A vantagem numérica de Dilma Rousseff sobre Aécio Neves, nas pesquisas divulgadas anteontem e hoje, refletiu basicamente a retomada pela campanha da candidata governista, a partir do debate do 2º turno no SBT, agora contra o adversário tucano, da agressiva tática de “desconstrução” posta em prática contra Marina Silva no 1º turno. Com o propósito central de elevar o índice de rejeição dele, para nivelamento com o dela, por meio de uma saraivada de ataques políticos (ao “inimigo dos pobres” e, depois, também, das mulheres) e de caráter pessoal e familiar. Propósito articulado ao objetivo de bloquear ou restringir o debate dos problemas da economia e de seus efeitos sociais, bem como do megascândalo da Petrobras e da estreita relação com os sucessivos governos petistas. Armas essas combinadas com a insistência no fantasma do “medo” de suspensão dos programas assistencialistas por um governo Aécio, para controle do voto de milhões de beneficiários.
Refletindo tudo isso e um intenso uso da má-quina federal em favor da candidata governista, a vantagem obtida agora por ela é até diminuta, tendo sido contida pela atuação de Aécio nos debates já travados, forçando a presença dos graves problemas econômicos e sociais, do aparelhamento estatal e do referido megaescândalo. Pelo duplo caráter, propositivo e de contra ataque às agressões sofridas, imprimido na propaganda partidária. E pelo alargamento do respaldo à sua candidatura com as adesões recebidas da família de Eduardo Campos, de Marina Silva e da aliança de partidos que a apoiaram no 1º turno.
Assim, a disputa presidencial chega à fase decisiva dos últimos dias com o eleitorado dividido praticamente ao meio. Com o pleito a ser definido, segundo o jornalista Elio Gáspari, num “plebiscito para decidir se o PT deve continuar no governo ou ir-se embora”. Reforçando-se agudamente nesta fase o interesse pelo confronto entre os dois finalistas que a Globo promoverá na sexta-feira à noite. Que será relevante para o conjunto da sociedade se puder evidenciar as perspectivas e prioridades, bem contrastantes, de Dilma e de Aécio, para um novo governo. As dela centradas, como tem reiterado, na continuidade da política econômica em vigor (da mistura de populismo e gigantismo estatal). Responsável pela leniência diante da inflação, pelo descontrole das contas públicas, pela forte queda dos investimentos, pelo processo de desindustrialização do país, pelo crescente desemprego industrial, pelo isolamento do Brasil das modernas cadeias produtivas globais, pelo PIB próximo de zero. E pela escalada de corrupção com contratos governamentais favorecida por esse gigantismo. E as dele, apontando para uma “virada” de tal política, a partir do enfrentamento da custosa herança de problemas e distorções macro e microeconômicas que herdará, e com um horizonte reformista.
Política externa. Reportagem da Folha de S. Paulo, de ontem – “Na política externa, Dilma prioriza América do Sul; e Aécio, EUA e Europa” – mostra bem as alternativas de manutenção e de mudança desta política, nos cenários de reeleição de Dilma e de eleição de Aécio. Abertura da matéria: “Em segundo plano na campanha à Presidência, a política externa é um dos temas em que as visões do mundo de Dilma Rousseff (PT) e de Aécio Neves (PSDB) mais colidem. Após 12 anos de governos petistas dedicados à integração com os países da América do Sul e do sul geopolítico, sob Aécio o país passaria a privilegiar EUA e União Européia e manteria a ênfase na China – não ideológica, como enfatizam os tucanos”.
Jarbas de Holanda é jornalista
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