quinta-feira, 23 de outubro de 2014

PT teme abstenção e pede transporte ao TSE

Thiago Resende e Andrea Jubé - Valor Econômico

BRASÍLIA - Preocupado com altos índices de abstenção no primeiro turno inclusive em Estados que são redutos do PT, o partido pediu ao TSE um "reforço institucional" para garantir transporte público aos eleitores no domingo, dia do segundo turno da disputa presidencial e de governos estaduais.

Esse tipo de transporte é permitido, mas os juízes eleitorais têm de autorizar os veículos. Partidos políticos e candidatos são proibidos de fornecer alimentação e transporte a eleitores no dia do pleito, seja na cidade ou no campo. O quadro geral de percursos e horários programados para o transporte dos votantes tem que ser informado 15 dias antes de cada votação.

Documento obtido pelo Valor mostra que o PT requer que a Justiça Eleitoral tome as medidas necessárias para que a população de regiões de difícil acesso possa votar. "Acreditamos que um dos fatores que contribuíram para o aumento das abstenções tenha sido a falta de transporte para a população ribeirinha", argumentou Rui Falcão, presidente nacional do PT, ao pedir que o TSE "oriente os Tribunais [Regionais Eleitorais] e Zonas Eleitorais sobre a importância" de garantir as condições para o exercício do voto. O TSE ainda vai analisar o pedido.

O comitê dilmista receia o aumento do número de faltosos, sobretudo em redutos petistas onde a abstenção superou a média nacional, como Bahia e Maranhão. O partido se mostrou preocupado com o índice de abstenção, que foi de 19,4% no primeiro turno, correspondente a cerca de 27,6 milhões de eleitores, o segundo maior desde a redemocratização, atrás apenas dos 21,5% que deixaram de votar na eleição presidencial de 1998.

Reportagem do Valor publicada ontem mostrou que o Brasil poderá ter um nível de abstenção recorde no segundo turno, já que, historicamente, o percentual de eleitores que não comparece para votar cresceu em todas as eleições presidenciais com dois turnos desde 1989.

Coordenadores da campanha de Dilma não escondem a preocupação com o risco de evasão do eleitorado, sobretudo onde o voto petista é mais forte. Na Bahia, por exemplo, o PT elegeu o governador Rui Costa no primeiro turno e Dilma obteve 61,4% dos votos. Uma planilha elaborada pelo partido mostra que 170 municípios do Estado tiveram abstenção de 23,2% ou mais. No Maranhão, onde Dilma obteve larga vantagem sobre Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB), esse índice superou 23,6% em 102 municípios.

Apesar de grande parte dos dados apresentados pelo PT se referir a abstenções em locais onde o partido teve um bom desempenho no primeiro turno, o pedido também destaca regiões onde o voto tucano é expressivo, como Mato Grosso e Rondônia. No primeiro Estado - onde o senador Pedro Taques (PDT), apoiado pelo tucano, elegeu-se no primeiro turno - o índice de faltosos foi maior que 22,9% em 35 municípios. Em Rondônia, a taxa de abstenção passou de 21% em dezenas de cidades.

Uma preocupação que embala as duas campanhas é o número de ausências em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral, onde Aécio tenta virar o jogo e bater Dilma no segundo turno. Em contrapartida, os petistas esperam repetir a vitória junto aos mineiros do primeiro turno, para compensar - com Minas e com o Rio de Janeiro - a previsível derrota em São Paulo.

Em Minas, a abstenção chegou a 20%. Em Governador Valadares, com 201,7 mil eleitores, esse índice chegou a 23,9%. E no Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral, que também terá papel decisivo nesse segundo turno, a abstenção na capital chegou a 21,5%.

De acordo com resolução do TSE, "se não forem suficientes os veículos e embarcações do serviço público para fazer o transporte dos eleitores da zona rural, o juiz eleitoral poderá requisitar a particulares, de preferência daqueles que tenham carros de aluguel na região, a prestação desse serviço". Procurado, o PSDB não retornou as ligações.

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