- Folha de S. Paulo
Como escrevi aqui antes de pleito, por uma combinação de deficiências da democracia com circunstâncias da vida, cidadãos esclarecidos deveríamos torcer para que os candidatos se pusessem a praticar estelionato eleitoral tão logo fossem ungidos nas urnas. É com satisfação, portanto, que constato que Dilma Rousseff vem desmentindo parcialmente sua campanha.
Os juros não tiveram de esperar mais do que três dias para ser elevados, o reajuste da gasolina demorou um pouco mais: 12 dias. Os números ruins para o governo, que vinham sendo providencialmente escondidos, começaram a aparecer.
É improvável, porém, que a presidente despenque subitamente do palanque e comece a tomar as medidas recessivas necessárias para conter a inflação e acertar as contas públicas (se esse ajuste for adiado, a tendência é que fique mais custoso depois). Ela já deu repetidos sinais de que mantém ao menos um pé no mundo maravilhoso do marketing. No mais recente deles, fantasiou que o Brasil encontra-se numa situação fiscal "até um pouco melhor" que a da maioria dos países do G20.
Ao que tudo indica --e faz todo o sentido do ponto de vista da psicologia humana--, Dilma só tomará as decisões mais dolorosas se for compelida a isso. A boa notícia é que as pressões vêm não só do mercado, cujo cartaz não é dos melhores, mas também de outros setores da sociedade, inclusive o PT. Parece que uma ala do partido se deu conta de que a viabilidade eleitoral da legenda em 2018 cresce se a parte difícil do ajuste vier agora, permitindo uma retomada do crescimento no biênio final.
Para reforçar a pressão é importante que o Congresso rejeite a "brecha fiscal" que o governo pede. A negativa, é claro, não resolveria o buraco nas contas públicas, mas melhoraria um tantinho a institucionalidade do país e, de quebra, ainda ajudaria a fazer com que Dilma seja menos Dilma, o que é bom para a economia.
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