segunda-feira, 28 de maio de 2018

Greve continua e desorganiza as cidades

- Valor Econômico

BRASÍLIA, SÃO PAULO, BELO HORIZONTE E RIO - A greve dos caminhoneiros não havia se encerrado até o fim da noite, aprofundando a desorganização da economia, embora vários trechos de rodovias tenham sido desbloqueados. Há desabastecimento generalizado de combustíveis nos postos de todo o país, aeroportos parados, funcionamento precário de alguns hospitais por falta de insumos e, em várias cidades, cancelamento de aulas nas escolas públicas hoje. Em grupos de WhatsApp, motoristas planejam manter a paralisação até amanhã. Para complicar a situação, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) convocou greve por 72 horas a partir da quarta-feira, reivindicando a redução dos preços dos combustíveis e a demissão do presidente da Petrobras, Pedro Parente

Adesão diminui, mas problemas de abastecimento continuam
O fim dos problemas de abastecimento causados pela greve dos caminhoneiros ainda parece distante, embora o governo federal tenha cedido a várias exigências dos líderes do movimento e diversos trechos de rodovias tenham sido desbloqueados nos últimos dias. Em grupos de Whatsapp, os motoristas planejavam continuar com a paralisação até amanhã, pelo menos. Além disso, a normalização da entrega de combustíveis e outros produtos a postos de gasolina e aos varejistas deverá levar dias, semanas ou meses, dependendo do caso mesmo se as entregas começarem a ser regularizadas.

Para complicar um pouco mais a situação, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) convocou uma greve por 72 horas a partir da quarta-feira para reivindicar a redução dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha e a demissão do presidente da Petrobras, Pedro Parente.

De acordo com o governador de São Paulo, Márcio França (PSB), o Estado já teve 13 mil caminhoneiros protestando, número que teria caído para 1,3 mil. Ele ressaltou várias vezes a queda de 90% na mobilização. Informou que havia ontem 46 "interrupções ativas" de vias em São Paulo e 210 operações de escoltas para garantir abastecimento em setores críticos, como medicamentos para hospitais e alimentação para presídios.

Segundo Márcio França, as reivindicações dos caminhoneiros são justas, pois, na ponta do lápis, os custos com combustível, pedágio e manutenção acabam sendo maiores que a remuneração oferecida. "Não há manifestação que dure tanto tempo se não houver justeza", afirmou.

Ele realçou, ainda, que o movimento não tem liderança única e organização convencional. "É uma liderança de WhatsApp, de Facebook. Mas é efetiva". Isso poderia ser constatado, segundo ele, porque os caminhoneiros recebidos ontem por ele cumpriram a promessa de desmobilizar 90% dos protestos no Estado. França disse ainda que a expectativa é de que uma nova proposta seja apresentada aos caminhoneiros nesta quinta-feira.

Em Brasília, o processo de normalização do abastecimento de combustíveis em Brasília ocorria ontem lentamente. Segundo o Sindicato dos Empregados de Postos de Combustíveis (Sinpospetro-DF), a chegada de combustíveis na capital federal está ocorrendo em sua grande maioria nos postos da BR Distribuidora, enquanto outras bandeiras e as unidades sem marcas próprias ainda não estão conseguindo obter gasolina. Ele explicou que há muitos postos sem bandeira no Distrito Federal e que a preferência da BR por postos de sua bandeira dificulta a normalização.

O Aeroporto de Brasília recebeu 550 mil litros de querosene de aviação (QAV) no início da noite de ontem, segundo informou a concessionária Inframerica. O abastecimento elevou os níveis dos reservatórios para 18% da capacidade máxima. O comboio foi escoltado por forças federais de segurança. A partir da fronteira com o Distrito Federal, os veículos foram acompanhados pela frota da Polícia Militar local até o aeroporto da capital.

Em São Paulo, a Polícia Militar anunciou a escolta de caminhões de combustível a partir da tarde de ontem, para garantir a chegada com segurança aos postos da cidade - a escolta foi adotada em diversas cidades ontem. A capital paulista ainda enfrenta escassez de combustíveis, mesmo após a liberação de mais de cerca de 80% das rodovias do Estado, segundo informações da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp).

O prefeito Bruno Covas (PSDB), disse ontem que os serviços essenciais na capital paulista, como ambulâncias, serviço funerário e Guarda Municipal, estão garantidos. Segundo ele, o município, com a ajuda do Sincopetro, entidade que representa os postos de combustíveis, conseguiu três estabelecimentos para cuidar exclusivamente do abastecimento dos veículos responsáveis por serviços públicos.

Os ônibus de São Paulo deverão funcionar com 60% a 80% da capacidade total nesta segunda-feira, quando o rodízio continua suspenso. A operação de terça-feira em diante dependerá da chegada de mais combustível.

Em Minas, empresas de transporte têm orientando seus motoristas a não rodarem pelas estradas por receio de que fiquem parados nos protestos. Em alguns casos, quando os caminhões já estão em pontos de piquete, a posição das companhias é que os motoristas obedeçam aos manifestantes.

"A orientação é sempre não enfrentar. Não furar uma paralisação. Essa orientação ocorre por parte das empresas", disse o empresário e diretor do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de Minas Gerais, Ulisses Martins. O sindicato tem 132 filiados e é um dos cinco que reúne empresas do segmento no Estado.

"Dependendo do insumo, do produto que o caminhão carrega - se for algo mais vital como um insumo hospitalar, por exemplo -, o motorista pode tentar negociar para ver se é possível passar. Se os outros caminhoneiros deixarem, ele passa. Mas no caso de violência verbal, de ameaça, a orientação é que não sigam", disse Martins. Para ele, muitas empresas avaliam que não vale a pena colocar os caminhões nas estradas. "Por que mandá-los para a estrada. Para ficarem parados na estrada? Para quê, se certamente não vão deixá-lo passar?"

Martins questionou a suspeita levantada pelo governo federal de que empresários têm insulflado ou organizado, de forma dissimulada e ilegal, protesto dos caminhoneiros. "Há uma distância gigantesca entre não mandar meu motorista para a estrada e a prática de locaute. Não vejo como locaute", disse o dirigente.

A direção da Transpes, que se apresenta como "um dos maiores transportadores multimodais da América Latina" informou que 90% de seus 540 caminhões estavam parados. O restante tem contratos em atividades internos e não são prejudicados pelas paralisações. "Não conseguimos passar nas barreiras, os manifestantes ameaçaram nossos motoristas e assim nossa recomendação foi zelar pela segurança dos mesmos aderindo a paralisação", disse a companhia.

As operadoras de telecomunicações também estão em estado de alerta devido à crise de abastecimento de combustível. Como as teles dependem de frotas de veículos para fazer a instalação e manutenção dos serviços de telefonia, internet e TV por assinatura, o setor teme que haja comprometimento da manutenção de redes, do reparo e funcionamento dos geradores das estações de telecomunicações, que são acionados no caso de falta de energia.

A partir de agora, esses serviços poderão ser executados somente em casos de emergência, até a normalização do abastecimento, disse Eduardo Levy, presidente do SindiTelebrasil, que representa as companhias do segmento.

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