quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Serviços de inteligência são estratégicos contra o crime – Editorial | O Globo

• A articulação entre a comunidade de informações no plano federal, a ser conectada com organismos estaduais de segurança, é básica para o Estado conter as quadrilhas

Embora haja sempre o risco de medidas anunciadas em Brasília não passarem de intenções que não se concretizarão, há enfim uma grande mobilização do governo federal para assumir o papel que lhe deve num enfrentamento em que está em jogo a segurança nacional, o próprio estado democrático de direito.

Durante muito tempo, devido a razões políticas rasteiras — como afastar do Planalto qualquer ônus causado pelo aumento da criminalidade e o consequente avanço da violência —, o governo federal evitou maior envolvimento neste embate.

Como determinam regras do federalismo, ficou com os estados o choque direto com grande parte da criminalidade. Enquanto isso, grupos criminosos, também encastelados em presídios — que vivem uma crise específica, mas ligada a todo este quadro de degradação da segurança pública, — se nacionalizavam e instalavam postos avançados no exterior, de onde vêm drogas e armas.

A legislação permite o envolvimento federal nesta luta, mas como não há — ou havia — forte vontade política para isto, forças da União vinham sendo acionadas apenas em circunstâncias específicas.

A situação se deteriorou de tal forma que agora não há alternativa, e o governo Temer parece decidido a envolver a União, como é preciso, na defesa da população contra a criminalidade.

Das medidas anunciadas ontem, é possível que a decisão de permitir que as Forças Armadas, estabelecida a devida base legal, atuem em varreduras de presídios tenha o maior impacto junto à opinião pública.

Mas, a médio e longo prazos, a iniciativa de Temer de mobilizar de forma coordenada os serviços federais de inteligência, para ajudar a Federação nesta guerra, tem uma importância estratégica. Pois sem informações nada se faz contra grupos organizados.

Mesmo contra aqueles que não usam armas de fogo. O exemplo é a Operação Lava-Jato, força-tarefa que desbarata o petrolão, em que a Justiça, a Polícia Federal e o MP, articulados com promotorias de outros países e a ajuda da Receita Federal e do Coaf (repressão à lavagem de dinheiro), desmontam o mais amplo esquema de corrupção da história do país.

Asfixiar as quadrilhas pelo lado financeiro, como deseja o governo, é adotar o infalível conselho do Garganta Profunda, fonte do “Washington Post” no escândalo Watergate: “Sigam o dinheiro.” Isso só será possível com essa articulação entre os serviços de inteligência.

Assim, sem menosprezar as diversas conversas travadas ontem em Brasília entre o governo federal, governadores e secretários estaduais de Segurança, destacou-se a reunião de Temer com o ministro da Defesa, Raul Jungmann, e representantes dos 37 órgãos do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), formado pelas Forças Armadas, Abin, PF, Receita Federal, Coaf etc.

Conseguir montar operações com esses organismos, articulados com áreas confiáveis de governos estaduais, é o caminho indicado para se começar a contra-atacar e reverter o avanço deste Estado paralelo, já infiltrado no poder público.

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