- O Estado de S.Paulo
Candidatos atacam governo, mas não mostram planos para o futuro da empresa
Quase uma semana de bloqueios nas estradas de todo o País, tropas nas ruas, colapso no abastecimento de combustíveis, corrida aos supermercados, ameaça de adesão dos petroleiros e um tombo de RS 50 bilhões no valor de mercado da Petrobrás. Se é chocante a demora do governo Temer para enfrentar a anunciada crise dos combustíveis, pode-se dizer que são decepcionantes as primeiras manifestações dos candidatos à sua sucessão na Presidência. Na grande maioria são genéricas, mais para palavras de ordem dirigidas a seu público interno, ou obviedades, dando a impressão de que seus autores ainda procuram saber de que lado sopra o vento para só depois tomar posição. Preferem bater forte no governo, recordista em impopularidade, do que nos caminhoneiros.
Na verdade, não é nada fácil identificar a direção do vento. A polarização que vem marcando as diferenças de pensamento da sociedade brasileira nos últimos tempos desta vez não é tão clara. Esquerda e direita embaralham suas posições sobre a justiça ou não das reivindicações dos caminhoneiros e sobre o real significado dos protestos. Uns comemoram os resultados da mobilização porque os caminhoneiros conseguiram parar o País, o que “MST e CUT não conseguiram”, outros crucificam a administração da Petrobrás, recorrem ao argumento de que a situação se agravou depois de Dilma e repetem o mote “onde foram parar os batedores de panelas?”.
Levantamento das opiniões expressas nas redes sociais, no meio da semana passada, mostra apoio às manifestações - contrariando a tendência da população de rejeitar qualquer movimento que cause transtornos no seu dia a dia. E que transtornos! Trata-se quase de uma reedição do início das jornadas de 2013, inclusive pela perplexidade em relação à amplitude dos protestos e às difusas cadeias de mobilização e comando. Todos se perguntam quem são as lideranças efetivas e qual o tamanho do locaute.
Provocações e dúvidas à parte, o fato é que a questão é muito mais complicada do que apoiar ou não a greve e os grevistas. Estão em jogo a política de preços dos combustíveis, as relações entre o governo e a Petrobrás e, em última instância, o papel do Estado na economia. Não basta apoiar ou renegar a privatização da Petrobrás. É preciso definir, com clareza, qual o modelo que se deseja para seu futuro. Mesmo defensores de uma gestão que preserve os ganhos dos acionistas e os investimentos da estatal, reconhecem que não dá para administrar uma empresa estratégica com critérios e prioridades estabelecidos para empresas “comuns”. Isso significa criar mecanismos de amortecimento de oscilações bruscas de preços, para evitar que sejam sufocados setores, empresas e, no fim da linha, a própria população.
Nesse sentido, o que os candidatos disseram até o momento é pouco esclarecedor. Ciro Gomes (PDT) foi mais Ciro do que nunca ao tachar a política de preços da Petrobrás de “aberração”. Manuela D’Ávila (PCdoB) atacou o “liberalismo entreguista” e, assim como Guilherme Boulos (PSOL), pediu a demissão do presidente da estatal, Pedro Parente. Num aceno ao pensamento comum do eleitorado, Álvaro Dias (Podemos) aproveitou o apoio aos caminhoneiros para atacar o peso da corrupção nas finanças da Petrobrás. João Amoêdo (Partido Novo) insistiu na privatização. Cauteloso como sempre, Geraldo Alckmin (PSDB) advertiu que mesmo por uma causa justa, não se pode transformar o País em refém. Para Marina Silva (Rede), erraram feio governo e Petrobrás, por não se anteciparem à crise. Declarando-se 100% ao lado dos caminhoneiros, Jair Bolsonaro (PSL) atribuiu os reajustes à necessidade de tapar buracos da corrupção e agradar aos governadores. E Lula, da prisão, mirou a falta de ação do governo e a política de preços. Também sem surpresas, Henrique Meirelles (MDB) defendeu o corte de gastos do governo, que resultaria na redução de impostos inclusive para os combustíveis.
No entanto, estejam ou não explicitadas nos seus programas, as diretrizes para a Petrobrás necessariamente terão de estar na cabeça dos candidatos. Mesmo que vingue um acordo sustentado na combinação de concessões aos caminhoneiros e subsídios, o sucessor de Temer encontrará uma Petrobrás cercada de incertezas. Assim como todo o País.
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