada embaixo do telão principal.
Além dos verdes, um pessebista também compareceu à convenção. O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, cujo partido está coligado com Rede e PV na disputa local passou “para dar um abraço na Marina”.
A presidenciável fez gracejo também com a aparição de um tucano na entrada do local da convenção. Ela disse que a presença do pássaro foi uma homenagem.
“Os tucanos de verdade sabem quem ainda está comprometido com a social-democracia”, afirmou ela, em alfinetada ao PSDB do adversário Geraldo Alckmin.
Não faltaram, aliás, indiretas ao adversário no discurso da ex-senadora, que voltou a afirmar que sua aliança com o PV é programática e não por causa de tempo de televisão. "Não substituímos a população pelo centrão. O povo brasileiro não vai ser destruído por centrões de esquerda, de direita, de centro, de nada. Quem está no centro é o povo brasileiro", afirmou ela.
CLÁUSULA DE BARREIRA
Neste pleito, a candidata terá outro desafio além de demonstrar viabilidade na corrida presidencial.
A Rede Sustentabilidade, partido fundado por ela em 2015, passa por sua primeira eleição geral pressionado pela cláusula de barreira aprovada no Congresso em 2017. A Rede aposta na ex-senadora e na coligação tardia com o PV para fazer o número mínimo de votos necessários.
"Nós da rede somos um partido em movimento e nós acreditamos nas candidaturas em movimento, nas candidaturas avulsas", afirmou Marina, quando questionada sobre as estratégias da Rede para vencer a cláusula de barreira. "E as nossas estratégias são no sentido de não permitir que partidos programáticos tenham que ser desconstruídos."
O vice também se manifestou sobre o assunto, afirmando ser favorável à cláusula, que tem como objetivo diminuir o número de partidos políticos no país. "O problema é que eles põem a cláusula de barreira e colocam tanto privilégio para alguns que terminam querendo esmagar a gente. Não é possível, tem que haver um mínimo de equanimidade."
O partido tem que fazer 1,5% dos votos válidos, distribuídos em ao menos nove estados, ou eleger ao menos um deputado federal em cada um deles para ter acesso aos recursos do fundo partidário e ao tempo de TV.
Hoje, a Rede tem apenas dois deputados federais e um senador.
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