A janela demográfica do crescimento inicia fechamento, o que pressiona governos e sociedade
O termo “bônus demográfico”, de significado obscuro para leigos, está no centro de décadas de discussões sobre o desenvolvimento do país e também seus sistemas de aposentadoria. Pois a demografia — idade da população, a velocidade de seu envelhecimento, a taxa de fecundidade e natalidade etc. — é essencial para ajudar a plasmar a evolução econômica, social e até política de um país.
Na semana passada, o noticiário sobre novas projeções populacionais feitas pelo IBGE veio com a revelação de que o bônus demográfico brasileiro já começou a encolher, antecipando estimativa anterior que fixava este marco em 2023. Não se trata de simples curiosidade, pois este fato tem amplas implicações.
O “bônus” existe enquanto a população ativa (15 a 64 anos) cresce acima da média da população total. Significa que a força de trabalho se expande, condição necessária para que a economia se desenvolva. Todo país rico passou por esta fase.
O alerta de que o bônus começou a encolher, e antes do previsto, é sério, porque a população ativa entra em tendência de queda antes que o Brasil, por exemplo, tenha conseguido criar um sistema educacional capaz de preparar os jovens para entrarem no mercado de trabalho com o nível de capacitação adequado. Não é o que acontece. Basta consultar os resultados de testes e exames que medem a qualificação da juventude. O Pisa, avaliação internacional feita pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) junto a jovens de vários países que cursam o ensino médio, situa o Brasil entre os últimos colocados.
Não há alternativa a não ser apressar o aperfeiçoamento educacional —há uma importante reforma do ensino médio em andamento, um ponto nevrálgico na crise no setor —e estabelecer políticas multissetoriais para atacar problemas decorrentes de todo este processo, como é o da baixa produtividade da economia brasileira, um dos mais graves.
Levantamento da Fundação Getulio Vargas, feito para O GLOBO, colocou o Brasil, num ranking de produtividade composto por 68 países, no 50º lugar. Entre as causas há erros históricos: na educação, no protecionismo, no populismo, nos gastos, entre outros equívocos. O começo do fim do “bônus” aumenta bastante a pressão sobre os governantes para que, enfim, a qualidade do ensino melhore como necessário, para que a mão de obra seja aperfeiçoada, e a produtividade da economia melhore.
O agravante é que, agora, a perspectiva de fechamento da janela demográfica estabelece prazos mais curtos para que reformas, como a previdenciária, parte de todo este quadro, sejam realizadas. Um ponto de referência é 2048, quando a população chegará a 233,2 milhões e começará a diminuir. Não há muito tempo mais para ser feito o que dirigentes e toda a sociedade têm adiado há décadas. A pobreza e as desigualdades podem se perpetuar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário