- O Globo
O dia do juízo final, como definiu um policial federal, começou com prisão de outro ex-diretor da Petrobras, mas ficou realmente diferente quando avançou sobre as maiores empreiteiras do país, com ordens de prisão ou de busca e apreensão. Era previsível, porque elas foram citadas nos depoimentos do acusado Alberto Youssef. Imprevisível é a dimensão que vai chegar esse escândalo.
É como uma mancha de um grande vazamento de petróleo que ainda não foi controlado: ninguém sabe até onde se espalhará. Mas há uma esperança de ser parte da operação de extração do tumor que hoje liga grandes fornecedores da Petrobras aos principais negócios da companhia. Youssef disse no depoimento que recebia dessas empresas o dinheiro para pagar os “comissionamentos dos agentes políticos”. Portanto, ontem foi um dia de tensão na economia e na política por razões policiais.
O desdobramento econômico de tudo isso pode ser enorme. As empresas que estavam ontem no foco da Polícia Federal estão nas principais obras públicas do país, nos maiores projetos de investimento, das hidrelétricas aos aeroportos, passando pelas refinarias, evidentemente.
O ambiente econômico também foi afetado pela crise da Petrobras em si, que não conseguiu divulgar seu balanço trimestral pela falta de aprovação da PwC, a empresa de auditoria. No espaço de 13 horas, a petrolífera conseguiu divulgar um fato relevante de adiamento do balanço, e outra comunicação entendida como sendo segunda-feira o dia da divulgação dos resultados, mesmo sem a aprovação dos auditores. A BM&F adiou a abertura do pregão com as ações até entender melhor. Uma confusão completa.
Em má hora a Petrobras passa a integrar, de forma constante, a crônica policial. Ela está com um alto endividamento, principalmente no exterior. As ações tiveram novas quedas nos últimos dias. Os bônus no exterior também estão em queda. A empresa recebeu rebaixamento pela Standard & Poor’s e pela Moody's e está a um degrau de perder o grau de investimento. A dívida, pós-capitalização, era de R$ 57 bilhões, e no segundo trimestre de 2014 já havia disparado para R$ 241 bilhões. Cerca de 80% do endividamento da companhia é em moeda estrangeira. A perda do grau de investimento provocará um aumento forte do custo desse endividamento e uma forçada redução de investimentos.
Se havia a expectativa de que passadas as eleições presidenciais a economia pudesse voltar a trilhar um caminho de crescimento e normalidade, o que se vê até aqui é o prologamento da crise. As vendas do varejo ampliado, divulgadas ontem pelo IBGE, entraram para o terreno negativo na taxa em 12 meses, saindo de 0,6% em agosto para -0,1% em setembro. Para se ter uma ideia do tamanho dessa freada, em setembro de 2013, o crescimento em 12 meses era de 4,9%. O Caged apontou fechamento de 30 mil vagas formais em outubro, resultado que surpreendeu negativamente. Enquanto isso, a presidente Dilma segue em viagem à cúpula do G-20 sem a definição de nomes para a equipe econômica.
O juízo que se pode fazer do dia de ontem é que o país entrou numa nova fronteira dessa investigação de corrupção: chegou às grandes empreiteiras, que são, ao mesmo tempo, importantes doadoras de campanha. As doações legais e declaradas pelos partidos não são problema. Elas passam agora a ser investigadas pela suspeita de pagamento de propina que pode ter se transformado em comissões para os partidos políticos. Se alguns desses executivos decidirem seguir o caminho da delação premiada, que trilham com sucesso Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, o círculo se fechará cada vez mais sobre os beneficiários.
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