Governo cede a grevistas, mas não evita colapso nos serviços

Temer anuncia pacote que atende a caminhoneiros, incluindo redução do preço do diesel

Houve onda de vaias e panelaços enquanto o presidente Michel Temer falava em rede nacional

Após uma semana de fracassos na crise com os caminhoneiros, que provocou desabastecimento em todo o país, o governo federal voltou a ceder nas negociações. Entre as medidas, estão a redução de R$ 0,46 por litro de diesel, o congelamento do preço por 60 dias e, ao fim do período, estabelecimento de reajustes mensais. Também haverá, por medida provisória, isenção de pagamento de pedágio para eixos suspensos de caminhões vazios. O pacote, que deverá ter um impacto estimado em R$ 10 bilhões, não chegou a tempo de evitar mais transtornos: só na rede municipal do Rio 655 mil alunos ficarão sem aulas hoje.

Meio feriado forçado

Empresas estimam que só 40% dos ônibus vão circular hoje; muitos serviços não funcionarão

Ligia Dias Andrade, Leonardo Sodré e Luiz Ernesto Magalhães | O Globo

A greve dos caminhoneiros, que chega hoje ao oitavo dia, forçará o Rio a viver uma segunda-feira em clima de meio feriado. Após um fim de semana com falta de ônibus nas ruas, os consórcios conseguiram o apoio das forças de segurança para abastecer parte da frota com óleo diesel. Mesmo assim, o dia não será normal. Em princípio, apenas 40% dos ônibus comuns estarão em circulação para atender a quatro milhões de passageiros. O sistema BRT informou que vai operar com 125 coletivos (35% da frota).

O número de ônibus será inferior ao da última sexta-feira, quando 46% dos coletivos rodaram e os moradores da cidade tiveram muita dificuldade para chegar ao trabalho. Mesmo para assegurar esses 40%, ontem à noite ainda havia problemas de logística: nenhuma carreta carregada de combustível tinha chegado às empresas. Só para o consórcio BRT eram aguardados seis caminhões-tanque. No início da noite, os empresários ainda discutiam com autoridades da Segurança Pública como seria a logística de distribuição ao longo da madrugada de hoje.

Com isso, muitos serviços não vão funcionar: as escolas municipais estarão fechadas, assim como boa parte dos colégios particulares e das universidades públicas e privadas. Na Saúde, hospitais da rede pública e particular suspenderam cirurgias que não são de emergência para economizar insumos e dar prioridade aos pacientes internados. A Justiça também anunciou que não haverá expediente. 

POUCOS COLETIVOS, TODOS VAZIOS 

Ontem, apenas 13% dos ônibus circularam durante o dia e 12% à noite, mesmo assim quase sempre vazios. O sistema BRT pôs apenas 56 coletivos em operação, menos de 20% de sua frota. Mas não houve grandes problemas, porque só saiu de casa quem tinha muita necessidade. As estações do BRT ficaram desertas, assim como as praias e outros pontos mais importantes da cidade.

A fiscal de caixa Ana Lúcia Rodrigues do Nascimento saiu mais cedo de casa, em Guaratiba, para trabalhar na Barra. Ao chegar à estação Mato Alto do BRT Transoeste, não precisou esperar muito tempo:

— A dificuldade foi maior para chegar aqui na estação, porque vim de van. Hoje tem menos vans rodando, e, por isso, tive que esperar mais um pouco. O BRT veio até antes do que eu esperava. Vou chegar cedo no trabalho, mas é melhor do que me atrasar. Não sabia como estava a situação e preferir saí cedo para me precaver.

A cuidadora de idosos Vanessa Alexandre de Melo, que foi trabalhar nos últimos dois dias de carona com os amigos, também se surpreendeu com o BRT, mas pela ausência de passageiros.

— Apesar de ser domingo, por estar rodando pouco ônibus, achei que estivessem lotados. Só que estão mais vazios do que ultimamente. Está dando até para viajar sentado, tem muitos lugares — disse.

Na Rodoviária Novo Rio, as empresas só liberavam os ônibus quando eles lotavam, o que provocou muitos atrasos. A falta de transporte atingiu também outros municípios da Região Metropolitana. Na Baixada, dez empresas que operam 259 linhas estão com dificuldades para obter diesel. Os coletivos da Viação Flores, uma das principais da região, sequer circularam ontem. Da frota de 484 carros, apenas cem vão rodar hoje nas linhas que fazem integração com o trem e o metrô.

Em relação aos problemas de abastecimento, o governo do estado informou à noite que está em condições de fornecer escolta policial para normalizar todos os serviços.

— O importante é que o combustível seja distribuído de maneira uniforme entre os consórcios, de forma que todas as empresas possam atender ao maior número de passageiros — disse o presidente do Rio Ônibus, Claudio Callak.

BRT COM 40 ESTAÇÕES FECHADAS

No caso do BRT, que chegou a suspender as operações ao longo de quase todo o dia de sábado, também será mantido hoje o esquema de emergência implantado na semana passada. Das 135 estações, 40 permanecerão fechadas. O corredor Transoeste não vai operar no trecho entre Campo Grande e Santa Cruz, e o Transcarioca manterá fora de operação as estações entre Madureira e o Aeroporto Internacional Tom Jobim.

O metrô vai manter sua rotina. A Supervia continuará com restrições de horários nos ramais de Guapimirim e Vila Inhomirim, onde as locomotivas ainda são movidas a diesel e sequer circularam no fim de semana.

As barcas também terão a rotina afetada. Suspensa no fim de semana, a linha Praça 15-Niterói será retomada hoje. No entanto, as partidas ocorrerão a cada 20 minutos. Normalmente, o intervalo é de dez minutos no sentido de maior demanda: Rio (pela manhã) e Niterói (no fim da tarde). Algumas viagens nos trechos CharitasPraça Quinze e Cocotá-Praça Quinze foram suprimidas para poupar combustível.

Até segunda ordem, a Comlurb manterá a rotina dos roteiros da coleta de lixo domiciliar. No sábado, a empresa conseguiu uma liminar que garante o abastecimento da frota na Refinaria de Duque de Caxias (Reduc) e acesso livre ao Centro de Tratamento de Resíduos de Seropédica, para onde são levadas quase nove mil toneladas de lixo diárias produzidas na cidade.

Até anteontem, os caminhões estavam descartando resíduos nas cinco estações de transferência espalhadas pelo Rio. Mas os veículos não conseguiam acesso ao aterro de Seropédica, devido a bloqueios de grevistas. A reativação do aterro de Gramacho, que poderia servir como depósito provisório do lixo, como chegou a ser anunciado pelo prefeito Marcelo Crivella no sábado, só acontecerá em último caso.

A Cedae informou que o abastecimento de água para a Região Metropolitana está garantido, porque a empresa conseguiu receber produtos químicos para tratamento na estação do Guandu. Em relação ao abastecimento de postos de gasolina do Rio, ainda não há previsão de quando a situação será normalizada, porque os estoques estão zerados. E, mesmo quando o fornecimento for normalizado, vai demorar para a rotina ser restabelecida.

No caso de repartições públicas, o governo do estado e a prefeitura decidiram mantê-las funcionando, como em dias comuns. Em uma tentativa de acabar com a greve, o governador Luiz Fernando Pezão disse que a Assembleia Legislativa (Alerj) deve votar amanhã o projeto para reduzir a alíquota de ICMS do diesel de 16% para 12%, cumprindo acordo que firmou na semana passada com líderes dos caminhoneiros.