Igor Gielow – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Com a nova fase da Operação Lava Jato e a implosão da maior empresa brasileira, o governo Dilma Rousseff enfrenta sua maior crise –e ela está apenas no começo.
O alcance das consequências deste 14 de novembro ainda será conhecido, mas o fato é que a presidente reeleita terá muita dificuldade de dissociar-se do mar de óleo viscoso da corrupção que a Polícia Federal descobriu sob os porões da Petrobras.
O que a PF fez hoje entra para a história. Pela primeira vez, há clareza de todas as pontas e intermediários de uma teia criminosa desta dimensão. Altos executivos das maiores financiadoras de campanha do país foram presos. Foram pegos corruptos, corruptores e os agentes que operavam para eles.
Claro que ainda falta a cereja do bolo: os políticos que se beneficiaram do esquema. Até aqui, os nomes que circulam por Brasília e o tamanho de seu envolvimento ensejam a construção de uma ala nova na Papuda.
Claro que há gradações distintas entre citações, acusações e a prova real, mas o clima é de pânico.
A famosa lista com dezenas de parlamentares e membros do Executivo que pende como uma espada de Dâmocles sobre o Congresso e o governo. O momento de sua revelação está próximo.
Sétima fase da Operação Lava Jato
Aqui se coloca um desafio para o governo: provar que de fato não irá atrapalhar as investigações, como Dilma repete a todo momento. A intimidação promovida pelo ministro da Justiça contra delegados que expressaram opiniões políticas em redes sociais fechadas não pareceu um começo promissor.
Além disso, o Planalto parece perdido com o escopo da desintegração da credibilidade da Petrobras no mercado. A trapalhada sobre o adiamento de seu balanço, que simplesmente não passou pelo crivo das auditorias, fez as ações da empresa derreterem.
Sob investigação em um ambiente ainda mais rígido, o mercado norte-americano, há um risco de dano permanente à petroleira.
Para completar o quadro, Dilma não teve um dia de paz desde que foi reeleita em 26 de outubro. Enfrenta uma rebelião de sua base no Congresso liderada pelo PMDB. Escancarou o que ela nega ser estelionato eleitoral: a adoção de uma agenda econômica não muito diferente daquela que Aécio Neves (PSDB) aplicaria caso tivesse a derrotado nas urnas.
Muito mais grave, o governo assumiu que estava a maquiar o buraco nas contas públicas e propôs ao Congresso uma gambiarra na Lei de Diretrizes Orçamentárias que lembra o proverbial "devo, não nego, pago quando puder".
É sob esta tormenta que a presidente terá de convencer a opinião pública de que seu governo não sabia das coisas escandalosas que ocorriam na Petrobras. Mal pode voltar à alegação de que demitiu alguns dos envolvidos, porque isso seria assumir que conhecia a roubalheira e tentou resolver as coisas discretamente, sem apuração verdadeira do Ministério Público Federal e da PF.
Antigamente, dizia-se que quando o presidente viaja, a crise viaja. Desta vez, ela explodiu em sua máxima intensidade sem a presença física da mandatária, que está na Austrália. O fuso adiantado dará algum tempo para Dilma traçar sua estratégia, mas o tempo corre contra o governo.
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