- O Estado de S. Paulo
Na sequência das críticas de Gilberto Carvalho e Marta Suplicy, à condução da economia e à falta de diálogo do governo, o PT fecha a primeira etapa de pressão sobre a presidente Dilma Roussseff, na forma de cobrança por um ministério qualificado.
À parte o fato de que justamente o PT, com sua estratégia de aparelhamento da máquina pública, responde pela desqualificação técnica da estrutura de governo, o episódio serve para dar mais visibilidade ao conflito crescente entre o partido e a presidente reeleita.
A cobrança, embrulhada em preocupação com a gestão, segue a linha do ex-presidente Lula de impor à presidente os nomes de sua preferência para a equipe econômica, entre os quais virou símbolo o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
O embate está claro no antagonismo das posições dos ministros e do partido, que só não explicitaram o nome de Meirelles ao pedir uma equipe independente e de competência comprovada, e as declarações de Dilma e de seu ministro da Casa Civil, Aloísio Mercadante, contra a adoção de uma linha ortodoxa na condução da economia.
O governo segue sem admitir que a situação econômica impõe drástico ajuste fiscal e tenta minimizar as medidas recessivas que parecem inevitáveis na avaliação de nove entre 10 economistas. Lula cobra o resgate da gestão que teve em seus dois mandatos que lhe permitiu o avanço social que marcou seu período de governo.
Possivelmente, o ex-presidente raciocina que a junção do cenário de corrupção com uma economia sem rumo e sem sinalização ao mercado, pode ser fatal para a reversão de expectativas políticas. Mas o perfil de Meirelles significaria Dilma abdicar da liderança da economia e assim abrir mão de parte de sua autonomia presidencial.
Não é apenas isso. O conflito reflete o descontentamento com a recusa de Dilma em abrir mão da candidatura à reeleição em favor de seu antecessor e padrinho político, que lhe rendeu a pecha de ingrata até mesmo por parte de Marisa Letícia, esposa do ex-presidente.
Os péssimos resultados do primeiro mandato de Dilma, que explicam a dificuldade em reconstruir as bases para o segundo, reforçam no PT a percepção de que a presidente pretende reduzir o espaço do partido no segundo mandato em busca de resgatar sua imagem, especialmente distanciando-se do ambiente de corrupção na Petrobrás.
Na medida em que as investigações avançam, com novas prisões efetuadas esta manhã, aproxima-se o momento dos parlamentares envolvidos nas falcatruas, dos quais a presidente quer manter distância, assim como fez no “mensalão”, quando resistiu a todas as pressões para manifestar alguma solidariedade a dirigentes presos, como o ex-ministro José Dirceu.
Dilma dá sinais de que não parece disposta a dividir o protagonismo da corrupção na Petrobrás com o partido – e nem com o ex-presidente Lula, que começa a ter a sua versão de desconhecimento do que se passava na estatal gradualmente desconstruída pelos fatos.
Essa determinação da presidente já estava sinalizada na versão que assumiu de que o Conselho da Petrobras foi induzido a erro pela omissão deliberada da diretoria da estatal das informações essenciais ao exame da operação comercial de compra da refinaria de Pasadena, no Texas.
Com essa versão, embora frágil, excluiu-se de responsabilidade sobre a diretoria nomeada por Lula e agora completa o processo afirmando não ser a presidente do PT, mas do país, e prometendo que se juntará ao esforço de esclarecimento da corrupção na empresa, para que não fique “pedra sobre pedra”.
O silêncio de Dilma sobre os nomes que pensa para o novo ministério inclusive na economia, serve também para exibir controle sobre o processo político, deixando entrever a pretensão de um segundo mandato independente do partido e de Lula. Sem a possibilidade de reeleição, seu compromisso agora é com ela mesma.
Parafraseando o ministro José Múcio, ao herdar a relatoria de José Jorge sobre a Petrobras no Tribunal de Contas da União (TCU), o compromisso de Dilma agora é com seu CPF. Múcio usou essa imagem para dizer que não há condições de o partido tentar impor limites às investigações a essa altura dos acontecimentos.
Quem tentar, vai se lambuzar, é a tradução mais grosseira das declarações do ministro e do comportamento sugerido pela presidente Dilma. Melhor, portanto, manter distância para tentar resgatar a imagem da faxineira do início do mandato, com a ressalva de que agora apenas o marketing não produzirá esse milagre.
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