sábado, 15 de novembro de 2014

PT minimiza prisão de ex-diretor da Petrobras e se cala sobre efeitos da operação

• Planalto tenta se manter à margem dos estragos; ministros não comentam

Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA - Apesar da preocupação reinante com os desdobramentos da operação Lava-Jato, da Polícia Federal, e do desgaste da imagem do partido, dirigentes do PT tentaram passar ontem um clima de normalidade, mesmo diante da prisão do ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, e do pedido de prisão de Marice Corrêa de Lima, cunhada do tesoureiro da legenda, João Vaccari Neto. O silêncio sobre o assunto imperou ontem no PT.

O governo também se manteve à margem da nova etapa da explosiva Operação Lava-Jato. Os ministros Aloizio Mercadante, da Casa Civil; e Ricardo Berzoini, de Relações Institucionais, que se movimentaram bastante no Congresso e no Planalto, nos últimos dias, não apareceram para comentar o assunto.

Diante do estrago, integrantes do partido afirmavam ontem que, pelo menos a prisão de Duque, indicado para a diretoria da empresa pelo PT, ocorreu após as eleições, o que já foi considerado um alívio. Os petistas estão agora em compasso de espera, na expectativa do que vem pela frente.

O discurso no partido é que não há motivo para o afastamento de Vaccari, apontado como sendo operador do PT no esquema de desvio de dinheiro de obras da Petrobras. Ele seria o responsável por recolher para o partido a propina paga à diretoria de Serviços, de 3% do valor dos negócios. Ele e o partido negam.

O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) disse que é preciso ter “cautela” neste momento. O petista ressaltou que as prisões são temporárias, para a fase de instrução, e que, por isso, é preciso aguardar as investigações e se elas confirmarão ou não as suspeitas iniciais:

— Esse momento requer muita cautela para que não haja prejulgamento. Claro que quem tiver real e efetivo envolvimento terá que pagar por isso. Mas não podemos nos precipitar.

O líder do PT na Câmara, deputado Vicentinho (SP), afirmou que o partido não vai “acobertar” nenhum investigado na Operação Lava Jato. Segundo o petista, a prisão de Renato Duque e de funcionários de grandes empreiteiras mostra que a PF tem “independência”:

— Mesmo que ele tenha sido indicado pelo PT para a diretoria, ele não foi indicado para cometer crime. Nós não vamos acobertar erros de ninguém.

Integrantes do PT afirmam ainda que Marice, cunhada de Vaccari, não trabalha mais para o partido. Durante o escândalo do mensalão, ela era coordenadora administrativa do PT, e foi citada pelo então tesoureiro do partido Delúbio Soares, em depoimento à Polícia Federal, como portadora de R$ 1 milhão, proveniente de caixa dois, a ser pago à Coteminas para quitar parte da dívida por camisetas feitas para a campanha de 2004.

Mesmo integrantes da Mensagem, segunda maior corrente interna do PT, que chegou a pregar a “refundação” do partido durante o mensalão, tentaram minimizar ontem a prisão de Renato Duque e o suposto envolvimento da cunhada de Vaccari.

Os petistas se preocupam com a imagem de corrupção que assola o partido, apontada por integrantes da legenda como um dos fatores que prejudicaram o desempenho eleitoral deste ano.

A presidente Dilma cobra provas das acusações feitas pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Yousseff, e afirmado que, se houver comprovação, haverá punição para todos.

Vaccari Neto, nomeado há dez anos para o Conselho de Administração de Itaipu Binacional, somente há duas semanas pediu o afastamento do cargo.

Já a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) pediu, na quinta-feira, ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, acesso ao teor das delações premiadas de Costa e Youssef. O doleiro teria afirmado que destinou R$ 1 milhão à campanha dela ao Senado em 2010.

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